Será que eu seria mal-educado se respondesse que não era da conta dele?
_ Nada não, Kurt. _ Respondo enxugando as lágrimas.
_ Ninguém chora por nada.
Eu fico em silêncio. Depois de anos de desentendimentos ele vem querer ficar intimo assim de mim?
_ É pelo tal de Marcos?
Estava tão na cara assim?
_ O que foi? Vai querer ser meu amiguinho agora, é? _ Eu pergunto, já estava ficando irritado.
Ele bufa e responde:
_ É, estou te perdoando por matar o Fred! Seu mal agradecido e assassino de peixes-dourados.
_ Assassino de que? E quem foi que eu matei, infeliz?
_ Meu peixinho dourado quando eu tinha dez anos!
Esse garoto estava louco ou bêbado? Eu não sei de nenhum peixe... Ah tá, me lembrei.
_ Que eu saiba, foi a Juliana que deixou o copo de Coca-Cola dela no aquário, babaca!
Ele me olhou estranho e disse:
_ A Juliana me disse que você tinha jogado Coca-Cola no aquário. Então por isso eu comecei a te infernizar... Não foi você?
_ Lógico que não!
_ Hum... Desculpa pelo vaso que eu quebrei e falei que foi você? _ Ele diz fazendo uma carinha de cachorro sem dono.
_ Tudo bem, mas a Juliana hein... Que cachorrada!
Juliana era a vizinha de Kurt, mas já se mudou da cidade faz tempo.
_ Estamos brigando esse tempo todo por nada? _ Ia responder, mas percebi que ele fez aquela pergunta a si mesmo.
Eu começo a rir e estendo a mão para ele em um acordo:
_ Amigos outra vez?
_ Amigos! _ Ele diz apertando minha mão.
Sim, éramos amigos a muito tempo atrás (bem amigos, amigos nós não éramos não), mas acabamos esquecendo disso.
_ Então por que você estava chorando?
_ Estava pensando no meu pai... _ Gente eu não menti, viu? Eu estava mesmo.
¬_ É deve ter sido duro pra você, né?
_ Ainda é, mas estou superando.
Ficamos em silêncio um pouco quando vejo Marcos vindo em nossa direção.
_ David, vamos embora! _ Ele diz puxando meu braço.
_ Não vou! _ Eu tento me soltar, mas ele era mais forte.
_ Solta ele! _ Meu primo diz vindo me ajudar.
Marcos me joga no chão e diz:
_ Cai dentro moleque.
Kurt acerta um murro na cara de Marcos, esse revida com um ponta pé na barriga de Kurt. Eles iam brigar feio e já tinha um monte de curioso em volta. Alguém ia se ferir ali e eu tinha que fazer alguma coisa:
_ Chega gente! _ Eu digo me pondo no meio, seguro Marcos pelo braço. _ Marcos vamos embora.
Eles param e vejo que o nariz de Kurt está sangrando.
_ Me desculpa Kurt. _ Eu digo puxando Marcos.
_ Você não precisa ir, David. _ Kurt fala indo atrás de mim.
Marcos já ia virando e os dois iam começar a brigar de novo.
_ Não Kurt, eu tô bem!
Marcos pega em meu braço e começa a me arrastar para o carro. Chegando lá ele a porta do passageiro e praticamente me joga sem a menor delicadeza.
_ Precisava mesmo daquilo? _ Eu pergunto quando ele dá a partida.
Ele fica em silêncio e segue por um caminho diferente da nossa casa.
_ Onde você tá indo?
_ Você vai saber!
Ele entra em uma estradinha de terra deserta. Antes de eu começar a falar qualquer coisa ele começa a me falar do jeito que ele fala quando está bravo (baixo, porém firme):
_ Será que vou precisar te surrar com cinto? Eu não quero você perto daquele garoto!
Eu fico indignado com isso.
_ Você não vai me bater porque você não é meu pai e outra não dá sua conta com quem eu falo ou deixo de falar!
Ele dá uma risadinha e depois sai do carro. Ele abre a porta do carro e me puxa:
_ Eu posso te bater sim, não sou seu pai, mas sou seu macho.
Ele começa a desfivelar o cinto e depois de tirar ele diz:
_ Então vai sair ou não de perto daquele filho da puta?
Continua...