- Oi. - três dias tinham se passado depois do acidente e essas foram as primeiras palavras que ele pronunciava pra mim, seu rosto estava inchado, ele tinha sofrido uma hemorragia interna e fraturado uma perna, mas estava fora de perigo e todo esse tempo eu tinha passado lá ao lado dele, por uma atitude egoísta minha quase o perdia, quando eu o vi desacordado naquele carro algo em mim pareceu morrer, todo ódio, todo o rancor que eu sentia por ele tinha ido embora em apenas breves momentos e eu não sabia o que falar, não sabia como retribuir a aquele sorriso lindo. Eu o amava, não sabia ao certo o porquê dele ter ido atrás de mim, mas não queria estregar o momento. Não queria perder a oportunidade de falar com ele.
-Oi.- retribui o sorriso e passei um copo d'água para ele.
- Eu te amo. - não esperava que ele pronunciasse essas palavras assim com naturalidade. Eu simplesmente fiquei sem reação, eu queria falar que não importava o passado, que queria viver o presente com ele, ao seu lado, para todo sempre, mas essas palavras não saíram, eu não conseguia falar, o meu orgulho virou vergonha e eu iria me arrepender estupidamente.
- Como você está?
- Você não ouviu?- ele fez beicinho e isso me deixou mais constrangido.
- Ouvi, só acho que não é hora para declarações não acha?
- Chato, eu só queria falar isso antes de morrer.
- Não fale isso, nem brincando.
- Ok, pelo visto você ainda não leu a carta que Carol mandou para você. - ele bebeu a água e olhou para mim esperando uma resposta.
- Não, um problema já é demais, fiquei aqui esperando você sair de perigo não tive tempo para pensar muito. - disse isso tentando por fim na conversa.
- Sim, sua filha está no hospital quer te ver.- peguei seu copo e já ia saindo quando ele segura meu braço.
- Eu sei que você me ama e está lutando ai dentro para não admitir isso, leia a carta e só volte para mim quando você estiver pronto, eu vou te esperar o tempo que for, eu sempre te esperei, eu sempre te amei e vou te amar até eu ficar bem velhinho e não poder mais amarrar meu sapatos eu vou te amar por que assim você faz permitir, por que assim Deus quer. - ele me soltou e eu fiquei ali parado olhando para ele.
- Agora vá. - eu olhei para frente e vi que Sofia estava entrando.
- Papai!- só consegui ouvir isso. Enquanto estava saindo entreguei o copo a enfermeira e fui em direção ao carro que estava no estacionamento, eu não o tinha levado para minha cidade, odeio dirigir, mas em momentos de precisão, eu sempre podia contar com a ajuda dele. Eu senti que uma lágrima caia dos meus olhos quando olhei para o espelho do carro, me recompus e fui direto para meu apartamento.
Cheguei e fui direto para o meu quarto, eu sabia exatamente onde estava guardada aquela carta que continha tudo o que eu devia saber, tudo que eu lutava para não acreditar, tudo que iria desconstruir sete anos de puro ódio. Peguei-a e abri com certo receio, fechei os olhos por dois segundo e comecei a ler.
" Faz quatro anos que não te vejo e em meu peito todas as cicatrizes ainda estão abertas, essa carta não é só um jeito de te pedir perdão, mas uma tentativa de fazer você acreditar em tudo isso. Tudo começou quando eu sai da sua casa, tinha esquecido meus óculos em cima da minha cama, você sabe muito bem que eu não vivo sem meus óculos, então quando eu entro em casa e passo pelo escritório de meu pai escuto uma voz conhecida, uma voz de menino. Meu pai raramente recebia visitas, a não ser dos capangas dele, eu estranhei muito essa situação, a porta estava entre aberta, eu me aproximei mais e tentei ver alguma coisa, mas meus olhos viram aquilo que eu menos imaginava. Meu pai estava sentado na sua velha poltrona com um menino no colo, eles estavam se beijando. Nunca tinha visto nada igual em toda a minha vida, eu estava aterrorizada, petrificada. Eles desgrudaram e por um breve momento pude ver os olhos de Roberto olhando para mim com uma cara surpresa. Eu, por instinto, corri para meu quarto e me tranquei, ouvi batidas na porta mais não reagi. Como meu Pai podia fazer isso? Fingir ser o que não é só para dar satisfação a essa cidade? Eu tinha pena dele. E Roberto? Eu sempre desconfiei que ele era louco por você, mas eu sabia que ele não iria se aproximar enquanto Jefferson estivesse perto de você, te protegendo. Com certeza ele estava só usando meu pai para se dar bem, ele seria capaz de tudo, eu adormeci com esses pensamentos na cabeça, mas eu só não sabia que ele tinha um plano para afastar todos nós. Uma noite, quando eu estava voltando para casa, ele veio por trás e me pegou, foi tudo muito rápido, ele tirou minha roupa e me estuprou. Foi horrível, uma das piores coisas em minha vida, eu me sentia suja, podre por dentro, depois de um mês soube que estava grávida, a dor em mim era enorme, eu tinha que desabafar com alguém, então reuni forças e contei pra Jefferson, tirando o detalhe que meu pai e Roberto eram amantes. Ele foi atrás do meu Pai e eu escutei toda a conversa, mesmo sabendo o que o Roberto tinha feito, meu pai mandou Jefferson casar comigo e ameaçou não te mataria se ele não concordasse. Que escolha ele teve? Meu pai tinha capangas nós quatro cantos das cidades, nada podíamos. O que mais me doía era a forma como o meu pai estava apaixonado por Roberto, eu ainda tentei falar com ele, mas ele falou que o Roberto tinha contado tudo a ele, que sabia que eu era homossexual, tentei falar a ele que não era, mas foi tudo em vão, ele também falou que Roberto fez um favor para mim ao me engravidar e que o amava e nunca iria deixá-lo casar comigo porque eu não era digna e se eu ousasse contar a alguém ele mataria a todos, inclusive o bebê que estava carregando. Hoje, graças a Deus, está tudo "bem", Sofia é uma menina linda, Jefferson ainda tem os seus traumas, eu ainda sinto que ele te ama, meu pai continua o mesmo doente de sempre, Roberto está rico à custa dele, o bom que ele também é preso ao meu pai, ele também mal pode sair da cidade e quando sai é com no mínimo três capangas de meu pai. Ele casou com uma menina que meu pai escolheu e teve uma filha para disfarçar. E eu? Eu ainda tenho que fingir que tudo está bem, que estou feliz e rezo todo dia para um dia encontrar com você e assim poder desabafar e chorar como fazíamos na beira do riacho, lembra? Eu sinto tanta sua falta amigo. Um dia esse inferno há de acabar e todos nós seremos felizes. Que não há dor que não passe e que esse amor inacabado aflore de novo em nosso peito.”
Como uma pessoa leva um segredo desses por tantos anos assim? Era tudo que eu conseguia pensar. Eu sentia uma dor incrível dentro do meu peito, a culpa corria por todo o meu ser, como eu fui tolo, todo esse ódio, todo esse rancor para nada. Eu não sabia o que fazer e como iria enfrentar Jefferson depois de tudo isso. Eu também não tinha a mínima ideia de como eu iria me redimir com Carol já que ela não estava mais entre nós, eu não sabia as repostas, na verdade, eu não estava preparado para isso. Eu estava indo para cozinha pegar um copo d'água quando ouço minha campainha tocar.
- Para quê eu tenho porteiro nesse prédio? Se ele não anuncia quem é... Já vou! - abri a porta e a pessoa que eu menos espero aparece.
- Oi! Posso entrar? - Roberto fala e abre um sorriso para mim.
- Não, Roberto, aliás, a gente precisa conversar. - falei não o deixando passar.
- Aqui?
- Sim, só queria te dizer que eu sei de tudo, Carol mandou uma carta para mim explicando seu casinho com o pai dela. Então, já escaneei e mandei para vários e-mails diferentes, se você por acaso fizer algo contra qualquer pessoa que eu amo, eu só irei entregar a carta direto para policia e fazer eles te caçarem como um animal. Estamos combinados?
- Luis, Eu..- não deu tempo para eu ouvir algo, fechei a porta na cara dele.
Bom pessoal, desculpe a demora, essa é a penúltima parte, então, Obrigado a todos! Obrigado mesmo por comentar, no último eu agradeço a todos em geral! Abraço...