CAPITULO 9
- Quer ir comigo na festa? Um pessoal que também não é do cursinho vai aparecer por lá. – Disse Rafa, após ter entrado no meu quarto.
- Nem fui convidado, não gosto disso.- Respondi olhando pro Rafa.
- Para né Dani, to ajudando a organizar a festa. E to convidando você agora, nem tinha falo antes porquê era bem obvio que tu podia ir né.
Se eu fosse pra festa veria Bernardo, claro que só conversaríamos como sempre fizemos antes de tudo acontecer mas pelo menos nos veríamos. A saudade ficaria mais branda. Então eu iria, ia fazer uma surpresa pra ele, afinal ele achava que eu ficaria em casa.
- Tá bom então, eu vou.- disse com um sorriso nos lábios, Rafa sentou na minha cama e olhou pra mim com um sorriso também.
- Você tá diferente esses dias, sabe?
- Eu? Diferente como? – Respondi começando a sorrir.
- Ah, sei lá. Você tem ficado meio aéreo as vezes, tá menos bravinho, sorri quando meche no celular... sei não em? Quem é a vitima? – Disse ele rindo e me abraçando, me derrubou na cama e ficamos abraçados. – Meu irmãsinho cresceu e eu nem vi gente... Ce ta namorando é Dani?
- Nossa, claro que não... você tá inventando coisa. – Disse rindo. Senti o abraço dele e correspondi enquanto caímos deitados na cama. – Que horas agente vai? E vamos como?
- Tipo, a festa começa sete horas mas temos que esperar papai chegar pra dar o carro, a casa da Alice não é pertinho, e não gosto desse lance de ir de carona. – Disse ele ainda abraçado em mim. – Papai deve chegar da clínica por volta das 9. Daí agente vai.
- Bom, já são quase sete. É melhor começar a se organizar logo.
- É, eu tenho que vê uns lances da bebida ainda , tenho que ir ali ligar pros moleques. Quando tiver pronto pra ir venho aqui te chamar. – Rafa deu um beijo na minha cabeça, levantou e saiu do quarto.
Caprichei quando estava me arrumando, tomei um banho bem tomado, usei hidratante, me perfumei... Produção completa. Por volta das oito e quarenta meu pai já estava em casa, Rafa já estava pronto e eu também. Eu estava vestindo uma bermuda branca e uma camisa gola polo de maga comprida preta. Rafa veio me chamar pra irmos e seguimos caminho para a festa.
Como já era tarde, fomos os últimos a chegar. Assim que entrei na festa já comecei a conversar com várias pessoas, cumprimentar, sorrir... Peguei uma bebida e fiquei dançando com alguns amigos. Com a distração havia me esquecido de Bernardo, e até aquele momento não o havia visto. De longe vi um cabelo dourado brilhando com os reflexos dos jogos de luzes. Um pouco alto, pele um tanto bronzeada, polo com listras largas, skinny azul clara. Era Matheus. Estava dançando, com ele estavam mais dois garotos e uma garota da sala dele. Por impulso fui em sua direção falar com ele. Quando ele me viu eu me aproximar deu um de seus sorrisos sínicos.
- Você por aqui Matheus? – Disse eu, com uma expressão desafiadora pra ele. Havia me esquecido do flagrante que ele contara ter dado em mim e Bernardo outro dia.
- Pois é. E você o que faz aqui? Também não é do cursinho.
- Não. Mas meu irmão é, e como eu tava de bobeira em casa, resolvi vir. Bom vou dar uma volta, tenho que achar uma pessoa. – Havia acabado de me lembrar de Bernardo.
- Quem, aquele cara do cursinho? – Disse ele com petulância.
- Não. Outra pessoa.
Dei as costas e saí. A casa da Alice estava lotada., tinha mais de cem pessoas na festa, até mesmo gente de outros colégios. Não estava conseguindo encontrar Bernardo em lugar nem um, mandava mensagens e ele não respondia. Estranhei, será que ele não tinha vindo e já havia dormido? Impossível... Bernardo era viciado em qualquer tipo de agito.
Andei por todos os cantos e já estava quase desistindo de achar ele. Resolvi pegar uma bebida, pois estava com cede. Me servi de vodka e energético e encostei no balcão do bar próximo a piscina. Rafa estava beijando uma garota, meu amigos conversando ou dançando, até Matheus estava dançando com uma garota, mas eu queria ficar sozinho. “Quem será essa garota com o Matheus? Ela nem é bonita”, me peguei pensando. Bom, não era meu problema. Resolvi ir ao banheiro, me olhar no espelho. Me retirei e fui, quando saí do banheiro de festas percebi que logo ao lado havia um jardim que parecia estar vazio, resolvi ir até lá pra ligar pro Bernardo, ele devia estar em casa.
Me direcionei ao jardim abaixando a cabeça para procurar o celular no bolso. Quando levantei o rosto vi uma cena que machucou tão profundamente que eu perdi o ar. No jardim havia três bancos brancos e bonitos perto de algumas margaridas, dois deles estavam vazios, no outro Bernardo estava sentado ao lado de uma menina, que logo reconheci ser Isabel, uma das minhas melhores amigas. E beijavam-se. Fiquei paralisado, Bernardo não podia ter feito isso comigo. Não havia nem uma necessidade, e ainda por cima com uma amiga minha. Alguns segundos depois eles terminaram o beijo e me viram, Bernardo ficou com o rosto vermelho de vergonha e também paralisado, Isabel estava com uma expressão normal, pois não havia entendido nada.
Senti meus olhos esquentarem e ficarem úmidos. Assim que dei as costas pude sentir as lagrimas caírem dos meus olhos. Me sentia humilhado, desprezado, e acima de tudo traído... Quando passei pela porta do banheiro novamente Matheus estava saindo de lá. Quando viu que eu estava chorando ele ficou parado, segui enfrente, e quando dei as costas pra ele senti sua mão toca o meu ombro. Virei pra trás e ele disse:
- Que ir embora daqui?- disse ele me olhando – E por favor, não tente recusar carona de novo. - Não respondi falando, eu apenas sacudi a cabeça positivamente. – Enxugue os olhos, evite perguntas.
Apenas o obedeci e o segui calado. Saímos da festa e seguimos por uma fileira de carros estacionados enfrente a casa de Alice, até que chegamos no carro dele. Entramos, e ele me tirou de lá. Ficamos em silêncio por um tempo. Durante o caminho refleti o quanto Bernardo havia sido canalha. Um dia antes havia dito que me amava. Eu havia me entregado a ele. Tínhamos vivido algo tão bonito, dias tão bons. Mas talvez pra ele tivesse sido apenas uma diversão. O problema é que pra mim havia significado muito mais, apesar de ter durado tão poucos dias. Bernardo sempre fora galinha, eu não tinha o porquê de achar que ele teria realmente mudado por mim. Que comigo seria diferente. Quebrei o silêncio que havia no carro.
- Matheus, eu sei que nem somos tão amigos, e você já ta me ajudando muito... Mas eu não queria ir pra casa agora. Não quero que meu pai me veja chegando assim.
- Podemos ir pra minha casa ou pra algum outro lugar, você tá com fome? – Me perguntou ele olhando nos meus olhos, em tom de compreensão. Podia perceber que ele não estava gostando de me ver daquele jeito. Mesmo silenciosamente eu ainda chorava.
- Pode ser pra sua casa mesmo. – Continuei calado e apenas olhando pela janela, arrependido por ter sido tão bobo. Mandei um sms para Rafa avisando que já tinha ido embora,pra que ele não se preocupa-se. Alguns minutos depois chegamos na casa dele. Desci do carro e o segui. Entramos e subimos as escadas, estávamos indo pro seu quarto imaginei. E acertei, chegando lá ele disse:
- Pode sentar Daniel – Disse ele apontando pra cama – Fica a vontade. Você precisa de alguma coisa?
- Brigado Matheus, brigadão mesmo. Não precisa se preocupar. – Eu disse sentando-me na cama dele, logo depois ele também sentou de frente pra mim, me olhando nos olhos.
- Sabe, eu já passei por isso. É ruim, mas serve pra enxergarmos quem tá do nosso lado. – Minha expressão era de surpresa, como ele podia saber o que havia acontecido?Não ele não sabia. – E não faça essa carinha de quem acha que eu não percebi nada. Antes de você chegar eu vi Bernardo indo pro jardim com aquela garota que anda com você. Eu não tinha certeza se vocês dois tinham algo, mas depois de perceber que ele vem te ver de madrugada e de ver você chorando ao ver ele com outra pessoa...
- Eu achei que ele gostasse de mim Matheus, sério. Eu tinha certeza. Como pode? Como você pode ter certeza de uma coisa que não é verdadeira? Eu me enganei sabe? Sempre tive paixonite pelo Bernardo e quando ele partiu pro ataque eu logo cedi. Mas no fundo eu sabia como ele era. Eu fui um idiota.
- É talvez, você tenha sido mesmo. Mas olha aqui, ele podia ter mudado. Havia chance, e foi nessa chance que você acreditou. – Disse ele me olhando. Eu chorava muito, meu rosto estava molhado. E eu nem acreditava que tava falando com Matheus sobre um assunto que eu nunca havia falo nem mesmo com o Rafa. Mas ele me passava segurança, e dava a impressão de que nunca me julgaria.
- Ele foi o primeiro Matheus, e ontem disse que me amava. Eu não sei o que fazer, o que pensar. Ele arrancou uma parte muito grande de mim. Nossa, fui muito criança.
- Esse menino não vale nada mesmo então Daniel. Deixa ele, você é gatinho, é inteligente... Poxa você é super legal, se veste bem. Nada haver você sofrer por um canalha desses. Eu já fui traído, e agente supera. Deixa o tempo passar, não fica pensando nisso.
- O pior é que foi com uma das minhas melhores amigas... ele nem se importou. – Já havia parado de chorar a essa altura da conversa. – Vou sentir tanta falta dele... Mas é melhor tentar esquecer, pelo menos por hoje. Bom Matheus, preciso ir agora. To precisando dormir um pouco. Pra me recuperar.
- É bom que você durma mesmo, bom, vou com você até lá na sua casa pra você não ir sozinho. Podemos ir a pé como é logo aqui. – Disse Matheus.
- Nem precisa Matheus, nem tem perigo nem um.
- Ah precisa sim cara, vamos logo. – Disse ele sorrindo. Sorri também, mesmo que ainda estivesse triste. Matheus me dava uma sensação muito boa. Ele saiu do quarto e eu o segui. Logo depois descemos as escadas e saímos da sua casa. A rua estava calma, e lá fora estava frio. Meu rosto ainda molhado de lágrimas gelou. Caminhamos alguns metros até chegar à minha casa. E então quando estávamos em frente a ela eu olhei pra Matheus pra me despedir, mas de forma inconsciente dei tchau a ele como daria Bernardo. Aproximei-me e o abracei.
- Tchau Matheus, obrigado pela ajuda. – Por um momento ele ficou paralisado, depois retribuiu o abraço. Só então percebi a minha atitude, senti meu rosto fica vermelho de vergonha.
- De nada Daniel, você só me deve uma festa. Tchau, tchau. – Disse ele sorrindo, e me apertou em seu abraço. Depois me soltou. Dei as costas e fui em direção à minha casa.– Não fica a noite toda de paranoia aí, porquê amanhã você ainda tem que me dar monitoria.
- Pode deixar Matheus – Falei sorrindo também. Meu coração era só dor, mas eu até que estava feliz. Havia perdido o namorado, mas havia ganhado um amigo.
CONTINUA.
Obrigado por todos os elogios pessoal, eu prometo não demorar mais. Agora tá menos complicado pra mim postar, tá tudo mais calmo na faculdade...