O namorado da minha amiga *33

Um conto erótico de Jhoen Jhol
Categoria: Homossexual
Contém 1694 palavras
Data: 27/03/2013 18:10:55

Quando a aeronave fez sua curva sobre o lago Paranoá pude ver as casas lá em baixo. Lembrei do rosto do Guto que ao me abraçar na entrada do satélite do aeroporto de Brasília disse: “Claudinho, não me pergunta mais nada o que posso te dizer é que Marcello precisa de você hoje em São Paulo e é só”.

Não entendi nada naquela hora, pensei que Marcello pudesse ter se machucado, mas descartei a idéia, Guto não seria irresponsável de saber disso e nada me falar. Pensei em mil coisas e todas me pareceram perfeitamente desconexas e confusas.

O que eu estava fazendo ali? Na manhã seguinte deveria ir trabalhar, um mundo de responsabilidades me esperavam, contudo a senha que me faz de tudo esquecer foi dita por Guto às 13h30min, de domingo; “Marcello precisa de você”.

Acho que a lasanha do almoço não havia alcançado meu duodeno quando, como num sonho, mecanicamente juntei uma calça, uma cueca, uma camisa; enfiei tudo numa mochila e apanhei o cartão de crédito. Guto a todo tempo me falava coisas que eu não prestava atenção alguma, sua lembrança não foi mais que um vulto que dizia coisas incompreensíveis num idioma que eu desconhecia. “Você me leva até o aeroporto?” Perguntei a ele que respondeu “ eu vim aqui para isso”.

Não escovei os dentes e ao cruzar a sala, minha mãe ficou sem resposta ao constatar a mochila e inquirir onde eu ia. Um beijo em sua face a calou e ela permaneceu estática com a xícara de chá de carqueja em sua mão, ela o prefere sem açúcar. Meu pai se limitou a um “Veja se liga”. Acho que ele intuiu que eu iría longe. No trajeto até o aeroporto ouvia Guto dizer coisas, porém nada me parecia relevante a não ser o que poderia ter ocorrido com ele.

Precisar de mim? Teria sido assaltado? Santo Cristo, ferido talvez? “Deus de toda vida, não deixe que mal algum se acerque dele” Pensei. Apertava a aliança como se isso o mantivesse longe de todo mal .

Ao descer do carro corri ao balcão da gol, foi o primeiro que vi. “Cláudio, aqui está o localizador do seu vôo” Disse Guto me apresentando um papel o qual segurei tentando entender.”Como assim?” O questionei. Havia uma reserva para mim? Limitei-me a perguntar se o Vôo era para São Paulo.

Guto respondeu que sim e disse outras coisas que importância alguma dei. Fui ao balcão da Gol e fiz o check in. Inacreditavelmente o laço mal feito da atendente me incomodou sobremaneira e me aborreci com o fato dela me perguntar sobre eu ter bagagem ou não. Agia como um títere, movimentos mecânicos, pensamentos em outro lugar.

Deus Santo, como está Marcello? Seu telefone não respondia e pela décima vez tentava contato. “Guto o que está ocorrendo? Porque Marcello não responde?” Perguntei a ele que disse que quando chegasse a São Paulo eu entenderia. Ao me despedir de Guto na entrada de onde ficam os fingers, dele recebi um beijo na testa e ouvi, “fique calmo!”.

Seria possível ficar calmo? Uma semana de espera e agora isso. Tentei perguntar mais coisas, ter uma direção do que ocorria, em vão. “Marcello precisa de Você hoje em São Paulo” por si só se explicava. Sei que minha mãe estranhou o fato de Guto haver aparecido sem avisar neste domingo e sei que estranhou mais ainda eu sair sem dar direção, mas não pensei sequer um segundo em explicar o que quer que fosse.

“Deus que nada haja ocorrido com ele, que nada haja ocorrido com ele” Eu repetia isso baixinho como num mantra falado por um catatônico cujo mundo à volta nada significa.

“Santo Cristo, se ele quiser me deixar, pois que me deixe, mas não permita que coisa alguma o machuque. Deus Santo, tudo que estiver escrito para ocorrer de ruim com ele que ocorra comigo” Coisas assim pensei durante todo o vôo.”Senhoras e senhores sejam bem-vindos a São Paulo a temperatura local é de...” Enquanto a voz do comandante sumia abri o envelope que Gustavo havia me entregue pouco antes de nos despedirmos e que insistira que eu só o abrisse no momento em que sobrevoasse a cidade.

Mal acredito como obedeci, talvez o esquecera durante o vôo, sim ocupara minha mente com o possível estado de Marcello. O fato é que rompi o lacre sem cuidado algum e dentro encontrei um bilhete de Marcello.

“Cláudio, o Deus de toda a vida ergueu esse dia para que eu o tome para mim com meu companheiro nessa vida, em nome desse amor que, embora digam ser maldito, eu o sei santo. Cláudio, homem da minha existência inteira, minha carne se faz sua e contigo dividirei o pão e a lágrima, o doce e o amargo. Quero estar nos seus braços no dia em que o sopro da vida abandonar meu corpo, mas enquanto a morte por trás somente me acena o terror da separação quero estar contigo hoje à noite, diante dela, Börk”

No fundo do envelope, entradas para o Tim Festival. Eu não entendi direito, mas comecei a chorar misturando alegria, susto, ansiedade e ternura pelas palavras do meu Marcello amado que me escrevia de forma tão doce e que amo mesmo tempo me fazia vibrar em ondas de estranha aflição.

Chorei sem me importar se o fazia baixinho ou não. A senhora ao lado quis me acalmar, sem saber direito o que dizer, mas expliquei que estava bem.“Senhoras e senhores sejam bem-vinhos a São Paulo, passageiros com destino a...” não me recordo de mais nada que o comandante disse, queria ver Marcello o quanto antes. Fui um dos primeiros a desembarcar daquele vôo.

Coisas dançavam na minha mente do tipo: “como ele estaria?” “Será que estava bem realmente?” “O que eram aquelas entradas? Havíamos decidido não ir ao show, estamos contendo gastos para a compra das nossas coisas”. Lembro de ter corrido pelo finger e de ter sido advertido por alguém. Dirigi-me a zona de desembarque e quando identifiquei aquela cabecinha amarela de longe, Meu Deus... comecei a chorar.

90 minutos desde que havia deixado Brasília, meu coração quase parou de tanta aflição. Marcello me aguardava na saída. Correr em sua direção era como aliviar meu peito daquela saudade estranha que me acompanhava. “Ainda bem que você...” interrompi o que Marcello iniciava falar com um beijo como se quisesse assim o proteger seja do que fosse.

De modo sôfrego o abracei. Nesta fúria, nem dei atenção aos agentes de proteção que nos olhavam espantados pelo fato de dois homens assim se procurarem. “Claudinho, você parece aflito” Ouvi de Marcello que prosseguiu “O que aconteceu com seu olho?” Respondi que era uma coisa sem importância e que depois falávamos disso. Ele insistiu, quis saber enquanto examinava meu rosto segurando-o com as duas mãos.

Compreendo que ao ver de longe estranhariam. Dois homens se tocando com tanto carinho não era comum. Um guardinha se aproximou, meio sem jeito, pedindo pra gente “maneirar” foi esse o termo que ele usou. Mas quando Marcello se virou para ele e trovejou com aquela voz grossa que ele fica quando está com raiva: ”Qual o problema, cidadão?” esse agente se afastou se desculpando.

“Claudinho, me conta o que aconteceu, está doendo? Quem foi que te machucou assim?” Ele perguntava e consegui o acalmar dizendo que depois falaríamos sobre isso e que agora queria só ficar com ele abraçado. “Eu esperava você de manhã, seu celular não respondia, no hotel diziam que você fechara a conta e Guto me aparece dizendo que você precisa de mim, envelheci dez anos nesta última hora e meia, o que ocorreu” disse a ele atropelando as palavras. Num sorriso ele aplacou toda minha inquietação.

“Queria lhe fazer uma surpresa, nós queríamos tanto vir ao show que achei que seria um ótimo presente de casamento, meu amorzinho” ele me disse me abraçando e me conduzindo ao táxi.

Durante o caminho eu o abracei forte e permaneci todo o tempo com a cabeça no seu ombro sentindo seu cheiro. Ele continuava examinando meu rosto e dizendo que queria saber daquela história depois.

Marcello se destacou no curso e como incentivo, uma forma de prêmio ele ganhou uma estada para dois no Hotel Fasano com tudo pago. Chegando ao hotel, Marcello pediu um quarto de casal e ao registrarmo-nos, notei que o rapaz da recepção não fez comentários quanto ao fato de dois homens ocuparem uma suíte de casal, mas não pode esconder um sorrisinho contido no canto da boa.

Pergunto quando é que vão se acostumar com isso. Ao chegar ao quarto, em nossa vontade de nos acharmos quase rasgamos nossas roupas, nos amamos apressados, nos entregamos mutuamente numa ânsia justificada para espantar a saudade que ainda permanecia. Sorvemos o hálito um do outro como quem do ar quer sugar a vida. Dormimos abraçados.

Músicas

http://www.youtube.com/watch?v=vzHZKz9wPSI

A música que o Marcello cantou para o Claudinho (O Coehinho me disse certa vez que a voz de Marcello é grave, imaginem como deve ter ficado linda a sua interpretação dessa música):

http://www.youtube.com/watch?v=8eciRVFDi0M&feature=related

A música que o Claudinho cantou para o Marcello (Na voz do Claudinho deve ter ficado linda essa canção, nas poucas vezes em que a ouvi no msn era com a voz de um anjo de tão doce)

Ao acordarmos, por volta das 19h resolvemos tomar um banho para sairmos e talvez comer alguma coisa. O hotel é realmente luxuoso, tanto que até fiquei sem jeito, muito elegante, fachada incrível, decoração acho estilo anos 30. “Temos direito a jantar e café da manhã” Marcello disse e completou “ Será que a comida aqui é boa?” e sorriu em seguida.

Pedimos para reservarem uma mesa no restaurante e fomos informados que a teríamos em mais ou menos uma hora. Nos pediram para esperarmos no Baretto onde nos informariam quando a mesa estivesse pronta.

Esse lugar é uma espécie de bar onde ficamos ouvindo jazz e tomamos vinho. Marcello me disse que queria muito me levar ao show e quando soube que estaria em São Paulo na época planejou tudo.

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Comentários

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Simplesmente fiquei sem folego com a carta hehe,ta querendo me matar eh? mt bom n10

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Eu li esse conto desde o começo, e estou apaixonada por esse casal, e lindo demais esse amor, parabens a eles e a vc que nos presenteou com esse texto aqui no cdc! bjus no coração.

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na minha cabeça, Marcelo tinha sofrido acidente, sido assaltado e ficado sem nenhum documento, ou talvez perdido a memoria. Ainda bem que não foi isso. nota 10

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