– Oi minha linda.
– Oi anjo, nossa, eu apaguei – disse ela rindo.
– Não só você – dei-lhe um beijo rápido – preciso ir.
– Que horas são? Por que não dorme aqui? Você com certeza precisa estudar de verdade.
– Não trouxe nenhuma roupa amor, eu te convidaria pra estudar lá em casa amanhã, mas você sabe como o ambiente lá é tenso...
– Mais um motivo pra ficar, usa minhas roupas.
– Outro dia eu fico, prometo – na verdade eu não queria mesmo era correr o risco de encontrar o Gabriel.
– Tudo bem amor – fez uma carinha triste e assim que eu me vesti ela me acompanhou até a porta. Puro azar o meu de resolver sair justo àquela hora, Gabriel estava parado na porta conversando com uma mulher vários centímetros menor que ele. – Oi mãe, boa tarde.
A mulher se virou com um sorriso e abraçou Luna.
– Oi minha pequena – ela veio me abraçar e beijar meu rosto – você é a Manuella, certo?
– Certo – legal, todos naquela casa já tinham ouvido falar de mim o suficiente, parecia mesmo que eu estava em algum tipo de relacionamento sério.
– Mãe, você vai sair? A Luna tá indo pra casa, você pode levá-la?
– Na verdade ela não, mas eu estou. Quer vir comigo? – Gabriel disse me olhando fixamente, aqueles olhos azuis tão idênticos aos da Luna eram terrivelmente desconcertantes.
– Ah, não precisa não, eu vou andando.
– Andando essa hora?
– Tá cedo ainda.
– Querida, faço questão que você aceite, sua casa é longe pelo que a Luna disse, não tem como você chegar lá “cedo” – a mãe deles não estava ajudando em nada – aqui as chaves do carro filho. Mas, por favor, tenha juízo, chegue cedo. E não diga a sua mãe que eu te dei, ok? – Ela disse isso dando uma piscadela e acabamos todos rindo.
Despedi-me da Luna e de sua mãe e fui para o carro com Gabriel, ele abriu a porta pra mim e eu entrei meio tensa. Ele entrou logo depois e ligou o som bem baixo, eu não podia acreditar, era minha música favorita. Tentei simplesmente não cantarolar nada e fiquei olhando pelo vidro.
– Então, aonde vamos?
– Anh?
– Sua casa, onde fica?
– Ah, vai direto nessa rua por um bom tempo, quando for pra dobrar eu aviso.
– Ok... Então, você e a Luna tão namorando?
– Não, ela é só minha amiga. Você estava indo pra onde mesmo? – Queria muito encerrar a conversa sobre namoro ali mesmo.
– Vou ao shopping com uns amigos e depois a gente vai pra uma calourada. Quer vir? – Ela parou o carro no engarrafamento perto de um balão, pronto, já sabia que não sairia dali tão cedo.
– Não, obrigada. Olha, eu posso ir andando, melhor você dar a volta, vai acabar se atrasando.
– Eles me esperam, mas você tem razão, vamos chegar mais rápido ao shopping que sair desse engarrafamento indo direto. Então insisto que venha comigo.
– Sério, não quero te incomodar, eu posso ir a pé.
– Você não me incomoda, acho que é mais o contrário, – ele me olhou sorrindo – qual seu problema comigo?
– Nenhum – que droga ele me encarar daquele jeito, eu não conseguia tirar os olhos dos dele, ou melhor, não queria. Que garoto chato, acho que ele realmente me incomoda, eu o odeio, é isso. – Mas então, você largou a escola ou o que?
– Não, eu entrei na faculdade com 16.
– Ah claro, faz faculdade de que?
– Engenharia de petróleo e gás.
– Deve ser bem chato então.
– Na verdade é legal, tem muito cálculo, muita química... Eu gosto disso.
– Você não parece muito inteligente na verdade.
Pareceu que eu tinha feito cócegas no garoto, ele começou a rir muito.
– Eu não sou, mas eu estudo bastante.
– Aqui, vira aqui à direita.
Ficamos em silêncio até chegar a minha casa. Ele estacionou o carro na frente e desceu pra abrir a porta pra mim, mas ao invés de sair ficou simplesmente parado na minha frente me encarando daquele jeito desconcertante.
– Obrigada Gabriel.
– Por nada, mas agora eu quero um favor seu.
– O que? – Que garoto abusado...
– Me fala, o que você tem contra mim?
– Nada, já disse – levantei do banco fazendo com que ele se afastasse um pouco.
– Ótimo, então não vai ligar pra isso – ele passou o braço em volta da minha cintura e me beijou. Tentei afastá-lo, bati a no braço dele, cravei as unhas, mas ele não parava e no fim acabei cedendo ao seu beijo. Era uma sensação completamente diferente, ele beijava incrivelmente bem.
Quando ele se afastou eu fiquei alguns segundos sem reação, minhas pernas ainda estavam meio bambas, eu realmente não esperava que ele fosse fazer algo desse tipo, aí lembrei que eu devia falar algo, qualquer coisa.
– Você é doido é? Nunca mais faz isso garoto!
– Qual o problema? Você disse que não está namorando ninguém e que não tem nada contra mim. Eu queria muito fazer isso e apesar do meu braço estar meio ferrado agora, sei que você também queria.
– Eu não queria nada, vai embora.
Fui andando em direção a minha casa quando o ouvi gritando:
– Boa noite, sonha comigo!