"Feridas..."

Categoria: Homossexual
Contém 10395 palavras
Data: 11/02/2013 05:10:46

"Feridas..."

{ADOLF}

- Droga! - Exclamei.

Era sábado, 05h43min da manhã, e estava dormindo até ouvir batidas na janela do meu quarto. Acordei assustado. Tirei o lençol com o qual me cobria e me levantei. Quando me aproximei da janela vi pedras sendo lançadas.

- Quem é o desgraçado que está jogando pedras na minha janela? - Perguntei a mim mesmo.

Fui até a janela e às pedras continuavam a bater na janela. Quando vi pelo vidro levei um susto.

- Não pode ser... - Suspirei.

Quem estava jogando as pedras era alguém que eu menos esperava. Ele estava ali! Ele voltou... Meus olhos não acreditavam no que viam. Até esfreguei meus olhos para ver se era real... Era ele.

- Joseph... - Arfei.

Era meu primo Joseph, meu primeiro e único amor. Depois de três anos ele estava ali de novo. Em três anos sem ele, não consegui namorar mais ninguém. Ele era o dono do meu coração, do meu corpo e da minha alma.

- ADOLF! - Ele gritou. Abri a janela.

- Joseph é você? - Indaguei.

- Não... É o irmão gêmeo dele. É claro que sou eu. - Ele disse sarcástico.

- O que está fazendo aqui? Ninguém pode te ver. - Disse preocupado.

- Venha até aqui! Precisamos conversar. - Ele disse sorrindo e acenando.

Eu não fazia ideia do que ele estava fazendo ali. Não sabia por que tinha voltado. Mas estava tão feliz. Ele não parecia estar magoado e rancoroso como no passado. Será que ele voltou por mim, pra mim?

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TRÊS ANOS ATRÁS...

Noite de 08 de Julho de 1993

Passei três semanas sem ver e nem saber nada de Joseph. Era uma angústia sem fim... Tínhamos brigado, e só sentia culpa. Eu não devia ter deixado-o na mão. Mas meu medo foi maior, fui um covarde. Era noite, o céu estava cheio de estrelas, a lua estava cheia. Eu estava no lago aonde sempre vínhamos, tinha a esperança de encontrá-lo ali. Sentei de baixo de uma árvore, e comecei a lacrimejar...

- Adolf? - Ouvi alguém me chamando.

- Joseph!? - Olhei para o lado e o vi... Era ele. - Joseph é você? - Levantei-me e o abracei.

- Espera Adolf! - Ele disse se desvencilhando de mim.

- O que foi? - Indaguei.

- Eu só vim aqui para falar que não estou com raiva de você. Desculpe pela briga e pelas ameaças. - Ele disse com olhar tristonho.

- E quanto a nós? Como ficamos? Eu te amo. - Disse lacrimejando.

- Não há mais nós. Não da mais... Você me machucou. - Ele acariciou meu rosto. - Tenho que me afastar de você. - Completou.

- Não. Não pode fazer isso. - Disse desesperado.

- Você vai sentir saudades. - Ele disse choroso. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Eu não aceitava ele ir embora. Eu não suportaria ficar longe dele. Fui até sua direção e beijei-o com toda minha força. Forcei minha boca na sua. No início ele resistiu, mas logo cedeu. Era um beijo triste. Sentia uma dor ao beijá-lo, mas sentia seu amor. Lágrimas escorriam por nossos rostos e se misturavam as nossas bocas. Até que ele me empurrou.

- Não dá Adolf! - Ele esbravejou. - Não vê que é tudo por você? Que tudo é por sua causa!? - Ele chorava. - Você me matou.

- Não me deixe. - Arfei.

- Adeus Adolf! - Ele saiu dali sem olhar para atrás.

Uma parte de mim se foi. Aquilo seria só o início de minha dor. Eu não conseguia viver sem ele. Vivemos nossas vidas inteira juntos. Meu primo, meu amigo, meu amor. E deixei-o ir embora... Chorei a madrugada inteira.

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- Espera aí! Já vou! - Disse animado.

Imediatamente fechei a janela e sai apressado. Não tinha visto, mais a minha cama estava à minha frente e por minha pressa acabei batendo meu joelho em umas das pernas da cama. Cai no chão de dor. Meu joelho estava ralado e doendo muito.

- Maldita cama! - Xinguei de dor.

Meu joelho ainda estava doendo, mas consegui ir até o banheiro. Onde tomei um banho ligeiro e fiz minhas higienes. Estava tão animado que coloquei as minhas melhores roupas para ficar bonito. Queria surpreender Joseph.

- Eu não vou te esperar o dia todo! - Joseph gritou. Fui até a janela.

- Já estou indo! - Respondi.

Sem pensar duas vezes fui até lá embaixo onde Joseph estava me esperando. Logo no meu aniversário de 19 anos.

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{JOSEPH}

Eu tinha voltado depois de três anos, estava na cidade há uma semana. Vim por vingança. Faria aqueles que me machucaram pagar pelo que me fizeram, e meu primo Adolf era um deles, o que mais me machucou. Decidi fazer uma surpresa de aniversário. Voltei! E voltei disposto a tudo. Vê a alegria de Adolf a me ver, ver seu sorriso era a certeza de que eu precisava para me vingar. Ele continuava lindo...

- Eu não acredito! - Ele exclamou emocionado.

- Então não acredite. - Repliquei.

Eu sabia o que ele queria, então eu o abracei, abracei com toda minha força. Foi aí que percebi que era o mesmo Adolf que conheci.

- Senti tanto sua falta... - Ele disse cabisbaixo. Seus olhos estavam marejados. Ele tentava não demonstrar que chorava.

- Está chorando? - Indaguei.

- Sim. Estou chorando de alegria. Você não sabe o quanto esperei por esse dia. - Ele enxugava as lágrimas.

- Eu não aguentei e voltei... Vim logo no seu aniversário. Queria que fosse seu presente.

- Disse sorrindo e pondo minha mão em seu ombro. Imediatamente ele abriu um grande sorriso no rosto. - Eu quero passar o dia todo com você, nos divertindo. Como no passado. Você quer? - Perguntei.

- É tudo o que eu mais quero... - Ele respondeu.

- Então vamos! Pegue sua bicicleta. - Respondi rispidamente.

Imediatamente ele pegou sua bicicleta e subiu nela. Era como uma criança de tão alegre. Parecia um bobo. Era visível que seu remorso e seu amor deixavam-o ingênuo. Ele estava sendo ingênuo tanto quanto eu já fui.

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TRÊS ANOS ATRÁS...

26 de Abril de 1993

Ele me olhava com ternura alisando meus cabelos, foi naquele momento que senti que ele era meu amor, minha vida, minha droga, meu ódio, minha morte... Eu sabia o que sentia por ele era pecado. Meus pais e nosso pastor sempre nos ensinou que o homossexualismo era abominável. Eu também considerava o homossexualismo algo ruim, do mal e imoral. Mas não podia negar o que sentia por Adolf, eu o desejava, eu o amava. O que sentia por ele era o pecado mais lindo que já vi e que já cometi.

- Eu nunca vou esquecer-me de você Adolf... - Não me controlei e disse em um suspiro. Me senti envergonhado pelo que eu acabará de ter dito. Mas pude ver um sorriso nascer no rosto de Adolf.

- Joseph! - Ele me chamou a atenção. Vi uma expressão de confusão. - Não acha tudo isso errado? - Ele perguntou e por um breve momento me olhou nos olhos. Parece que se arrependeu do que disse.

- Acho! Mas não consigo parar de sentir o que sinto por você. - Disse olhando para palma da minha mão.

- O que sinto por você é tão forte... Que me faz desejar coisas erradas e sujas... - Adolf indagou. - Estou com medo... - Foi a primeira e a última vez que ele admitiu estar com medo.

Levantei-me, olhei em seus olhos e abracei-o com toda minha força, pude sentir as suas batidas cardíacas... Sua respiração... É piegas, mas parecia que existia apenas nós dois no mundo.

- Agora está com medo? - Disse no seu ouvido e ainda abraçando-o.

- Não. - Ele arfou.

Desvencilhei-me de seu corpo, nos olhamos e pude sentir a confusão de Adolf... Senti, e aquilo me deu um aperto no coração... Doía... Ainda havia um vazio entre nós que separava nossas almas.

- Adolf... - Arfei tristonho.

- Sim Joseph? - Ele correspondeu.

- Prometa que não me deixará só? - Indaguei.

- Eu prometo. - Ele respondeu de imediato.

Eu não sabia se a resposta foi sincera ou se só disse por falar, ele não pensou muito para responder.

- Você não vai ficar sozinho nunca - Ele veio me beijou na testa. - Eu prometo. - E sorriu.

Eu apenas sorri confirmando minha "alegria", e voltei a deitar em seu colo. Não sabia se deveria confiar nele, mas confiava em seu amor. Será que estava sendo imprudente com toda essa situação? Não sabia... Mas queria viver aquele pecado ao limite. E também, eu não estava mais sozinho...

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{ADOLF}

Lá estávamos nós, sentados na grama na beira da estrada. Nossas bicicletas jogadas de lado. Olhávamos os carros, os caminhões, as pessoas passarem. O sol batia forte em nós, estávamos suados, mas tínhamos algumas garrafas de água mineral. Fiquei tão feliz por ele estar comigo, ao meu lado como ele sempre prometeu. Será que ele tinha se esquecido do que fiz para ele? Será que ele queria que tudo fosse como antes? Eu só me perguntava, pois não estava entendendo sua atitude. Mas estava sendo o melhor presente de aniversário que já tive. Ele não falava nada, nem olhava para mim. Estava frio. Era um silêncio gritante, ninguém falava nada. Estava começando a ficar triste. Senti seu desprezo, e eu com certeza merecia isso. Naquele momento eu parecia não existir para ele. Eu fiz tanto mal a ele, só por causa de meu medo. Sofri tanto por ele. Eu tinha perdido seu amor... E o meu só cresceu. Ele era tudo o que eu amava e precisava.

- Me perdoa? - Comecei a chorar. - Joseph me perdoa? - Ele me olhou. Eu estava suplicando o seu perdão. - Eu te amo tanto... Eu vou te amar até os fins dos tempos, para sempre. - Disse flébil. - Eu preciso de você. - As lágrimas insistiam em sair. Eu olhei para o chão. Minhas lágrimas não deixavam me ver direito, só via um borrão verde, era a grama. Logo voltei minha visão para ele.

Sua expressão era uma incógnita. Não sabia o que ele estava pensando. Ele apenas olhava fixamente para mim.

- Você fica tão lindo quando está triste. - Ele levantou minha cabeça e lambeu minhas lágrimas. Senti sua língua em meu rosto. Aquilo para mim foi uma demonstração de afeto por mim. - Você me machucou tanto Adolf... - Ele disse triste - Derramei lágrimas por você. Sempre estive ao seu lado, mas quando eu mais precisei você não esteve ao meu. - Ele lacrimejava. - Você me deixou feridas que nunca se curaram e que não saram.

- Mas eu me arrependi! - Esbravejei. - Demorou para mim perceber que eu te amo. - Chorava intensamente. - Eu mentiria por você, roubaria por você, mataria por você, morreria por você... - Disse perdendo o tom.

- Mas você não teve coragem, quando mais precisei de você. Quando precisei de seu amor. - Ele ressaltou. Ele não chorava mais.

- Porque eu fui um idiota! Um medroso! - Esbravejei. - Eu tinha tanto medo desse amor... - Acrescentei.

- Se você me ama... - Ele parou de falar. Olhou-me nos fundos dos meus olhos. - Então prove! - Ele finalizou.

- Eu faço tudo por você. Tudo o que você quiser eu faço. - Eu disse convicto.

- Ótimo! - Ele sorriu. - Porque eu também te amo. - Ele me deu um selinho. Fiquei tão feliz. - Vamos sair daqui, por que o dia vai ser longo. - Ele pegou na minha mão e sorriu.

Lá fomos nós. E eu estava disposto a provar meu amor por ele. Mostrar que o amo e mostrar que tenho coragem, que vou lutar por esse amor. Porque ele era tudo na minha vida.

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TRÊS ANOS ATRÁS...

02 de Março de 1993

Era domingo à tarde, meus pais tinham saído. Joseph sabia disso e veio para minha casa. Eu ainda achava estranha a nossa relação. Eu sabia que ele me amava, mas eu tinha medo de amá-lo. Entretanto sempre correspondi a esse amor. Naquela tarde ele entrou pelas portas dos fundos, nós dois fazíamos questão disso. Sempre tivemos medo que desconfiassem da nossa relação. Principalmente eu. Eu fui abrir a porta para ele.

- Entra logo! - Disse abrindo a porta. - Ninguém pode saber que você está aqui! - Puxei-o para dentro.

- Cara! Você está ficando paranoico! - Ele disse encostando-se no balcão da cozinha. Ele era tão charmoso. - Eu sou seu primo - Ele disse com os olhos brilhando. - Seu amigo. - Ele aproximava-se de mim. - Namorado... - Puxou-me para perto dele. Agarrou-me, olhou nos fundos dos meus olhos - E amante. - Disse me beijando apaixonadamente.

Nossos lábios colidiram, nossas línguas brigavam, pude sentir o gosto de sua boca. Era um gosto de batata doce, provavelmente ele tinha comido de manhã cedo.

- Para Joseph! - Afastei-me de seu corpo e interrompi o beijo.

- O que foi Adolf? - Ele perguntou-me aparentemente irritado.

- A janela está aberta! - Fui até a janela da cozinha. - Alguém poderia nos ver. - Disse apreensivo e logo fechando a janela.

- Por que você tem medo de me amar? - Ele perguntou tentando olhar nos meus olhos, e os meus fugiam dos dele.

- Você quer comer algo? - Tentei desviar do assunto. - Vou preparar uns sanduíches para nós. - Fui até geladeira e peguei todo material. Não queria olhar para ele. - Como você quer o seu? - Perguntei para ele e olhei-o de relance e percebi sua cara de insatisfação.

Tentei focar a minha atenção nos sanduíches. Ele continuou calado. Seu silêncio era torturante. Fui cortar o presunto.

- Não fuja do assunto Adolf! - Ele esbravejou.

- Aiiiiiiiiiiiii! - Fiquei espantado com Joseph. E cortei meu dedo.

- Droga Adolf! - Joseph me esculhambou.

Eu via o sangue jorrar de meu dedo. Minha mão já estava toda vermelha. O sangue saía incontrolavelmente. Tinha medo de sangue, não conseguia olhar, ou limpar o sangue. Apenas fechei os olhos. Logo percebi a presença de Joseph perto de mim.

- Deixa-me ver - Ele pegou minha mão. - Quanto sangue! - Ele exclamou. - Eu vou cuidar disso. - Ele disse. Logo senti algo úmido e quente em meu dedo. Abri os olhos, e o vi chupando todo meu sangue que jorrava. Chupou todinho. Primeiramente estranhei, mas logo a situação ficou até excitante. Ele lambeu o sangue da minha mão. Depois que chupou tudo vi seus lábios, sua boca suja com meu sangue e por impulso beijei-o. Foi o beijo mais excitante que já tivemos. Nossas bocas com meu sangue. Saliva misturada com sangue.

- Eu não tenho medo de amar você Joseph. - Disse entre os beijos - Só que é perigoso demais. - Disse voltando aos beijos.

- Eu sempre estarei ao seu lado Adolf, para protegê-lo de tudo e de todos - Ele disse. - Não precisa temer nada - Acrescentou. - Porque eu te amo. - E me beijou.

Eu realmente me senti protegido ao lado dele. Mas ainda continuava inquieto. Ainda tinha uma sensação de perigo. Mas tudo o que eu queria era ele. Ele mesmo enfaixou meu corte. Naquela tarde não transamos... Fizemos amor.

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Eu ainda achava inacreditável, Joseph estava comigo de novo. Eu estava tão feliz... Le veio me ver no meu aniversário. Ele parecia ter esquecido o passado, sorria a toda hora para mim. Andávamos de bicicleta pela cidade, eu não queria saber o que pensariam se eu estivesse ao seu lado. Paramos em frente a um comércio.

- Adolf, eu nunca deixei de te amar. - Ele disse voltando-se para mim.

- Eu também. - Repliquei.

- Sabe que tenho dúvidas do seu amor, não é? Não sei se posso confiar em você. - Ele disse olhando para baixo.

- Por isso eu estou aqui. Para lhe provar que te amo... Que te mereço. Mostrar que pode confiar em mim novamente. - Disse emocionado. Ele apenas deu aquele sorrisinho enigmático.

- Está vendo o comércio à frente? - Joseph indagou apontando para estabelecimento.

- Sim. Vejo. - Respondi.

- Quero que pegue umas coisas para mim. - Joseph andava de um lado para o outro.

- Quer que eu roube? - Indaguei.

- Furtar seria o termo certo. - Ele disse olhando para mim. - Hoje o comércio está às moscas. Você não deve ser flagrado. E se for... Fuja! - Ele exclamou. - E aí? Vai fazer isso por mim? - Ele indagou.

Olhei para o comércio e realmente não tinha muita gente. Eu teria que correr os riscos.

- Eu faço! - Exclamei. - O que você quer? - Perguntei.

- Apenas umas latinhas de cola e uma caixa de cigarro. - Ele respondeu.

- Tudo bem. - Arfei.

- Estarei aqui te esperando. - Ele disse com os olhos brilhando.

Arrumei coragem e fui até o estabelecimento. Entrei e vi o dono atrás do balcão com uma cliente, seu ajudante arrumando coisas em uma das prateleiras e outro cliente vendo os produtos. Imediatamente fui para prateleira de doces, fingi olhar algumas. Fui até os fundos onde ficava a prateleiras de bebidas. Virei de costas para o ajudante e o dono. Sorrateiramente, peguei duas latinhas de cola e escondi debaixo da minha camisa. Eu já estava com o pressentimento de que seria pego. Então fui até onde estavam os cigarros, virei de costas e peguei uma caixa. Desta vez eu senti que tinham me visto. Saí ligeiro e nervoso do comércio com o cigarro e a cola debaixo da minha camisa. Estava já no lado de fora do comércio.

- GAROTO! - Alguém gritou. Saí correndo e não olhei pra trás. Corri até Joseph.

- Vamos sair daqui! - Avisei.

Rapidamente subimos nas nossas bicicletas e saímos daquele lugar, e fomos para um terreno baldio que tinha próximo dalí. O que eu tinha feito foi muito arriscado, mas tinha que admitir, foi emocionante, perigoso, foi divertido. Joseph e eu rimos muito com o meu furto. Lá mesmo naquele terreno, bebemos as latinhas de cola quente mesmo. Não nos importávamos mesmo. E fumamos a caixa de cigarros inteira. Depois saímos daquele lugar, e passeamos mais pela cidade. Fizemos uma corrida de bicicletas, fizemos traquinagens do tipo de apertar a campainha e sair correndo. Estávamos nos divertindo, sendo inconsequentes, sendo jovens, estávamos vivendo no limite.

* * *

Ele me levou até a sua antiga casa, que era uma pequena roça um pouco afastada do centro da cidade. Era uma casa de madeira de dois andares um pouco grande. Onde ainda moravam sua mãe Maria e seu padrasto Bento. Era de tarde, estávamos em frente à casa. Ficamos lá, e ele olhava fixamente para a casa sem piscar. Eu não entendia seu olhar... Era meio triste e cheio de ódio. Também não entendia por que estávamos ali. Achava estranho...

- O que vamos fazer aqui Joseph!? - Perguntei. Ele não respondia. Parecia estar perdidos em seus pensamentos.

- Joseph!?

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{JOSEPH}

Aquela casa me trazia as piores lembranças do meu passado. Às vezes eu ia para frente da casa da minha mãe e me escondia atrás de uma moita só para ver aqueles porcos! Como eu odiava meu padrasto e a minha mãe por seu uma idiota. Eles foram os causadores de um dos meus maiores sofrimentos. Renegaram-me! Mas eu tinha um ódio especial pelo meu padrasto...

Minha mãe se casou com Bento quando eu ainda tinha 12 anos. Bento tinha 42 anos na época. Ele parecia fazer minha mãe feliz. Eu nunca fui com a cara dele, mal nós falávamos quando ele veio morar com a gente. Lembro-me bem daquele dia horrível em que fiquei sozinho com ele...

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SETE ANOS ATRÁS...

12 de Dezembro de 1989

Estava com 12 anos, era de manhã. Minha mãe não estava em casa, tinha ido visitar minha tia na fazenda. Fiquei sozinho em casa com meu padrasto. Ainda não tínhamos o aparato de televisão. A tecnologia era tardia na nossa cidade. E para passar o tempo eu fiquei a manhã toda desenhando no sofá. Estava tão concentrado em desenhar, que nem percebi Bento sentar ao meu lado. Ele tinha 42, mas parecia ter 48, era um velho muito barbudo, calvo, gordo com sua barriguinha de cerveja e fedia muito.

- O que está fazendo Joseph? - Ele me perguntou.

- Desenhando. - Respondi sem olhar pra ele. Estranhei ele puxar conversa, já que mal nos falávamos.

- Sabe, você tem pernas lindas! - Ele indagou.

- Obrigado Bento! - Respondi inocentemente.

- Não precisa me chamar de Bento. Pode me chamar de pai. - Ele disse com um sorriso estranho.

Eu estava só com um short curto, deixando minhas pernas amostras. Eu me assustei quando ele começou a alisar minhas coxas... Não sabia o que fazer ou o que pensar. Era uma sensação de perigo no qual precisava fugir.

- Vamos ao quarto do pai? - Ele indagou com um sorriso estranho. - Quero lhe dar um brinquedo. - Ele pegou a minha mão e me puxou.

Eu estava com medo. Temia por algo. Estava muito passível com a situação. Deixei ele me levar... O que aconteceu depois foram às lembranças mais horríveis e sujas que eu tinha. Aquele velhaco que me ameaçou e que me bateu. Fiquei naquele quarto trancado com ele. Ele me esmurrava e estapeava, eu só conseguia chorar, não podia gritar, porque ele tapava minha boca. Aquele porco me despiu, com suas mãos nojentas ele me tocava, apalpava meu sexo, minha bunda. Seu odor era inebriante, me fazia ter vontade de vomitar. Seu corpo gordo, sujo e peludo em cima de mim. Foi nesse momento que senti umas das piores dores que já senti. Ele me penetrava com violência. Rasgava-me ao meio, não podia gritar com suas mãos sujas em minha boca... A dor era insuportável. A única coisa que eu queria era que ele parasse. Lembro-me que quando ele parou eu sentia algo escorrendo pelas minhas coxas. Quando passei minha mão, vi sangue misturado com esperma... Depois de tudo ele me ameaçou dizendo que se contasse o que tinha acontecido ali, ele me mataria. Passei os três dias seguintes trancado em meu quarto, não paravam de chorar. Sentia-me sujo, a pior criatura do mundo, um ser desprezível que deveria queimar no inferno. E foi assim por um tempo...

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- Joseph!? - Adolf me chamava. E acordei das minhas dolorosas lembranças.

- Sim? - Respondi confuso.

- O que estamos fazendo aqui? O que vou fazer? - Ele perguntava.

Olhei para a minha antiga casa onde vivi umas das piores coisas da minha vida, que me marcaram. Coisas que eu gostaria de ter esquecido, mas que me atormentavam dia e noite. Que estariam para sempre comigo.

- Não é o que você vai fazer, é o que nós vamos fazer. - Respondi ainda olhando para a casa.

- Como assim? - Ele indagou com uma cara de confusão.

- Vamos queimar o meu passado. Vamos queimar minha antiga casa. - Disse sorrindo para ele.

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{ADOLF}

Como assim ele queria queimar a sua antiga casa. Com seus pais dentro? Tá. Ele tinha motivos para isso. Dava pra entender seu ódio e rancor por sua mãe e padrasto... Mas a ponto de matá-los? E eu ainda tinha que ajudá-lo. Sim, era muita loucura. Eu podia me sentir com remorso depois...

- E aí? Vai me ajudar ou não? Ou está com medo de novo? - Joseph indagou.

- Não. Não estou com medo! Tive medo uma vez e perdi você, então não terei medo novamente. - Eu respondi convicto.

- Ótimo! - Ele sorriu. - Vamos lá! - Ele disse animado.

Ele me explicou o que exatamente faríamos. Ele disse que ainda tinha a chave da casa e aquele era o momento certo de usá-la. Entraríamos de sorrateiro na casa, sem que ninguém nos visse. Para ele aquele era o momento certo, pois seus pais estavam dormindo naquele horário. Entramos na casa e realmente não tinha ninguém acordado. O andar de baixo vazio e sua mãe e o seu padrasto dormindo no quarto de cima.

- Adolf, pegue panos, tecidos e roupas e amontoe tudo em cima do sofá. - Joseph mandou enquanto foi procurar algo.

Peguei roupas sujas e algumas lavadas, alguns panos que havia na casa e as cortinas. Depois que juntei tudo no sofá, fui atrás de Joseph. Ele não estava no andar debaixo. Subi as escadas e vi uma porta aberta. Com certeza o quarto da mãe dele. Entrei e vi Joseph roubando o dinheiro que havia no armário.

- O que está fazendo? - Sussurrei para ele.

- Shiiiiiii. - Ele pediu silêncio.

Foi quando eu o vi pegando o molho de chave da casa que estava no armário, e duas garrafas de álcool. Ele fez um sinal para eu sair. Saí do quarto e da porta, vi ele fechando a janela do quarto antes de sair. Saiu do quarto devagar para não fazer barulho e trancou a porta, trancou sua mãe e seu padrasto lá dentro. Ele sorriu pra mim. Não disse nada, já estava fazendo isso mesmo. Então voltamos para baixo.

- Bom trabalho! - Ele me elogiou vendo o monte de panos que fiz no sofá.

Ele destampou uma garrafa de álcool e jogou em cima do monte. Com a outra espalhou um pouco pela sala.

- Toma, Acende! - Ele me deu uma caixa de fósforos.

Eu sabia o que deveria fazer. E não estava com medo. Estava gostando de sentir o perigo. Tirei um palito de fósforo, risquei na caixa e a chama nasceu. Joguei em cima do monte. Vi que a chama estava crescendo, consumindo os panos. Logo Joseph pegou a caixa e acendeu outros palitos de fósforos. Jogou tudo em cima do amontoado. Ficamos um tempo ali vendo o fogo crescer... Até que resolvemos sair da casa. Joseph trancou a casa. Voltamos a nos esconder atrás de uma moita em frente a sua casa. Esperaríamos o resultado. Em meia hora as chamas cresciam rapidamente alastrando-se por toda a casa de madeira. Em pouco tempo via-se labaredas. A casa queimava intensamente. Como era uma roça afastada do centro da cidade, não tinham vizinhos por perto. E não passava nenhuma pessoa por perto, e nem poderia ajudar sendo só uma. A cidade não tinha corpo de bombeiros e os pouquíssimos que passavam pelo local passavam direto. Então o incêndio não poderia ser parado. O fogo vivia! A mãe de Joseph e seu padrasto não poderiam sair daquele quarto. Estavam presos. Pude ouvir gritos de socorro da tia Maria. Eram gritos de desespero. Eles morreriam asfixiados com a fumaça antes que o fogo chegasse. Seus corpos seriam carbonizados. Houve um grande estrondo, uma explosão, com certeza o fogo tinha chegado ao bujão de gás da casa. Era final da tarde, o sol estava se pondo, logo viria à noite e labaredas continuavam. A fumaça já estava incomodando. Mas era lindo ver aquelas chamas no final da tarde e no anoitecer. Eu havia gostado do perigo e da emoção. Mas me sentia culpado pelo que fiz. Fui responsável pela morte dos meus tios. Por outro lado eu fiz isso pela pessoa que amo.

- Eles morreram... - Arfei impressionado com o incêndio.

- Espero que esses porcos estejam no inferno! Onde é o lugar deles! - Ele disse enxugando uma lágrima que insistiu em sair. - Vamos embora daqui! Já deu. - Ele disse saindo.

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{JOSEPH}

Adolf estava fazendo tudo o que eu pedia. Arriscando-se por mim. Eu estava adorando isso... Ele estava em minhas mãos. Era minha marionete. Minha vingança estava se concretizando. Passei o dia de seu aniversário com ele, nos divertindo. Levei-o até a praça da cidade, ficamos lá sentados num banco.

- Por que você voltou? - Ele perguntou.

- É algo que eu queria saber... - Disse olhando para baixo. - Acho que não consegui ficar longe de você. Senti saudades, você me faz tão mal... Mas amo você. - Olhei pra ele. E ele me olhava com um olhar de apaixonado.

- O tempo que você ficou longe de mim... Só serviu pra mostrar que fui um idiota. E estou querendo lutar pelo nosso amor. - Suas pernas não paravam de mexer. - Eu me perdi sem você. - Ele arfou. - Com você ao meu lado, acho que me encontrei novamente. - Ele sorriu.

O amor e o remorso de Adolf estavam cegando-o. Isso era bom pra mim. Mas eu sentia seu amor... Eu passei o dia todo com ele. E... Não sei dizer... Estava confuso. Ele parecia ser tudo o que eu precisava. Mas meu rancor por ele era maior. E tinha que fazer o que planejei.

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TRÊS ANOS ATRÁS...

Aquele filho da puta! Traidor, mentiroso! Pau no cu. Tinha me dado às costas. Estávamos juntos para o que der e vier, enfrentaríamos tudo junto, um ao lado do outro. Aquele otário me prometeu que nunca me deixaria só. E agora? Deixou-me sem rumo, sem sentido, sem esperança. Ele abriu uma ferida em meu peito, que só aumentava... Aquele viado desgraçado! Eu só sentia ódio e raiva dele. Todo meu amor sumiu em um instante... Ele me jogou num abismo. Fui até a casa daquele desgraçado. Eu não conseguia pensar direito, tudo o que eu queria era matar ele. Um profundo ódio despertou em mim. Eu sabia o que fazer e estava decidido disso. Quando cheguei, vi o desgraçado alimentando as galinhas, ele estava de costas pra mim. Fui até sua direção...

- Adolf! - Chamei-lhe a atenção.

- Joseph!? - Ele disse surpreso. - O que faz aqui? - O desgraçado se fez de desentendido.

Subiu-me um ódio que deferi um soco com toda minha raiva na cara daquele mentiroso, que o fez cair no chão se sujando de lama.

- Cara, você tá louco? - Aquele viado continuava a me irritar. Ele tentou se levantar, mas dei outro soco nele. - PARA CARA! - Ele gritou.

- SEU MENTIROSO! - Imobilizei-o. Subi em cima dele, e comecei a detonar a cara do desgraçado. Coloquei toda a minha raiva para fora. - VOCÊ ME PROMETEU! - Eu começava a lagrimejar.

- JOSEPH PARA! - Ele tentava proteger seu rosto. - ESTÁ ME MACHUCANDO PORRA! - Ele gritou de dor.

- E VOCÊ ACHA QUE NÃO ME MACHUCOU? - Disse indignado por tamanha hipocrisia da parte dele.

- EU NUNCA TE MACHUQUEI! - O desgraçado continuava mentindo. Deferi socos na cara dele, eu não conseguia me controlar. Estava possesso de raiva. O rosto dele estava todo vermelho, seu supercílio sangrava... O sangue escorria por aquele rosto que eu achava tão lindo.

- MACHUCOU SIM! - As lágrimas insistiam em sair de meus olhos. - Bem aqui! - Coloquei minha mão no meu peito, apontando o meu coração. Chorava descontroladamente. - Machucou meu coração, minha alma. - Eu lamentava. Mesmo com o rosto todo quebrado e sangrando conseguia ver sua expressão de desentendimento.

- EU ESTAVA COM MEDO! - Ele esbravejou. E as lágrimas de seu rosto se misturavam com o sangue que escorria.

- MEDO? - Gritei e deferi um soco com toda minha força nele. - MEDO? - Dei outro. - MEDO? - A cada vez que repetia a palavra medo de raiva, eu deferia um soco mais forte. Eu chorava insistentemente, as lágrimas não me deixavam ver nada. Tudo o que eu fazia era socar a cara dele. - VOCÊ PROMETEU NÃO ME DEIXAR SÓ. - Gritei revoltado. - EU SEMPRE ESTARIA AO SEU LADO, E VOCÊ NÃO ESTEVE NO MEU QUANDO MAIS PRECISEI! - Nada me fazia parar.

- SOCOR... - Ele tentava pedir ajuda e eu socava a boca dele.

- EU TE DEI MEU AMOR CARALHO! - Eu ia matar ele. Era tudo o que eu queria. - E VOCÊ JOGOU FORA COMO SE NÃO FOSSE NADA!? - Eu não raciocinava mais. - VOCÊ BRINCOU COMIGO, BRINCOU COM OS MEUS SENTIMENTOS, VOCÊ ME DESTRUIU! ACABOU COMIGO! ACABOU COM A MINHA VIDA! - Eu parei de socá-lo e comecei a desabafar. - TUDO POR CAUSA DE SEU MALDITO MEDO! SEU MEDROSO! QUEM AMA NÃO TEM MEDO. - Eu só choramingava.

Eu perdi o controle da situação. Quando menos percebi, ele me deu um soco, que me derrubou, subindo em cima de mim começando a me socar.

- EU NÃO SOU GAY CARALHO! - Ele gritou. - SE ESTOU ASSIM É POR SUA CULPA! - Ele me socava forte. Mas eu não me importava mais com a dor física. - FIQUEI COM MEDO SIM! - Ele chorava. - Mas eu te amo... - Ele saiu de cima de mim.

- Ama? - Disse sarcástico. - Quem ama não faz o que você fez! - Completei irritado. - Você me deixou marcado para sempre. - Eu me levantei. - Seu amor é perigoso. É uma doença. É a minha doença... - Disse com um ar triste.

- Eu sempre me senti bem e protegido ao seu lado... Não sei o que deu em mim... - Ele nem se quer olhava na minha cara. Com certeza outra de suas mentiras.

Naquele momento reparei em seu rosto deformado. Via o sangue e as lágrimas. Seu rosto todo roxo, cheio de hematomas. Foi aí que percebi que não estava satisfeito em apenas machucá-lo fisicamente, precisava mais...

- Adolf, você me paga. Você vai sentir toda a minha dor, a minha tristeza. Você vai sofrer... Vou arrancar o seu coração. - Disse me afastando dele. - Você vai sangrar por mim - Disse tocando no sangue que escorria do meu rosto. - Você vai chorar por mim - Disse enxugando uma lágrima que saia do meu olho. - Você vai queimar por mim. - Apontei para mim mesmo. Ameacei-o, saí daquele lugar o mais ligeiro possível, não olhei para trás. Não ouvi dizer nada.

Eu estava desnorteado, vagando pelas ruas. Não sabia o que fazer, meu coração estava estraçalhado. Não tinha mais ninguém para me amparar. Eu via as minhas lágrimas saindo, e com elas ia todo o meu amor. Ele não me amava, nem veio me procurar aquele viado! E o meu ódio só crescia, só aumentava... Naquele momento eu só sabia de uma coisa. Seu amor seria a sua morte. Depois daquele dia vivi na rua e mendiguei por um tempo. Até tentei suicídio.

*

*

*

*

- Eu preciso ter certeza do seu amor... Não quero me ferir de novo. - Enfatizei. - Dói... Dói muito... - Suspirei. Ele tinha um olhar vago, olhava fixamente para baixo. Acho que queria chorar, mas não conseguia. - Adolf, espere aí. - Avisei.

- Aonde vai? - Ele perguntou.

- Eu preciso ter certeza de que não vou me arrepender de novo. - Sorri. - Tenho que preparar tudo para que essa seja a melhor noite de nossas vidas. - Disse colocando minha mão em seu ombro. - Eu vou demorar um pouco. Então fique bem aí e me espere. - Completei.

- Tudo bem. Eu te espero. - Ele sorriu.

Peguei minha bicicleta e saí dali. Eu tinha planos... E precisava de algumas coisas. Comprei muitas velas, e fui até a fazenda de Adolf. Até o nosso Celeiro, onde nos amávamos escondidos... Eu darei todo meu amor e dor a Adolf.

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{ADOLF}

Fiquei sentado naquele banco sozinho e com frio esperando Joseph. Eu nunca pensei que eu seria um incendiário, que queimaria a casa de meus tios com eles dentro. Parecia loucura o que fizemos, mas não era loucura, era amor, foi por amor. Eu estava vivendo no limite, mas meu amor não tinha limites. Já era noite, e não acreditava nas coisas que tinha feito. Mas o amor que sinto por Joseph me deu forças, me deu coragem para fazer tudo aquilo que eu achava que não podia fazer. E não estava com remorso. Fiz tudo por amor, por Joseph, por nós. Não pensava mais em nada, em nenhuma consequência.

Joseph tinha me deixado sozinho em uma pequena praça da cidade. Ele disse que precisava preparar tudo para que pudéssemos viver nosso amor e que voltaria. Como uma cidade do interior, com poucos habitantes, as pessoas já tinham se recolhido para as suas camas dormir. Havia poucas pessoas nas ruas, em sua maioria jovens namorando. Aquela noite tenebrosa, no dia do meu aniversário, causava-me calafrios... De dia fez bastante calor, mas a noite batia um frio... A lua era minguante, não havia estrelas no céu, ventos fortes e frios batiam nas árvores, reproduzindo a música da noite. Eu só conseguia pensar onde Joseph estaria, ele estava demorando. Eu olhava para o horizonte na esperança de vê-lo chegando. Mas nunca o via chegar. Abaixei a cabeça e fiquei relembrando aquele fatídico dia em que meu medo foi maior que meu amor...

*

*

*

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TRÊS ANOS ATRÁS...

19 de Julho de 1993

Sempre que podíamos, Joseph e eu íamos ao lago para ficar sozinhos. Lá poderíamos namorar à vontade. Estávamos deitados na grama, sua cabeça descansava em meu peito. Sua mão passeava pela minha barriga. Logo sua mão pegou a minha, ele olhou fixamente para ela e juntou a palma da sua com a minha, ficamos assim por um tempo, de palmas coladas. Até que ele apertou tão forte a minha mão que chegou a doer. Logo senti algo molhado na minha camisa.

- Joseph? - Chamei-o. E fui me sentando.

- O que foi? - Ele indagou. Quando eu vi o seu rosto, percebi que ele estava chorando, chorando em silêncio. Ele enxugava as suas lágrimas.

- Está chorando? Por quê? - Perguntei. Ele continuava enxugando as lágrimas. Ele não respondia. - Bora! Responde! - Mandei.

- É o Bento. - Ele suspirou.

- O que esse porco fez? - Indaguei irritado.

- Eu não podia mais continuar fazendo o que ele queria que eu fizesse. Não com você, amando você. - Ele tomou fôlego. - Disse para ele que não podia mais, e ele ficou furioso. Chegou a me bater, e me ameaçou. Disse que se eu não continuasse dando pra ele, ele contaria tudo pra minha mãe, de que eu sou gay. E ela me jogaria na sarjeta. - Ele desabafou.

- Nossa. - Arfei. - O que vai fazer? - Perguntei.

- Não vou o deixar contar. Vou assumir. E preciso de você para isso. - Ele falou apertando a minha mão e me olhando nos olhos.

- Precisa de mim? - Indaguei confuso.

- Sim! Vamos assumir? Juntos? Eu não vou conseguir sozinho. Eu preciso de você comigo, ao meu lado. Vamos enfrentar os problemas que virão, juntos. - Ele disse apertando minhas duas mãos.

Eu não queria assumir, até porque não me aceitava gay. Não estava pronto para assumir tudo, eu estava com medo. Seria renegado, desprezado e discriminado. Mas eu via Joseph... Ele precisava de mim. Eu tinha que estar junto dele. Prometemos um ao outro, que estaríamos sempre juntos no que der e vier.

- Eu sempre estarei ao seu lado. - Respondi.

- Obrigado amor! - Ele sorriu, me abraçou e beijou-me. - Agora seremos só nós dois. - Ele disse entre os beijos.

Eu estava com medo, muito medo. Eu não queria imaginar o que aconteceria. Nossas famílias eram muito religiosas e preconceituosas. Eles não aceitariam com certeza. Eu temia pelo pior.

Voltamos para a minha casa. A mãe de Joseph e seu padrasto estavam lá com meus pais. Entramos juntos e vimos os quatro na sala de estar, sentados no sofá e poltronas. Conversando...

- Oi! - Cumprimentamos juntos.

Logo que nos viram, percebi suas caras fechadas. Eu não sabia o que estava acontecendo. Eles pareciam irritados. Olhavam feio para gente. Até que a mãe de Joseph veio até nós.

- Imundo! - Ela deu tapa em Joseph, que o fez cair no chão.

- O que foi mãe? - Joseph não entendia nada.

- NÃO ME CHAMA DE MÃE! SEU PERVERTIDO! - Ela deu mais um tapa nele. Ela não parava de esbofetear Joseph.

- PARA MÃE! PARA! - Ele suplicava e colocava as mãos no rosto para não apanhar.

Eu estava perto deles, até a minha mãe me afastar.

- NÃO SOU SUA MÃE. EU NÃO TENHO FILHO GAY. - Ela estava descontrolada. Seu cabelo estava descabelado.

Olhei para trás e vi Bento sorrindo. Aí descobri. Ele contou tudo.

- Deixa comigo mulher, vou bater nesse viado até ele virar homem. - Bento tirou a mãe de Joseph de cima dele.

O que eu vi depois foram cenas fortes de espancamento. Aquele porco desgraçou a vida de Joseph. Bento deu chutes e murros fortes na barriga e na cabeça de Joseph. Ele chorava, tentava se proteger, mas era em vão.

- Adolf! - Ele gritou. - Adolf! - Ele suplicava por mim enquanto era espancado. - Me ajuda! - E me olhava com esperança.

Eu estava vendo a pessoa que eu amava apanhando e não conseguia fazer nada. Quando ele suplicou pelo o meu nome, minhas pernas ficarão bambas. Eu o via sofrendo e não fazia nada. Eu sabia o que ele queria que eu fizesse. Mas o medo não me deixou. Não queria que o mesmo acontecesse comigo.

- Nojento! - Fui tudo o que eu disse. Eu não conseguiria assumir.

Joseph continuava a apanhar de Bento. Ele já sangrava... Saí dali, não poderia continuar vendo aquilo, ele de olhos fechados chorando tentando se proteger dos socos de Bento. Fugi, dei às costas para ele. Não consegui ficar ao lado dele como eu tinha prometido. Fui para fora da casa e fiquei chorando sem parar na varanda. Odiando-me por não ter ajudado Joseph. Fui tão covarde... Não pude protegê-lo. Fiquei na varanda até amanhecer. Até às lágrimas pararem de cair, até cessarem. Não sabia o que tinha acontecido com Joseph. Não dormi naquele dia. No dia seguinte perguntei aos meus pais o que aconteceu com ele. Fiquei desesperado, ele foi expulso de casa, ele devia estar nas ruas todo ferido. Eu sentia culpa. Procurei-o desesperadamente, minha missão virou procurá-lo. Mas nunca o achava. Foi uma semana de tristeza e remorso. Não tinha um dia que eu não chorava por ele.

*

*

*

*

- Adolf? - Alguém me chamou. Era Joseph. Olhei para cima e vi sua cabeça iluminada pelo poste de luz. - Está pronto? - Ele indagou.

- Sim. - Respondi de imediato.

- Vamos? - Ele me deu a mão. Aquele olhar... Eu não sei dizer. Mas tinha fogo, tinha fogo nos olhos.

- Vamos. - Repliquei e dei a mão a ele. Levantei do banco e ele me puxou. - Aonde vamos? - Perguntei.

- Surpresa. - Ele colocou o dedo indicador sobre os lábios e sorriu. E sem falar mais nada ele foi me levando ao desconhecido onde só havia escuridão.

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Adolf foi levado por Joseph até o celeiro, o lugar onde consumiam o seu amor e viviam seus pecados. Adolf não se surpreendeu muito, pois já imaginava o que aconteceria, mas tinha algo diferente no local. Além de o lugar estar cheio de cereais e feno, fedia a estrume. Mas não incomodava aos dois jovens. Adolf estava mais vislumbrado com o que vira. O celeiro estava todo iluminado com velas, eram velas para todo lado, criando um clima romântico naquele lugar sujo. Joseph entendia que seu amor era como o celeiro naquele momento. Um amor sujo, mas lindo. Adolf estava maravilhado, sentia-se feliz por estar ao lado da pessoa que ama. E Joseph adorando ver a fascinação de Adolf, Joseph já sentia o perigo e aquilo o excitava.

- Joseph... - Adolf disse se perdendo no que vira. Estava hipnotizado.

- Sim Adolf? - Joseph correspondeu prontamente.

- É tão lindo! - Disse Adolf sem piscar. Seus olhos brilhavam.

- É... Eu sei. - Joseph sorriu estranhamente contemplando o que fez no local. - Hoje

vamos nos amar como nunca nos amamos. - Joseph pegou na mão de Adolf e o levou para um canto do celeiro onde tinha muitas velas e um espaço suficiente para os dois.

Os dois sentaram no feno. Adolf estava totalmente a mercê de seu primo. Tudo o que Adolf pensava era que tudo voltaria a ser como antes, mas desta vez sem medo. Ele estava pronto para qualquer consequência que viesse, seu amor o cegava, ensurdecia e o deixava mudo. Joseph estava sob o controle da situação. Tinha Adolf onde queria, em suas mãos. E pra ele, isso era muito mais prazeroso. Joseph só estava no mundo para aquilo. Nada mais importava. Ele teria a sua vingança. Os dois rapazes estavam sentados no feno quando Joseph tomou a iniciativa e beijou apaixonadamente Adolf, que ficou surpreso de imediato, mas logo correspondeu ao ardente beijo. Para Adolf aquilo estava sendo o céu na terra. Ele nunca esteve tão feliz... Por estar ao lado de seu primo, seu amor. Os dois se entregavam aos beijos... Joseph tirou rapidamente a camisa de Adolf enquanto o beijava. Logo tirou a sua e já estavam deitados no feno se agarrando, um desejando sentir o outro.

- Você sentirá o que eu sinto. - Joseph indagou saindo dos beijos e voltando a sentar-se no feno. - Há um fogo dentro desse coração prestes a virar chama. - Ele completou.

- Como assim? - Adolf não tinha entendido nada e se sentou de frente para Joseph.

- Vamos purificar nosso amor com fogo. - Joseph disse com entusiasmo. - Queimarás por mim Adolf... - Joseph murmurou no ouvido de Adolf, e mordendo sua orelha.

- Queimar? - Indagou Adolf surpreso e olhando para o lado.

- Sim. Queimar! - Joseph ressaltou. - Temos que purificar esse amor sujo Adolf... - Joseph disse trazendo a cabeça de Adolf à sua direção, olhando olhos nos olhos e o beijando. - Não queria provar que me ama? - Joseph indagou.

- Eu quero! - Adolf disse convicto. - Então me queime Joseph. - Pediu decidido.

Joseph apenas sorriu com o pedido de Adolf. Joseph pegou uma venda preta que havia em sua calça. Adolf ficou de costas para ele e vendou-o.

- Você não verá, ouvirá, cheirará ou falará mais... Apenas sentirá. - Joseph murmurou no ouvido de Adolf

Joseph pegou também a vela mais próxima, olhou-a fixamente admirando o fogo. Colocou o dedo para sentir o calor da chama. Joseph estava fascinado com o fogo.

- Nosso amor é como o fogo... - Joseph indagou. - É tão lindo... - Ele disse tocando a chama. Adolf já virava de costas para Joseph - Mas quando é mais intenso, é mais perigoso. Quando nos aproximamos, nos queimamos, nos ferimos... - Joseph encostou a vela nas costas de Adolf.

Adolf sentiu o calor em seu corpo. Suas costas ardiam intensamente, o fogo consumia a sua pele alva. Joseph passeava com a vela pelas costas de Adolf... Joseph estava se satisfazendo em queimar seu primo. Era muito excitante. Só de ver a pele de seu primo queimada deixou de imediato o seu pau duro. Adolf aguentava a dor, tentava não gritar... Mas era insuportável. Ele gruía, lacrimejava de dor, segurava forte a pouca palha que havia pelo chão. Joseph se divertia em machucar Adolf. Para ele era lindo ver aquela pele chamuscada, toda queimada. O cheiro de pele queimada infestava o local. A cera derretida caía no chão. Logo Joseph pegou a vela e passou a chama por seu peito, assim se autoqueimando. Joseph queria sentir a dor. Ele queimava o seu peito enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. A dor não significava mais nada para ele. Adolf de tanta dor deitou-se no chão, sem fôlego, tentando respirar. A ardência continuava, suas costas estava toda queimada. Joseph viu Adolf deitado de bruços no chão, viu suas costas com queimaduras, o tesão logo bateu. Joseph deitou Adolf de costas.

- Aiiiiiii! - Adolf gritou quanto sentiu suas costas encostaram o chão. Por causa das queimaduras palhas grudaram-se nas suas costas.

- A carne é podre! - Joseph disse em tom de voz mais alto. - E a alma envenenada. - Disse, por conseguinte.

Joseph tirou as calças de Adolf, viu seu membro ainda mole. Logo o abocanhou, pôs tudo em sua boca e o chupava ainda mole, e logo o pau de Adolf foi crescendo na boca de Joseph até ficar totalmente duro. Joseph mamava freneticamente o pau de seu primo. Masturbava-o, chupava-o e succionava-o. Joseph deixou o pau de seu primo todo babado.

- Ahhh! Joseph. - Adolf gemia de prazer - Me chupa!

Joseph parou de chupar seu primo. Tirou suas próprias calças, ficando nú. Sentou-se nas coxas de Adolf. Levantou-se um pouco, posicionou o pau de Adolf na entradinha deu seu cuzinho e devagar foi descendo, sentindo entrar centímetro por centímetro daquela carne nele. Até entrar tudo e sentir os pêlos pubianos de seu primo na sua bunda. Joseph acostumando-se com a dor da penetração rebolava no pau de Adolf. Logo ele cavalgava loucamente no seu primo.

- UHHHHHHHHHHH! - Joseph gemia de prazer e dor.

Adolf só se deliciava com a cena de seu primo sofrendo no seu pau. Ele apalpava as nádegas de Joseph, dava tapas. E Joseph subia e descia naquele pau. Logo Adolf tomou comando da situação e pôs seu primo de quatro. E começou a bombar forte em seu cuzinho. Dava estocadas sem dó naquele buraquinho, fazendo Joseph gritar que nem uma putinha. Adolf bombava e dava tapas na bunda de Joseph. Adolf já não aguentava.

- Vou gozarrrr! - Adolf anunciou.

Logo Adolf gozou fartamente no cuzinho de Joseph. Encheu de jatos de porra quentinha. Deixou o ânus de seu primo todo vermelho e lambuzado de porra.

- Agora é minha vez! - Joseph indagou.

Joseph deitou-se no chão esperando por seu primo. Que foi logo sentando no pau dele. Entrou todinho. Adolf começou a rebolar como uma putinha e foi contraindo seu cuzinho para matar seu primo de prazer. Adolf cavalgava freneticamente naquela rola.

- Ohhh! Isso aí! Cavalga no seu macho! - Joseph gemia descontroladamente. - Uhhhhhhhhh.

Adolf pegou uma vela que estava em um caixote próximo a eles e começou a pingar a cera quente que derretia na barriga de Joseph enquanto era fodido por ele. Joseph bombava o cuzinho de Adolf enquanto era queimado por Adolf, a chama queimava a barriga dele. E concentrou toda sua dor e raiva no cuzinho de Adolf que começará a sangrar.

- AHHHHHHHHHHHHHH! - Adolf gritava de dor.

Joseph só grunhia, ele conseguia aguentar a dor muito bem. Joseph sentou-se com Adolf ainda enterrado em seu pau. As coxas de Adolf envolveram os quadris de Joseph e se beijaram apaixonadamente. Seus corpos se uniam, agora eles eram um só. Joseph bombava violentamente em Adolf enquanto beijava-o, mordia-o e lambia-o.

- ME FODE CARALHO! - Adolf suplicava.

Adolf agonizava na dor que sentia, suas lágrimas caíam nele e em seu primo. Ele começou a arranhar as costas de Joseph para aguentar a dor. Ele arranhava violentamente, arranhava com desespero. Como se arranhar fosse diminuir sua dor. Arranhou até sangrar com suas unhas grandes. As costas de Joseph estavam toda arranhada e sangrando. Enquanto Adolf continuava a arranhar Joseph o fodia mais. Era um ferindo o outro em nome do amor. Nenhum deles gritavam, eles suportavam a dor em silêncio. Apenas suas expressões e lágrimas indicavam dor. Joseph colocou Adolf e de quatro meteu com força naquele cú que sangrava. Adolf sentia dor, mas sentia prazer em sentir dor. Joseph bombava forte e quando olhou para as queimaduras nas costas de Adolf, começou a lambê-las. Lambia com vontade aquela pele queimada com palha grudada. Joseph chegou ao ápice do prazer, gozou muito em seu primo. E caiu desfalecido no chão de tanto cansaço e dor.

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{ADOLF}

A exaustidão tinha tomado conta de nós. Estávamos deitados no chão. Eu tinha sentido prazer, mas a dor era maior. Minhas costas e meu ânus ardiam e doíam. Mas dizem que temos que sofrer pra ser feliz, certo? Eu me sentia por completo e feliz ao lado de Joseph. Eu não aceitava que o deixei ir embora por medo. Mas naquele momento eu estava com ele, meu amor em nenhum momento diminuiu quando ele se afastou de mim, só aumentou. A dor física não era nada comparando a dor emocional de tê-lo magoado. Precisamos sentir dor para nos tornarmos mais fortes e crescermos. Virei minha cabeça e o vi me olhando com aqueles olhos... Aqueles olhos castanhos que me traziam paz e ódio, que me fazia querer morrer. Peguei em sua mão e a senti muito fria, parecia gelo... Ficamos de mãos dadas deitados no chão, feridos... Olhando um para o outro, com as velas nos iluminando.

- Adolf. - Ele indagou. - Só falta uma prova de amor. A última e definitiva. - Ele disse se sentando.

- O que é? - Perguntei. Eu o vi pegando algo em seu bolso. Era pequeno. Até que ele me mostrou o que era. - Uma gilete? - Indaguei.

- Lembra-se dessa gilete Adolf? - Ele me perguntou me mostrando-a.

Quando reparei melhor naquela gilete meio enferrujada, relembrei de coisas do nosso passado que não queria esquecer....

*

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*

*

TRÊS ANOS ATRÁS...

07 de Julho de 1993

Eu e Joseph estávamos na roça de sua mãe. Resolvemos passear por uma área cheia árvores. O lugar tinha muitas folhas secas pelo chão, às árvores davam boa sombra. Decidimos sentar debaixo de uma grande árvore que encontramos.

- Ei, Cara! Olha isso! - Joseph fazia caretas muito engraçadas que me faziam rir.

- Para palhaço! - Mandei empurrando-o um pouquinho.

- Mal humorado! - Ele exclamou. Fez uma cara de quem ficou chateado.

- Você é tão criança. - Indaguei.

- E você é tão chato. - Ele replicou.

Ficamos de palhaçada por um bom tempo debaixo daquela árvore. Eu via os raios de luz do sol que passavam pelas brechas dos galhos. Era tão lindo... Eu tentava pegá-los. Estava fascinado, hipnotizado com aqueles raios, que minha vó chamava de raio de anjos. Era lindo ver minha mão brilhando.

- Adolf acorda! - Joseph me chamava.

- Sim? - Acordei de meu transe.

- Trouxe? - Ele indagou.

- Ah! Sim. Já ia me esquecendo. - Retirei do meu bolso uma gilete.

- Me de ela! - Coloquei a gilete na mão dele.

Joseph pegou a gilete e cravou nossas iniciais, escreveu nossas iniciais no caule da árvore. "J&A". E lá ficou marcada nossa união. Fomos até aquela árvore somente para fazer isso.

- Está feito! - Joseph exclamou.

- Ficou bom. - Eu disse tocando nas nossas iniciais.

- Já está na hora de irmos. - Joseph indagou. - Quem chegar por último é a mulher do padre. - Ele disse se preparando para correr.

- Se o padre for bonito... - Eu disse rindo.

- Haha. Palhaço! - Ele exclamou e saiu correndo.

- Espera por mim!

Usamos aquela gilete para marcamos nosso amor. Joseph ficou com a gilete. E a última vez que soube da gilete foi depois que ele cortou os pulsos com elas. Mas felizmente não morreu. Depois não soube mais daquela gilete.

*

*

*

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- Sim. Lembro Joseph. - Disse seriamente. - Ela estava com você? - Perguntei.

- Não. Depois que recuperei da minha tentativa de suicídio, eu olhava pra gilete e só me vinham desejos de morte. Então para eu não ter nada que me lembrasse de você, antes de ir embora invadi seu quarto e coloquei essa gilete - Ele me mostrou a gilete. - Escondido debaixo do seu colchão. - Ele explicou.

- Eu não procuraria nada lá. - Era verdade. - Então... O que vai ser? - Perguntei.

- A dor passa, sempre passa. Às vezes as feridas saram, às vezes não... Elas nos deixam marcadas. - Ele olhou para a gilete. - Você morreria por mim Joseph? - Ele indagou voltando sua visão pra mim. - Terá que usá-la. - Completou.

Fiquei surpreso com o que ele disse. Morrer parecia demais. Mas para alguém que sofria e lutava por amor, a morte não significava muito. Eu o amava e disso não tinha dúvida. Mas era muita loucura. Fiquei calado por um tempo apenas olhando fixamente para a gilete.

- Está com medo Adolf? - Joseph indagou me tirando dos meus pensamentos.

- Eu não sei... - Eu disse confuso.

- O amor é malvado. O amor dói Adolf. - Ele disse me beijando. - Terá medo novamente? - Ele me olhou e perguntou.

Eu ainda estava confuso. Mas eu tinha prometido que faria tudo para ter o seu amor de volta. Já o perdi uma vez por medo, e não poderia perdê-lo mais uma vez. Tudo o que precisava para decidir era amor, já tinha perdido a razão. Se a minha morte era a prova de amor que ele precisava. Eu faria!

- Não. Não estou com medo desta vez. - Disse convicto. - Eu farei isso, por você, por seu amor, por nós, por nosso amor. - Completei. Peguei a gilete de sua mão.

- Lembre-se! Sempre estarei ao seu lado. - Ele disse me acariciando com um sorriso doce.

Olhei para Joseph e vi um lindo sorriso. Ele parecia alegre. Tinha expectativas. Com minha mão direita posicionei a gilete no meu pulso esquerdo. Fechei os olhos, minha mão tremia... Ainda sentia medo. Mas quando abri os olhos e vi aquele lugar lindo sendo iluminado pelas velas, e quando olhei para Joseph, em seus olhos... Encontrei toda a coragem e o amor que eu precisava. Apenas sorri para ele e fechei os meus olhos e com a gilete fiz um corte rápido e profundo. Não demorei muito e cortei meu outro pulso. Eu via o sangue jorrando pelos meus pulsos... Caía no chão... Nunca tinha visto tanto sangue. Eu senti a dor dos cortes, mas depois eu não sentia mais quase nada... Amor era tudo o que eu sentia. Minha vida estava indo embora... Tudo o que via era meu sangue e Joseph me olhando fixamente. Deite-me no chão para esperar a morte. Joseph estava perto de mim, me olhando e acariciando meu rosto. E tudo ia escurecendo ao meu redor...

- Eu te amo Joseph. Sempre te amei...

- Eu sei...

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Joseph tinha se vingado de seu primo Adolf. Mas não se sentia satisfeito. E sim triste e inconformado. Aquele que o machucou, aquele que o fez sofrer, aquele que era o dono de todo o seu ódio, raiva e rancor estava ali morto como ele desejou ardentemente. Uma tristeza profunda se apossou de Joseph... Ele olhava para Adolf morto sangrando no chão. E não sentia aquele ódio que tinha escurecido sua alma. Ele simplesmente sumiu. E a culpa foi aparecendo...

- Eu sei... Eu sempre soube. - Joseph acariciava o rosto frio de Adolf.

Joseph percebeu que seu amor por seu primo nunca se acabou, nunca foi embora. Só foi ocultado pelo ódio. Ele viveu três anos cego pelo ódio. A mercê do ódio... A vingança o consumou.

- Eu também te amo. Sempre te amei. - Joseph começará a lacrimejar. - Desculpe por tudo meu amor. - Às lágrimas escorriam de seu rosto e caiam em cima do rosto de Adolf.

- ACORDA! ADOLF! POR FAVOR, ACORDA! EU PRECISO DE VOCÊ. - Joseph gritava e balançava o corpo de seu primo. - EU TE AMO! - Ele só podia lamentar... - Desculpe meu amor. - Ele chorava muito, deitou sua cabeça no peito de seu primo e chorou muito. - Eu te amo, eu te amo, eu te amo... - Ele repetia quase que virando uma canção.

Para Joseph uma parte dele tinha ido embora. Estava despedaçado. Joseph chorava e se lamentava. Por ter sido um idiota. Perdeu o amor de sua vida por causa de seu rancor.

- Eu prometi a você, que sempre estaria com você ao seu lado. Então eu vou cumprir. - Ele disse enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

Joseph saiu do celeiro, foi até o casarão aonde tinha alguns galões de gasolina. Pegou um galão e voltou para o Celeiro e começou a jogar gasolina por todo celeiro. Depois de jogar tudo voltou para onde estava Adolf. Joseph pegou uma vela e jogou sobre o feno. O fogo começou a espalhar... Ele crescia rapidamente. O celeiro estava incendiando. O calor se tornava insuportável, tudo estava queimando. O fogo se alastrava. Às labaredas consumiam tudo, elas apareciam... Não dava mais para conter o fogo. O ninho de amor de Adolf e Joseph estava se queimando. Joseph deitou-se ao lado do corpo de Adolf, olhou para os lados e viu o fogo crescendo ao seu redor. Joseph virou o rosto de seu primo para sua direção.

- Eu não disse que sempre estaria ao seu lado? - Joseph disse chorando e o beijando.

Em menos de uma hora o celeiro estava todo queimado, estava todo destruído. Não restou nada. Enquanto a Adolf e Joseph... Estavam juntos um do lado outro como sempre prometeram.

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{ADOLF}

- Droga!

Acordei assustado, tive um sonho muito estranho... Tudo não passava de um sonho, um estranho sonho. Estava todo suado, meu corpo estava quente e tremia. Assustei-me quando olhei para janela e vi as pedras sendo jogadas contra ela.

- Pedras? - Indaguei. Tive a sensação de ter passado por isso.

Levantei da cama. Olhei para o calendário. E era sábado, 20 de Abril e para o relógio era 05h43min da manhã. As pedras continuavam a ser lançadas.

- Será? - Perguntei a mim mesmo. Aproximei-me da janela devagar.

- ADOLF! - Alguém me chamou como meu sonho.

Quando olhei pela janela... Não podia ser. Era ele do mesmo jeito, com a mesma roupa, acenando pra mim. Era Joseph como eu tinha sonhado.

- ADOLF! - Ele continuava a gritar. Eu estava atordoado. Não piscava e não me mexia. Só olhava para ele. Até que sai de meu transe. E abri a janela.

- Joseph é você mesmo? - Perguntei.

- Não. É o irmão gêmeo dele. É claro que sou eu. - Ele disse do mesmo modo que sonhei.

- O que está fazendo aqui? - Perguntei. - Ninguém pode te ver. - Eu já disse isso antes.

- Venha até aqui! Precisamos conversar. - Ele disse sorrindo e acenando. Como era possível. Era igual.

Eu não conseguia pensar direito o que eu sonhei estava acontecendo. Mas eu estava feliz do mesmo jeito que no meu sonho pela volta dele. Saí apressado e não percebi a cama à minha frente. E acabei batendo meu joelho na perna da cama. Cai no chão e meu joelho ficou dolorido e ralado.

- Maldita cama! - Xinguei de dor.

Meu joelho doía muito. Mas depois de analisar a situação. Percebi/relembrei que isso já tinha acontecido comigo no meu sonho.

- Não pode ser... Era só um sonho. - Indaguei a mim mesmo.

Mas Joseph? Ele apareceu como em meu sonho, no mesmo horário, do mesmo modo. Era impossível de se acreditar...

- Isso não pode estar acontecendo - Murmurei incrédulo.

Olhei para meu joelho, para janela e para cama. E percebi que precisava ter certeza disso. Fui até a janela e fechei-a. Sentei-me no chão e ai

- Eu não vou te esperar o dia todo! - Joseph gritou.

Fui até a janela. E o vi sentado no chão. Arrastei-me até ao lado da cama apreensivo. Com cuidado levantei o colchão. E devagar fui passando a mão pelo colchão e olhando para ver se eu achava algo.

- Não! - Exclamei.

Era mesma gilete, a gilete que com que marcamos no amor, a gilete que Joseph tentou se matar, a gilete do meu sonho que eu usei... Olhei atônito para aquele objeto de dor. Então não era só um sonho... Fiquei um bom tempo olhando para aquela gilete.

- Eu não vou te esperar o dia todo! Você vem ou não vem?- Joseph gritou. Coloquei a gilete no meu bolso.

Às vezes devemos nos esquecer de algumas coisas para que outras se realizem.

- Já estou indo! Me espera!

FIM...

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Olá! Voltei pessoal da cdc! Sou eu Realginário, Anjo Suicida, Alma Torva, myem, Capitão Herculano, Herck ou Hércules e mais uns milhares de nomes que vocês conhecem e desconhecem. Esse conto "Feridas..." Junto com Nova Cobertura de Sorvete e Portas Fechadas fazem parte de algo que resolvi denominar "contos de sangue, lágrimas e fogo" ou "contos de exorcização". Eu sangrei, chorei, suei, adoeci e queimei por esses três contos. Vocês não imaginam o quanto foi difícil escrever cada um deles. Eram histórias às vezes engraçadas, às vezes emocionante, chocantes, estranhas e reflexivas. Essas histórias fazem parte de mim, vieram de mim. Elas viviam empacadas na minha cabeça. Me atormentavam. Gritavam para serem escritas. Escrevê-las foi a forma que encontrei para exorcizar meus demônios(pseudônimos) que tanto me separavam e atormentavam. Cada um dos três contos saiu como deveria sair. Sem mudar nada. Nova Cobertura de Sorvete era um conto de humor negro, irônico, sarcástico e cheio de metáforas - pena daqueles que não entenderam =( - Portas Fechadas foi o mais emocionante e com um final ambíguo. Foi triste para quem quis e feliz para quem quis. Também foi o conto mais visceral do três. E o último "Feridas..." Foi o reflexivo. Sei que devem estar se perguntando Era tudo um sonho? o que aconteceu depois? Bom... Eu não sei. Rsrs. Por causa desse conto que eu sumi da cdc por mais de um mês. Tentei escrevê-lo e reescrevê-lo muitas vezes. Mas nunca chegava a algo satisfatório. Ou seja, foi o mais cansativo. Se vocês desejam saber se alguns dos três contos são reais. Acho que meu nick pode responder esta resposta. Rsrs. Esses três contos viviam empacados na minha cabeça. Então eu não continuava minhas séries por causa deles. Agora que acabou. Vou continuar minhas séries. =) Quero agradecer a pessoa mais importante da minha vida, o homem que eu amo. Que me ajudou muito. Obrigado Guh! Te amo.

msn:

hercsaint@hotmail.com

Aviso: Se eu não gostar, achar chato e irritante, não for com a cara. Vou excluir no exato momento.

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Comentários

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Nossa! Me tornei seu fã. Muito bom ler suas histórias. É excitante, instigante e, perfeitamente, bem elaborada.

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Depois de tanto tempo resolvi ler um conto seu hahahaha. Simplesmente perfeito, pode sentir a gana em nos transmitir o que estava sentido, até ter a sensação de dor, alegria, o querer a pessoa para sempre, pude imaginar a cena. Fora que lembrei algumas músicas em diversos pontos. Feliz pela sua competência, continue assim sempre ;). Abraços!

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Tô orgulhosissímo de vc. Gosto de coisas assim: excêntricas, corajosas, amargas, duvidosas, doloras, amorosas, enfim, tudo que eu pude vê neste conto maravilhoso.

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Amigo eu ameiii. Você é ótimo escritor e eu como crítico assíduo quero dizer que está perfeito. Te curto muito meu lindo e quero dizer tbm que vc e o Guhhh é o casal mais lindo da cdc. Agora vou para parte dos xingamentos. kkkk... seu safado, cachorro e sem vergonha, pare de sumir desse jeito e leia o meu conto, vc sabe que amo seus comentários. Vou mandar o Guhhh brigar com vc. KKk... beijos amigo. Te curto muito viu?

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Incrível, maravilhoso, Esplêndido,espetacular, demais, sinistro e instigante. Não tenhp adjetivos suficientes para elogiar ta conto. Me deixou cheio de dúvidas também. Não sei qual a melhor dos três. Amei cada um. Foi um diferente do outro e com finais surpreendentes e este foi o mais instigante, não sei definir o que os personagens sentiam. Genial! Inédito! Criativo! Você com com certeza é um dos melhores da cdc. Na minha opinião o mais criativo e original.

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O que Adolf fez com a gilete? Será que mudou o percuso da história ou deixou fluir? Ou será que usou a gilete antes de tudo? Nossa! Eu já estava cheop de dúvidas lendo o conto. Agora com esse final surpreendente.(não esperava mesmo) Estou com mais dívidas. sacanagem sua com esse final. Kkkkkkk Esses três contos teve cada final. Um mais surpreendente e sinistro que o outro. Ao posso parabenizá-lo. Você é grande! Uns dos melhores. Também estou em dúvidas entre Portas Fechadas e "Feridas..."

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Excepcional Real, essa sequência desses 3 contos foi um melhor do que o outro. Fico em dúvidas ainda entre Portas Fechadas e Feridas, mas os dois foram excelentes. Felicidades a você e ao Guh, o casal de autor mais lindos da Cdc :) Rsrs.

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