Previously on Revenge
— Minha mãe detesta bichas!
— Não aprenda os maus costumes estrangeiros. Como a tal liberação de homossexualidade. A cura disso é terapia de choque!
Ellen não gostou nenhum pouco do meu zelo exagerado com o Daniel. E vi Ellen, retirando-se do local, pasma e chorando.
— Eu anuncio, ou melhor, oficializo (...) O meu namoro com Emmet Thorne.
Victória me deixou internado num centro de cura clandestino gay. Lá, sofria de cobaia nas piores barbaridades.
— Victória. ConradoMichele. Essas são apenas algumas pessoas que ajudaram na derrocada do seu pai.
— O que você descobriu sobre esse Emmet Thorne? (...) O tal filho do David Calvin, eu enviei aquele menininho que para o centro de cura gay. E se esse Emmet também esteve internado lá (...) Eu vou aniquilar a existência dessa bicha!
Um grande impulso resulta em desastrosos tropeços.
— Armando Calvin morreu.
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— Eu posso saber o que significa isso?! — esbravejou Daniel entrando em minha casa e jogando um papel plastificado sobre mim.
O olhei assustado. Estava sentado no sofá, já arrumado e preparado para mais uma das festas sociais dos Grayson. Na verdade, esperava apenas por Daniel. Peguei o papel e li, fingindo abismo com os limites ultrapassados por Victória.
— Mas eu devia receber o prémio otário de Capeside né? E tu devias saber que a minha coroa tem bilhete livre no inferno! Aí o dossiê! Não tem como mentir! Ela foi atrás e conseguiu expor o seu podre! O cara que eu pensei que confiasse em mim, por quem eu arrisquei minha reputação, não passa de um delinquente que com 5 anos esfaqueou um homem e foi parar num reformatório!
— Eu imaginei. Ela me chantageou com isso dias desses. — menti — Ela está sempre...
— Não se trata dela! Eu to ligado de todos detalhes das podridões dela. Mas e das tuas?
— Se você quer me julgar, a fila está aberta, pois nunca dei a mínima a isso! — levantei já exaltado — Agora se quiser me compreender, senta e escuta a história verdadeira. Pois fugir sempre foi minha melhor escolha, mas eu encaro a dor, pela nossa amizade.
Daniel me olhou sem entender e pareceu se acalmar. Sentamos e expliquei toda a minha história a ele. Na verdade, a de Emmet. Que após meus pais morrerem em um acidente, fiquei na custódia de um tio. Porém esse tio me abominava, o dava mais trabalho do que prazer, e notando certos trejeitos afeminados que tinha quando criança, ele me molestava. Um dia, não lembro bem, mas eu esfaqueie-o. Ele resolveu então me internar num reformatório. Não sabia explicar ao certo, mas acabei parando num centro de cura clandestino gay que usava como fachada um reformatório. E após completarem 18 anos, quando os internos já estavam “curados” e livres, muitos tinham suas vidas monitoradas além de vídeos constrangedores arquivados. O que impedia os detentos fazer denúncias tendo a única escolha de fugir do passado.
Daniel me olhou, incrédulo e horrorizado. Afinal parecia coisa de filmes.
— Era horrível. Eles nos estupravam com uma violência agressiva, nos machucando, sagrando e nos perguntando se conseguíamos sentir prazer, pois isso era ser gay. Os xingamentos... As humilhações... Seu bicha! Viado, boiola... Éramos obrigados a ver cenas sexuais héteros, quando nem tínhamos órgãos praticamente formados e...
Comecei a chorar, isso não acontecia comigo, porém aquelas lembranças... Daniel enxugou minhas lágrimas, beijou minha testa e segurou minhas mãos.
— Caralho! Que barra. Eu não sabia que... Porra, eu só vacilo com você brother!
— É. E esse vício já ta começando a me magoar. — afirmei ressentindo e largando suas mãos — Agora vamos. Temos um evento para ir e sorrir. Não se mostra abalo para quem lhe almeja sofrimento.
Dei um sorriso forçado e saí, acompanhado de Daniel partindo para o local.
O evento que ocorreria seria diferente dos demais que participava. Tratava de um evento de caridade. O dinheiro revertido seria doado para hospitais que lutam na recuperação de crianças com problema especiais. Um evento belíssimo. E que só fortalecia a boa imagem da Rainha de Capeside, visto que a imprensa mundial estava lá. A palestrante seria Michele Hanks, uma famosa psicóloga de Capeside que atendia inclusive Victória.
Ao chegar com Daniel, viramos o centro da atenção. Ninguém falava pela frente, mas ouvíamos os burburinhos quando estávamos de costas. Victória ficou decepcionada ao ver meu entrosamento com Daniel. E ao avistar Ellen, deixei Daniel e fui cumprimenta-la, porém ela parecia seca. E também, procurava desesperadamente um objeto.
— Ellen, eu sei que você está magoada comigo pelo que ocorreu, but... Ellen? Você pode parar e me ouvir? Ellen! Shit! Afinal, o que você tanto procura?
Ela nada falou, continuou a procurar, mas quando viu o horário, pediu minha ajuda.
— Um DVD! Os caos da minha vida estão interferindo no meu trabalho! Enfim... Estou procurando o DVD. Eu perdi! O DVD das imagens do trabalho que a Dona Michelle realiza e quando ela discursar essas imagens tem que estar no retroprojetor!
Tentei ajudar a procurá-lo e quando apertei o play do rádio lá estava o tal DVD.
— Eu não canso de te salvar, minha princesa. — mostrei a ela, sorrindo, e ela respirou aliviada — Eu sinto falta de nós. Da nossa amizade. De ouvir os teus problemas...
— Eu também. Pena que agora você seja um dos meus mais tristes problemas.
Ela abaixou a cabeça, pegou o DVD e seguiu para apresentação. Suspirei, fiz o mesmo, e sentei-me ao lado de Daniel. Avistei de longe Nathan. E o discurso começou:
— Olá a todos. Acho que vocês me conhecem, afinal muitos aqui me contam seus problemas em 1 hora a cada semana — todos riram — Mas para quem não me conhece, eu sou psicóloga, Michelle Banks. A Victória honrou em me convidar de ser a madrinha desse projeto tão belo que a nossa Rainha de Capeside apoia, ajudando essas pobres crianças. Então nada mais justo que vocês vejam um pouco do trabalho realizado.
Michele assentiu para Ellen, que apertou o play e no retroprojetor começou a se passar as imagens do tratamento de crianças, comovendo a todos. Porém, de repente, o vídeo começou a falhar. Entraram imagens de crianças sendo violentadas. Sendo torturada. Assistindo filmes sexuais héteros. Algumas numa mesa recebendo terapia de choque. E pior, Michele estava na maioria dos vídeos comandando as ações.
Todos começaram a ficar chocado e os repórteres filmavam. Victória se levantou.
— Que imundície, insolência, é essa? Ellen! Desligue isso! Ellen! Desligue já isso!
Ellen estava trêmula, nervosa. Saiu correndo e tentava desligar os cabos, desesperadamente. Michele, atônita, saiu correndo enquanto os fotógrafos a perseguiam. Nathan ria acenando negativamente. E eu, acabei me desestabilizando e saindo correndo, aos prantos, pelo longo campo onde o evento era realizado.
Ao me afastar bastante do local, parei ofegante. Daniel surgiu, me pegando por trás e me abraçando. Tentava agredi-lo, aos prantos, porém ele me abraçava fortemente.
— This woman, Daniel! Here? Como ela... Eu não me lembrava dela lá! I’m... Gosh!
Soltei-me e ameacei vomitar, tamanha repulsa de lembranças daquelas imagens, porém saía apenas suco gástrico. Daniel saiu correndo e rapidamente voltou me trazendo um copo d’agua. Bebi e aos poucos fui me acalmando e ele me confortando como um irmão. Ao me ver mais calmo, Daniel ameaçou tocar no assunto, mas fui incisivo:
— Please don’t. Vamos esquecer isso. Falar de outro assunto. Ou até mesmo brincar com esse namoro fake que é o que mantém a nossa amizade que me faz tão bem.
— Ok... É... Então... E é por isso que... — disse ajoelhando-se e tirando um anel do bolso — Namora comigo?
Oh my God! Olhei-o incrédulo e assustado. Então ele começou a rir e se levantou.
— Porra, tu devias ter visto a cara que você fez! — me esquivei sem graça — Mas é sério. Põe depois esse anel aí. Afinal, agora para todos a gente ta se pegando e viados costu... Caralho! Foi mal... Eu quis dizer que viadPisei na bola?
— Não dessa vez. — sorri — Palavras em si não são nadas. As intenções em que são ditas é que magoam. E eu sei que os seus ‘viado’, ‘bicha’, não é pra me magoar. Relaxa.
— Sério? Porque puta que pariu! Esse lance de ser bicha é muito da hora, brother. Acredita que teve umas minas querendo ser minha amiga e se trocando até na minha frente? Ah, e teve outra que queria transar comigo pra me converter em hétero!
Caímos na risada. Suas besteiras me divertiam.
— É, mas não pensa que só existem proveitos, viu? Mas e a Ellen? Ela ta magoada...
— Ih mona, vai ficar falando de racha? — imitou engraçado um gay — Mas é sério, depois eu resolvo essa parada. Agora toma esse anel e trate de estar às 19 horas com o seu sapatinho de cinderela! E por favor, vamos meter logo o pé desse evento desastroso!
Peguei o anel e dei um soco de leve na barriga de Daniel, que me abraçou de lado e fomos caminhando por aquele campo e acabando por passar o dia todo juntos em minha casa, já que ele não queria saber muito de Victória.
À noite fomos ao melhor restaurante que existia em Capeside. Por ficar perto do mar, ouvíamos o barulho das ondas ou sentíamos a brisa fresca. O povo olhava abismado, afinal era o filho de Victória. E Daniel os provocava ainda mais acariciando minha mão e cochichando. De repente, a TV a cabo que estava ligada anunciou: “Está foragida a psicóloga de Capeside, Michele Banks. Nesta manhã, durante um evento em Capeside, vídeos de torturas contra crianças foram divulgados. Os vídeos encontram-se na Internet. Agora pouco, a polícia americana identificou e invadiu o local, que fingia ser um reformatório, mas aplicava métodos chocantes e bárbaros com crianças que eles denominavam serem homossexuais. Além de Michele, que foi enfermeira do local, há uma enorme lista de suspeitos, incluindo a Rainha de Capeside, Victória Grayson”.
Evitamos olhar para os demais e apenas nos encaramos. E nos entendendo.
— So... — tentei quebrar o clima e continuar o papo — Se você pensa que ser uma bicha é fácil, tas muito enganado. Existem muitos complexos, métodos...
— Ah é? Quais? Ih, to ligado, preconceito! Porque que se tu és viado e quer comprar um tamanco 36 e só tem o tamanho 44, não te venderam por preconceito. — brincou.
— Silly! But it’s seriously, baby. Exemplo. Depois do primeiro encontro vem o dilema: “Eu ligo ou ele me liga?”. Não quero ser menosprezado, mas também não o afobado. E quando o cara diz: “Eu te ligo”. Baby, tenha certeza que ele não te ligará! — rimos — Outro dilema é alugar filme em locadora após um encontro. O cara diz que quer assistir um filme. Aí você não sabe se aluga um filme legal para curtir ou se esse filme que ele quer ver é um filme chato com o pretexto de vocês apenas transarem!
— Ah, e com héteros não tem disso? Em menor drama, é claro. Mas você se deu bem... Pegou um namorado lindo e gostoso sem nem passar por todos esses sacrifícios.
— O único namorado, mesmo que fake, que me deu algo tão digno e sincero: Amizade.
Sorri, aproximei meus lábios dos seus e dei um longo selinho, porém apenas encostando os nossos lábios. Todos nos olhavam constrangidos. Me afastei e perguntei sorrindo:
— Não sentiu nada?
Daniel acenou negativamente e caímos na risada. E nos divertimos tanto que não queríamos, mas cada um devia ir para a sua casa e encarar seus problemas.
Foi uma noite divertida. Na verdade, não estava tão acostumado a me divertir. Achava até perigoso. Mas precisava focar em minha vingança. Afinal o telefone de Michele, que estava em minha posse, já tocava enlouquecidamente. Os figurões do centro de cura provavelmente estavam desesperados, ligando, amedrontados. E o número da nossa Rainha de Capeside liderava nas chamadas perdidas com uma mensagem ameaçadora no correio de voz.
— Michelle? Sou eu, Victória! Eu não sei o que você está planejando fazer, mas saiba que se uma pedra quebrar o meu telhado de vidro, usarei desses vidros para suprimi-la e destruí-la! Arruinarei o significado da sua existência, arrancarei sua desprezível alma e a jogarei no inferno a preço de varejo! Lembre-se disso, minha querida amiga e adorável conselheira. Pois esse conselho sairá de graça: Poupe-me!
Peguei o celular de Michele e enviei o seguinte SMS para Victória: “CASO EU CAIA, CAIREMOS JUNTAS, QUERIDA. ACESSE A INTERNET”.
CONTINUA...