7. A Verdade
Algumas horas depois de Ian ter saído de minha casa ele retorna. Totalmente diferente. Seu cabelo estava curto, quase totalmente raspado o que dava um ar muito másculo a ele em contraste com seu corpo musculoso. O que equilibrava era o jeans escuro com a camisa branca sem estampa que ele usava, faziam co que ele ficasse mais jovial. Fiquei ali alguns demorados segundos olhando para ele.
“O que foi, gostou? Só que você não tem chance” Disse ele brincando com um sorriso magnífico no rosto.
“Idiota.” Respondi saindo da frente. ”Nunca tinha visto você com esse corte de cabelo. Ficou bem diferente.”
“Pode falar, estou muito gato não é?”
Eu gargalhei e acabei desarmando Ian.
“Só se for um vira-lata”
“Pode rir. Você sempre teve inveja por que eu sempre pegava mais do que você, e agora você ta na seca há décadas, por que é um viciado em trabalho.”
Fiquei indignado com aquilo, mas tentei demonstrar como se fosse tudo uma brincadeira.
“Olha só Senhor. Vagabundo se não fosse pelo meu “vicio” você não teria sua ajudinha diária.”
“Agora você esta jogando na minha cara isso?”
“Vamos parar, eu ainda quero ir ao barzinho e se você continuar eu vou te dar uns tapas.” Dito isso eu fui pro meu quarto terminar de me arrumar.
“Vai lá Workhollic” Disse ele pra mim no caminho e deu uma risada.
Ignorei o comentário.
Já estava vestido com um tênis comum e um jeans tradicional e uma camisa azul claro. Terminei de passar perfume e pentear o cabelo e fui pra sala. De lá nos seguimos para o estacionamento e fomos pro bar que Ian havia sugerido.
Quando chegamos lá, eu até que fiquei impressionado. O bar era todo detalhado a madeira o que transmitia um aspecto rústico muito aconchegante. Sentamos em uma mesa dupla que um garçom havia sugerido, era uma mesa boa que não ficava nem perto de mais nem longe do palco. A banda já tocava um rock leve, eu adorava aquele tipo de rock principalmente.
Pedimos um choop e umas batatas fritas e ficamos esperando e conversando coisas do cotidiano, ele se esforçou ao máximo pra não colocar o assunto sobre-humano no meio, mas foi em vão por que se a gente não vai até aquele assunto, eles vem até a gente. Literalmente.
Quando o garçom terminou de servir a gente, Ian viu lá no fundo do bar um grupo de pessoas entrando, era aquelas mesmas pessoas de ontem. Os lobisomens, claro em menor numero, eu apenas reconheci a garota loira de cabelos desgrenhados que agora estavam devidamente penteados e lisos, e o Glaber que estava muito elegante por sinal, diferente daquele que eu tinha visto no dia anterior. Eles todos estavam diferente, não eram mais os selvagens que eu tinha julgado, pelo menos não pareciam.
Eles se sentaram em uma mesa maior do outro lado, um deles acenou para a gente, Ian devolveu o aceno eu desviei o olhar. Ele estava louco pra ir lá eu podia sentir isso.
“Vamos lá um pouco? Sei que você não gosta deles, mas eles são legais, você vai ver. Quero que você conheça Saxa.” Disse ele animado.
“Não, eu prefiro ficar aqui. Vai você, tudo bem.” Respondi completamente diferente dele.
“Ok.”
Ele levantou e saiu.
Eu ficaria indignado com aquela situação, mas deixei aquilo de lado. Eu ainda era o melhor amigo dele, eu acho. Fiquei olhando como ele já se dava bem com aquelas pessoas. Eles riam e conversavam, eu ficava sentado olhando e morrendo de inveja. Ciúmes também, Ian era meu melhor amigo, e ele estava agindo como se fosse melhor amigo deles.
Foquei na batata frita e no meu choop, tentei me distrair com eles. De repente um vulto grande toma a cadeira de Ian, tomei um susto. Era Kaius, tão magnífico quanto antes. Ele era o único que eu não levava uma impressão de selvagem com tanto afinco. Ele sempre fora devidamente comportado comigo, pelo menos quando nós estávamos sozinhos.
“Oi William.” Disse ele com aquela voz marcante e baixa. Tão sexy que às vezes eu me esquecia que ele era um monstro.
“Kaius, o que você está fazendo aqui?” Perguntei evasivo.
“Me convidaram e eu vim. E provavelmente tirando você da solidão eterna.” Ele disse terminando com um sorriso.
Dei uma risada sem graça pra ele e comi uma batata, ele pegou uma também. Quando o garçom tava passando ele pediu dois matines. E olhou pra mim com um meio sorriso matador.
“Eu não bebo Martine” Disse de uma vez.
“Por que? É muito bom.”
“É só uma bebida idiota com um nome diferente. Eu prefiro as mais comuns.”
“Tipo...Caipirinha?” Disse ele com um certo tom de sarcasmo.
Só dei uma risada sem graça pra ele e voltei os olhos para Ian, que impressionantemente parecia se divertir cada vez mais. O sentimento que antes era um ciúmes leve, agora estava se transformando em raiva. Ian puxou a loira, chamada Saxa pelo braço e levou ela até o salão, onde algumas pessoas já dançavam uma musica lenta. Eles ficaram dançando, enquanto eu inutilmente tentava me convencer que aquilo não me afetava. Enquanto eles dançavam eu percebia que ela me olhava as vezes, e sorria.
Eles se beijaram, eu desviei o olhar deles. Os dois martines chegaram eu peguei um e virei sem pensar em mais nada. O liquido desceu queimando em meu estomago.
“Uou, vai com calma ai.” Disse Kaius.
“Vou ao banheiro.” Disse e me levantei imediatamente.
Entrei no banheiro e por sorte não tinha ninguém ali, apoiei as mãos na pia e me encarei no espelho. O que eu estava pensando? Ian era hetero e ele não iria gostar de outro homem magicamente. Toda aquela esperança que eu tinha na minha mente era tudo imaginação e nunca aconteceria. Ah Ian, queria tanto tê-lo de todas as formas. Mas eu iria me contentar só com sua amizade.
Molhei o rosto e depois enxuguei-o, achando que aquilo tinha melhorado minha aparência sai do banheiro e trombei com Saxa. Ela era mais baixa do que eu, porem era mais forte – quem não era? - eu me afastei um pouco. Ela me analisou como uma predadora.
“Eu vou te avisar uma coisa camaleão. Sem chance. Ian é meu agora.” Ela disse inexpressiva, apenas com aquela voz canina.
“O que?” Perguntei incrédulo.
“Ah, pare! Eu vi o jeito que você olha pra ele. Não é comum um homem olhar pra outro homem daquele jeito. Mas fique sabendo que Ian já é meu, e nem tente convencê-lo ao contrário. Eu acabo com você.”
“Você é doida? Ian é meu melhor amigo, eu na vou me afastar dele. Só por que uma cadela vira-latas que nem você disse. Eu não tenho medo de você.” Ameacei, por sorte pareci seguro. Sempre fui um bom ator. Mesmo assim não a convenci totalmente já que ela rugiu pra mim, sim como um lobo. Eu recuei um pouco, mas sem perder a postura.
“Vamos ver quem ganha.” Ela disse e seguiu para o banheiro contrario ao que eu tinha saído.
Fiquei alguns segundo ali, chocado com que tinha acabado de acontecer. Depois daquilo, não ficaria ali nem mais um segundo. Voltei para mesa peguei minha carteira que tinha esquecido. E sai. Kaius não me seguiu como eu achava que fosse, mesmo que eu não gostasse dele, menos do que os outros ele me parecia muito grudento.
Quando cheguei ao meu carro ouvi um grito de longe. Era Ian ele se apressou e chegou em mim antes de eu abrir a porta do carro.
“Você já vai embora?” Ele perguntou um pouco chateado. ”Fica mais um pouco.”
“Ficar mais um pouco, mais um pouco sozinho você quer dizer?” Eu disse. “Ah William, vamos sair hoje nós dois como nos velhos tempos.” Eu disse tentando imitar a voz dele sem sucesso.
Ele recuou como se tivesse descobrido que havia feito besteira.
“Desculpa” Ele pediu com um tom mais ameno. “Sério, eu me distrai sem querer. Volta, eu prometo que não saio do seu lado.”
“Não, eu quero ir pra casa. To cansado, e meu estomago está embrulhando.” Maldito Martine, disse mentalmente. “Volta lá pra sua loira, parece que você esta se divertindo mais com ela.”
Abri a porta do carro, mas quando eu ia entrar fui puxado se volta.
“Ei, o que ta acontecendo? Qual o problema com a Saxa.” Ele perguntou desconfiado.
Engoli seco, o que eu falaria.
“Nenhum, eu só não gosto dela.” Disse, como se ele já não soubesse, eu não gostava de nenhum deles.
Tsc.. Ele fez um barulho com a língua.
“Qual é William, vai ficar empatando agora? Alem do mais, eu tenho que me acostumar com as poucas opções. E a Saxa é a melhor delas.” Ele disse e eu não entendi nada. Apertei a sobrancelha. “Lobos só podem ser companheiros de lobos, é considerada impura uma relação com qualquer outro tipo de seres, mesmo humanos.”
Ele disse aquilo, mas na minha cabeça ele tinha dito “Eu nunca poderei ficar com você, nunca.”
“Então vai pegar sua loba.” Disse ironicamente.
Puxei meu braço, entrei no carro e dei a partida. Cheguei em casa em poucos minutos. Quando eu estava nervoso perdia a prudência, perdia o medo, perdia tudo. Joguei as chaves, carteira no chão do meu apartamento. Tirei e joguei o tênis longe. Sentei no sofá com as pernas cruzadas e fiquei meditando com o rosto enterrado na mão. O telefone da portaria tocou, com certeza era alguém pedindo para subir. Meu coração desejava que posse Ian, para que nós pudéssemos nos reconciliar, mesmo que nossa briga tivesse sido a mais idiota.
“Oi” Disse apenas.
“Sr. Schiffer, tem um rapaz chamado Kaius, posso deixá-lo subir?” Disse a voz de seu Antonio, porteiro do prédio.
Kaius? O que Kaius queria agora?
“Sim.” Disse involuntariamente. Arrependi-me minutos depois.
Por que eu tinha que ser tão dependente? Droga. Pelo menos ele sabia de tudo, eu não ia precisar esconder nada dele. Um minuto depois – sim eu contei – Kaius apareceu em minha porta, magnífico como algum tempo atrás no bar. Ele estava de camisa social xadrez e uma bermuda jeans e tênis esportivo.