Está ai a tão esperada parte 8! Espero que gostem! Desculpe qualquer erro!
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“Toda noite de insônia eu penso em te escrever. Escrever uma carta definitiva que não de alternativa pra quem lê.” - Enghaw
Respirei fundo e bati na porta. Biel me recebeu somente de cueca, uma boxer branca. Seu corpo estava perfeito. Claramente ele havia malhado muito. Mas seu rosto não. Estava inchado de choro.
- Araujo... Qual o motivo de sua nobre visita? – Seu tom de voz era sarcástico e ao mesmo tempo triste.
- Biel, precisamos conversar. – Ele deu só um suspiro e ficou me encarando – Biel, tem alguma coisa muito errada entre a gente. E nós precisamos resolver isso, e hoje!
- Araújo, se essa é sua preocupação, eu não vou contar pra ninguém! Satisfeito? – Ele falou e já virou de costas.
- Não. Essa não é minha preocupação. Nunca foi. Eu quero saber entre eu e você!
- Leonardo, como você mesmo disse, eu não sou seu amigo de verdade.
- Biel, aquilo que eu disse foi da boca pra fora. Eu ainda sou seu amigo e não quero que isso mude nunca!
- Eu também não queria. Mas tudo o que se fala da boca pra fora, tem um fundo de verdade, Araujo. – Seu tom era incrivelmente calmo.
- Então vamos resolver isso.
- Não.
- Por que Biel? Não gosta de mim, me acha chato? – Perguntei quase chorando. Ele deu um longo suspiro. Esperei uma resposta que nunca veio. Em troca de resposta, ganhei um beijo.
Seu beijo doce tinha gosto de choro. Meu coração foi a mil. Então era isso. Esse tempo todo era isso. Biel gostava de mim. Mas desde quando?
Nosso beijo acabou. Não consegui falar nem uma palavra se quer. Biel entrou no seu quarto, pegou um livro e me entregou.
- Biel, esse livro...
- Eu sei. O Código DaVinci, seu livro favorito. Aceite-o. Acho melhor você ir. – Ele disse, entrou no seu quarto e o trancou.
Voltei pra minha casa transtornado. Cheguei, e pedi para minha mãe que se Edu fosse lá, era pra dizer que eu não estava.
- Aconteceu alguma coisa Leo? – Minha mãe perguntou.
- Sim. Mas não. – Ela entendeu e eu me tranquei no meu quarto. Precisava pensar em tudo.
No meu quarto, queria ver o livro, mas ao mesmo tempo não tinha coragem. Então fui tocar teclado, era uma das únicas coisas que me desestressava e me fazia pensar direito.
Comecei a tocar algumas composições clássicas, mas logo mudei para coisas mais populares. Após muito tocar deitei em minha cama. Já era de madrugada, quase 3h da manhã quando eu resolvi ler o livro.
Logo na contracapa havia um mapa celeste. Consultei a data e de nada me recordava. Nesse mapa as constelações de Sagitário e Gemeos estavam destacados. Junto com esse mapa celeste, estava uma folha de uma dessas revistinhas de horóscopo. E nela também estavam destacadas os horóscopos de Gêmeos e Sagitário.
Gêmeos: “Fique de olho em todo sagitariano em sua volta. Por mais que possa ser estranho, eles podem se tornar tanto seu pior inimigo ou o amor da sua vida.”
Sagitário: “Observe o céu esta noite. O primeiro dia de lua cheia desse novo ciclo por trazer boas energias e tudo o que você procura pode ser encontrado”.
Na hora eu parei. Eu era do signo de Sagitário e Biel de Gêmeos. Junto com isso tudo, havia uma carta. Hesitei, mas acabei lendo a carta.
“Araújo. Você deve estar se perguntando o que são essas coisas dentro de um livro que você adora. Primeiro, você nunca havia dito que O Código DaVinci era seu livro favorito. Eu apenas sabia pelo jeito que você o pegava quase todas as vezes que vinha aqui em casa. Voltando. Esse mapa celeste é do dia em que eu te conheci. Esse horóscopo também. Eu que sempre me declarei desacreditador dessas “baboseiras”, curiosamente havia lido meu horóscopo naquele dia.
Quando eu vi você, sentado, observando o pôr-do-sol, lembrei o que falava o signo de Sagitário. No principio, nem liguei, não sabia que você era desse signo. Mas toda a minha descrença nessas coisas foi abaixo quando nós ficamos amigos e eu descobri seu aniversário e seu signo.
Aquilo invadiu minha cabeça. Não era possível! Você não tinha cara de que se tornaria meu maior inimigo. Só restava uma opção: o amor da minha vida. Desde então não consegui esquecer, a cada segundo aquilo ficava mais forte e eu não conseguia me conter. Por mais que eu negasse, era inegável. Eu queria você. A todo instante eu queria te ligar.
Você um dia me disse que eu não era seu amigo de verdade. Aquilo me destruiu por dentro. Então eu refleti e percebi o quão errado eu estava, em só te ligar pra vir aqui pra me ajudar com a matéria, de nunca te chamar pra sair. Mas... se eu te chamasse, eu não conseguiria me conter e acabaria fazendo uma besteira.
Desde a nossa briga, eu tenho criado coragem para lhe contar isso tudo. Até que por fim, eu criei. No dia do seu festival de idiomas.
Coloquei minha melhor roupa, meu melhor perfume. Mas não escrevi nada. Criei um universo utópico que eu te contaria tudo o que eu sinto e nós nos beijaríamos depois.
Então eu te encontrei com Eduardo, aquele que você disse que era seu melhor amigo, aquele que aos poucos foi tirando você da minha vida. Na hora eu quis quebrar a cara dele, mas você gostava mais dele do que de mim, e isso o faria me odiar mais.
Então, numa fração de reflexo vi você indo para um lugar vazio. Mas do meu ponto de vista, só vi você. Era a chance perfeita!
Tomei alguns segundos de coragem e fui. Na hora que eu te vi, beijando ele, perdi o rumo. Meu coração foi arrancado do meu peito, meu chão sumiu. Comecei a chorar instintivamente. Pra ninguém ver, fui direto pra casa.
E aqui estou eu, escrevendo isso. Não sei por quê. Talvez esse universo utópico venha a se tornar real. Talvez.
Talvez.”
No fim da carta eu estava aos prantos. Mas não era só isso que havia no livro. No meio dele tinha algumas fotografias e no verso delas uma descrição dos momentos mais felizes da vida de Biel. E em todas as fotos eu estava presente.
Haviam sete fotos. Uma do dia em que nós nos conhecemos. Uma de uma viagem em que eu fui com Biel. Uma de uma viagem que Biel foi comigo ao Rio De Janeiro. As outras quatro foram tiradas nos quatro aniversários do Biel que eu estive presente.
Chorei como se não houvesse amanhã. Depois de ler essa carta eu realmente entendi o lado de Biel. Eu precisava falar urgente com ele. Tentei ligar, mas nem em sua casa, nem em seu celular atendiam. Infelizmente era perigoso demais sair esse horário e mesmo escondido, minha mãe descobriria antes de eu chegar na esquina.
Não durmi essa noite, nem na próxima. Evitei qualquer contato com Edu por três dias. Até que eu liguei na casa do Biel e sua mãe atendeu.
- Dona Carmem, o Biel se encontra?
- Não, ele não te contou?
- Não. Contar o que?
- Ele se mudou para Florianópolis. Foi morar com minha irmã.
- Ah. Obrigado.
Fiquei sem reação. Florianópolis. Era longe demais. Tentei conseguir seu endereço, seu telefone mas sua mãe não me passou. Ordens do Biel.
Logo no outro dia, criei coragem para falar com Edu. Fui até sua casa, ele estava sozinho.
- Araujo! Aleluia você vaio falar comigo! O que houve com Biel?
-Não precisamos nos preocupar mais. Ele se mudou para Florianópolis. – Mesmo dizendo isso, é claro que eu devia me preocupar. Biel estava longe de mim.
- Então vem cá. – Disse ele me dando um abraço e um beijo.
Mas seu beijo não era tão bom quanto o de Biel.
