Acordei naquele dia com meu ombro doendo, é interessante como nos lembramos dessas coisas simples e irritantes da vida, levantei desejando que ainda fossem 3:00 da manhã, só para ficar mais tempo na cama. Me arrumei com preguiça, sem nenhuma vontade de vestir o uniforme do colégio novo, já que minha família acabara de se mudar para uma nova cidade tive que ir junto, não queria, mas fui. Desci a escada de casa quase rastejando, e ouvi minha mãe gritando da cozinha.
. – Lucas! O café está pronto, corre que já estamos atrasados!
Acelerei um pouco o passo e segui o conselho da minha mãe comendo rápido e pulando no carro como um louco.
. – Animado para o primeiro dia? – Ela me perguntou.
. – Não, nem um pouco... Queria ficar na cama
Ela riu.
. – A temperatura de hoje é maior que sua idade, então...?
. – Levante a bunda da cama e vá para a escola. – Ri junto, sempre brincava com a minha mãe assim.
Chegamos no colégio quando os portões abriram, fui deixado na esquina e esperei um pouco para o tumulto passar e fui em direção ao quadro de avisos do lado de dentro, fique olhando alguns minutos até que encontrei o que procurava: Lucas Carvalho – 1ºC.
Andei sem rumo pelo colégio por esse tempo, no final das contas eu não fazia idéia de onde ficava a sala do primeiro ano, nessa de andar sem rumo olhando as placas nas salas trombei com alguém e para completar tropecei e caí.
. – Mas que merda foi essa? – perguntei em voz baixa.
O garoto ficou de pé na minha frente encarando alguns segundos, estendeu sua mão depois e me ajudou a ficar de pé.
. – Desculpa – disse olhando para mim – Machucou?
. – Não, não – me apressei em falar – Só fiquei distraído procurando minha sala. Sabe onde fica o 1ºC?
O garoto abriu um sorriso caloroso.
. – Claro! Então você é o novato lá da sala. – me puxou pela mão e arrastou – Relaxa, eu sou Tiago, do 1ºC.
Fiquei feliz por ter encontrado alguém que me indicasse o caminho e pela primeira vez me dei ao luxo de reparar no garoto desajeitado: Cabelo loiro e cortado com um corte militar, aparentava ter um corpo típico de quem faz natação, e não era muito mais alto que 1,75 m. Tiago era bem parecido comigo, na verdade, exceto pelos olhos ( os dele eram azuis e os meus, de alguma forma ironicamente monocromática, dourados).
Chegamos à sala no final do corredor e ele me jogou para dentro empurrando, depois deu um soco na porta e gritou alto.
. – NOVATO!
Pronto. Fui recebido por várias e várias pessoas, das quais só me lembro de Mariana: uma garota de cabelos castanhos e rosto em forma de coração, esguia e muito bonita; e Danilo: um garoto descendente de japoneses extremamente simpático e bonito. No meio de toda aquelas saudações calorosas do pessoal do 1ºC, que pelo que Tiago me contou era a mesma turma desde o sexto ano, não deixei de reparar eu um único garoto no fundo da sala, calado, concentrado em um livro de capa preta e sem a menor cara de... Nada. Não consegui identificar a expressão do garoto, não era apatia, nem mesmo raiva ou tédio, era uma expressão neutra e vazia que me dava um certo frio na espinha. Cutuquei Tiago.
. – E aquele – indiquei o garoto com a cabeça – Quem é?
Tiago ficou sério.
. – Esqueça ele. – disse rispidamente – Ele não é ninguém.
. – Até mesmo ninguém tem nome.
Ele suspirou.
. – Ninguém se lembra mais do nome dele, só o chamamos de Gelo.
Fiz menção de outra pergunta, mas Tiago me calou com um movimento de mão.
. – Sim, é cruel e não, ele não tem amigos.
Fiquei quieto e observei o garoto um instante: Cabelos negros e ondulados que caíam até o pescoço e contrastavam com a pele branca, o rosto com expressões firmes e de certa forma graciosas. Ele era sem dúvida o garoto mais bonito que eu já havia visto. Por algum motivo me senti impelido a falar com ele, ir até lá e me enturmar, perguntar seu nome e virar seu amigo, mesmo sem saber por quê, afinal, eu nunca havia me sentido assim com ninguém, nem mesmo com a minha ex-namorada que ficou na antiga cidade. Não era vontade de agarrá-lo, não tinha vontade nenhuma de beijá-lo, só de me aproximar e ganhar sua amizade.
Graças a isso, segui esse instinto e fui até a mesa dele, ignorando meu novo amigo falando atrás de mim “Não é uma boa idéia”. Parei em frente a sua mesa e falei no tom mais amigável que consegui.
. – Bom dia! Eu sou Lucas, o novato da sala!
Ele não fez menção de levantar a cabeça, com os olhos no livro respondeu em voz baixa.
. – Percebi.
Vi que a tentativa de aproximação falhou e tentei outra coisa, sem me deixar vencer.
. – O que você está lendo?
Me arrependi de perguntar logo em seguida, pois Gelo levantou o olhar e me encarou. Assim como os cabelos, os olhos dele eram negros, não somente escuros como os de muitas pessoas, mas negros como um abismo, como uma sombra, como o vazio do espaço.
. – Assim como eu espero que sua mente pré-evoluída possa entender – disse mantendo a voz baixa e neutra – Um livro.
Me surpreendi com a resposta e respondi.
. – Minha mente pré-evoluída consegue entender, mas parece que a sua, aparentemente inutilizada, não entendeu que me referia ao nome do livro.
Seus olhos ainda não demonstraram emoção, e por mais inquietante que fosse encará-lo, persisti.
. – Compreendi – disse – Mas você não. Se não respondi sua pergunta, é só porque vejo que você não merece uma resposta.
Fiquei quieto. Gelo encarou-me por mais um segundo e voltou a seu livro. Sem resposta, voltei para Tiago pisando fundo e amaldiçoando até a décima geração daquele garoto.
. – Pode falar. – falei rispidamente para meu amigo, que me olhava com diversão.
. – Eu avisei. – passou o braço por meus ombros, apoiando-se – Mas ainda assim, você conseguiu duas frases dele, a maior parte das pessoas da sala mal consegue uma palavra.
A aula começou e me sentei perto de Tiago, mas ainda continuava nervoso com a conversa de mais cedo, como uma pessoa podia ser tão... Idiota? Não custava nada ser um pouco gentil, só uma vez.
A manhã passou lentamente, comigo pensando na conversa, irritado, e sem prestar atenção nas aulas, que se consistiram só de professores se apresentando e um programa das atividades anuais. Tiago, Mariana e Danilo tentaram me animar e brinquei com eles um pouco, mas meus olhos bateram outra vez em Gelo e me estressei outra vez.
Passei o dia inteiro com a conversa na cabeça, irritado e discutindo com o garoto, sempre imaginando cenas onde eu o humilhava de algum jeito, deixando-o sem resposta assim como ele havia me deixado. Fui dormir ainda nervoso, despistando meus pais falando que estava estressado com a geografia do colégio, onde era quase impossível se encontrar, o que era verdade; bati a cabeça no travesseiro e fechei os olhos, só pensando no garoto e o motivo de ele ter sido tão ríspido. Se continuasse daquele jeito o ano seria, sem dúvida, muito longo.
Continua.
Va bene, persona. Esse é meu primeiro conto, e já adiantando, vai demorar um pouco para aparecer uma cena de sexo aqui, mas não se apressem quando acontercer será... Bem, divertida^^
Anyway, agradeço se comentarem para deixar um pobre autor feliz, e ao final do conto ( que não sei exatamente o quanto vai durar) direi se ele é verdadeiro ou não. Gratzie :3