Durante o trajeto novamente observei que vez por outra nosso condutor observava os carinhos discretos que trocávamos e até levemente se assustou quando Marcello de cansado, descansou a cabeça em meu colo; o que ele terá pensado ignoro. Que sejam dois dias, estar separado de quem se gosta dá saudade.
Os pais de Marcello estão na chácara faz dois dias. Marcello perguntou se eu queria que ele preparasse algo, mas preferi pedir por telefone, como ele estava exausto imaginei ser melhor poupá-lo de esforço qual fosse. Pedi duas pizzas grandes, hihihi achei que Marcello estaria morrendo de fome e não me enganei. Hihihi bendito apetite.
Falamos sobre a viagem e de coisas outras. Mal podíamos esconder que nossos corpos se queriam e nesse amor de bicho, guiados pelo cheiro um do outro onde corpos se entregam e bocas se procuram, de Marcello ouvi:
“... não quero que minha existência se espiche além da sua, minha vida. Sonhar com você longe me faz esquecer quem sou”
Ao ouvir isso, percorri seu corpo e de parte em parte e ao beijar uma delas... uma surpresa e uma certeza. Meu nome estava gravado sobre sua carne. A vermelhidão característica das tatuagens recentes revelava. Meio minuto para entender o que era, estava eu absorto então.
“...É assim que você está em mim. Carne, sangue, nervos... é tudo seu, tudo que há em e mim e minha alma também, você é o meu dono e dono da minha vontade. Eu tingirei o céu de preto se for necessário pra você viver do meu lado. Não dá mais pra ficar longe. Me aceita por favor na sua vida, pois eu já não mais sei viver sem que seja do seu lado.”
Disse-me me prendendo no braço quente que só ele pode me dar.
“Mora comigo, vem pra minha vida, deixa-me cuidar de você. Não faz mais sentido qualquer distância, alugamos alguma coisa e pronto, não faz diferença desde que você, Cláudio seja ao meu lado, Não quero lhe pressionar, mas quero que considere que o tempo chegou” Marcello prosseguiu agora me olhando nos olhos. Nos beijamos e dormimos.
Acordei durante a noite e pensei no que ele havia me dito e ponderei a certa de tudo que há entre mim e Marcello. Na manhã seguinte ele me deixou no trabalho e a tarde combinamos dele me apanhar na faculdade. Ao regressar à casa dos meus pais à noite antes da faculdade recebi a notícia que a transferência do meu cunhado saiu e que ele terá de se apresentar logo. Minha irmã, Meu cunhado e minha sobrinha passarão um tempo conosco até encontrarem um apartamento funcional.
No final daquela manhã regressamos à agencia e fizemos um aporte em um programa de previdência privada para nós dois. Marcello havia tempo falava sobre isso e hoje concretizamos. Meus pais ainda não sabem que sairei de casa e penso nisso a todo momento. Indago-me sobre a melhor forma de dizer e não tenho resposta. Só sei que quero ser ao lado de Marcelo.
Na noite véspera do feriado, antes de Marcello e os meninos me apanharem recebi uma chamada de Curitiba, minha irmã pedia para que eu limpasse o quarto dela porque ela chegaria no sábado.
Como minha mãe tem se queixado de dores nas costas, somado a isso o fato de estarmos sem uma pessoa que nos auxilie em casa concordei em limpar; havia mal começado quando Marcello chegou e vendo que eu tinha essa última tarefa, sem que eu pedisse, ele, o Guto e o André me ajudaram e foi até divertido.
Marcello é como eu, não temos muito jeito para afazeres domésticos, mas o Gutinho e o André são dois exímios “donos de casa”. Terminado o trabalho, outra ducha tomada viajamos, todos para Caldas Novas, e foi um feriado delicioso.
Fomos com Guto e André ; lá chegando encontramos alguns amigos nossos. Ficamos no apartamento de um amigo do André, os meninos concordaram em ceder a suíte para Marcello e eu. “... Adoro esses dois” disse a Marcello e completei “Eles são muito delicados conosco”. “Culturalmente sensíveis” Completou Marcello em nossa conversa enquanto tomávamos uma ducha.
A sexta dedicamos ao sono reparador que nos tem faltado em razão dos afazeres tantos. À tardinha fomos com os meninos a uma festinha e bebemos um pouco além da conta hihihi, pocha temos trabalhado tanto não é? Não estávamos dirigindo André que guiava não beberia logo não vimos mal algum em descontrairmos um pouco.
Durante a festa uma garota se aproximou e disse que sua amiga queria me conhecer e eu disse que estava acompanhado; ela notando que Marcello descansara o braço sobre meus ombros enquanto conversava com outras pessoas percebeu tudo. Se desculpou afastando-se.
Pude notar que de longe ela e sua amiga se entre olhavam e faziam comentários sobre nós, de forma discreta, mas pude entender que o tema era Marcello e eu. André fez muito sucesso com as garotas e durante a festa o assédio foi notório.
Gutão não fica atrás quando o assunto é ser popular, mas dessa vez o notei mais reservado. Houve um momento em que o encontrei sentado na calçada ao lado do carro. Sentei ao lado dele para saber se ele estava bem.
Estava, só queria ficar um pouco só. Quem entende? Ia me levantando quando ele segurou meu braço e disse “Coelhinho fica aqui, faz um pouco de companhia” Atendi e permaneci sentado ao lado dele que parecia querer conversar um pouco agora. “Sabe, eu estou muito feliz por você e pelo Marcello, eu amo aquele cara, é como um irmão pra mim e você fez ele voltar a sorrir. Obrigado Claudinho.” Ele me disse.
“Eu também amo Marcello” respondi a Guto enquanto percebia que as duas garotas haviam se aproximado de Marcello que agora conversava com elas. Senti certo desconforto, mas ora vejamos, gostamos um do outro, qual o mal de conversarem como ele?
Permaneci sentado ao lado de Guto que disse que gostava de ficar comigo e que sentia que eu poderia entender esse sentimento pelo qual ele passava que era de solidão. Ele discorreu sobre como havia se sentido nesses últimos meses tentando aplacar a falta de alguém ao seu lado ficando com muitas meninas.
Compreendi que Guto precisa de alguém para poder dividir esse momento com ele. O som da música parecia ensurdecedor agora. 4h da manhã. E Marcello parecia visivelmente desconfortável com as garotas. Notei que uma delas agora segurava o braço dele.
Ele havia cruzado os braços. “Elas não desistem” pensei. Deixei o Guto sozinho um instante e fui buscar Marcello que quando olhava pra mim parecia pedir ajuda hihi.
“Vocês podem me dar licença só um instante” disse a elas ao me aproximar enquanto tirava “delicadamente” a mão da mulata do braço de Marcello.
Uma mulata linda, aqui cabe um elogio, mulata não, uma negra, lindíssima, um sorriso brejeiro de uma luminosidade linda e um cabelo farto, ondulado, formas lindas
“Vocês são namorados mesmo? Mas parecem tão normais” Ouvi da que havia se aproximado antes de mim. “Somos normais, acontece que só preferimos estar com meninos ao invés de meninas” disse a elas que não acreditavam isso ser possível.
Faço conta que não tinham mais que 20 anos. “Coelhinho, eu estava explicando pra elas que somos casados, mas elas acharam que era brincadeira minha” me disse Marcello como que se desculpando. “Cachorrão vai dar um apoio ao Gutão porque ele está de (bode)” disse a Marcello que obedeceu sem questionar; pareceu respirar aliviado quando foi ao encontro do Gutão que estava sentado lá fora parecendo se divertir com a cena.
“Coelhinho? Cachorrão? Então a coisa é séria?” A mulata perguntou. Mostrei as alianças e disse que ia ser muito legal continuar conversando mas que tínhamos que ir para casa. Disse que elas eram muito divertidas e que tinham um sotaque lindo, mas que precisávamos ir embora.
“O seu amigo lá fora também é gay?” me perguntaram. Sem exitar menti respondendo que sim. Acho que não queria ver o Gutinho, um amigo que é uma pessoa linda, envolvido com duas moças que embora fossem indiscutivelmente lindas, eram um pouco, “atiradas”.
Amo muito meu amigo e quero alguém legal ao lado dele e embora não possa escolher essa pessoa posso não apresentá-lo a algumas que não vão saber corresponder o que ele tem para dar.
Eu me despedi das duas e alcancei Marcello e Guto. Gutão estava com a cabeça no colo do Marcello e os dois riam de alguma coisa. “Dá nelas” disse Gutinho rindo acompanhado de Marcello que visivelmente se divertia. Como André havia se “entendido” com uma moça resolvemos dizer a ele que voltaríamos a pé, ele quis nos deixar, mas como eram só dois quilômetros aproximadamente preferimos deixá-lo continuar seu namoro.
Retornamos ao apartamento e demos um banho no Gutinho que havia bebido mais que nós dois.
Notei, faz tempo, que o erre de Marcello fica acentuado quando ele fica de “pilequinho”. Depois de havermos dado banho em Gutinho, trocado suas roupas, ouvido todo repertório de piadas dele e que ele nos amava e finalmente o posto para dormir; decidimos tomar nosso banho.
“Eu gostei da forma como você chegou e tirou a mão dela do meu braço, já não aguentava mais o papo daquelas duas” disse Marcello enquanto esfregava minhas costas sob a ducha. “Então foi um teste?” perguntei sorrindo. “Não mas serviu como um” ele respondeu dando o sorrisinho cínico que ele dá quando quer me provocar.
Bom terminamos aquela conversa com nossas cabeças apoiadas no mesmo travesseiro e não posso deixar de dizer que o fato do Gutinho roncar alto e sabermos que André só voltaria na manhã seguinte só nos fez ficarmos mais a vontade. Amigos, o que duas garrafas de malbeque não fazem a mais? Hihihi