Naquela época, anos noventa, tudo era pura diversão. Eu me sentia imune às coisas do coração, e assim ia levando a vida, sempre descompromissado e se sentindo meio que um superboy, à prova de sentimentos e imune a balas. Sabe como é que é, né? Muito jovem, garotas a seus pés, sexo fácil. Nada podia ser melhor. Eu era um cara guloso e doido pra comer todas, meio que querendo afagar o globo com as mãos. Metia e metia e me masturbava como um louco. Muitas vezes, mal terminava de gozar dentro de uma periquita e já estava me masturbando para em seguida voltar a meter de novo. Uau! Que doidera da porra, velho. Na verdade ainda é assim, em menor ritmo, mas com o mesmo instinto animal selvagem e intensidade.
Mas a história que vou contar é daquela época, uns 16 anos atrás, embalada pelo som de minha guitarra rebelde e desafinada e muito Guns'N Roses, Iron Maiden e Nirvana.
Bom, continuei a tentar comer todas, era pura diversão e rock'n roll. Drogas, nunca curti, mas tinha amigo meu que sangrava as narinas de tanto cheirar. E como mulher curte doidera e cara pirado, o bicho pegava. Era uma trepança fuderosa, só "felicidade".
Beleza, até que em 1995, chegou uma prima que eu nem sabia que existia. Seu nome? Elizabette! Coincidentemente, o nome que mais marcara minha vida, pois quando criança eu era louco pela loiraça Elizabeth da série americana "O Homem do Fundo do Mar", também sempre adorei os trabalhos de Elizabeth Taylor. Quando eu tinha 14 anos, um de meus irmãos tinha uma namorada chamada Elizabeth, a qual pagava um pau pra mim e fez de tudo pra ficar comigo, mas não conseguiu. Por fim me roubou um beijo e gerou um problema.
Bom, gostei de minha prima. Era como eu, cheia de vida e entusiasmo. Logo nasceu entre nós uma amizade muito grande, além de cumplicidade e uma puta sintonia. Apresentei-lhe um amigo meu, pois queria que ela se enturmasse, e eles começaram a namorar. Legal, relaxei, pois o João era um cara gente boa. Mas ele só vinha pra capital de semana em semana ou quinzenalmente, já que trabalhava na Baixada Santista.
Entrementes, Elizabette não se conformava de me ver com uma gostosinha com quem eu ficava, de nome Kassandra*. Dizia que ela era feia pra mim. (Como se eu fosse um modelo de beleza, magrelo pra caralho e ainda por cima dentuço... Bom, tem gosto pra tudo, né?)
Ela queria que eu encontrasse uma garota melhor, mais bonita e gostosa. Até me apresentou uma outra priminha que eu também não conhecia (família grande da porra, velho!), Fernanda. Linda e muito deliciosa, mas rolou só um amassinho, pois ela ficou doida mesmo foi pelo meu irmão Pablo, um dos maiores fudedores da face da terra.
Certa noite, estávamos na sala da casa de sua irmã, com quem ela estava morando. Ela me pediu que a orientasse, pois não conseguia tocar um CD. Sentei na ponta do sofá e comecei a explicar o procedimento. De repente, senti sua boca roçando minha orelha e depois o pescoço. Meu corpo estremeceu e no momento seguinte eu me afastei, ligeiramente chateado. Me sentia meio que traído por ela, pois até então via em nossa relação apenas o que deveria ser: uma relação de primos, de irmãos. Resolvi ir embora. Ela me levou lá fora. Eu não me conformava que ela tivesse se insinuado pra mim, mas a verdade é que aquilo havia despertado o meu lado animal, algo que eu desconhecia em mim. Ficamos por um momento calados a nos olhar profundamente. Numa profusão descontrolada de desejo, começamos a nos beijar. E de novo me veio o remorso. Fui embora, morrendo de vergonha. Ela me ligou perguntando se ainda podia ir me ver no dia seguinte. Fiquei em dúvida, mas aquilo era mais forte, e no fundo eu sabia que não ia acabar ali. No dia seguinte ela foi me visitar. Havia algo estranho no ar, um peso, uma tensão, algo proibido que precisava se libertar. De repente nos abraçamos e caímos na cama. Agora ela relutava, enquanto eu buscava sua vagina úmida pela vontade de me ter dentro de si. Aos poucos ela foi relaxando e permitindo minha entrada. E transamos deliciosamente. E depois repetimos e repetimos de novo. E a partir daquele dia, o remorso foi desaparecendo, e tudo que nós fazíamos era transar. Em qualquer lugar, sem medo. Quando pensava que não, lá estava ela com meu pênis em sua boca e no momento seguinte eu a estocando loucamente, como um animal. Éramos lobos no cio. Metíamos direto, insaciavelmente.
Um dia, ela começou a ficar indisposta e enjoada. Não fazíamos idéia do que estivesse acontecendo. Minha mãe a levou ao médico. E veio a bomba: Elizabette estava grávida. A familia inteira caiu encima da gente. Não tínhamos a menor condição de morar juntos. Alguém propôs o aborto. Eu fui contra, mas ela aceitou a sugestão. Falaram que havia um remédio chamado CITOTEC que era batata.Desviei dinheiro do bar de meu pai a fim de comprar o remédio abortivo ilegal de um "traficante" de remédios controlados. 400 reais por 4 comprimidos. Parcelamos o pagamento. (Dei um calote e até hoje ele não viu o restante do dinheiro)
Naquela noite, depois de muito tentar dissuadi-la daquela decisão imposta por sua irmã mais velha como a solução final para o nosso "problema", me vi impotente, pois eu estava prestes a cometer um assassinato. Ia matar a pessoa que eu mais amava na face da terra, sendo que esta pessoa estava dentro de Elizabette, completamente indefesa. E o Citotec ia matá-la. Ficamos sentados no carpete, apreensivos. Segundo orientações recebidas, eu transformara os comprimidos em pó e injetara tudo numa caneta vazia. Bastava soprar devagar o pó no interior da vagina, para o efeito se expandir e penetrar o útero.
O louco é que não obstante o erro criminoso que seria cometido, subiu-nos um fogo incontrolável. Comecei a apalpá-la e chupar seus seios e em seguida a vagina, depois penetrei-a com fúria qual fera esfomeada. Enquanto eu penetrava ela, podia ver pelo corredor a minha outra prima na cozinha, preparando a comidinha de seu bebê. A tensão só nos enlouquecia mais. Por fim, sem saída, ajeitei seu corpo no próprio carpete, pondo uma almofada sob suas nádegas e injetei o pó em sua vagina. Estava feito. Não tinha mais volta. Fui embora, aflito e muito preocupado. Com as duas pessoas que eu mais amava no mundo. Covarde, maldito covarde, imprestável, inútil, pensava eu. Não podia ter cedido. Naquela noite não foi fácil dormir. Já era mais ou menos meia-noite quando ouvi meu irmão caçula, então com 11 anos gritar. "Say! Say!", gritava ele. Corri até ele. "O que foi, Frank?", perguntei preocupado. Ele, com o medo estampado nos olhos inocentes, falou: "Say, tinha um bebezinho na sua cama!". " Como é que é?", perguntei intrigado. Ele me explicou em detalhes o que vira, um bebezinho pequenino, branquinho, deitado na cama a olhar pro teto com as mãozinhas estendidas pro alto. Fiquei muito mais desesperado, pois somente eu, Elizabette e sua irmã sabíamos o que estava acontecendo. Deitei e fiquei pensando. De repente meus olhos se fecharam e eu vi. Havia uma neblina densa e negra num contínuo revolver qual fúria tempestuosa. Uma linda menininha loira de longos cabelos ondulados (igualzinha a Elizabette) estendia sua mãozinha para mim. "Pai! Me ajude, pai!", gritava ela. Eu conseguia ver o terror estampado em seus olhinhos. Eu tentava alcançá-la, mas não conseguia me mover. Algo paralisava meu corpo. Elizabette segurava sua mão, mas eu só a via dos seios para baixo, pois a névoa a encobria. Então ela começou a puxar a garotinha para a escuridão, e não havia nada que eu pudesse fazer, exceto observar atônito minha filha ser engolida pelas trevas. Num sobressalto, acordei. Naquele momento eu tive a certeza: o bebê (com quase 4 meses de gestação era uma menininha. My dream. E estava morrendo.
No dia seguinte Elizabette apareceu com um sorriso de satisfação no rosto. Perguntei como acontecera, precisava saber. Ela me disse que de madrugada sentira dores e uma forte tensão na barriga, que correra pro banheiro e que então expelira algo no vaso sanitário. Olhou e viu o feto em formação, as mãozinhas cruzadas.
Nossa relação virou um inferno de Dante e acabou.
Não existe paixão ou amor que sobreviva a isto. Sofro até hoje e choro de vez em quando. Ainda na semana passada, chorei ao desabafar com uma amiga. Os traumas de um aborto são eternos. Você aprende a conviver com a dor, mas o trauma, este permanece lá dentro de nós, sempre pronto para voltar a nos assombrar de vez em quando. Não sei se ela herdou sequelas mentais, mas eu sim. Entrementes, parece que ela ficou estéril. Hoje, ambos estamos casados e não nos vemos há mais de 8 anos. Mas aguardo o dia em que teremos que nos encarar e conversar sobre isso. Acredito que somente assim conseguiremos apagar os fantasmas do passado que tanto me atormentam. E certamente a ela também, tanto quanto ou mais do que a mim.
Obrigado, gente, por ler minha história. Sei que alguns serão compreensivos, mas sei também que haverá aqueles que irão me detonar. Mas, tudo bem. Todas as opiniões receberão o devido respeito.