Mais uma parte postada e tenho adorado ver teorias sobre os mistérios da história. De fato, busco sempre coerência, portanto não deve ser nada muito mirabolante. Mas fico feliz em saber que têm gostado. Obrigado pelos comentários e... Boa leitura...
Ele me olhou e eu não consegui controlar meu comportamento. Corri e o abracei. Não sei precisar por quanto tempo ficamos abraçados, mas senti inicialmente uma paz tão grande que me fez estremecer. De fato, me senti muito seguro nesse abraço. Suas mãos nas minhas costas me seguravam firme e me passava tanta segurança... Segurança tão grande que me fez reagir.
Eu o beijei.
Passado o susto, o senti corresponder. O beijo durou certo tempo e eu curti muito. Ele beijava muito bem e sua pegada me deixava ainda mais animado.
Estaria tudo ótimo se ele não tivesse parado o beijo num certo imediatismo que assustou:
- Você se precipitou muito Carlos.
- Desculpa Luciano, mas eu não consegui resistir.
- Tudo bem, mas eu não sou desse tipo que você deve conhecer, não mesmo.
- Eu não entendi Luciano.
- Eu não sou desses que quer uns beijos e sexo. Eu quero mais que isso.
- E você acha que eu quero o quê?
- Não sei. Sua atitude me mostrou que...
- Luciano, deixa pra lá. Eu fui exagerado e você me ofendeu. Vamos deixar o jantar pra outro dia.
-Eu queria mesmo jantar com você.
- É melhor não. Eu preciso ajeitar umas coisas aqui na clínica. Se me der licença.
Ele saiu num rompante, respirando fundo. Eu entendi que minha reação foi exagerada, mas me senti de fato ofendido. Ele quis dizer que eu era promíscuo mesmo não sabendo quase nada da minha vida. Ajeitei mais algumas coisas e decidi fazer contato com os pacientes que eu estava atendendo antes da história de Lucas e me decepcionei ao perceber que todos os pacientes já haviam me condenado e buscado outros tratamentos com outros profissionais.
Mais do que isso, já haviam sido recomendados para uma profissional bem experiente: Adriana!
As coisas estavam começando a ficar mais claras, apesar das lacunas que eu ainda precisava completar. Afinal, esse quebra-cabeças era grande demais.
Juntei as coisas mais necessárias para meu trabalho e decidi voltar pra casa. Fui me metrô mesmo que estava vazio devido o horário e pude pensar no que fazer da vida. A clínica que eu havia idealizado ao lado de um, até então, grande amigo iria ruir já que eu não conseguiria manter a minha parte dela. Adriana estava certa! Eu iria perder a minha parte da clínica. Parecia paranoico da minha parte, mas estava na cara que o plano deles havia dado certo, pelo menos inicialmente.
Cheguei à estação e andei mais um pouco até chegar ao portão da minha casa. Um carro branco estava parado na minha porta, com os vidros escuros, então não consegui ver quem era. Fiquei com medo, claro.
Convenhamos, na minha situação, quem não teria medo?
Decidi entrar sem ficar observando muito aquele carro. Dois minutos depois que entrei alguém bate no portão. Após constatar que estava sozinho em casa, fui atender.
Abri o portão ainda com medo, mas fiquei aliviado ao ver quem era:
- Luciano?
- Atrapalho?
- Não. Entra...
Ele entrou e rapidamente fechei o portão ainda sem entender o que estava acontecendo.
- O que te trouxe aqui? Como sabia onde eu morava?
- Então, usei meu poder na delegacia e descobri seu endereço. Espero que não se importe.
- Tudo bem. O que você precisa?
- Eu preciso te pedir desculpas.
- Não precisa não. Esse assunto já tá resolvido.
- Não tá não Carlos. Eu fui grosso com você e preciso me redimir.
- Já deixei pra lá esse assunto. Minha cabeça tá focada em outra coisa.
Eu disse isso de forma ríspida e percebi seu desapontamento com minhas palavras, mas eu ainda estava magoado.
- E você quer minha ajuda pra alguma coisa?
- Vai ser bom sim Luciano. Eu estava pensando em...
Contei o que eu pensava em fazer e Luciano disse que me ajudaria. Meu plano parecia arriscado, mas eu conseguiria matar vários coelhos com uma cajadada só...
Decidi tomar um banho e Luciano ficou na sala me esperando. Fui o mais rápido que pude e quando voltei ele estava no meu quarto, olhando algumas fotos.
- Atrapalho?
Ele se assustou e disse com certo receio:
- Desculpa. Eu me empolguei e fiquei vendo suas fotos.
- Tudo bem, fique a vontade.
Não propositalmente eu estava de toalha e cueca por baixo dela. Percebi seus olhares pro meu corpo, mas deixei pra lá. Ele me achava promíscuo e eu não ia render mais isso, apesar da atração que eu sentia por ele.
- Eu vou me vestir rapidinho.
- Quer que eu saia?
- Não, não precisa.
Me vesti rápido e em silêncio. Ele continuou olhando algumas fotos e de vez em quando comentava algo sobre meu quarto e eu apenas concordava, sem render nada.
- Vamos?
- vamos sim. No meu carro.
Ele fez questão e fui ao carro dele. No meio do caminho ele ainda perguntava se realmente o plano seria a melhor solução e eu dizia que sim. Demorei muito pra consegui juntar algumas peças, mas o quebra-cabeça estava ficando claro.
Chegamos até a casa da mãe de Lucas. O carro de Luciano chamou atenção naquele bairro pobre e a rua mal coube seu carrão. Ele estacionou e desceu enquanto eu ficava aguardando o sinal para que eu entrasse na casa. De longe pude ver que Luciano me dava sinais de que a mulher estava sozinha e que eu deveria aproveitar.
Comecei a executar a primeira parte do plano. Luciano atraiu a mulher para um lado da sua casa e eu, aproveitando o portão aberto, entrei devagar, porém de olho nela. Ao perceber que consegui entrar, Luciano fez com que ela o levasse para a sala.
E assim ela fez...
Chegando lá, Luciano começou a falar, enquanto eu ouvia de tudo de pé num outro cômodo na pequena casa:
- A senhora sabe que o Carlos foi liberado pela polícia não é?
- Sei sim...
- Como sabe?
- É... eu... acabei vendo ele na rua.
- A senhora viu ele aonde? Vocês moram bem longe não é?
Ela começou a ficar nervosa e eu, esperto, já gravava aquele papo.
- O vi na rua no dia em que fiz compras.
- E não conversou nada com ele?
Ela começou a se alterar e se levantou do sofá:
- E o que conversaria com o assassino do meu filho?
- Só fiz uma pergunta senhora. Se eu me encontrasse com o cara que matou meu filho na rua, a última coisa que eu faria seria fingir que não o vi.
Ela pareceu se sentir desafiada e se aproximou mais ainda do Luciano:
- Você tá desmerecendo minha dor de mãe? Logo você que fez...
- Claro que não minha senhora. Eu só quero saber...
- Eu já fui interrogada pelo delegado. O que você quer mesmo?
- Eu vim aqui apenas para conversar com a senhora.
- Converse com o assassino, não comigo. Saia daqui.
Ela foi puxando ele e seus argumentos acabaram. Logo ela não se convencia mais. Luciano olhava tentando me encontrar, mas eu quis ir além. Eu ia descobrir mais e o melhor lugar seria naquela casa.
Ela levou Luciano até a porta e eu espiava pela janela. Ele só se tranquilizou depois que me viu pela janela e eu acenei que estava tudo bem. Ele foi para o carro e com certeza iria me esperar lá.
Corri para o quarto que era de Lucas e me escondi.
Ouvi alguns passos e aquela mulher reclamando, mas nada significativo, até que ela pega o celular e sai. Ouvi o barulho
da porta se fechar e fui em busca de algo. Algo pra incriminar aquela mulher. Meu lado de perito estava aguçado e qualquer coisa serviria de prova.
Peguei alguns cadernos de escola e comecei a folhear. Em alguns páginas ele havia escrito meu nome e o dele dentro de um coração.
Essa seria uma prova de que sua ligação comigo era grande, mas também poderia ser algo contra mim, já que poderia demonstrar que eu o usava, o manipulava, o que não era verdade.
Continuei com minha busca!
Mexi em gavetas, bolsos de roupas, embaixo da cama, caixas de sapato.
Nada!
Encontrei sua certidão de nascimento e algo me intrigou. Eu já havia visto aquele sobrenome em algum lugar, mas eu não conseguia me recordar de onde.
Guardei a certidão para que eu pudesse verificar depois essa incógnita e me vi diante de uns papeis, colocado em baixo da certidão.
Eu conhecia aquela folha...
Eu conhecia aquela letra...
Era a letra de Lucas.
Eram as páginas arrancadas do diário.
A salvação?
CONTINUA...