Que ódio desse garoto! A vontade que eu tinha era de voltar lá e soca a cara dele. Quando entrei em casa meu pai estava na sala com os pés na mesinha de centro, coisa que minha mãe odiava, então ele com toda certeza estava procurando uma briga com ela.
– Não vai convidar seu namorado pra entrar?
– Você anda me espionando agora?
– Não, eu estava lá fora quando você chegou e resolvi entrar. Supus que você não ia querer que eu fosse lá me apresentar né?
Dei de ombros e fui andando pro meu quarto.
– Espera aí Manuella, não terminei de falar! Quando ele te trouxer de novo vou falar com ele. Tua mãe disse que você tinha ido pra casa de uma amiga estudar. Que porra você tava fazendo com um garoto?
– Ele é o irmão da menina com quem eu estava, se ofereceu pra me trazer, a mãe dele insistiu e eu aceitei, mas eu teria vindo a pé.
– E você “paga” com beijos todo garoto que te traz em casa? Até imagino o que acontece quando eles te fazem algo melhor.
– Chega pai!
Fui pro quarto e tranquei a porta com ele falando besteira atrás de mim. Meu melhor relacionamento naquela casa era com minha mãe, mas até ela estava meio distante. Deitei na minha cama e fiquei pensando na minha tarde maravilhosa com a Luna, até que minha mente voltou a ser assaltada com imagens do Gabriel e do beijo dele. Soquei a cama, como eu odiava aquele garoto!
Senti meu celular vibrando no bolso, realmente não estava a fim de falar com ninguém, então nem atendi, só o joguei em cima da cama sem olhar quem era. Levantei e fui tomar um banho demorado. Depois dormi mais um pouco e pro meu azar meu sonho foi justamente com ELE. As melhores lembranças que eu tinha com a Luna foram substituídas por imagens do Gabriel, exatamente no mesmo lugar. Quando chegou à parte em que eu ia pra cama com ele consegui acordar arfante.
Era tanta coisa se passando na minha cabeça que eu tinha certeza que seria uma noite perdida se eu tentasse dormir, fiquei tentando me focar nos livros, mas era inútil, os números acabavam me lembrando do Gabriel. Tentei ver alguma série na TV, elas eram muito entediantes, não conseguia me concentrar no enredo por nada e acabava voltando aos meus pensamentos.
Por fim fui pra varanda, a Lua estava a pino, ela sim me lembrava uma boa pessoa, minha linda. Ela me contou uma vez que recebeu esse nome porque sua mãe disse que os olhos dela eram lindos como a Lua, ela estava realmente coberta de razão. Eu estava gostando muito da Luna, mesmo que não quisesse admitir. Aquela tarde só serviu pra me fazer ter mais certeza disso. Fiquei ali um bom tempo e consegui esvaziar minha mente de tudo o que eu considerava ruim, naquele momento era só eu e ela, em todos os pensamentos.
Depois disso eu voltei pro quarto bem mais leve e consegui dormir por horas. Acordei meio tarde, mas com uma sensação muito boa, corri pro Skype pra ver se ela estava online. Enfim dei sorte, ela estava lá e veio falar comigo antes mesmo que eu pudesse abrir seu contato.
“Ei anjo, você viu a Lua ontem? Eu acordei no meio da noite e não consegui mais dormir, fiquei um tempão olhando a Lua cheia”.
“Vi sim amor, também não consegui dormir ontem. Ah... eu tenho umas coisas pra te falar” .
“O que meu anjo?”
“Preferia que a gente conversasse pessoalmente. Você vai sair hoje?”
“Acho que não, quer vir pra cá?”
“Não, não” – Pleno domingo depois de uma festa, o Gabriel estaria lá, sem dúvida – “A gente pode sair junto”.
“Sim, claro. Onde?”
“Tem um parque que parece bem legal aqui perto de casa, tô louca pra ir lá, mas não quero ir só. Topa?”
“Ué, claro que topo”.
Ficamos mais um bom tempo conversando besteiras até que a janela de contato do meu irmão subiu no canto da tela. Fiquei toda animada pra falar com ele, eu disse “Oi” ele passou alguns minutos sem dizer nada e saiu. Estranho, ele costuma passar boa parte do domingo no computador, mais estranho ainda ele não falar comigo. Resolvi ignorar, deve ter entrado automaticamente e ele devia estar louco com o TCC dele.
Saí do Skype e passei o resto da tarde estudando, estava louca pra encontrar a Luna. O tempo se arrastava devagar e a ansiedade só aumentava. Quando enfim marcavam 17h eu me arrumei e corri pra minha mãe avisando que ia sair.
– Você não vai.
– Que!? Mas mãe, eu já marquei com ela e...
– Não quero saber Manuella, você disse que foi estudar com essa menina ontem e quando voltou teu pai te viu aos beijos com um garoto e veio falar um monte pra MIM, você não vai e pronto.
– Eu não tenho culpa mãe, ele que...
– Eu já disse que eu não quero saber! Não vou ficar ouvindo as asneiras do seu pai por sua causa não. Se seu namoradinho quiser que venha aqui em casa.
Voltei pro quarto com tanta raiva do Gabriel que era quase palpável. Liguei pra Luna avisando que não poderia ir, logo em seguida Caio ligou avisando que não podia falar muito, mas estaria em casa na semana seguinte e então desligou me deixando sem saber o que estava acontecendo. Fora isso, passei o resto da noite morrendo de tédio. Ao menos amanhã eu poderia ver a minha pequena, então estaria tudo bem.