A confusão do aeroporto era notável, pessoas correndo de um lado para o outro com malas, celulares e copos de café, todas ocupadas demais para pensar, ocupadas demais para prestar atenção.
. – Acorda. – recebi um cutucão de Hunter na costela – O portão de embarque é por ali – apontou um lado do saguão lotado.
Me impressionei com o garoto, tenho que admitir, não era necessariamente bonito... Na verdade, sua aparência era bastante comum: Os cabelos escuros, curtos e cacheados, a pele bronzeada, mas com o tom pálido de quem não anda vendo o sol por algum tempo, até mesmo a roupa que ele vestia era tão casual que não me recordo direito. A única coisa que realmente poderia ser considerada “diferente” era um pequeno detalhe que se você não soubesse o que estava procurando, provavelmente nem repararia: Seus olhos. Eram do tom errado de castanho, nem claro nem escuro, mas um tom avermelhado como madeira de cerejeira, um tom completamente diferente do que eu já vira algum dia na vida.
Andamos até o portão de embarque e paramos poucos metros antes da entrada, onde olhei por um tempo até sentir outro puxão, desta vez no meu cabelo.
. – Um pouco grande, não? – perguntou em sua voz instável.
. – Todas suas frases são exemplos de sujeito oculto? – respondi tirando sua mão e amarrando o comprimento que já batia no meio de minhas escápulas em um rabo-de-cavalo – Onde está seu irmão? O vôo sai em quarenta minutos.
. – Ele disse que teve que resolver algumas coisas com não me lembro quem... – olhou para cima – A qualquer momento ele deve estar aqui.
Suspirei e me joguei em uma cadeira próxima, olhando para o garoto e remoendo lembranças do que minha mãe me dissera dois dias atrás.
. – Como você entrou sem passar pela alfândega? – perguntei.
Hunter me olhou por alguns segundos.
. – Ninguém me impediu.
. – Como assim?
. – Ninguém me impediu. – percebendo minha expressão de dúvida, apontou para o peito – Certo, eu te mostro. – chegou mais perto – Feche seus olhos por cinco segundos depois que eu der o sinal. Vou me esconder no meio da multidão e quero que você me encontre.
Dei de ombros e fechei os olhos, entrando na brincadeira. Cinco segundos depois, abri e olhei.
. – Puta que pariu. – falei baixinho. Hunter sumira.
Olhei de um lado para o outro, vasculhando a multidão e prestando atenção no vai e vem de cada um. Demorou um minuto até que eu o encontrasse, parado na minha frente, a dois passos do lugar onde me dissera para fechar os olhos.
. – Como diabos foi que... – comecei – Mas como é que você fez isso?
Ele deu de ombros.
. – Fazendo, é só ter um pouco de prática.
. – Prática em quê? – gesticulei exageradamente – Ficar invisível?
Hunter abaixou a cabeça e riu baixinho.
. – Eu não fiquei invisível – se sentou a meu lado – Você ignorou minha presença na imagem, só isso. – ao ver que iria perguntar mais alguma coisa, me interrompeu – Olhe, funciona de um jeito bem simples: Eu sou uma pessoa comum, não chamo atenção, tudo em mim é conciliado para que se intensifique essa imagem de comum, uma imagem que alguém provavelmente já viu em algum lugar e não deu muito importância. Por isso, quando começo a andar em algum lugar, geralmente ignoram minha presença por conta dessa sensação de já ter visto em algum outro canto – gesticulou um pouco em direção à multidão – É como se me confundisse com o ambiente. Se você não souber o que está procurando, não encontra.
. – Mas e quanto...
. – Você não me encontrou porque se lembrou de que eu disse que estaria em algum lugar na multidão. Não exatamente na sua frente, você ignorou minha imagem porque não esperava vê-la ali.
Ia continuar questionando, porém outra coisa me chamou a atenção ao fundo da cena e subitamente nada mais importava ali.
Leo vinha andando em direção ao portão de embarque onde estávamos com a calma de um lago no inverno, causando alguns olhares de admiração daqueles que paravam para olhá-lo, homens ou mulheres. Trajava uma calça jeans preta, lisa e sem detalhes, uma camisa branca também sem detalhes, que quase sumia em sua pele (incrivelmente as duas eram quase da mesma cor), uma jaqueta tática escura que ressaltava a negritude de seus olhos, que mais lembravam dois buracos na córnea que levavam em direção ao mais profundo abismo do universo... E o cabelo arrumado em um estilo de escritor (um rabo de galo atrás, que não ajuda muito, por que o resto fica caído). Perdi a respiração, simplesmente esqueci-me de como deveria fazer para continuar forçando o ar para os pulmões vendo-o se aproximar com o mesmo olhar de alguém que sabe que está andando para o nono círculo do inferno, mas já que está ali, começa a jogar truco com o capeta.
. – Oi. – disse em sua voz grave e rouca, me arrepiando a alma.
. – O que foi isso na sua mão, maninho? – Hunter perguntou de supetão – Oi.
Olhei para o lugar indicado e vi ao que ele se referia, já que a mão de Gelo se encontrava enfaixada com uma bandagem branca.
. – Oi. – disse
. – Oi. – levantou a mão – Me cortei arrumando a mala – olhou para o irmão – Suas adagas são difíceis de guardar.
Hunter ajeitou a jaqueta e respondeu com um tom diferente.
. – Claro, me desculpe.
E se virou.
Olhei para Leo e dei de ombros, enquanto o indicava o lugar do check-in. O pré adolescente sumira em algum canto. Deixei de lado e prestei atenção no irmão mais velho, e ao que se parece, a atendente da companhia aérea também.
. – Então? – disse após algum tempo.
. – Ah, claro, senhor... – a moça pareceu acordar de algum tipo de transe – Castor?
Ele sorriu.
. – Sim, minha mãe adorava astronomia. – e gesticulou um pouco – Achava que todos deveriam ter nomes de estrelas – apontou discretamente para a atendente – Se fosse assim, creio que o seu seria Antares.
Ela não prestava mais atenção nos dados, mas para os dois abismos no rosto de Leo.
. – Por quê?
. – Porque Antares é a estrela mais bela que já vi em toda minha vida.
Pronto. A moça ficou sem ar, vermelha e abaixou os olhos, terminando o check-in rapidamente e passando o passaporte, a passagem e um papel com um número de telefone.
Só vi Hunter outra vez quando entramos no avião. Ele estava sentado na nossa fileira olhando para o nada, com cara de pouca conversa, Leo se sentou a seu lado, enquanto eu fiquei no banco do corredor, esperando por aquela que provavelmente seria a viajem mais turbulenta da minha vida. Suspirei e dei um beijo na bochecha do garoto a meu lado, que já começava a dormir, ele sorriu e encostou a cabeça em meu ombro, fechando os olhos. Agora sim eu estava preparado para o que viesse.
Olhei ao redor e tentei me lembrar de qual fora a última vez em que me senti tão desconfortável. Não Lembrei.
Meu irmão havia dito que nos encontraria no portão de embarque, mas alguma coisa me dizia que isso não era bom sinal, aquela certeza que se uma merda fosse acontecer, seria naqueles minutos. Como se não bastasse, ainda tive que ficar de vigia do amigo dele.
E aquela multidão me deixava muito desconfortável.
Não me entendam mal, mas multidões nunca foram meu forte. Cresci em uma casa isolada no meio da mata só com a companhia da minha mãe e irmãos, logo em seguida fui para o templo, onde viviam muitas pessoas, mas era tão silencioso que você acabava nem percebendo isso. Aquela balbúrdia do aeroporto era insuportável e de certa forma assustadora. Respirei fundo e acrescentei uma nota mental: Surte depois.
Voltei a me concentrar em Lucas, que estava parado encarando o vazio.
. – Acorda – disse cutucando-o – O portão de embarque é por ali.
Ele me seguiu em silêncio e eu agradeci os deuses por isso. Melhor do que se ficasse fazendo zilhares de perguntas aleatórias, porque senão aí sim eu estaria na mais profunda merda. Com o amor por explicações que tenho, era muito provável que com algumas perguntas ele me arrancasse o real motivo de querer, melhor, necessitar levar meu irmão de volta para Irkutsk, e se o “garoto de ouro” abrisse a boca, Leo perceberia e arruinaria todo meu trabalho.
“Garoto de ouro”... Lucas realmente merecia o apelido, com seus cabelos loiros e pele branca ( na verdade, um tom mais creme) e olhos de ouro... Na verdade, olhos de sol, porque aquela cor estranha parecia emitir um brilho próprio em certas ocasiões, uma cor bela e provavelmente única. Também observei outras coisas no garoto, como a vermelhidão e o fato de ele sempre dar meios sorrisos com o lado esquerdo do rosto, mas quando meu irmão estava por perto isso era muito aparente: As bochechas de Lucas tomavam uma cor semelhante a de um camarão com insolação, o brilho nos olhos aparecia e ele sorria com o lado direito do rosto, e olha! Ele tinha uma covinha. Leo devia ficar louco com isso, lembro muito bem do que ele dizia sobre as minhas “Essas são as coisas mais lindas que um garoto pode ter, maninho” e bagunçava meu cabelo. Creio que ele gostaria de vê-las de novo, isso se eu ainda sorrisse.
No portão de embarque, dei um jeito de atordoar Lucas com minha bem-treinada habilidade de passar batido no campo de visão de qualquer pessoa, por mais atenta que ela fosse ( de vez em quando isso é muito útil^^). Funcionou, até o sumido aparecer, e para variar, apareceu causando caos, retirando suspiros e agradecimentos a deuses desconhecidos enquanto passava.
. – Oi – disse quando se aproximou.
Notei a mão enfaixada.
. – O que foi isso na sua mão, maninho? – perguntei – Oi.
Lucas pareceu também perceber.
. – Oi – disse.
. – Oi – Leo levantou a mão – Me cortei arrumando as malas – Olhou para mim, dizendo claramente “te explico depois, me cobre agora” – Suas adagas são difíceis de guardar.
Discretamente, passei a mão na cintura, sentido o cabo das adagas, todas as três.
. – Claro, me desculpe.
Olhei para Lucas e percebi os sinais já citados, e mais alguma coisa que parecia... Culpa? O garoto estava sentindo alguma coisa por meu irmão, e pelo que eu conhecia de Leo, o sentimento era recíproco. Então por que culpa? Vi para onde os olhos do garoto de ouro foram quando o brilho de culpa apareceu: o colar.
O laço com os deuses.
O garoto sabia. E estava com alguma coisa na cabeça.
Bene, persona, scuze me se a série está ficando enjoativa, mas é o tempo... Escrever doente é meio foda, mas vou tentar continuar. Agradeço a todos que tem sido pacientes comigo nesse me tempo ^^
Diiegoh’ – Gratzie Signori ^^
Hogu – Hahahaha, também acho *-*. Bem, não precisa, daqui a pouco eu explico e bene... Não conheço a mãe de todas as coisas...
Realginário – Ah, certo então... Guardarei as alianças ^^ Bene, narro por Lu porque a história já havia começado quando eu apareci... Se já está confuso começando do começo, imagina se eu começasse do meio? E obrigado pelas condolências...
Ru/Ruanito – Bene... Na verdade, sim e não. Não nasci na Rússia, mas fui criado lá.
Leo253 – Hahaha, espere até o capítulo “ Demônio Branco” então... ^^
Bruno de lucca – Gratzie!
Stahn – hahahaha, também estava com saudade^^
Hpd – Obrigado !
Vivi_souza – E que bom que não tenho te decepcionado ^^
Looooh – Vou tentar, Signori^^
Oliveira Dan – Que bom que meu conto te fez se interessar pelos meus deuses, Signori^^ E bene, estou me esforçando...
Lucas M. – Safadeeeeeenho, você hein...?
(AI) – Gratzie, Signori... E bem, faz tanto tempo que não falo russo que acho que já esqueci... Mas não desiste. É bom aprender^^
Bene, Signori, Alguém aí conhece Bioshock? Atualmente é o que tenho jogado... É muito bom... Me embrenhei em uma maratona de gelo, xingamentos e jogo de 24horas, acho que é por isso que estou doente. Pessoas que ainda não entraram na faculdade, maiores de idade ou não (mesmo porque sei que a maior parte das pessoas tem 18 desde os 12 anos... Eu por exemplo sou um desses... Só que meu caso foi com 14, antes disso nem computador eu tinha mexido, é isso que dá viver em um templo. E quem diria, dois anos depois, publicando um conto! T-T), saibam que a diferença da faculdade para escola é que quando você se embrenha em uma maratona de jogos no colégio, no dia seguinte você só tem algumas tarefas... Na faculdade você tem três monografias e um seminário... Mas é muito bom!
Gratzie ^^