Mais uma parte aqui. Espero que tenham reparado que esse conto tem sido mais elaborado que os outros, logo demanda mais tempo. Por isso demoro um pouquinho mais pra postar, mas tenham certeza que to fazendo com muita vontade e empenho. Obrigado e boa leitura...
Rapidamente ele ligou para sua mãe e quando arrumava a cama no outro quarto para meu “hóspede” o interfone foi tocado e pedi a Lucas que atendesse.
Maldita escolha.
Ouvi passos fortes na sala e ouvi os gritos:
- Que merda que esse garoto tá fazendo aqui uma hora dessas?
- Calma Murilo.
- Calma? O garoto é seu paciente Carlos! Você tá exagerando nisso.
Lucas resolve falar:
- Eu queria ter ido embora pra casa...
- Lucas, vai lá pro quarto da direita. Você vai dormir lá. Deixa que eu converso com o Murilo. Vai.
Lucas saiu ainda chateado, com vergonha da situação e acredito que com medo de eu contar para Murilo o que ele fez com o padrasto.
- Você tá passando dos limites.
- Murilo, o que você quer?
- Eu vim te pedir desculpas pela história da supervisão do caso do garoto. Eu poderia ter te ajudado, mas desmoralizei.
- Sim, desmoralizou bastante. Mas creio que consigo resolver.
- Dormindo de conchinha com ele?
Aff, que saco!
- É só isso que você queria Murilo?
- Não. Eu também queria conversar com você sobre nós.
- Nós o quê?
- Não finja de bobo Carlos. Depois daquela parada que rolou entre nós eu só consigo pensar em você, em repetir.
- Acho que você é bipolar. Quando rolou você se arrependeu. Até ontem tava esfregando toda sua fama de pegador na minha cara, agora tá dizendo que quer repetir. Tá achando que eu sou puta?
- Calma cara. Eu vim conversar, não quero brigar mais.
- Então só vem falar desse assunto se for alguma novidade, uma mudança de postura, ou melhor, nem toca nesse assunto. Amanhã a gente se vê na clínica.
- Beleza... Entendo seu lado. Vou indo então.
- Boa noite.
- Boa noite... Toma cuidado com a relação come esse garoto hein. Isso pode ser ruim pra você.
Fingi não ouvir e o vi sair. Fui até o quarto e mais uma vez Lucas chorava. Resolvi usar uma técnica:
- Lucas, nós vamos fazer uma coisa. Esse é um caderno de lamentações – entreguei um caderno a ele – que a partir de agora você vai usar para escrever tudo que acontece com você.
- Como se fosse um diário?
- Pode ser. Mas quero que escreva aquilo que você pensa, não é importante o fato em si. Entendeu?
- Acho que sim.
- Vou te deixar quieto pra fazer isso então. Boa noite. Amanhã te acordo cedo e te levo em casa pra você se arrumar pra aula.
- Tudo bem e obrigado por tudo.
Dei um sorriso e fui pro meu quarto. Era tanta coisa pra eu pensar. Torcia pra que Lucas conseguisse amenizar sua culpa colocando tudo naquele caderno. Pelo menos era um meio de ele não se sentir julgado. Já sobre Murilo, há tempos havia percebido seu ciúmes do garoto, mas enquanto ele não fosse homem pra bancar seus sentimentos, íamos continuar distantes.
De fato, Murilo estava certo sobre minha proximidade com Lucas. Ele era meu paciente. Uma distância se fazia necessária. Portanto, era melhor nem comentar com ninguém sobre sua noite na minha casa.
A noite passava e eu não conseguia dormir. Até que ouvi batidas na porta. Me levantei e fui abrir, sabendo que se tratava de Lucas.
- Oi. Algum problema?
- Não to conseguindo dormir.
O garoto estava apenas de cueca e eu também, sempre durmo assim.
- O que posso fazer pra te ajudar Lucas?
- Me abraça e só.
Ele me abraçou num impulso que não tive como não retribuir. Ficamos assim por alguns minutos e suas mãos percorriam minas costas, confesso que ameacei ficar excitado quando senti seu pau crescer um pouco, mas logo saí daquele abraço.
- Acho que você deve ir se deitar novamente Lucas.
- Tá. Mais uma vez obrigado. Eu te adoro.
Ele ficou vermelho e me deu um beijo na bochecha. Tive a leve impressão de que o garoto queria me seduzir, mas pensei ser uma ilusão minha. Minha atenção se voltou para sua bunda, que bunda! Ele estava indo pro quarto e meus olhos o acompanharam. Afastei os pensamentos e enfim consegui dormir. Creio que ele também.
Acordei bem mais cedo do que de costume e o levei até em casa com a garantia de que ele estava bem e a técnica do caderno estava funcionando.
Cheguei à clínica e Murilo me esperava na recepção, ainda com a mesma fechada.
- Ué, não abriu a clínica?
- Ainda não. Só tenho paciente ás nove.
- Entendi. Eu vou pra minha sala.
- Não, espera.
Resolvi esperar.
- Eu queria dizer que pensei muito nessa madrugada. Eu tenho feito tudo errado e só tenho conseguido te afastar de mim. Tenho sido incoerente e primeiramente quero te pedir desculpas.
- Não precisa disso Murilo.
- Aceita minhas desculpas ou não?
- Aceito. Esquece isso.
- Muito pelo contrário. Não vou esquecer. Quero que você saiba que a partir de hoje vai ser tudo diferente. Eu tenho certeza do que eu sinto por você e quero que você tenha também.
- Eu nunca duvidei da existência de sentimento nenhum Murilo, não sou leviano assim. Só que eu sei que ele não é forte o suficiente pra enfrentar certas barreiras. Simples assim.
- Isso é o que você pensa.
Ele me beijou e eu correspondi. Estava com saudade de senti-lo assim. Murilo era simplesmente perfeito esteticamente e seria tudo muito fácil se ele quisesse o mesmo que eu, mas ele já tinha demonstrado que não queria.
Fomos parando o beijo em selinhos e seu sorriso ao meu olhar acendeu uma esperança em mim que eu nem sabia que existia:
- Eu percebi que é melhor não falar muito. É melhor fazer.
- O que você quer dizer com isso Murilo?
- Que eu não vou ficar de lenga lenga não. Eu quero você, tu sabe disso. Mas eu não vou ficar me repetindo. Eu vou provar.
- Como, posso saber?
- Gosta de surpresas? Então aguarde.
Ele me beijou de novo.
Que cara esperto!
Será que tava escrito na minha testa que seu beijo me deixava louquinho e amolecia qualquer ideia de brigar?
Acho que sim.
Paramos novamente e ele disse no meu ouvido:
- Você já é meu.
Meu instinto nervosinho não poderia deixar passar e retruquei:
- Não tenha tanta certeza.
- Tem mais alguém na jogada? Olha que eu me garanto em qualquer competição.
Seria até legal se tivesse alguém pra competir com ele, seria mais leal até comigo. E engraçado também.
- Olha que pode ter alguém hein Murilo.
- Qualquer que seja, eu sou mais forte.
- Nunca subestime o adversário.
- E quem seria ele?
Me afastei um pouco ao sentir meu celular vibrar. Meu toque foi aumentando, até que o tirei do bolso e vi o nome no visor: Lucas.
- Eu preciso atender.
- Esse moleque tá exagerando.
Ignorei Murilo e atendi:
- Alô Lucas.
- Oi Carlos.
- Pode falar.
- Eu... Eu só liguei... Só liguei pra dizer que te amo.
E desligou... Me deixando paralisado.
CONTINUA...