Meu.(2)

Um conto erótico de Thomas Valim
Categoria: Homossexual
Contém 875 palavras
Data: 11/02/2013 16:06:53
Última revisão: 11/02/2013 17:44:31
Assuntos: Homossexual, Gay

Ele sorriu. Segurei-o pela mão e corremos. Corremos como se o mundo fosse só nosso. Vivendo o primeiro amor de infância. Correndo pro desconhecido, apenas com a certeza de que teríamos um ao outro, e que nada nos impediria de estarmos juntos. NadaSuas mãos suadas seguravam as minhas. Estávamos um de frente ao outro, ajoelhados, num quase breu. Apenas uma leve réstia da luz do corredor penetrava aquele cubículo apertado e quente, o fiozinho de claridade iluminava os olhos de Sam. Qualquer movimento mais brusco era impossível. O único ruído era o de nossas respirações.

- Estou com medo.

- Um soldado nunca deve ficar assustado, você sabe Sam.

- Estou com medo Yves, de verdade.

- Eu te protejo.

- Eu que tenho que proteger você Yvinho.

- Eu nasci antes de você, sou mais velho, então fique calado e confie em mim.

- M..Ma..Mas...

- Nem um pio soldado Sam.

Ele riu timidamente. Apertou minha mão mais forte. Eu fiz o mesmo com a dele. É um gesto que praticamos até hoje quando não podemos falar, mas queremos dizer: Eu sou seu, eu cuido de você, e não vou te abandonar nunca.

- O que vamos fazer agora Yves?

- Espere. Daqui a pouco vamos embora. Não tem nenhum livro aqui nesse armário Sam...

- Isso quer dizer que não tem dono, ninguém vai vir buscar nada.

- É! Vamos esperar o recreio acabar. Então a gente corre e aí saímos da escola.

Ele, como sempre, sorriu com os olhos.

- Você está feliz Sam?

- Feliz como Yvinho?

- Você quer fugir mesmo?

- Eu só não quero que me separem de você.

A voz dele ficou trêmula.

- Eu não vou deixar.

- Promete?

- Promessa de escoteiro. Vamos fazer uma coisa?

- O que?

- Vamos ficar abraçados pra sempre Sam. E aí ninguém vai poder separar a gente, porque eu vou te abraçar muito, muito forte.

- É sério?

- É.

Ele me abraçou. E em meu ombro pousou o queixo. Fechamos os olhos e a cada segundo o abraço se tornava mais intenso.

- Acho que a gente é irmão Yvinho.

- Como assim? Não nascemos da mesma mãe, não seja burro!

- Não liga pro que os adultos dizem! Eu sou seu irmão porque eu quero ser.

Antes que eu dissesse algo, a sirene tocou, anunciando nossa liberdade.

- Está perto de irmos embora Sam. Você está pronto?

- Estou capitão Yves. Vamos finalizar nossa missão, não é?

- Sim, soldado.

Cinco minutos depois surgíamos de mãos dadas no corredor, vazio até o momento. Nos entreolhávamos e sorríamos. Duas crianças inocentes fazendo revolução.

Enquanto isso, quatro pais desesperados procuravam pelo seus filhos em plena Santos Dumont, depois de vasculhar toda a escola, sem sucesso.

Naquele dia, ultrapassamos barreiras. Lembro-me da emoção de adentrar na parte da escola onde se localizavam as salas do Ensino Médio, próxima a saída. Sam estava muito empolgado, seus olhos brilhavam.

- Conseguimos capitão!

- Conseguimos sim!

Nos abraçamos em comemoração. Andamos pelo pátio, e ali escutamos algo estranho. Os detetives agora estavam ativos: Sam e eu andamos de ponta de pé até ficarmos na espreita, do lado de um vão atrás da cantina.

E ali vimos dois casais se beijando.

Olhamos um pro outro e bem, tapamos nossas bocas a fim de abafar o riso.

- Estão namorando- disse eu.

- Não acha isso nojento?

- Um dia vamos ter que beijar nossas namoradas, não é?

- Namoradas? Você vai ter namorada um dia?

- Acho que todo mundo tem uma namorada ou um namorado Sam.

- Mas aí você vai se casar?

- Sim. É assim que todo mundo faz.

Ele me olhou sério. Baixou a cabeça e soltou minha mão.

- Eu não quero ter namorada, porque eu vou ter que me casar e ir morar longe de ti.

- Não tinha pensado nisso - disse eu, assustado com a possibilidade de me distanciar dele.

- Então, o que vamos fazer Yvinho?

- Não precisamos casar então!

- Posso casar com você, se você quiser.

- Não podemos nos casar Sam. Você é menino e eu sou menino também.

- Mas ninguém precisa saber disso.

Percebemos alguém se aproximando. Olhamos pra trás, e lá estava a coordenadora.

Fim da aventura pra nós.

O que aconteceu depois é imaginável. Nossos pais, aflitos, chegaram na escola para nos buscar. Mamãe e Marina estavam em prantos, quase inconsoláveis. Quando nos viram, ali, juntinhos e de mãos dadas, correram para nos abraçar e ter certeza de que estávamos vivos e inteiros. Nossas mãos não se separaram nenhum instante.

- Porque fugiram? - Perguntou papai, sério.

- Vocês nos separaram - disse Sam.

- E se eu ficar longe do Sam, eu pulo da janela do prédio.

- E se ele pular e morrer, eu também pulo - Sam olhou pra mim desconfiado. - Você tá falando isso de brincadeirinha, não é Yves?

- Chega de papo, vamos pra casa. - gritou Astrid.

- Sam vai no nosso carro - falei.

Ignorei os olhares de papai e continuei:

- Podem me deixar sem comida, sem televisão e sem brinquedos. Mas não me deixem ficar longe do Sam. Ele é meu amigo.

- Calado Yves. Entre no carro agora. - disse papai.

Sam me abraçou. Eu o apertei forte.

- Só vou se Sam for com a gente.

Os quatro adultos se entreolharam. Até hoje suspeito que aquele abraço foi o que fez nossos pais perceberem que não havia nada a fazer.

Sam foi feito para Yves. Yves foi feito para Sam. E ponto.

CONTINUA.

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Comentários

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own... muito fofinho vey, fico aqui me perguntando : -pq isso n acontece cmg ? kkkk continua yvinho ><

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Heeh ow mto bom em, e lindo tbm, adorei esse, continua logo!

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