Nas Garras do Lobo (Cinco) A Família

Um conto erótico de winter
Categoria: Homossexual
Contém 1936 palavras
Data: 17/03/2013 19:41:12

5. A Família

Bastou o sinal e as duas se atracaram no meio do circulo iluminado. As duas garotas lutavam como verdadeiros homens, brutais e sem misericórdia. Alguns socos desferidos contra a outra eram capazes de jogar sangue na arena. Aquilo era realmente uma batalha de gladiadores. Eu ainda estava em duvida se as duas iriam sair vida daquele lugar. O ultimo golpe foi fatal para a garota morena. A loira de cabelos desgrenhados jogou o punho fechado de cima para baixo contra o queixo dela. Como se não fosse o suficiente, ela terminou puxando a cabeça da adversária contra o seu joelho. A garota morena caiu no chão, só não sabia se ela estava morta, ou se existia algum pedaço de vida em seu corpo.

As pessoas gritaram e rugiram. Eu apenas fiquei boquiaberto com aquilo. Olhei para Kaius, ele não parecia nem um pouco impressionado com a “apresentação”.

Foram mais ou menos umas cinco lutas até a vez de Ian. Mesmo já imaginando que ele iria participar, fui pego de surpresa. Ainda mais com seu adversário. Aquela montanha de músculos. Pelo o que eu tinha visto Ian não tinha nenhuma chance contra ele. Iria ser massacrado. O sinal de Glaber fez meu coração disparar. Ian estava condenado. Kaius deve ter percebido minha agitação, senti sua mão escorrer sob a minha e no fim a apertou, passando um pouco de segurança e confiança.

O gigante jogou o pé contra o peito de Ian, e o mesmo caiu de costas no chão. Ele demorou um pouco para de recompor, ainda bem que era Ian, ele era forte. Se fosse eu seria o primeiro e ultimo golpe. Ian aproveitou o momento em que o gigante estava se vangloriando por sua força bruta e pulou nas costas dele o prendendo com os braços em torno do seu pescoço. A única coisa que ele fez para se livrar de Ian foi cair de costas, novamente se fosse eu estaria morto agora. Como se não fosse o suficiente, ele chutou as costelas de Ian o fazendo cuspir sangue no chão.

Eu não agüentava vê-lo daquele jeito, tinha que fazer alguma coisa pra impedir. Como tinha feito naquele dia mais cedo, mesmo que custasse minha vida, não queria ver Ian sofrendo daquele jeito. Dei um passo confiante para frente, porem a mão de Kaius impediu que eu prosseguisse. Eu tentei me livrar dele, mas não consegui.

“Ian vai ficar bem, ele é um guerreiro” Kaius disse baixo para mim. Eu acreditava que Ian era forte, acreditava que ele podia se virar sozinho. Mesmo contra aquele monstro gigante. Mas eu não podia ficar assistindo aquilo.

“Eu cansei disso.” Disse e puxei a minha mão com mais força e consegui me soltar.

Corri para longe dali. Queria ir embora, pra minha casa, nunca mais voltar naquele lugar. Queria que fosse um sonho, melhor um pesadelo. Acordar e descobrir que aquilo não passava de coisas da minha cabeça. Corri o máximo que pude, até meu pulmão não conseguir mais administrar tão pouco ar que eu respirava. Minha visão ficou embaçada na escuridão da floresta, fui obrigado a me apoiar numa árvore. Outro passo e eu cai.

No chão eu busquei algum pouco de ar, mas eu não conseguia respirar da forma correta. Foi então que um redemoinho de escuridão me sugou.

...

Acordei em minha cama, como tinha desejado. Foi evidente o sorriso no meu rosto. Graças a Deus tinha sido tudo apenas um pesadelo como eu queria que fosse.

Levantei da minha cama mais disposto do que de costume. Entrei no banheiro tomei banho e escovei os dentes, eu tinha aquela mania de escovar os dentes enquanto tomava banho. Voltei para o quarto e vesti outra roupa.

Minha felicidade momentânea desapareceu completamente quando eu vi o corpo moreno e esguio encostado na parede do meu apartamento. Era Kaius, ele se virou logo que percebeu a minha presença. Se ele estava ali, então tudo aquilo não tinha sido um sonho. Era real, todos aqueles costumes bárbaros, lobisomens e até mesmo eu não era uma pessoa comum.

“Não, não, não pode ser.” Repeti baixo para mim.

“William.” Alguém disse, não era Kaius. Era uma voz mais conhecida. Ian, ele estava ali sentado em uma cadeira.

“Ian.” Senti um alivio em vê-lo, porem ao mesmo tempo medo. Medo, por que minha vida nunca mais seria a mesma, e eu não sabia o que me esperava.

“Que bom que você esta bem.” Ele veio em minha direção e me abraçou com gentileza. Eu não tive nenhuma reação apenas fiquei encolhido nos seus braços por um tempo. ”Depois que você saiu, Kaius foi atrás de você. Ele demorou, mas conseguiu te encontrar.”

“Você é escorregadio pequeno.” Disse Kaius com aquela mesma voz que eu me lembro, rouca e sensual.

“Eu não podia ver aquilo Ian, não podia ver ele te machucando.” Sussurrei de cabeça baixa. ”O que será que eles vão fazer comigo agora.”

“Não se preocupe. O Alpha disse que apesar de você ter causado alguns problemas, você não é nosso inimigo. Portanto se você ficar longe e de boca fechada sobre isso, poderá voltar a sua vida normalmente.” Não vou mentir aquilo me aliviou completamente. Eu estava com muito medo do que eles poderiam fazer comigo, talvez me jogar naquela arena não sobraria nem pó de mim.

“Se eles vão me deixar em paz, por que você esta aqui?” Perguntei a Kaius.

“Eu só queria ter certeza que você estava bem, pro Ian.” Ele respondeu.

“Bem, se vocês querem mesmo saber eu não estou nada bem. Eu descobri que não sou humano, sou uma espécie de mutante camaleão que eu não entendo e não sei nada a respeito.” Desabafei por um segundo.

“Kaius me disse.” Ian disse e se afastou um pouco. ”Mas nós vamos procurar mais respostas para você. Pode ter certeza disso.”

“Eu só tenho certeza de uma coisa, se alguma pessoa sabe alguma coisa sobre mim. Essa pessoa é da minha família.” Disse e fui até a bancada puxei a chave do carro e sai pela porta da frente.

Kaius e Ian vieram atrás, mas desistiram quando tiveram certeza de que eu não os levaria. Fui para o estacionamento subterrâneo do prédio e entrei no meu carro minúsculo. Liguei o motor, e respirei fundo antes de dar ré e virar para a saída. Seria uma viagem de mais ou menos duas horas até a casa dos meus pais.

A viagem foi cansativa, o caminho quase me fugia à memória. Havia muito tempo que eu não ia para a casa dos meus pais. Normalmente de vez enquanto eles me visitavam. Mas isso era antes, quando eu não sabia que era um monstro.

A casa dos meus pais ficava em um condomínio fechado com casarões enormes. Sim, meus pais eram ricos, como quase toda a família. Porem eu nunca conheci de fato a parte da família da minha mãe, só os via em fotos e ouvia algumas coisas que minha mãe contava sobre eles. Eles nunca apareciam para festas e outras coisas que eram convidados.

Estacionei meu carro em frente casa azul escuro, não tinha muro ou cercado, era livre, portanto eu passei direto até chegar à porta enorme da sala. Eu lembrava perfeitamente daquele lugar, como eu o odiava.

Toquei a campainha duas vezes até meu irmão aparecer entre a porta, provavelmente tinham dispensado os empregados naquele dia. Ele estava mais alto do que de costume, bem magro, e mesmo assim era maior do que eu. Eu não acreditava que era mais velho que ele. Seus cabelos tinham crescido desde a última vez que eu o vi, eram loiros e caia por cima de sua testa. Se ele não usasse um terno como o que ele estava usando diria que ele me lembrava um surfista.

“William? Meu Deus.” Ele então passou pela porta e me deu um abraço bastante apertado, quase fiquei sem respirar por um minuto. Alem de maior que eu era, incrivelmente mais forte também.

“Fala maninho, quanto tempo.” Respondi sorrindo com ironia. Se alguém nos visse, claramente eu era o “maninho”. ”Eles estão em casa?” Perguntei olhando atrás dele.

“Sim, estamos terminando de nos arrumar para um compromisso. Você sabe os investidores, sempre esperam um bom show nessa época do ano.” Sim, eu sabia um dos grandes motivos pra querer fugir de tudo aquilo.

“Posso entrar?” Perguntei depois de perceber que estava do lado de fora e ele tampando a passagem.

“Claro. Você pode ter ido embora, mas essa casa continua sendo sua, você sabe.” Ele disse e entrou.

Quando eu ia pedir que ele chamasse nossos pais, Karen apareceu na escada. Usando um vestido vermelho e justo, que caia solto abaixo do joelho. Karen era minha mãe, uma mulher bonita. Cabelos ruivos e Chanel, desta vez. Ela tinha o habito de mudar a cor do cabelo consecutivamente. Da ultima vez que eu a vi seu cabelo estava loiro, como o de meu pai e de meu irmão. Minha mãe tinha quase quarenta e cinco, porem era vaidosa e cuidadosa quando o assunto era aparência, por tanto nenhuma pessoa dava mais de trinta e cinco anos para ela.

“Lucio quem era...” Parou de dizer quando me viu ao lado dele.”William. Oh meu deus. William, que saudades meu filho.” Disse ela e desceu as escadas rapidamente e com cuidado para me abraçar. Depois ela segurou meu rosto com as duas mão e me deu um beijo na testa.”Eu sempre soube que você ia voltar pra casa, seu quarto esta do jeito que você deixou.” Disse ela pré-supondo as coisas como sempre.

“Menos a sua temporadas de Dr. House.” Completou Lucio com seu terrível senso de humor.

“Mãe, eu não vou voltar pra casa. Eu só precisava falar com vocês. É muito importante.” Eu disse e rapidamente ela mudou de semblante. ”Onde está meu pai?”

“Filho, chame seu pai, por favor.” Disse ela para Lucio, e ele subiu as escadas de pressa. “Bem nós temos algum tempo ainda. O que seria tão importante a ponto de você vir até aqui?” Perguntou ela enquanto caminhávamos até a enorme sala, ela se sentou em sua poltrona.

Eu não respondi. Minha atenção se voltou para o homem alto que entrava na sala junto com Lucio. Roger era o nome do meu pai. Ele também era vaidoso quanto a aparência, não tanto quanto minha mãe. Mas ele odiava o grisalho, achava que não lhe caia bem, por tanto algumas vezes no mês ele tingia o cabelo na sua antiga cor natural o loiro. O que dava a ele pelo menos sete anos a menos.

Ele abriu os braços quando me viu e eu retribui. Adorava o abraço de meu pai, dentre todos era o que mais me fazia sentir seguro. Eu parecia um nada perto dele, ele era grande, maior que Lucio, e tão musculoso quanto Ian.

“Meu filho, que bom vê-lo.” Ele disse e me deu um beijo no rosto. ”O que de tão importante você tem para falar conosco?”

Dito isso nós todos nos sentamos. Por um segundo o silencio congelou o ambiente. Eu não tinha a mínima idéia de como fazer aquilo. Então fui direto ao ponto, como sempre.

“Eu descobri uma coisa, sobre mim. E eu preciso saber a verdade. Eu sempre tive essa desconfiança, por ser tão diferente de vocês, mas eu sempre achei que fosse culpa da minha doença. Mas agora eu acho que pode ser verdade. Eu sou adotado?” Aquilo caiu como uma bomba para eles.

Minha mãe engoliu seco, pode sentir do meu lugar. Meu pai não me mexia, estava estático. Apenas Lucio esperava uma resposta como eu.

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