Nas Garras do Lobo (Seis) A Revelação

Um conto erótico de winter
Categoria: Homossexual
Contém 1641 palavras
Data: 17/03/2013 19:42:18

6. A Revelação

“Eu acho que esse silencio é a resposta.” Eu disse perplexo. Embora tivesse certeza de que era verdade, aquilo ainda me afetou de uma forma dolorosa.

“Você não é adotado William. Não do jeito que você pensa.” Minha mãe disse me deixando confuso. ”Você nasceu de mim, eu sou sua mãe biológica. Porem Roger não é seu pai biológico.” Ela revelou me deixando mais confuso ainda. Lucio devia saber por que ao observar sua expressão, ele não estava impressionado como eu.

“É uma longa história.” Roger ou meu pai disse. ”Lucio, vá em nosso lugar diga que nos atrasaremos um pouco.”

Lucio apenas assentiu com a cabeça e afagou meu ombro antes de sair, como se dissesse boa sorte. Roger levantou e caminhou até a janela.

“É uma história dolorosa de se contar meu filho. Mas infelizmente está na hora de você saber.” Nesse momento todos nós já tínhamos os olhos inundados de lagrimas. “Eu era jovem, e tinha uma família controladora e tradicional.” Até ai nossas histórias se pareciam bastante. ”Meus pais queriam me forçar a casar com Roger, mas nem eu nem ele queríamos isso. Nós éramos apenas amigos, grandes amigos. Além de que nós estávamos apaixonados por outras pessoas. Minha única saída foi fugir, então eu fugi. Por um tempo eu fui feliz, mas as coisas não foram felizes para sempre. Eu engravidei, e ele me deixou sem motivo algum. Eu não tinha emprego, não tinha casa, minha família não queria nenhuma relação comigo. A única pessoa que me ajudou foi Roger e a família dele. Eles me acolheram. Mas quando descobriram que eu estava gravida eles exigiram que nós nos casássemos. Roger fez esse sacrifício por mim.” Ela se levantou e se ajoelhou na minha frente e segurou as minhas mãos eu não consegui olhar para ela. “Apesar de todo o sofrimento, desde o dia em que você nasceu eu nunca me arrependi do que eu fiz. Eu te amo tanto meu filho, e eu tenho tanto orgulho de você.”

“Então eu sou um bastardo?” Eu perguntei, mais para mim mesmo do que para os outros.

“Aos olhos de qualquer outra pessoa, sim” Disse meu pai se voltando para nós e caminhando em nossa direção. “Mas. Você pode não ter o meu sangue, ainda sim é meu filho. Eu criei você, te ensinei a ser o homem que você é hoje. Não é isso que é ser um pai?”

“Como você pode dizer isso?” Eu disse com a voz alterada. Levantei-me e o encarei. ”Você desistiu do seu amor, por minha culpa.” Depois eu me virei de costas, não conseguia mais encará-lo. Parecia que todo o sofrimento dele, tinha sido causado por mim. “Você deveria me odiar.”

“Nunca diga isso. Eu também não me arrependo, filho. O amor que eu senti, nunca vai se comparar pelo amor que eu sinto por você hoje. Por você, seu irmão e sua mãe. Eu amo nossa família, e você não tem culpa de nada. Esses são nossos erros, não os seus.”

Ainda sim, eu me sentia como um intruso naquela família. Meus avós todo esse tempo me trataram como netos de verdade, e eu não passava de um bastardo. Talvez o amor de família seja mesmo incondicional. E com certeza eu não era membro daquela família, acho que nunca aceitaria uma situação como essa. Eu devia ter o caráter do meu pai biológico e isso era nojento. Como um homem poderia fazer tal coisa? Pelo menos eu não teria coragem de fazer aquilo.

Porém ainda existia algo. Algo ainda mais incompreensível que não ser filho biológico da pessoa que você sempre chamou de pai. Eu era um camaleão, ou um humano-camaleão, um monstro para ser mais especifico.

“Se você é minha mãe de verdade...”

“É claro que eu sou.” Respondeu ela imediatamente.

“Você deve saber que eu não sou normal.” Disse, mas ela pareceu não entender. Claro eu também não entenderia. Eu nunca fui bom em enrolar as coisas. ”Eu não sou humano.”

Senti a respiração dos dois ficarem mais pesada dali mesmo onde eu estava.

“Eu estava temendo que você dissesse isso.” Ela disse encerrando a voz de choro. ”Você deve saber que não é tão estranho quando parece.”

“O que?” Eu me virei para eles indignado. ”Não é tão estranho? Eu sou um maldito monstro e vocês não acham isso estranho? Que tipo de família é essa?”

“Nós somos todos Kaenome, ou como você prefere chamar. Camaleões. Nossas famílias são umas das mais tradicionais da nossa espécie. E casar com alguém da mesma espécie é a regra principal. Seu pai era humano, então nossa união desagradou a todos. E nós pensamos que essa união não resultaria em uma criança. Mesmo assim você chegou a esse mundo. Os médicos disseram que você não conseguiria chegar nem a um ano de idade. Você era tão doente, pequeno. Mas foi tão forte, e esta aqui agora. Você é um milagre.”

“Mas por que vocês esconderam isso de mim? Por que me manterão cego?”

“Geralmente, os de nossa espécie desenvolvem suas habilidades já na infância. Porem você não mostrou nenhum desenvolvimento. Nós pensamos que talvez você fosse mais humano, e não possuísse nossas habilidades. Então decidimos não contar a você sobre nosso mundo. Deixar você ter uma vida normal. Nós só queríamos o seu bem William, nunca quisemos deixar você cego. Você tem que entender isso.”

“Eu não posso lidar com isso nesse momento.”

Sai de lá sem dizer mais nada, eles não tentaram me impedir. Foi melhor daquele jeito. Não estava com raiva deles, mesmo assim não podia encará-los agora.

Voltei para casa correndo, naquele momento não ligava mais para nada. Cheguei em casa em menos de uma hora. Apenas entrei passei pela porta, vi Ian sentado no sofá passei por ele.

“Então, o que aconteceu?” Ele perguntou.

“Eu não quero falar sobre isso agora.” Respondi.

Então segui para o meu quarto me joguei na minha cama e fiquei lá encolhido por algum tempo. Não foi por muito. Ian me conhecia o suficiente para saber que eu não gostava de ficar sozinho mesmo quando eu dizia que queria. Ele apareceu entre a porta e ficou me olhando por uns minutos. Depois entrou e se sentou do meu lado.

“Foi tão ruim assim?”

Relutei em responder por um segundo, mas eu precisava desabafar. E Ian era a pessoa mais próxima de família que existia naquele momento.

“Se você acha ruim, descobrir que você não é filho biológico da pessoa que você sempre chamou de pai. E que todas as pessoas da sua família são camaleões, menos você, por que você é uma espécie de hibrido. Por que seu pai biológico é humano então você acaba sendo metade humano metade camaleão.”

“O que? Hibrido? Eu pensava que isso não podia acontecer.”

“Há dois dias eu pensava que Lobisomens não podiam acontecer, e olha você está bem aqui. Alias nem sei como não estou com medo de você agora. Eu vi a sua transformação e acredita em mim é aterrorizante.”

Ele riu, e pala primeira vez depois daqueles dois dias, eu sorri também.

Sentei na beira da cama como ele.

“Eu só queria que tudo voltasse ao normal.”

“Quando eu descobri que era um lobo, eu também quis isso. Mas isso não é uma coisa que a gente pode mudar. Mas eu queria que não fosse assim pra você, eu não gosto de te ver assim. Você sempre foi meu melhor amigo, sempre cuidou de mim. Como na vez que minha mãe foi embora e meu pai fingia que eu não existia então você me escondeu no seu quarto por uma semana.”

Eu ri com a lembrança.

“E meu pai descobriu, ele queria matar você. Eu e minha mãe segurando ele de um lado e você fugindo. Meus pais nunca gostaram muito de você.”

“E mesmo assim você continuou sendo meu amigo.”

“Eu queria voltar naquele tempo.”

“Não! Acredite quando eu digo que lobisomens podem ser assustadores, mas seu pai ganha com certeza.”

Ficamos ali por um tempo, rindo e lembrando coisas do passado. Eu acompanhei cada fase da vida de Ian e ele da minha, nós nos conhecíamos melhor do que qualquer outra pessoa. Às vezes eu me perguntava por que nós nos tornamos amigos. Ian vinha de uma família excêntrica, a mãe dele era garçonete e prostituta nas horas vagas. E o pai trabalhava como faz tudo. Nenhum dos dois criou Ian da forma correta, ele era apenas um membro indesejado naquele lugar, que não dá nem para chamar de família. Quando ele tinha onze anos, a mãe de Ian foi embora de casa e o pai dele que já era alcoólatra aumentou seu vicio, descontava toda sua frustração no menino. Foi quando eu tive a idéia de escondê-lo no meu quarto, que não deu muito certo. Meus pais nunca gostaram de Ian, com certeza por que ele não era o tipo de amigo que eu deveria ter. Depois de ele ter que sair da minha casa, uma senhora o adotou. Não formalmente, mas de uma forma mais ilegítima. A senhora era viúva e morava sozinha, essa foi a única fase da vida de Ian que ele teve uma pessoa que pudesse ser considerada uma família. Eu sempre ajudei Ian como podia, dividia escondido minha mesada com ele, fazia tudo que podia para ele se sentir feliz quando estava comigo e ele fazia o mesmo.

“Vamos sair hoje, eu e você. Como nos velhos tempos. Beber e conversar.” Ele sugeriu no meio da conversa.

“Eu não sei, não to com cabeça pra isso.” Respondi sem vontade.

“Nada disso, vai se arrumar. Conheci um barzinho muito bom, musica boa e choop. Essa era sua definição de diversão há um tempo atrás não era?” Sim, era. E eu estava tão desesperado pras coisas voltarem a ser como antes que eu aceitei.

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