Mais uma parte aqui... O conto está se encaminhando pra uma nova fase. Estou com dengue, melhorando já, mas não deixo de postar. Demoro devido à densidade do texto que eu gasto grande tempo pra escrever, mas tô sempre aqui. Obrigado, inclusive pelas críticas, comentem bastante e boa leitura...
Murilo entrou... Sua expressão era indecifrável, mas era ele que eu precisava naquele momento. Seu carinho iria me dar confiança... Muita confiança.
Segui em sua direção, deixando claro o que precisava:
- Amor, é muito bom te ter aqui.
- Amor? Acabou Carlos. Você é um assassino e não vai me levar nessa com você não. Vai se ferrar sozinho!
- Murilo, você não tá acreditando que eu...
- Eu te avisei quantas vezes sobre essa relação com esse garoto? Tava na cara que ia dar merda. Agora você que arque com as consequências.
- Não tô acreditando nisso...
- Eu é que não acredito que meu amigo seja um assassino.
- Até ontem a gente era namorados lembra?
- Você disse bem, até ontem. Acabou. Depois desse escândalo eu nem sei o que fazer com a clínica...
- Murilo, vai embora daqui antes que eu cometa uma loucura.
- Melhor eu ir mesmo... Eu nem sei mais do que você é capaz.
Ele saiu e eu me recolhi no chão sem saber o que fazer. Minha ficha havia caído: eu havia induzido um garoto a matar o padrasto e o vi se matar na minha frente. Além da minha culpa ser enorme, ainda havia a culpa que Murilo colocava sobre mim, alguém que eu gostava tanto e que eu havia dado um voto e confiança, depositava toda sua raiva, mesmo sabendo da minha situação.
Chorei! Chorei muito...
Agora sim eu não via mais saída.
Toda minha carreira e até minha vida pessoal ia por água abaixo.
Estava perdido na minha situação, quando Barros voltou a sala pra me levar diante do delegado novamente. Me impressionei com sua gentileza:
- Tava chorando psicólogo?
- Tava.
Abaixei a minha cabeça já esperando mais uma humilhação, mas ele foi sensível o suficiente pra melhorar minha situação:
- Não precisa disso cara. Se você for inocente mesmo, rapidinho você sai daqui. Você tem boa aparência, residência fixa, sem antecedentes. Num deve passar nem uma noite nessa delegacia.
- Obrigado Barros.
- Meu nome é Luciano. Só me chame de Barros na frente do delegado. Falando nisso, vamos lá, ele quer dar uma palavrinha.
Ele deu um sorriso leve e pude reparar mais nele. Era bem bonito. Por trás daquele porte sério tinha um cara com senso de justiça aguçado e coerente em seus atos.
Ao chegar na sala do delegado, Luciano me deixou lá e se retirou rápido. O delegado, ríspido como sempre, disse:
- Seu advogado entrou com um habeas corpus e você agora vai esperar numa sala reservada daqui. Você deve sair e responder em liberdade pela ausência de provas concretas e seus bons antecedentes, mas não se esqueça que cometeu um crime.
- Eu não cometi crime nenhum.
O delegado mais uma vez gritou pra que Barros, Luciano, me levasse até a outra sala.
Meu instinto psicólogo, e curioso, fez com que eu perguntasse sobre aquele cara misterioso que eu estava tendo contato:
- Você trabalha há muito tempo aqui?
- Quase sete anos, sou concursado.
Comecei a calcular mentalmente a sua idade, mas ele foi mais rápido que eu:
- Tenho 30 anos. Me formei cedo em cursos e rapidinho passei no concurso.
Estava impressionado com a sua mudança de postura. Apesar de continuar com a expressão séria, era claro que ele estava mais falante e comecei a pensar que ele acreditasse na minha inocência, afinal ele não trataria um assassino tão bem.
Chegamos à sala e fui surpreendido com suas palavras:
- Cara, eu não devia falar isso, mas eu acredito em você. Num tem nem como você ter feito tudo isso. Eu conheço desse tipo de coisa.
- Nossa! Muito obrigado.
O abracei. Ele não retribuiu e eu me afastei de cabeça baixa. Eu estava carente e acabei transferindo pra ele uma coisa que era de Murilo, mas que eu não ia conseguir: compreensão.
Ele pigarreou e avisou:
- Eu vou indo. Se precisar de alguma coisa pode chamar que eu to aqui do lado. De vez em quando eu passo aqui também.
- Obrigado.
Eu estava sem graça com a situação de tê-lo abraçado e não conseguia mais olha-lo nos olhos. Ele saiu e eu me sentei numa cadeira dentro da sala.
Comecei a pensar no que teria acontecido para que Lucas surtasse daquele jeito. Será que o padrasto havia molestado-o novamente? Com certeza houve algum tipo de agressão por parte do padrasto na noite anterior, a noite em que ele me procurou e eu não o ouvi, pra que ele agisse de forma tão desesperada. Mas isso eu nunca iria saber...
Ou iria?
Por um instante passou na minha cabeça que eu havia dado a ele um diário. E se ele estivesse usando? E se ele tivesse anotado tudo que estava acontecendo com ele?
Pronto!
Aquela seria a maior prova da minha inocência, da complexidade do caso. Ao menos a mãe entenderia seus motivos e seu sofrimento, já que eu acreditava que ela não soubesse de nada. Para ela, me culpar era a melhor solução já que não havia em seu coração uma explicação lógica pra todos esses acontecimentos.
Como fiquei satisfeito...
Precisava tomar uma atitude pra resolver isso.
Dei algumas batidas na porta para que Luciano surgisse e rapidamente ele apareceu:
- Precisando de alguma coisa?
- Sim, sim. Eu preciso falar com o meu advogado. É meio urgente.
- Você não pode ficar fazendo ligações aqui toda hora.
- Eu sei Luciano, mas é que eu encontrei uma prova que vai me tirar daqui mais rápido.
- Eu vou tentar com o delegado, mas acho que não vai dar.
- Luciano, muito obrigado mesmo. Você não sabe o quanto eu precisava disso...
- Eu imagino, só não confunda as coisas.
Ele saiu e eu comecei a repensar no quanto estava me apegando às qualidades desse cara que eu tinha acabado de conhecer.
Bom, sua resposta não veio. A noite chegava e nada de eu sair daquele lugar. Logo, um outro agente levou um lanche com pão e leite pra que eu não ficasse com fome, mas nada de Luciano voltar.
Recebi um cobertor e só naquele momento descobri que Adriana havia levado alguns objetos pessoais meus. Com certeza passaria a noite ali. Novamente comecei a chorar.
Eu não sabia mais o que esperar.
Luciano havia me abandonado e eu já estava sozinho de novo. A minha única saída seria encontrar esse diário e mostrar pra todo mundo que eu não tive culpa significativa nessa história.
Mostrar que talvez eu tenha falhado no uso da técnica, mas que a minha intenção foi a melhor e que eu fiz tudo que pude pra ajudar aquele garoto.
Mais do que isso, precisava mostrar pro Murilo o quanto ele estava errado. O quanto suas atitudes me machucavam.
Ele iria se arrepender de ter me jogado na lama quando eu mais precisei.
Meus sentimentos por ele mudavam de forma rápida. De amor, pra raiva, pra decepção, pro ódio...
Quando já era hora de dormir o outro agente apareceu... Antes que ele dissesse qualquer coisa eu fui mais rápido:
- Oi, eu queria saber sobre o Luciano... Quer dizer, sobre o agente Barros.
- O que tem ele?
A voz do agente era ríspida... era mais um de pouca conversa naquela delegacia.
- É que eu queria saber se ele está na delegacia.
- Não, ele não tá.
- Eu precisava...
- O filho dele sofreu um acidente em casa e ele foi socorrer. Quer saber o RG dele também?
- Não.
Abaixei minha cabeça novamente, desviando o olhar.
- Toma cuidado com esse cara hein... Já até sei o que ele disse pra você.
- Como assim?
- Bom, arruma suas coisas aí. Seu advogado tá esperando.
Um sorriso brotou no meu rosto. Luciano tinha saído, mas havia avisado meu advogado. Era questão de tempo pra eu resolver tudo...
Arrumei rápido minhas coisas (não havia entendido pra que eu precisava arrumar tudo só pra meu advogado me ver, mas mesmo assim o fiz).
Fui levado até a outra sala:
- Olá Carlos. Como está?
- Fisicamente bem doutor. Recebeu meu recado?
- Recado? Não. Vim porque seu habeas corpus saiu. Você está livre!
Nossa! Minha cabeça girou. Que felicidade. Não passaria a noite naquele lugar.
Era questão de horas pra eu resolver tudo e mostrar para o mundo que eu era inocente. Mostrar pro Murilo do que eu sou capaz com aqueles que me traem!
CONTINUA...