Mais uma vez agradeço a todos os comentários! Espero que gostem desse novo capitulo!
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“Vai dizer que o tempo não parou naquele momento?” – Jota Quest
Por alguns instantes o tempo parou. Seu beijo era doce e perfeito. Meu mundo rodopiou a minha volta. Meu coração derreteu. E então acabou.
Ele me olhou com um olhar de dúvida no rosto. Como se ainda estivesse processando o que havia ocorrido. Foi ai que eu percebi de fato o que eu havia feito. Me senti um tolo, um burro. Com muita sorte Edu falaria comigo alguma vez na vida novamente.
- Araujo...? – Ele perguntou com um tom de dúvida e receio que me deixou em duvida de minha própria existência.
- Desculpe... – Não sabia o que faria. Peguei meu travesseiro e fui dormir na sala.
Não consegui dormir. Fiquei pensando em nosso beijo e quais as conseqüências que isso teria em minha vida.
Um novo dia chegou e com ele novas descobertas. Edu agiu “normal” comigo. Ele ainda estava muito baqueado pela repentina morte de sua mãe, mas não agiu diferente dos outros dias.
Almoçamos e logo após o almoço, voltamos de viagem. A volta foi um pouco menos tensa. Edu chorava menos. Seu pai dava longos suspiros.
O resto da semana Edu não apareceu na escola. Não é pra menos. Mas eu também nem procurei ele, por dois motivos óbvios.
O final de semana foi bem entediante. Não fiz nada, salvo pensar em qual seria a reação de Edu na segunda. Desde o beijo nós não havíamos conversado. Isso me preocupava um pouco. Havia eu perdido o meu mais novo e melhor amigo?
A tão esperada segunda-feira chegou e com ela descobri que meu maior medo se tornou realidade. Edu me ignorou completamente na escola. Não conversava comigo, toda vez que eu chegava perto ele saia. Não sabia o que fazer.
Em casa, me tranquei no quarto. Não queria ver ninguém, falar com ninguém. Exceto com Edu, mas ele não queria falar comigo. Chorei horrores no meu quarto. Só então percebi a bosta que eu havia feito.
Os outros dias da semana não foram diferentes. O sentimento de culpa e ódio de mim mesmo estavam me consumindo por dentro. Era impossível contar os dias que eu não chorava antes de dormir.
Mas uma coisa veio e mudou tudo. O tão aclamado Festival de Idiomas da escola.
Esse Festival de Idiomas era famoso em toda a cidade. Sempre haviam excelentes apresentações. Funcionava assim: haviam três salas pra cada série (A, B e C) e cada sala sorteava um idioma: Inglês, espanhol ou Português. Era separado por série, na nossa modalidade somente o Ensino Médio participava.
No Ensino Fundamental nossa sala havia ganhado 3 dos 4 anos participavam. Então, deveríamos fazer bonito no Ensino Médio.
Sorteado os idiomas saímos com Inglês. Logo após o sorteio escolhemos a música: It’s Time, do Imagine Dragons [http://www.youtube.com/watch?v=tAv2JD-5Gt4].
Meu amigo leitor, você deve estar imaginando como isso poderia me reunir ao Edu, mas vou explicar. Esse ano, decidimos arriscar mais. Tocar ao vivo! Geralmente as salas colocavam uma gravação e simulavam a cantoria. A responsabilidade caiu encima de mim: eu deveria tocar ela no teclado solo. Mas eu não canto, quem canta é Edu. =D
Desde a anunciação do Festival até a data é um mês antes. As aulas praticamente param para ensaiar.
No começo Edu se mantinha muito distante. Só cantava e só. Mas com o passar dos dias melhorou bastante. Nossa relação até melhorou: ele me cumprimentava.
Ensaiamos, ensaiamos e ensaiamos. Uma coisa legal: nós sempre escondíamos ao máximo nossa música pra manter segredo. Raramente ensaiávamos na escola. Isso era legal.
Até que enfim, o dia da apresentação chegou! Por ordem de sorteio, seriamos os últimos a apresentar. Isso era bom, pois se apresentação anterior fosse ruim, a nossa pareceria muito melhor!
Começou a apresentação somente eu e Edu no “palco”. Edu apresentou nossa sala e disse a música, por ser uma banda pouco conhecida, algumas pessoas estranharam a música.
Logo após entraram pessoas batendo palma. Dei o tempo certo e comecei a tocar teclado. As pessoas começaram a aplaudir. Havíamos chamado a atenção dos jurados. Na hora que Edu começou a cantar, a platéia ficou maravilhada. Ele tinha uma voz de anjo cantando. Poucas pessoas haviam presenciado tal façanha.
No meio da apresentação, na hora que dá uma pausa no teclado e várias pessoas cantam [3:09 no vídeo], aconteceu o melhor. Todos sentaram de perninha de índio no chão e ficaram fazendo o ritmo com chocalhos. E Edu se sentou ao meu lado na cadeira do teclado. Então ele falou no meu ouvido:
- Agora eu te entendo... – Deu um singelo beijinho no meu rosto e voltou a cantar, ali mesmo, sentado do meu lado.
A nossa apresentação acabou. Até os jurados, que nunca haviam feito isso, aplaudiram de pé! O povo gritava. Até nossos concorrentes gritavam “Já Ganhou! Uh Já ganhou!”.
A sala inteira fez uma reverencia e saímos comemorando. Na hora que estávamos todos no ante-palco, um colega nosso perguntou:
- Edu, que beijinho foi aquele no Araujo em? – Ele perguntou em um tom todo malicioso.
- Segredinho nosso – Ele respondeu e passou a mão no meu peito de um jeito “sexy”. Toda a sala começou em um “Iiiihhhhh”, mas, graças a Deus, levaram na brincadeira.
Voltamos para a platéia para esperar o resultado. Os jurados sempre davam 30 minutos após a última apresentação para divulgar o resultado. Enquanto isso ficamos lá, recebemos cumprimentos como se já tivéssemos ganho.
Por mais que fossem idiomas diferentes, havia apenas uma classificação.
Na hora da divulgação do resultado, todos ficaram em silêncio esperando.
- Em terceiro lugar.... o 2º A! Com a música Berimbau Metalizado da Ivete Sangalo! – A diretora anunciou. A sala comemorou surpresa. Nem eles esperavam essa colocação. Foram ao palco receberam ao prêmio e voltaram.
- O Segundo Lugar vai para... o 1º C! Com a música Hotel California, do Eagles! – A diretora anunciou o vice-campeões, eles foram, pegaram as medalinhas de prata de Honra ao Mérito e voltaram para a platéia, meio tristes.
- E agora, em primeiro lugar, inegavelmente o 1º AAAAAAAAAAA! – Ela nem terminou de falar a música e nossa sala, junto com o resto da platéia, comemoravam. Invadimos o palco, recebemos o prêmio. A diretora pediu para repetirmos a apresentação, repetimos com todo o prazer.
Após sair do palco, me ocorreu uma grande surpresa.
Eu estava descendo, ao lado de Edu, quando uma voz muito conhecida me chamou.
- Parabens Araujo! Não sabia que tocava tão bem assim! – Era Biel. Eu e Edu paramos, eu sem saber o que falar. Desde a nossa briga, era a primeira vez que ele me procurava.
- Obrigado Biel. Não sabia que você estava presente. – Agradeci de maneira educada, diferente das normas de tratamento entre amigos.
- Quem é esse ao seu lado? Não vai apresentar? – Ele olhava com um olhar mortal para Edu. Fiquei preocupado.
- Perdão! Eu sou Edu, você deve ser Biel, certo? – Edu se colocou a minha frente, apertou firme a mão de Biel. Ambos trocaram olhares fuzilantes.
Biel virou de costas e saiu sem falar mais nada. Eu e Edu seguimos em silencio até uma parte do teatro onde não havia ninguém. Ele parou e me colocou contra a parede.
- Araujo, agora eu quero uma explicação do que ocorreu naquela noite... – Ele olhou nos meus olhos e disse. Ele nem precisou identificar a noite. Gaguejando eu disse:
- Desde o dia que eu te vi, pela primeira vez, me interessei em você. Com o passar do tempo, consegui me controlar. Até o dia que você me abraçou pela primeira vez. Foi justamente o dia que eu estava mais frágil, pois havia brigado com Biel. Naquela noite, eu me senti imensamente triste. Ai não me contive. E você sabe o resto... – Ele ficou me olhando. Fiz força para não chorar.
- Sabe, no começo me senti com vergonha de mim. Mas depois eu percebi, que quando você me beijou, toda a preocupação que me invadia sumiu. Tentei esquecer, mas não consegui e... – Ele me olhou, esperei uma resposta. Mas em vez disso, ganhei um beijo.
Mais uma vez, meu mundo foi a lua e voltou. Após o beijo, ele sussurrou em meu ouvido “Vai dizer que o tempo não parou naquele momento?”.
Achei que meu coração iria parar nesse momento. Mas parou no instante seguinte:
- Leonardo Araujo? – Alguém havia visto.
Biel.