Depois dessa minha confissão fizemos silêncio durante certo tempo enquanto terminávamos nosso malbeque; ouvíamos os sons das cercanias. O quase silêncio que tinha ao fundo grilos e piar de corujas, às vezes um latido ou um miado distante, foi rompido por uma voz feminina que vinha de além do muro, era uma canção cristã dedicada à virgem pelo que pude entender.
Parecia ser a uma senhora que atravessando o tom, em seu português simples naquela pronúncia imperfeita me encantou pela pureza do sentimento religioso de fé e esperança, lindo, lindo. A voz de um coração honestamente simples e desprovido de vaidade qual seja, um coração que naquele instante estava, seguramente, em contato com algo superior.
Assim como veio, se foi, leve, simples, linda, simples, como o vento ligeiro dessas colinas de Goiás.
Estava de cabeça baixa enquanto dizia a Marcello sobre o encantamento de todas as coisas e como o belo é simples em sua forma e conteúdo. Ele respondeu num sorriso que concordava. Acrescentei que para ser feliz e de forma plena, pouco é necessário. Necessitar era o tema da minha divagação.
All I Need – Radiohead - http://www.youtube.com/watch?v=cdrCalO5BDs
A noitinha era linda e eu tive naquele momento tudo que precisava, estava completo. Eu o Beijei e ficamos abraçados nos degraus da porta da cozinha que dão para o quintal dos fundos olhando aquele céu lindo, negro, profundo. Sem dizer muito, ele me tomou pela mão e fomos para nossa cama.
Ficamos abraçados um ao outro sob o silêncio dos satisfeitos, plenos de contentamento iluminado somente pela fraca luz amarela do abajur. O dia havia sido perfeito, ainda havia o som do vinho e o sabor da música pela casa... Marcello me beijou os olhos, o pescoço, tirou minha camisa, beijou meus pés. Beijou meu peito, tirou minha bermuda e me beijou a púbis. Quando beijou minha virilha, me olhou nos olhos e sorriu dizendo eu te amo, Pude notar que ele tinha lágrimas nos olhos. Voltou a beijar minha cintura e virilha.
O contentamento por ver seu nome escrito no meu corpo estava em seus olhos. Nos amamos entre beijos e mordidas até nossos corpos desejarem não mais que apenas ter a pele do outro contra a própria. Dormimos profundamente; ele com a cabeça no meu peito. Estive completo e enquanto acariciava seus cabelos fiz uma prece silenciosa intercedendo junto ao Eterno por todos que ainda não encontraram sua outra parte, lembrei de cada amigo desta comunidade, suas dúvidas e dores que também são minhas.
Sabem, minha vida até encontrar Marcello havia sido uma sucessão de infortúnios amorosos, às vezes me cria destinado ao desacerto, mas uma crença estranha havia em mim e essa mesma certeza de origem desconhecida me diz que vale a pena e também que cada um que hoje sofre no momento certo estará diante daquele o completará no momento oportuno.
Na manhã do sábado fui acordado pelo toque do telefone, era Guto, deixou tocar uma vez e desligou. Telefonei de volta, mas não consegui conexão. Sei que talvez precisasse conversar, fiquei um pouco aflito por ele. Durante o dia eu tentaria ao menos mais umas dez vezes; todas sem sucesso.
Voltei a dormir pensando sobre ele e Luíza.
No dia seguinte...
Acordei novamente com Marcello brincando com minha orelha enquanto me olhava. “Bom dia, Coelhinho” ouvi de seus olhos doces que tanto amo. Aprendi a entender suas piscadinhas. Depois do café, ficamos na rede um pouco e resolvemos nos entregar às delícias dos doces, o de manga é magnífico.
Depois disso fomos nadar numa fazenda fora da cidade que um amigo do pai de Marcello havia nos indicado. Ver só céu e cerrado é incrivelmente maravilhoso. O lugar é um paraíso na terra, a água da cachoeira inexplicavelmente perfeita e cristalina, geladinha. Passamos o dia lá, na fazenda onde só estavam o caseiro e sua esposa que de tímidos se recolhiam ao longe de nós; se quiséssemos poderíamos ter andado nus de tão sós que estávamos.
Na volta fomos ver o pôr do sol da igreja de Santa Bárbara, a vista é para se recordar por uma vida inteira; linda! “Você me surpreendeu, viu mocinho? Foi lindo ver meu nome na sua pele, eu me senti seu dono, eu me senti dentro de você, em você” disse ele do nada me abraçando por trás e completou “Claudinho, eu acho que te amo mais que a mim mesmo” “Corrija, diga que ama o mesmo tanto que ama a si próprio. É mais correto” disse eu a ele que sorriu replicando que minhas teorias são todas válidas, mas que dessa vez não, pois amar é algo que não se racionaliza.
“Touché, Marcello, dessa vez você está correto” retruquei concordando com esse fato que para mim é tão verdadeiro, pois penso que o amo mais que a mim próprio. “Para qualquer homem sentir-se dono de quem se ama é maravilhoso, você me faz muito feliz e nem imagino mais minha vida sem você” Ele pontificou me fazendo calar. “Sabe, Claudinho, às vezes noto a sua incerteza, eu a entendo, mas asseguro que farei tudo para tornar a sua vida feliz”. Disse ele afastando de mim qualquer sombra de dúvida quanto ao certo ou errado. “Sabe, Marcello já pensei em todas as implicações e desdobramentos, não será fácil, ambos sabemos, mas amo você e sei que nosso amor é bento aos olhos de Deus”.
Eu disse a ele revelando que enquanto homem também tenho medos e também fraquejo às vezes.” “Gosto quando você se mostra assim, desarmado, não tão forte, verdadeiro, você como é, o meu coelhinho” ouvi de Marcello que continuou falando sobre o fato de Deus não nos condenar e estar ao nosso lado.
“Sabe, Claudinho, o Criador é muito maior que qualquer condenação de Ratzinger ou de instituição religiosa seja qual for. Deus controla marés, órbitas de planetas, desviar cometas do curso da Terra. ELE grande como é não se aborrece com dois homens que simplesmente se amam. Acho que ele sorri quando estamos juntos.” Disse meu amado teólogo, com certeza, muito revolucionário para o paladar mais conservador, bem sei hihihi. Eu amo a clareza do seu raciocínio pragmático.
Mais à noite, ao voltarmos ao centro, jantamos. Marcello voltou a me falar sobre sua provável viagem a Vancouver no próximo ano; confesso que não gosto da idéia, mas é um curso importante e fará muito bem à sua carreira, foi uma sorte imensa conseguir essa oportunidade e sempre que ele falar a respeito procuro ouvir, mas devo ser honesto; quando posso, mudo o assunto.
Ele quer me levar com ele, e eu até iria, mas a idéia de deixar o país por um ano me incomoda um pouco. Concluo meu curso no próximo ano, Marcello está mais livre, pois por haver aproveitado matérias da faculdade antiga, termina agora. Não sei o que pensar havia feito outros planos, mas não quero fechar questão à cerca de nada. Ouço e pondero.
Voltamos à casa mais cedo, tentei falar com Guto, mas quando finalmente atenderam ao seu telefone foi a voz de uma garota que me disse alô. Guto estava dormindo.
Sempre achei arriscada essa sua conduta, com certeza era uma garota que ele havia conhecido a pouco, mas não julgo comportamento qual seja, a vida de cada um é assunto particular. Bem, pensei que ele deveria estar bem entretido e poderíamos falar depois.
O telefone de Marcello também tocou, era sua mãe. Procuro dar privacidade e sempre me afasto quando ele recebe uma chamada, mas ele sempre me puxa e fica me segurando pela cintura, me abraçando enquanto fala; acho que é sua forma de dizer que não há assunto que dele não possa saber.
“Ele está aqui do meu lado, (minha mãe está te mandando um beijo). Sim, já comemos o empadão, delícia, mas o Claudinho gosta mais de doce! É? Pode deixar eu o alerto dos perigos do açúcar..., Domingo à noite. Tudo bem. Certo. Eu dou sim. Outro mãe. Ela disse que era pra eu dar um beijo em você”
É engraçado ouvir a conversa de outra pessoa ao telefone, parece que falta uma parte hihihi. Como a mãe de Marcello pediu, Marcello me deu um beijo dizendo que eram ordens da mãe dele hihihi. Mordendo o lábio inferior e fazendo aquela carinha de garoto levado soprou ao meu ouvido que jamais fizera amor em uma rede. Hihihi
Acho que não preciso falar disso hihihi. Mais de madrugada acordamos e abrimos mais uma garrafa de vinho, estávamos nus e conversamos sobre nós, nossa vida, simplesmente ignorávamos o relógio ou mesmo sua função. Abrimos a janela do nosso quarto que dava para o terreiro dos fundos e ficamos ali, abraçados sentindo o vento. Depois de certo tempo voltamos para cama, nos amamos novamente e dormimos.
Um sino anunciava ao longe que a manhã chegara. Ouvimos passos em direção à igreja. Eu em minha preguiça pagã estirei-me ao lado de Marcello que havia acordado antes de mim, fora à cozinha, pareceu telefonar para alguém, depois de certo tempo voltou, deitou-se permanecendo de olhos fechados.
Contei os caibros do teto e dei um beijo em Marcello que sorriu dizendo “Podia ser Goiás Velho o ano inteiro!” Sorriu e pediu para eu ligar o radinho ao lado da cama. Sintonizei uma rádio qualquer. Ele rolou sobre mim sintonizando outra. Ouvimos algumas músicas e de repente, sem ser avisado, ouço o locutor dizer com aquela voz deliciosamente marcada pelo sotaque goiano
“Essa música agora é dedicada ao coelhinho de Brasília que está visitando nossa cidade. Quem oferece é o Cachorrão também de Brasília que ele sabe quem é e que dedica com um trecho de um poema de nossa querida Cora Coralina: ... Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras, planta roseiras e faz doces... Recomeça! Coelinho e Cachorrão sejam bem-vindos a Goiás!! É galera até os bichos se entendem, qual serão as intenções desse Cachorro, minha gente?” O locutor deu uma risadinha cúmplice liberou essa música...http://www.youtube.com/watch?v=gcr5ugrgIFs
Marcello olhou pra mim e riu como menino que faz arte, escondeu o rosto meio sem jeito no meu peito e me abraçou dizendo: “Era só pra dizer que o poema, não era pra comentar nada” Eu simplesmente achei lindo, ninguém jamais me ofereceu música em rádio alguma, hihihi.
Foi muito lindo, eu até me emociono quando lembro da beleza daquele gesto tão simples, tão cheio de encantamento. Um gesto belo, caipira, puro. Ouvir essa música, naquele radinho de pilhas, ao lado de Marcello, naquela manhã foi uma das experiências mais lindas da minha vida. Eu o abracei agradecendo aquela gracinha de presente.
“É galera! Um amor animaaaaal” (kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk morto - Jhoen) completou o locutor da rádio rindo de forma muito simpática quando a música terminou, hihihihihi. Muito espirituoso ele não? Hihihihi.
Tomamos café, e fomos caminhar pela cidade, tomar picolé.
Encontramos uma pracinha pequena com um gramadinho e deitamos sob uma árvore, acho que era um flamboiant, não sei. “Nossa vida está tão boa, eu tenho você, você me tem e nada nos separa”
Disse meu menino grande com a boca lambuzada demais de picolé igual criança. Mas, como num tempo de alegria, por trás o terror me acena, lembrei do ocorrido com Carlos e quis falar a Marcello que sobre o tema não mais quis discutir.
Com todo jeito do mundo, iniciei o assunto dizendo que as pessoas que não têm nada a perder são perigosas e que tínhamos muito que zelar. Marcello concordou e me disse quase docemente que não pedisse a ele que esquecesse que aquele “verme” (como ele se refere a Carlos) havia me encostado as patas. Argumentei que eu havia me defendido e cria que ele não mais se aproximaria de mim.
“Disso você pode ter certeza, Claudinho” ele redarguiu me deixando inquieto. Insisti no assunto, mas Marcello tem como ele próprio diz “uma teimosia de carcamano” Notei que eu o estava perturbando e mudei o assunto. Tentei esquecer e procurei aproveitar o resto do dia, mas meu coração tem um espinho que incomoda. Retornamos à noitinha.
Na volta pra Brasília terminei por dormir com a cabeça no seu colo enquanto ele guiava . Ao chegarmos à Brasília fomos para sua casa, telefonei para meus pais, mas não estavam. Minha irmã atendeu, foi rude como sempre, penso que seu azedume não mais me incomoda. Percebi que ela discutia com meu cunhado, não quis me estender ao telefone, odeio saber que discutem ignorando o fato de haver uma criança sendo gerada. Gostaria de fazer a língua dos dois desaparecer até o nascimento do bebê.
Na segunda Marcello me deixou no trabalho, mas não almoçamos juntos. Ele me pegou na faculdade mais tarde está muito empolgado com um apartamento de dois quartos, mas não quer dizer onde por enquanto. Ao chegar a casa, encontrei meu cunhado fumando em frente ao prédio, notei que ele não estava bem, chorava disfarçadamente (Nem estou aguentando essa guria - Jhoen). Eu o cumprimentei de forma seca e subi. Assim que a porta do elevador se fechou eu não pude controlar o impulso. Desci de volta e fui ver o que havia ocorrido. “Você, não me parece bem, eu posso ajudar?” Perguntei a ele sem acreditar no que fazia.
Esse moço com quem minha irmã se casou havia ignorado minhas tentativas de estabelecer amizade com ele desde o início do namoro com minha irmã. Primeiro ele, me ignorava, depois passou a querer me humilhar sistematicamente, mas de modo velado. Um cem número de domingos ele fez menção aos filhos adotivos que cresciam e se tornavam uns ingratos e aos que assassinavam os pais quando cresciam.
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É meu povo e minha pova, a partir desde encaminha para reta final U_U. A qualquer momento pode aparecer FIM. Vou postar as foto, tudo no seu devido lugar, não vou adiantar nada!
Plutão respodi o seu último e-mail sobre o meu último, como não respondeu pensei que não havia chegado.
FELIZ PÁSCOA!!!! (Lembrei da cena na casa do Marcello, onde surgiu Coelhinho. Então resolvi postar hoje hehehe)