Turma, mais uma parte postada... O texto é meio longo e algumas coisas ficam obscuras propositalmente, é necessário ter paciência. Estou testando muitas coisas nessa história, inclusive à mim mesmo. Portanto, espero que gostem e comentem sempre, já que o retorno é mais que importante. Obrigado e boa leitura...
E estava eu, com minha roupa branca suja de sangue, o corpo de Lucas seguro em meus braços, seus olhos abertos a me olhar, mesmo morto, sua arma em minhas mãos e minha expressão de pânico.
O que seria de agora em diante?
Minhas dúvidas só se aumentaram ao ver Murilo na porta, desesperado, com os olhos marejados, me olhando e me condenando:
- Pelo amor de Deus, me diga que não fez isso, Carlos!
- Murilo, me ajuda, por favor!
Quando fechei a boca a polícia chegou. Não conseguia raciocinar direito e Murilo ainda me olhava num misto de pena e decepção. Mas que se dane o Murilo! Lucas havia se matado e minha responsabilidade nisso era enorme.
Um policial adentrou a clínica sendo seguido por mais dois. No momento em que viram o corpo, o da frente apenas virou o rosto e disse pra uma pessoa atrás:
- Parece que o acusado virou vítima.
- O que aconteceu moço?
Eu conhecia aquela voz... Meu medo se tornava ainda maior. Era a mãe de Lucas.
- Carlos? Você... Você matou o meu filho?
- Claro que não. É tudo um mal entendido.
- Você está preso!
Quando o policial disse isso, apenas o olhei, sem nem pensar em questionar nada, afinal eu iria ter que ir mesmo à delegacia para tentar explicar o que aconteceu. Murilo, “meu namorado” fazia questão de me olhar, mas sem proferir nenhuma palavra. Sua passividade com a minha situação me deixava com raiva.
Assustei quando senti uma força contra meu corpo. Aquela mulher estava fora de controle:
- Eu vou te matar, como você fez com meu filho.
O policial tentava segurá-la, mas ainda assim eu levava grandes tapas.
- Antes de te conhecer a vida dele era normal, agora ele cometeu um crime e você o matou. Seu maldito.
Eu poderia me defender de suas acusações, mas seria em vão. Eu entendia sua dor, também estava abalado.
O corpo de Lucas estava no chão, quando chegaram médicos legistas e começaram a mexer no corpo. Pegaram o revólver e o colocaram em um saco plástico, enquanto os policiais me algemaram. Aquela coisa que me prendia os pulsos me apertava, doía, mas eu não conseguia sequer reclamar. Olhava para Murilo esperando uma resposta praquilo tudo, mas ele apenas suava, provavelmente de medo.
Fui colocado no camburão e fui levado para a delegacia. A mãe de Lucas ia no banco da frente, transtornada diante da morte do filho, mas parecia ser mais que isso. Ela realmente estava sofrendo muito e me culpava como o destruidor da vida dela, do filho, da família.
Fiquei numa sala aguardando ser chamado pelo delegado. Só nesse momento a ficha caiu de fato: eu estava preso pela morte de Lucas, morte que eu precisava convencer e provar que foi um suicídio e não um homicídio cometido por mim.
Além disso, eu precisava me inteirar de tudo que desencadeou essa ação.
O Lucas, meu paciente: MORTO!
E onde estava Murilo numa hora dessas? Não sei. Estava longe de mim, parecia querer distância.
- Carlos Costa, vamos.
O policial me puxava com certa força desnecessária para a sala do delegado, que me recebeu de forma ríspida:
- Senta aí.
Me sentei, planejando minhas palavras, ainda abalado com tudo.
- Pode começar a explicar porque matou o menino.
- Eu não o matei delegado. Ele se suicidou na minha frente.
- Muito surreal essa história não é?
- Não, não é. Ele era atendido por mim há algumas semanas, mas eu não consegui detectar nele nenhuma característica que explicasse esse tipo de ação.
- Você tem curso superior não é? Que sorte! Porque se fosse por mim, ia pra uma cela com mais uns 80 presos pra aguardar julgamento. Tenho certeza que eles iam adorar saber o que você fez com um adolescente.
- Doutor, eu não fiz nada.
- Sei como é. Mais um inocente né?
Não disse mais nada. Meus olhos já estavam marejados. Era a primeira vez que chorava depois de tal cena. A dor estava vindo com tudo.
- Barros!
Surge um homem alto, moreno claro, assim como eu, aparentando uns 30 anos, não fardado.
- Sim doutor.
- Leva o psicólogo assassino pra fazer um telefonema.
Ele me tirou da cela com força menor que o outro policial, mas ainda assim desnecessária.
- Você não tem cara de assassino. Vou te dar uma dica: só fala algo aqui, quando seu advogado estiver do lado.
- Eu não sou assassino. Mas obrigado.
- Eu não te disse nada. Anda logo com essa ligação.
Não sabia pra quem ligar e por isso nem processei tal “gentileza” do policial. Liguei para Murilo e... nada!
Tentei umas quatro vezes, mas não consegui que ele me atendesse. Decidi ligar para Adriana, que me atendeu de pronto.
- Oi.
- Drica, sou eu.
- Carlos, eu já to sabendo de tudo. Qual delegacia você está?
Deixei-a a par da situação e ela ficou de me providenciar um advogado. O policial me puxou mais uma vez:
- Vou te levar pra uma sala. Você vai ficar lá até seu advogado chegar. Imagino que ele vai tentar te tirar daqui e você não deve ficar mesmo.
- Tomara.
- Vai pensando no seu crime aí.
- Não cometi crime nenhum.
Disse isso um pouco alto e ele me pressionou na parede da sala com bastante força e nem pude me defender:
- Aqui quem fala alto sou eu, entendeu? Abaixa a bola que você não manda nada. Sua vida acabou depois dessa cara.
Abaixei minha cabeça e me sentei no chão da salinha após ser soltado por ele. O que seria de mim agora?
Alguns minutos depois, aproximadamente uns 40, sou chamado de volta pra sala do delegado, pelo mesmo policial:
- Tá movimentando a delegacia hein psicólogo?! Tem advogado, visita... Só cuidado com a mãe do menor.
Não entendi direito suas palavras, mas foi fácil ligar os fatos quando saí da sala e já tive que me defender, com as mãos protegendo meu corpo, da mãe de Lucas que ainda queria se vingar.
De longe vi Murilo na sala e fiquei mais confiante. Ao lado dele um senhor de meia idade de terno e Adriana.
- Pode sentar psicólogo.
Me sentei na frente do delegado e só ouvi:
- Eu sou o Dr. Lúcio Brandão, seu advogado.
- Prazer Doutor.
O delegado nos interrompeu:
- Sabe dos crimes que seu cliente tá respondendo né?
Eu decidi falar:
- Quais são eles delegado?
- Corrupção de menor, por ter induzido ao crime contra o padrasto, além do homicídio qualificado.
- Qual foi o crime que o Lucas cometeu com o padrasto?
A mãe de Lucas veio com tudo para perto de mim e gritou:
- Ele matou o meu marido... Instruído por você. Assassino.
Seu grito ecoou não só nos meus ouvidos, mas em toda a delegacia. Eu já chorava imaginando o estrago da situação. Mas parecia ser claro descobrir que Lucas era o responsável por tudo, e não eu.
O delegado pediu que o policial, o mesmo de antes, me levasse á salinha de novo e conversasse com o advogado.
Doutor Lúcio ouviu toda minha versão dos fatos e se mostrou confiante na minha saída daqueele lugar no mesmo dia.
Depois, entra Adriana:
- Meu amigo, eu avisei que essa relação não ia dar certo.
- Adriana, não havia relação. Ele era meu paciente. Tá certo que eu dei certa liberdade, mas não passou disso.
- Isso você vai ter que provar.
- Eu vou resolver isso. Preciso falar com o Murilo.
- Vou sair e ele entra. Boa sorte aqui.
Ela saiu e Murilo entrou... Sua expressão era indecifrável, mas era ele que eu precisava naquele momento. Seu carinho iria me dar confiança... Muita confiança.
Segui em sua direção, deixando claro o que precisava:
- Amor, é muito bom te ter aqui.
- Amor? Acabou Carlos. Você é um assassino e não vai me levar nessa com você não. Vai se ferrar sozinho!
CONTINUA...