Capitulo 2
A FÉ E O AMOR
As dezenas de passos a percorrer pareciam-me eternos. Talvez pela expectativa que eu depositava naquele encontro ou mesmo por uma ansiedade que não posso explicar. De qualquer maneira seguia calmamente, no caminho pensava o que dizer a ele, talvez não houvesse necessidade de falar afinal ele é quem havia me chamado! Ainda não estava a ser fácil encaixar devidamente todos os pensamentos em relação ao enigmático garoto.
O observava. Em meio ao movimento, ele trazia vez ou outra um olhar para mim. Não depositei pressa para chegar ao palco mas não faltava muito para ali chegar.
Poucos metros nos separavam, quando vejo ele adentrar em uma porta que possivelmente daria para os bastidores. Acabei por se preocupar, ele nem mesmo fez questão de fazer um gesto para que eu aguardasse! Mas e a cena de ontem. Teria sido somente coincidência? Não, não poderia.
__Bruno?!__Uma voz masculina soou a cima no palco. Passei a procurar quem me chamava mas não pude ver ninguém.
__Você é o Bruno?__A voz agora estava mais próxima, me virei e pude ver.
__Sim sou Bruno...__Falei desconfiado a um homem que aparentava seus trinta anos e de características afro bem marcantes.
__Você é o jovem do banco com a aparência de vagabundo?
__Como?!__Não pude crer no que ouvia, vagabundo! E ele ainda tinha um sorriso no rosto.
__Quero dizer...é que um amigo disse que você viria, ou melhor, um jovem com cara de vagabundo.
Não sabia sinceramente o que responder naquele momento, só consegui permanecer com meu rosto de espanto. O silêncio se seguiu até que o senhor estranho disse:
__Bom você poderia me acompanhar?__Não sei se aquilo foi um pedido, pois logo em seguida com o braço no meu ombro, praticamente me empurrou para ir junto a ele.
Subimos então ao palco e passamos pela porta. O ambiente era de certa forma triste não sei o porque. Primeiro um pequeno corredor nos recepcionava, com sala de ambos os lados nunca havia entrado ali antes.
Pouco depois que ali entramos o senhor, que ao meu ver era sorridente por demasiado, me mostrou uma sala bem ao fundo, esta a qual disse ele que estaria seu amigo a minha espera. Tão rápido o disse e ainda mais rápido o vi sair, disse que estava super atrasado com a montagem da aparelhagem e não podia me acompanhar.
A sala seria usada, imagino eu, como camarim ou algo assim. Não havia janelas, mas as diversas luzes se encarregavam da luminosidade necessária, não ousei entrar, decidi avisar primeiramente batendo na porta. Logo em seguida uma voz me chama:
__Aqui! Atrás dos armários.
Havia ali uma fileira de armários, desses de aço ou alumínio não sei ao certo.
Fui então ao encontro de quem estava a minha espera. Em um ambiente um tanto isolado onde havia disposto um pequeno sofá vermelho, se encontrava o jovem enigmático da noite na casa de angela, a sua frente um belo violoncelo ao qual ele parecia estar a afinar.
__Você...queria falar comigo?__Disse a ele sem muita noção do que falar.
__Sim.__O garoto disse com o mesmo sorriso que dera na festa.__Por favor sentasse aqui.
__Não tudo bem! Prefiro ficar em pé.
__Não seje idiota!__Ele disse enquanto levantava.__Imagino que você já saiba porque estamos ambos aqui. Não é?
Ele estava a minha frente esperando uma resposta mas decidi bancar o inocente não sei ao certo o porque.
__Desculpa. Não sei o que você quer.
__Me diga uma coisa bruno.__Ele parecia apreensivo.__Como tem sido os seus últimos dias? Ou seria melhor dizer como tem passado esse único dia?
__Quem é você?__Disse com a intenção de acabar com rodeios.
__Sim, mais do que justo eu dizer quem sou. Me chamo André!__Mais uma vez com aquele sorriso estonteante, agora com sua mão estendida para mim.
__Eu sou Bruno. Mas isso você já sabe.__Disse apertando-lhe a mão rapidamente.
Com as apresentações devidamente feitas, tomei iniciativa a passei a falar.
__André...__Dizia enquanto caminhava pelo ambiente.__Você se lembra do que me disse na festa a noite?
__Sim.
__Então você também...
__Estou preso a esse dia? Sim Bruno o chamei aqui por isso.__Ele foi em direção ao sofá.__Assim como você. Não é?
Passei a encara-lo. E depois com o olhar vago sentei ao seu lado, disse:
__Faz 25 dias, 26 com hoje, que o mesmo dia tem se repetido para mim. Tudo é igual! O mesmo banco onde acordo, as mesmas pessoas que passam por mim, os mesmos diálogos...você realmente entende o que é isso?__Tentava buscar conforto em seus olhos agora.
__Sinto em dizer que sim. Eu te entendo Bruno, não me pergunte como mas nós...paramos no tempo. Até a três dias repetidos eu pensava que era o único! Mas então descobri você.
Nos olhávamos como se tivéssemos encontrado conforto. Mas lá no fundo acredito que buscavamos um no outro respostas.
__Eu não entendo!__Exclamei perplexo com a novidade.__Eu queria saber como parar com tudo isso.
__Olha. Já pensei em várias coisas mas não cheguei a lugar algum! Talvez não tenha uma saída.
__Uma saída...sim! Tem que haver uma saída.__Me levantei um tanto eufórico.__Eu não suporto essa situação, quero ver o raiar de um novo dia! Merda!
Ficamos ali parado por alguns segundos em silêncio, até que me lembrei de algo.
__Desculpa André tenho que ir agora!
__Mas o que houve?!
__Não sei se você vai me entender.__Parei em frente a saída e o olhei.__Mas é que eu preciso evitar que algo trágico aconteça!
__Espere. Eu te levo!
Então saímos rapidamente. Descemos pela rua da praça indo em direção a um palio weekend verde. André parou próximo ao carro, pensei ao menos com ele será mais rápido, olhava o relógio e o tempo se avançava sem piedade. Forcei a porta para abrir o carro, mas não tive êxito. Olhei em volta a procura do André mas não o vi até que ouço ele exclamando:
__O que você está fazendo ai Bruno?! Vem logo pra cá.
Merda! Aquele nem era o carro dele. Ele já estava no fim da rua perto de um estacionamento de bicicletas.
__Eu pensei que era...
__Não! Eu estou de bike!
__Bike?__Olhei não acreditando.__E você pensa em me carregar nessa bicicleta?!
__Sim ué! Você não tinha pressa? Vai ser melhor do que andar.
Discordando de mim mesmo subi naquela bicicleta, sentei no quadro, disse aonde iria e saímos.
Já próximo ao cruzamento da avenida cheever, saltei da bicicleta e fui em direção a senhora rabugenta e muito bem vestida. O André ainda junto a mim me questionava.
__O que você pensa em fazer cara! Está doido ou quê?
__Vão atropelar aquela senhora!__Disse apontando para ela.__Se eu ao menos fizer com que ela pare um pouco que seja! Ela vai viver.
__Hum entendi! Deixa comigo.__Ele disse confiante, passando por mim e indo de bike ao encontro dela.
Estava a alguns metros dele quando o vi, abordando a senhora. Sorri comigo mesmo, ao menos não seria eu a levar guarda chuva na cabeça.
Junto a eles não pude acreditar no que via! A velha sorrindo enquanto ele entregava a ela um convite para a apresentação da banda. Não sei se foi o charme do garoto ou a safadeza da senhora, mas isso não vem ao caso, o certo era que estava indo tudo muito bem.
O carro poucos segundos depois atravessou o farol vermelho rasgando o asfalto, chamando a nossa atenção.
__Nossa! Que irresponsabilidade! Alguém podia ter se ferido.__Disse a madame, com incredulidade.
__Sim. Sim, podia ter sido até a senhora.__Falei entrando no meio dos dois.
__Desculpa como disse meu jovem?!__Ela me questionou um tanto brava.
__Não é nada, não ligue para ele Sra Suzana.__André passou a defendela enquanto me fuzilava com os olhos.
__Por certo é verdade, não ligue para mim Sra Suzana. Eu sou o Bruno.__Disse amigavelmente, estendendo minha mão.
__Vocês estão juntos?
__Não!
__Sim!__Disse em contraponto ao não dele.
__Bem não importa estou com muita pressa.__Sorrindo ela virou-se para André.__E muito obrigado pelo convite! Prometo que irei.
__É eu também preciso ir! Até André.__Disse passando por eles.
__Espera ai cara! Eu vou junto. Tudo bem Sra Suzana, eu a esperarei lá.
Quase vômito com tanta melosidade. Subimos na bicicleta cruzamos a avenida, viramos a esquina para voltarmos para a praça. Estávamos pela calçada e o André teve a brilhante idéia de passar entre um poste e uma lixeira do muro de uma casa. Só pude tentar algo quando era tarde demais, fomos ambos ao chão. E não um chão qualquer! Encharcado, pelo sereno que caía.
Levantei um pouco atordoado, e só consegui dizer:
__Filho da puta. O que você fez!!
André estava com uma cara pior que a minha, juntou a bicicleta e começou a limpar sua bermuda, quando o ouço dizer:
__Ah não! Olha o que aconteceu com minha bermuda!
__O que?__Disse buscando ver de mais perto.
__Deixa!__Ele estava com uma cara de vergonha, e de costas colocou-se em frente ao muro.
__Deixa eu ver! Machucou ou o quê?
__Não...é que...
__Vai deixa de besteira...__Coloquei a mão no seu ombro forçando a viralo.
Ele estava vermelho com razão! Um belo rasgo na bermuda que mostrava boa parte da bunda. Não aguentei e comecei a rir descontroladamente, deixando-o ainda com mais raiva. Só de pura brincadeira mas o André acabou me dando um empurrão, que eu não deixei por barato. Assim iniciamos uma briga, que era mais um empurra empurra na verdade.
__O que aconteceu aqui!?__Não me esqueceria daquela voz nem em outra língua.
__Caímos! Nossas roupas não te deram uma dica?__Respondi para ela me afastando com a cara emburrada.
__E você se machucou André?!
__Não. Não se preocupe Dona Suzana. Estamos bem.
__Mas...o que é isso! deixe me ver...como sua bermuda foi rasgar desse jeito.
__Bom...__O André estava mais vermelho ainda, isto até que era bem fofo nele.
__Bem não se preocupe querido! Eu tenho um loja de costura aqui próximo. Venha comigo que eu dou um jeito rapidinho!
__Imagina não quero incomodar!
__Vai André ela só quer ajudar...tome aqui minha blusa. Coloca na cintura que ninguém vai ver.
__Está bem.__Ele disse não aparentando entusiasmo.
A loja não era tão longe mesmo um quarteirão acho, era a coisa mais feminina que um lugar poderia ser. Vários puffs e tapetes felpudos, cortinas rendadas e claro vários exemplares de roupas. Mesmo sendo gay nunca fui de gostar desses troços de mulher, e de moda só o meu estilo mesmo. Enfim entramos enquanto o André ia até o banheiro tirar a bermuda, a Sra Suzana pegava sua máquina e seus apetrechos e eu me sentei num enorme puff verde florescente. Então ouço o André me chamar.
__Fala. O que você quer?__Perguntei batendo na porta, que pouco a pouco se abria.
__Toma aqui Bruno. Leva para ela.__Acho que ele estava atrás da porta, porque só pude ver sua mão estendida segurando a bermuda.
Ao fundo, mesmo com a porta pouco aberta, percebi que havia um espelho que refletia a imagem do André, não pude deixar de rir com a cena, onde ele estava parado de costas com a cueca na mão que estava molhada mas meus olhos se deteram ao belo traseiro do rapaz. Ele é bem sarado, já havia reparado um pouco na beleza do André mas não com aquela profundidade, seus contornos eram bem nítidos, sua pele branca e com cabelos loiros, um tanto curtos mas não bem cortados mas eram muito charmosos. Resolvi sair e levar a bermuda antes que meu amiguinho aqui começasse a ganhar vida.
Fui até a mesa onde a D suzana estava. Aproveitei e sentei em sua frente para ver o que ela faria. Vez ou outra ela me olhava e eu desviava o olhar, parecíamos dos idiotas.
A vitrine em frente estava embaçada e com gotas escorrendo por causa da chuva, meu olhar ali fico já meus pensamentos estavam distantes. Não sei porque mas ter visto o André daquela forma me fez recordar o Higor, quase podia sentir seu cheiro o gosto suave dos nossos beijos, mas nada daquilo me animava só me deixava ainda mais para baixo.
__Problemas com o amor, aposto.__Ela disse com um teor de sabedoria.
__Bom sim...
__O amor não é nada fácil mesmo.
__É complicado por de mais!__Disse revirando os olhos.
__Sim!__Ela sorria me levando também a sorrir.__Mas se trata do que? Um amor não correspondido?
__Talvez. Mas o caso é que não quero mais amar essa pessoa.__Eu dizia com um certo nó nas palavras.
__Entendo. Sentimos isso quando somos magoados.
__E será que por fim um dia pode se deixar de amar?
__Hum não sei te dizer.__Ela levantava a bermuda como avaliar a costura.__Mas acredito que um amor nunca vá por completo.
Eu realmente estava muito triste com o Higor ele havia me machucado demais com suas atitudes, eu não tinha outra alternativa se não esquece-lo.
Percebi então uma bela fotografia na mesa, muito bem emoldurada. Ali estava a Sra Suzana abraçada a um menino de 10 ou menos anos de idade, um senhor um tanto mas velho que a envolvia pela cintura. Ela estava linda e jovem, mas acima de tudo radiante, diferente do momento atual.
__Essa é sua família?
__Sim...__Ela mantinha sua atenção na bermuda e em pontas soltas algo assim.
__Uma família muito feliz aposto!__Sorri para ela por conta do trocadilho mas não obtive um sorriso de volta.
__Um dia já fomos uma família feliz.
Era estranho ouvir aquilo resolvi não me intrometer, mas ela continuou com o assunto.
__Meu marido e eu não somos mais casados...e o meu filho mora com ele na irlanda.
__Divórcio. Nem me fale.
__Porque seus país também são?
__Sim...quero dizer. É complicado.
__Não se sinta culpado por isso Bruno! Há coisas que não se resolvem.
__As vezes até acho que tenho culpa no cartório sim!...mas esqueça isso, me diga e com seu filho morando tão longe assim como fazem para se verem?
__Meu filho foi com o pai porque não queria me ver nunca mais...isso já faz dez anos!
__Como assim não quer ve-la? Porque?
__É uma longa história. Ele disse várias vezes para mim nos primeiros anos da sua ida que ele já não me amava mais.__Podia sentir o choro em suas palavras.__Mas não tiro a razão dele...o que eu fiz com meu casamento não é nada digno.
__Esculta, não sei o que houve só sei que a Sra devia tentar mais vezes. Não sei talvez ser sincera com ele, dizer que o ama.
__Não se preocupe com isso tome já terminei leve para o seu amigo.
__Claro! Ficou ótima!
Gostaria de ajudar de alguma forma mas não sabia como. Fui em direção ao banheiro e passei mais uma vez a bermuda por uma brexa da porta. Resolvi esperar o André próximo a saída, e pouco tempo depois ele já vinha ao meu encontro.
__Bom acho que já podemos ir né bruno!
__Já vão? Fiquem o quanto quiserem, seria um prazer ter a companhia de vocês.
__D Suzana muito obrigado! Ficou perfeito!
__Não precisa agradecer André. Foi um pequeno favor apenas.
__Um favor que me livrou de andar com a bunda de fora por aí!__Os dois começaram a rir.
__Bom, então vamos!__disse a André.
__Vamos, eu vou até ali atrás pegar a bicicleta enquanto você se despede.
Fui então até a D Suzana e lhe agradeci pela grande ajuda, mas antes de sair fiz questão de lembra-la de algo.
__Foi ótimo conversar com a senhora! Olha não deixe de fazer o que te falei...eu sei que seu filho disse que não a amava mais. Só que eu ouvi uma vez de uma pessoa muito sabia que ninguém deixa de amar por completo, então lute e não desista! Ok
__Ah bruno.__Ela sorria com sinceridade, então nos abraçamos.
__Bruno já podemos ir!__André exclama enquanto batia na porta de vidro.
__É já vou indo.__Disse desfazendo o abraço.
__Voltem quando quiserem!
__Sim voltaremos!__André falou enquanto subíamos na bike.
** ** ** **
O relógio marcava 9:21h, meu estômago roncava enquanto esperávamos nosso lanche em um balcão de lanchonete.
__Hum André! Me diz uma coisa...o que nos faremos agora que sabemos que não somos únicos nessa história?
__Bom...eu tenho feito praticamente o mesmo esses dias. Não sei dizer o que podemos mudar.
__Olha não começamos bem e as circunstâncias também não são as melhores...mas podíamos ser amigos. Afinal temos ao menos algo em comum. Não é?
__Sim! E outra você é o único que tem sido mais real nessa doidice toda que estamos passando.
__Ah eu digo o mesmo!
Estávamos descontraídos e arrisco dizer que estávamos felizes.
Nosso lanche chegou e a fome fez com que ele logo terminasse. Pensei em até pedir mais um, só para ver o cara que anotava os pedidos, puts ele era bom de mais muito gato! Secava ele meio que normal como qualquer um secaria, só que o André acabou sacando e me disse na lata.
__As vezes até me esqueço que você é viado! Serio você tem cara e jeito de homem mas...
__Mas...sou gay! Não viado.
__Foi mal. Eu queria dizer isso...não quis ofender sério.
__Eu sei.
Não estava bravo nem nada. Mas ficamos um tempo em silêncio. Até que ele disse:
__Hum então cara. Eu preciso ir indo, você sabe tenho um festival para participar.__Ele tentou um sorriso.
__E você vai mesmo?
__Sim...
__Espera.__Disse levantando e pagando o lanche.__Vamos fazer algo diferente hoje!
__Diferente?
__Vou te levar num lugar muito doido!__Falei com as mãos em seu ombro.
Depois de muito insistir, mesmo não sendo fácil convencê-lo a deixar seu festival, ele pegou a estrada comigo. Seguimos pela avenida principal com a bike, passamos pela ponte Air umb, e sem ainda dizer onde o levava paramos em frente ao salão do centro tecnológico municipal. Entramos, o local já estava lotado e meio que puxando levei-o ao fundo onde um cara apresentava uma invenção que eu achava demais.
__Você me trouxe a feira de ciências e tecnologia.
__É! Chega aqui André, presta atenção no que aquela geringonça vai fazer.
Uma grande quantidade de pessoas e curiosos, expectavam a máquina que prometia criar imagens de holograma a partir de uma simples câmera e um programa de computador, juntamente com as imagens prontas elas seriam convertidas por um aparelho grande e estranho que também tinham o papel de projetar uma sequência de imagens que juntas formavam a estrutura física perfeita do objeto filmado. Os testes seguiam com algumas pessoas da propia multidão, suas projeções eram perfeitas em qualquer direção que você olhasse. Até o André acabou entrando na brincadeira e se tornando amiguinho do grupo de nerds que criaram tal façanha tecnológica.
O chefe da turma, um estudante de fisica quântica, tentou nos explicar como a máquina funcionava, eu fazia cara de esperto e entrei na onda. Não sei como tive, mas derrepente tive um estalo. "Claro se há alguém que pode nos ajudar com o problema do tempo é ele um físico!" Pensei.
__Então Marcos...é, você acha possível que o tempo, não sei...pare?
__O tempo? Como assim?__Marcos o chefe questionou.
__Sim. Mais especificamente um dia. E se não tivesse amanhã, só o hoje, sempre repetindo.
__Bom com a mesmice da vida! Todos os dias parecem iguais mesmo.__Ele começou a rir com a piada, eu e o André sorrimos sem entender.
__Acho que o Bruno quis dizer em relação ao fluxo de tempo real, parar em um dia literalmente!__André disse, sendo acompanhado por mim que acenava positivamente.
__Sim sei o que querem dizer. Essa questão é um tanto complicada, para ser sincero a ciência não avançou muito no estudo para dobrar o espaço tempo como conhecemos. Mas isso não quer dizer que seja impossível questões como teletransporte, viagens no tempo ou mesmo parar o tempo, como estão me questionando.
__Se é possivel...como se faz para reverter!?__perguntei entusiasmado.
__Então...__Ele começou a rir.__Acho que o melhor que posso fazer por vocês é dar este livro. Assim vocês o lêem e tiram essa dúvida!__Ele nos estendeu um livro de capa cinza brilhante.__Esse é um exemplar de um livro revolucionário. O fantástico tempo e espaço do Físico e escritor Creg farrah. Olha aí vocês vão encontrar teorias incríveis e exemplos de anomalias que aconteceram de verdade!
__Pode deixar que a gente vai revirar esse livro nos avessos se for preciso.__Disse a ele já com o livro nas mãos.
__Cuidem bem dele! Eu comprei direto da exposição de ontem onde o próprio Creg farrah estava apresentando-o.
Ouvir o nerd do Marcos dizer aquilo me fez pensar, se o cara, o escritor está aqui no Brasil e ainda mais na cidade, porque então não buscar as respostas direto da fonte?! Sim é o que farei.
__Mas Marcos onde é essa apresentação do livro?
__Ih se vocês pensam em ir é melhor correrem porque hoje é o último dia! E que por sinal acaba as onze e meia, não sei se chegarão em tempo é na zona sul. Mas tomem aqui...esse é o endereço...
__Marcos!__Interrompeu um nerd baixo e de óculos estilo Restart.__Eu já vou indo.
__Vai lá! Pedro. E não esquece de fazer aquelas melhoria no programa principal! Falô!
__Então e o endereço?__Eu perguntei impaciente ao Marcos.
Pedro me pareceu estar acabado, sabe cansado pra burro! Ele saiu de cabeça baixa, estranhei mas confesso que no momento estava mais centrado no endereço onde eu encontraria o tal físico. Acredito que não tenha sido só eu a perceber algo diferente no pedro, o André não tirava os olhos dele.
__Bom aqui está o endereço.
__Oh valew mesmo Marcos! Agora a gente vai vazar, se não...não vai dar tempo!__Eu disse já chamando o André que parecia perdido em seus pensamentos.__André! Você vem ou não?
__Claro...Marcos parabéns hen foi ótimo conhecê-lo também.
Nos despedimos e saímos. Tinha pouco dinheiro mas dava para o ônibus pelo menos. O André continuava muito quieto, logo que sentamos no ponto de ônibus resolvi perguntar o motivo:
__Que foi?
__Ahm nada não...aliás__ele me encarava__você conhece aquele carinha lá, o tal pedro de algum lugar?
__Não andré...só achei ele um pouco estranho. Talvez deprimido.
__Eh eu percebi. Mas eu acho que conheço ele de algum lugar e não sei como mas acho que é algo bem sério!
__Bom não deve ser nada. E quanto ao Sr Farrah o físico, você acha que ele vai conseguir nos ajudar.
__Hum...para dizer a verdade eu não estou muito certo disso. Você percebeu a cara de riso do marcos e isso porque a gente nem contou que isso realmente tem acontecido com a gente. Estou um tanto cético agora sabe.
__Credo Andy! Você tem que ter...
__O que! Andy?__Ele começou a rir.__Da onde você tirou esse nome!
__Como eu dizia você precisa ter um pouco mais de fé! E Andy eu achei um apelido muito charmoso...__Não me contive e começamos a rir juntos.
__Nem pense em me chamar assim hen bruno!
__Ta certo Andy! Não te chamo mais assim.
Era estranho sempre que riamos ou somente sorríamos, nos olhávamos de uma maneira diferente, mais profunda.
Já eram 10:46h quando entramos no ônibus, estava muito ansioso para que chegássemos em tempo, era uma grande oportunidade de entender o que estava acontecendo conosco. André olhava pela janela, com um olhar vago, tentei chamar sua atenção, contando a história da contrução da ponte Air umb enquanto passávamos sobre ela. Até que de um momento para o outro sua expressão muda radicalmente, ele parecia estar recordando de algo que o assustava.
__O que aconteceu agora? Porque dessa cara Andy?
__Eu preciso descer!__André disse e logo em seguida puchou a cordinha de aviso.
__Como assim descer, porque?
__Bruno acho que sei da onde conheço o Pedro! Hoje a tarde a televisão vai mostrar ao vivo um corpo sendo tirado daqui desse mesmo rio. E no final acabam descobrindo que era suicídio e o nome da pessoa era justamente esse .
__Tem certeza?
__Não sei...tenho.
O ônibus estaciona pouco depois, André pede ajuda ao cobrador para retirar sua bicicleta do bagageiro da lateral. Eu estava surpreso com a novidade mas não sabia agora que decisão tomar.
Enquanto André ajeitava sua bicicleta, percebi que ele estava decidido, e no final também estava certo com minha decisão.
__Andy eu...não vou com você.
__Eu pensei...__Ele me encarava surpreso.
__Olha você não tem nem certeza se era ele e outra o físico vai embora hoje se eu sair desse ônibus eu perco essa oportunidade.
__Você vai subir ou não?__Pergunta o cobrador impaciente.
__Vai lá então! Eu pretendo fazer o que é certo!__Disse andré sem me olhar nos olhos e com um tom de decepção.
__Sim! Eu vou mesmo!__Falei firmemente enquanto subia os degraus do ônibus.
__Acho que o melhor agora e cada um seguir o seu rumo!__Agora ele me pareceu falar com um ponto de raiva. A porta então se fechou.
Voltei então para meu lugar e olhando para trás via ele pedalando em direção a ponte. Comecei a pensar " Eu não entendo, o cara vai pular outra vez, mesmo que ele consiga impedi-lo hoje. A melhor ação seria irmos até o cientista, resolvermos a bagunça no tempo e salvar quem for preciso depois! Mas não ele um cabeça dura, um sentimental...e agora estou eu aqui sozinho para salvar nós dois!" Meus pensamentos borbulhavam não entendia o porque de me importar tanto com o que o André pensava ou deixava de pensar sobre mim.
Passamos pelo centro e em um ponto subiu uma senhora que não me era estranha, olhando-a melhor não pude acreditar era a D Suzana! Me encolhi rapidamente no banco, talvez ela não me veria, tinha sido boa nossa conversa mas não estava afim mesmo de um diálogo com alguém.
Ela parecia querer ficar mais a frente enquanto eu estava no fundo, isso me aliviava, só que ela acabou percebendo que era eu que estava alí. Tentei disfarçar e tudo! Mas um minuto depois ela estava do meu lado me cumprimentando sorridente, convidei-a a sentar do meu lado com um sorriso bem amarelo.
__Bruno acho que foi até o destino que me fez reencontrá-lo!
__Porque a senhora diz isso?__Disse fingindo entusiasmo.
__Eu preciso te contar uma novidade das grandes!__Ela sorria de um modo diferente, parecia estar muito feliz.
__Fala então D Suzana!
__Logo que vocês saíram, eu fiquei pensando muito no que você me disse sobre o amor que meu filho ainda poderia sentir. Então eu liguei para ele e sem dar tempo para ele falar qualquer coisa, comecei a desembuchar tudo que eu sentia. Disse tudo e várias vezes eu acabei até chorando.
__A senhora fez isso!__Exclamei surpreso e ao mesmo tempo curioso.__Mas fala! E ele fez o que?
__Primeiro ele fez um grande silêncio, pensei até que ele tinha desligado, mas aí ele me fala com todas as letras que sentia muito minha falta que precisava me ver, falar comigo.
__Caracas! Viu D Suzana eu disse!
__E agora nesse final de semana ele prometeu que viria para me visitar. Eu estou nem acreditando que está acontecendo de verdade!
__Você não sabe o quanto eu fiquei feliz pela Senhora agora.
__Obrigado Bruno. Você me fez acreditar que o amor vale a pena se lutar. E que o melhor lugar é ao lado de quem amamos.
Aquele papo todo me fez refletir. Eu deveria estar ao lado do André agora isso que realmente importava. Nos precisávamos um do outro e agora ele estava só.
__Não. Eu não a ajudei em nada...eu não sei lidar com as pessoas que me importo, não sei nem mesmo o que é o amor.__Disse em ton de desabafo.
__Ouça meu jovem, você não é nada disso! Hoje pude ver quem realmente você é, sei que no final você fará o que é certo.
Eu estava no lugar errado e agindo como um idiota pensando só em mim. Me levantei puxei a corda e disse a Sra Suzana:
__Tenho que ir agora...um amigo precisa de uma ajudinha.
__Claro. Nos vemos qualquer dias desses.
O ônibus parou e o mais de pressa tomei o rumo em direção a ponte. Seriam alguns bons metros mas corri para chegar em tempo.
** ** ** **
Com uma olhada rápida já pude avista-lo. Atravessei a ponte e fui me aproximando devagar.
__André...alguma novidade?__Disse tentando um sorriso.
__Bruno...você por aqui.__Sua voz era distante e seu olhar igualmente.
__Eu resolvi voltar e ficar ao seu lado.__Me sentei embaixo de uma árvore de ype, de frente para André.
Ele ficava em silêncio observando a ponte, os carros que passavam e também as pessoas. Eu por outro lado olhava para o chão enquanto riscava a terra com um graveto.
__E até quando devemos esperar?__Perguntei um tanto impaciente.
__Não sei...o jornal da tv disse que ele provavelmente teria morrido no meio do dia, algo nesse horário.
__Já são 12:10h, logo ele deve chegar então.__Disse tentando tirar um diálogo, mas em vão.
Cerca de meia hora depois e nada de alguém ou mesmo o pedro aparecer. Sinceramente estava quase dormindo naquela sombra tão gostosa. Até que o André me cutuca.
__Olha lá!
__O que?__Disse não sabendo ao certo onde olhar.
__Aquele carro! Ele está parando, não está ?
__ham...é parece que sim. Mas pode ser alguém que vão da uma olhada.
__Não você está vendo quem está descendo? É o Pedro, tenho certeza!
Realmente parecia muito com ele. Decidimos caminhar ao seu encontro, meu coração pulava dentro do peito, era pura aventura. O cara estava bem próximo a mureta de proteção, olhando para baixo, quanto mais próximo que chegavamos mais temíamos o pior. Poucos segundos depois ele subiu rapidamente até o topo da grade, que cercava a ponte. Não sei o André mas naquela hora eu gelei! Não podíamos perder tempo corremos até chegar perto do cara que realmente era o Pedro. O André gritou assustando:
__Pedro que diabos você está fazendo aí?!
__Acho que é pra pular Andy...
__Cala a boca Bruno!__Disse André impaciente.
Nessa o pedro nos olhava surpreso, e várias vezes se desequilibra-va para o nosso susto.
__Desce dai!__Gritava André.
__E para que?! Para a merda dessa vida que só me... __Ele chorava como uma criança.
__Olha pedro! Não sei o que você está passando, mas desse assim nos conversamos prometemos que vamos ajudar!__Insistia André.
__Hahaha!__gargalhava pedro.__Não diga! Ninguém liga realmente para mim, eu não tenho um propósito...eu vou e ninguém vai se importar.
__Você é brilhante cara, ajudou a construir uma máquina que logo mudará a vida de muita gente!__Exclamei tentando ajudar.
Alguns minutos se passaram e ele não saia de lá. E o pior que ele parecia cada vez mais mole e fora de si, já víamos a hora que ele despencaria lá de cima.
__Eu preciso fazer alguma coisa! Bruno eu vou subir!
__Pirou Andy! Ele deve estar chapado. Vai acabar te puxando junto.
__Eu preciso tentar.
Ele nem esperou minha aceitação e já foi subindo. Já ao lado de pedro ele tentava de tudo para traze-lo de volta, mas se houvesse qualquer movimento brusco, eles certamente cairiam.
Outros minutos se seguiram cada vez mais intermináveis, e para piorar ninguém aparecia para ajudar. Percebi que André tentaria fazer algo arriscado, suas mãos se posicionavam para tentar puxar Pedro para o lado de dentro da ponte. Subi de encontro a eles mas antes de chegar o pior aconteceu. O maldito Pedro desmaiou, desequilibrando o André que junto a ele caíram até desaparecer da minha vista. Só consegui dar um grito de desespero e escalar rapidamente até o topo, onde para minha surpresa e alegria pude ver a mão de André segurando com dificuldade uma aste mais abaixo. Mesmo feliz ajuda-lo parecia impossível.
Retirei minha camisa e blusa e improvisei uma corda, joguei em direção ao André que gritava pedindo ajuda.
__Vai andy! Segura que eu te puxo!
Podia ver o seu esforço sobrenatural para agarrar o pano, mas ele conseguira. Agora eu precisava puxar! O peso dele era demasiado eu não aguentava, mas o meu esforço foi suficiente para traze-lo mais próximo a grade e assim ele pudesse subir sozinho.
Nesse meio tempo alguns carros pararam, e chamaram a ambulância quando disse a eles que Pedro tinha caído.
Já com nossos pés no chão respiravamos tentando ganhar fôlego. André acabou sentando, ele parecia muito exausto, mas estávamos bem, ao menos foi o que pensei até que vejo ele deitado no chão totalmente inconsciente.
Eu perdi a noção de realidade naquele momento não conseguia reagir, um desespero profundo tomou conta de mim e comecei a chorar. Alguns minutos se passaram a ambulância e os bombeiros chegam, então André e eu somos levados a pronto socorro.
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Depois de ser atendido, fiquei aguardando notícias do André mais horas se passaram e nada. Exatamente as 15:17h uma médica veio ao meu encontro.
__E então o que houve?__Dizia desesperado.
__Você é parente do jovem que entrou desacordado?
__Somos amigos...mas me diz ele está bem?
__Sim.__Ouvir aquele sim me aliviou tremendamente.__Mas ele ficará aqui até amanhã após mais alguns exames.
__Claro! Eu ficarei aqui.
__Não consegui contactar nenhum parente, você conseguiria o fazer?
__Parentes?__O que eu diria! Não conhecia nenhum.__Talvez eu consiga avisar alguns sim. Mas então eu posso ve-lo?
__Sim, mas ele está dormindo agora.
__Tudo bem.
Entrando no quarto meio que senti um misto de alegria e tristeza. Não sei explicar, mas era tão bom reve-lo só que ele ali deitado tão frágil me incomodava, me fazia sentir-se impotente.
__E o rapaz que caiu no rio, a senhora sabe algo dele?__Perguntei a Doutora enquanto segurava as mãos de André.
__Sim ele foi encontrado a um tempo. Ele entrou no hospital com parada respiratória mas felizmente pudemos normalizar o seu quadro. Só que ainda ele está instável, não sabemos como seu organismo reagirá.
__Talvez todo esse esforço não tenha sido em vão.__Disse baixinho para André.__Espero que de tudo certo Doutora! Obrigado pela informação.
__Imagina...mas agora vou deixa-los aqui sozinhos, e ver outros pacientes.
__Claro! E mais uma vez obrigado.
__Até logo!
Me ajeitei ao lado da cama e comecei a observa-lo. Queria me desculpar, dizer que eu me importava muito com ele, só que ele nem me ouviria. Mas sabe aquelas vezes que a boca não consegue ficar fechada! Enfim comecei a falar mesmo que ele não me ouvisse.
__Andy...me perdoa. Eu te conheço só há algumas horas e você parece fazer parte da minha vida a anos. O que eu posso dizer...espero que continuemos amigos quando o dia recomeçar. Sabe você me ensinou muito hoje, com esse seu jeito de se importar com todos de ter amor em excesso, acabei que descobrindo o que realmente importa. Entendi o quão o amor é profundo. No começo achei que você tinha perdido a fé...e deixara de acreditar num amanhã. Só que você no final de tudo isso só me mostrou o quanto acredita que tudo pode melhorar. Bom eu vou parando por aqui se não acabo chorando, e vão me dizer que estou ficando maluco.
Abaixei encostando minha cabeça sobre seu peito e comecei as torcer para que o dia logo acabasse.
## Mais um dia percorrido por André e Bruno. Grandes descobertas e uma grande amizade. Naquela tarde a sala do hospital estava silenciosa, mas á alguns metros dali, duas pessoas vestidas de branco e de um olhar altivo conversavam entre si.
__Realmente você estava certo em escolhe-los. São perfeitos exemplos de fé e amor.__Disse um deles para o outro, que parecia sorrir.
__O momento já se aproxima. Temos que ser cuidadosos para que ninguém atravesse nosso caminho.
Ambos tomaram a mesma direção e desapareceram pelo grande corredor.
CONTÍNUA
Quero agradecer pelos últimos comentários. Fico muito feliz que vocês estejam curtindo a história, tenho lido os contos de outros autores da casa e já me apaixonei por varias histórias! Enfim postarei 24 HORAS semanalmente e adoraria ver outros comentários de vocês kelly, Albie, wanderson 16, winter2, Elliy_denali, Ru/Ruanito,lena78@, afonsotico e grimm e aproveitando a resposta para sua pergunta é não, não que livros com o tema não existam só não me inspirei em nenhum em especial rs...mas no decorrer do conto vocês verão certas proximidades com a série Fringe e o filme Labirinto do tempo, mas como vocês já puderam perceber a linha que eu pretendo tomar é bem diferente! Mais uma vez obrigado e qualquer dúvida, fiquem a vontade em perguntar!