Caminho de Volta
- Vai comentar isto com alguém?
A curiosidade genuína de Helenice quebrou um silêncio que já durava algum tempo, devido às curvas sinuosas da BR 116 na descida da serra entre Nova Petrópolis e Porto Alegre e às condições de clima, chuvisco intenso, que exigiam atenção dobrada do condutor.
- Nice, sempre tive uma opinião formada sobre isto. Se contar para alguém, sou promovido a “comedor” ou “matador” e você imediatamente rotulada como vadia. Não acho justo com você. Tem algumas outras coisas que tem que ser avaliadas com cuidado. Você sempre soube que eu tenho uma namorada e até a mobília do prédio onde trabalhamos sabe que, além da Clarice, existe uma afinidade especial entre eu e Isabel. Se contar para alguém, com certeza chega ao ouvido delas e eu não gostaria que soubessem. Agora, só nós dois sabemos o que aconteceu neste fim de semana e se alguém me comentar alguma coisa eu não vou negar ou confirmar, vou pedir para perguntarem para você e dizer para acreditarem na sua resposta.
Ela ficou calada algum tempo e era quase possível ouvir as engrenagens do seu cérebro trabalhando até que finalmente chegou a uma conclusão:
- Valeu. Todas as meninas comentam o tempo que passam com seus companheiros ou namorados e finalmente entendo o brilho de felicidade em seus olhos. Você tem razão, é mais sensato isto ficar só entre nós. Não vou mais sentir inveja delas e não tem o porquê criar problemas onde eles não são necessários. A propósito, o que você falou para Bel para justificar a sua ausência neste fim de semana?
- Nada. Que não estaria disponível. Ela sabe da Clarice e se contenta com explicações simples.
- Só para você saber, se é que já não sabe. Bel nunca escondeu ou evitou comentários quando andava com outras pessoas antes de você. Sobre você ela não comenta uma única palavra, além de reconhecer que são amigos. Acho muito legal da parte dela e o fato de você também não ser boca grande mostra que existe um grande respeito entre vocês.
Este diálogo precisa ser localizado no tempo e no espaço. Meu nome é Fernando, tenho 26 anos, sou engenheiro eletrônico e faço pós-graduação em Propaganda e Marketing. Trabalho como analista de sistemas em um data-center que presta vários outros serviços de informática. Clarice, 21, minha namorada, é uma bonequinha linda que estuda biologia e não trabalha. Helenice é do RH da empresa, uma morena ajeitadinha de cabelos ondulados que completou 29 anos neste fim de semana. Embora seja uma menina apresentável e simpática, é filha de mãe solteira e sempre foi muito recatada, talvez por isto nunca tenha tido um namorado. Isabel, ou simplesmente Bel é programadora visual, 24, loira, inteligente, muito bonita e cedo aprendeu os segredos da vida. Sua família é do interior do estado e ela hoje vive em Porto Alegre, na companhia da avó. Quando entrei na empresa, ficou evidente que o trabalho dela era respeitado e ela muito assediada. Dos cinco profissionais que trabalhavam comigo, dois confirmam já ter estado com ela em diferentes ocasiões. Também é voz corrente que alguns dos que trabalhavam na divisão dela, e uma ou outra pessoa de outros setores também já sentiram o calor o seu corpo.
Minha empatia com Bel foi instantânea. Ela tem um sorriso espontâneo e contagiante, que me cativou já no dia em que fomos apresentados. O nosso primeiro encontro a sós começou profissional e acabou social. Foi em uma apresentação de produto nas instalações de um cliente no final de uma tarde. A reunião durou mais do que o esperado e, depois de concluída, eu a convidei para dividir uma pizza na praça de alimentação do Shopping Total. Ficamos conversando mais de três horas, os assuntos brotavam naturalmente e pareciam não ter fim. Quando finalmente a levei para casa, na despedida, ela já fora do carro fez um comentário inesperado: “Estranho, Fernando, você deve ser a primeira pessoa que me convida para qualquer coisa nos últimos tempos que não me considera incluída no cardápio. Só para constar, se você tivesse me mencionado a possibilidade de ir para um motel, eu teria concordado” e, dando às costas, saiu resoluta em direção ao prédio onde morava.
Duas coisas aconteceram na manhã seguinte: todos meus colegas queriam “detalhes” do que havia acontecido entre nós na noite anterior e ninguém acreditou quando eu falei a verdade.
O início do segundo encontro foi tumultuado. Chovia quando ela ligou em um final de expediente na semana seguinte e pediu uma carona. Meu projeto para aquele dia era trabalhar na minha tese e relutei um pouco antes de aceitar, atitude que ela interpretou como uma forma de rejeição. Finalmente nos acertamos e esperei por ela no estacionamento da empresa. Ela ainda demonstrou algum tipo de desconforto e só depois de centenas de tentativas consegui explicar que, além do trabalho e da pós, eu também tinha uma namorada para compartilhar o meu tempo e que adoraria ter ela como amiga. Também desta vez ficamos conversando um tempão antes de deixá-la em casa. Depois se tornou um hábito, sempre que possível eu passava meu tempo com ela nos intervalos de almoço ou finais de expediente. Quando finalmente surgiu uma ocasião para um relacionamento mais íntimo, mais de dois meses depois, foi uma evolução natural, quase inevitável em função das nossas afinidades. Simplesmente aconteceu. Interessante ela ter confessado que nunca tinha ficado tanto tempo intocada nos últimos anos, porque o mesmo tinha acontecido comigo. Aliás, por oportuno, até onde eu sei Clarice, minha namorada, é virgem.
No serviço inicialmente o pessoal ficou um pouco incomodado porque a Bel estava “fora do mercado”, mas logo as coisas se acomodaram e todos entenderam que havia um novo casal na empresa, embora todos também soubessem da existência de Clarice, que continuava a ser minha companhia preferencial em eventos sociais.
Voltando para a Nice, o que aconteceu com ela foi, no mínimo, inusitado. Assim como os garotos costuma se reunir para falar das meninas, elas têm hábitos semelhantes. Na empresa as coisas se organizavam em grupos heterogêneos já que o espaço para cafezinho é compartilhado e os encontros de Nice com Bel e outras meninas eram comuns. Por muito tempo Bel foi o centro das atenções, por seu comportamento não muito seletivo e por ser muito cortejada. Depois da “Era Fernando” outras garotas viraram protagonistas e Nice era continuou como só mais uma ouvinte interessada. Havia uma razão para isto: com 28, quase 29 anos, um tipo de beleza peculiar de sua genética morena jambo, inteligente e educada, Nice nunca namorou para valer e ainda era virgem. Ela então decidiu dar-se um presente de aniversário: um fim de semana em uma pousada em São Francisco de Paula na companhia de alguém que, em duas noites e dois dias, a transformasse em uma mulher completa. Fui sua primeira opção porque segundo ela era o único que reunia quatro condições básicas: apresentação razoável, bom comportamento, condução própria e muito controlado. “Em dois anos” disse ela “nunca ouvi uma única fofoca relacionada com você. Sei do seu relacionamento com Bel e fico impressionada como vocês são discretos e com o respeito que demonstram um pelo outro”.
A ideia da Nice era maluca e, talvez por isto, atraente. Ela não era excepcional, mas nem de longe poderia ser considerada uma baranga. Quando ligou dizendo ter um assunto pessoal importante para tratar, fiquei no mínimo curioso, afinal ela trabalhava no RH e poderia ser alguma inconfidência profissional. Depois de ouvir com atenção toda a sua argumentação e proposta, confesso que não sabia o que era maior: meu ego inflado, minha perplexidade ou a maluquice toda da situação. Mesmo habituado com situações de risco, a tomar decisões rápidas sob pressão, fiquei admirado com a determinação dela. Era algo que com certeza iria acontecer, com ou sem minha pessoa. Então, para ganhar algum tempo e ordenar as ideias, pedi um prazo até a manhã seguinte para pensar embora, na minha cabeça, a decisão já estivesse tomada. Se tiver que acontecer, que seja comigo. Naquele fim de tarde, na carona usual, Bel percebeu que eu estava mais pensativo que o costume e, compreensiva, refreou sua curiosidade e ficou calada também.
Ansioso, liguei para a Nice de noite para confirmar que aceitava ser seu companheiro e a menina foi mais explícita no que poderia ter imaginado. Ela queria tudo. Tudo mesmo. “Quero recuperar o tempo que perdi em 28 anos e saber exatamente o que sente uma garota quando as meninas detalham o que acontece em seus encontros”. “Estou disposta a tudo o que você quiser: se gozar na minha boca o faz feliz, tudo bem; se você se realiza com sexo anal, quero ser a sua companheira; se quer lambuzar meu rosto com o seu semen, não tem problema e se seu sonho é testar todas as posições do Kama Sutra, maravilha, você tem parceria. Reservei um lugar ótimo e marquei sexta-feira com a depiladora, porque quero estar perfeita para você”. Assim é difícil dizer não.
O tempo colaborou. O fim de semana inteiro ficou instável, com um chuvisco chato intermitente, que não provocou surpresa nenhuma ficarmos no quarto o tempo todo. Ela revelou muita previdência e algumas surpresas. Previdência, por exemplo, com quatro caixas com doze camisinhas cada, dois tubos de lubrificante KY, antisséptico bucal e sabonetes bactericidas. As surpresas ficaram reservadas para uma depilação total, sem um único pelinho na frente ou atrás e roupas íntimas impecavelmente brancas, contrastando com a cor da sua pele. A necessidade do uso de camisinhas foi questionada porque sempre usei proteção nos últimos cinco anos e sou doador regular de sangue, ou seja, sou testado com frequência. Ela não estava em período fértil e, enquanto virgem, não se incluía em nenhuma faixa de risco. Nas conversas em que Nice participou, o relato das garotas sempre foi que o momento de colocar a proteção quebra um pouco do clima. Quando a decisão de não usar estava iminente, lembrei que faço sexo oral com Isabel sem proteção, o que encerrou toda e qualquer possibilidade em contrário. Embora um pouco promíscua em tempos anteriores, Bel nunca dispensou o acessório, mas ainda assim cuidado nesta área nunca é excessivo.
O inicio foi mecânico, protocolar, quase burocrático. Não havia uma atmosfera de conquista, de romance, e a ânsia dela por conhecimento e experiência ofuscava principal razão da união entre duas pessoas: a busca do prazer mútuo. Com o tempo as coisas ficaram mais relaxadas e os objetivos alcançados com maior facilidade. Pena que um momento importante tenha sido perdido por excesso de determinação dela e falta de sensibilidade ou paciência minha. O rompimento do hímen, tão aguardado, foi realizado sem a preparação adequada, antes que ela estivesse suficientemente excitada. Deu um pouco de trabalho. Só depois de reduzir a expectativa e desenvolver uma cumplicidade maior é que as coisas se ajeitaram para serem mais prazerosas. Se a noite de sexta para sábado já foi legal, o resto do tempo até o meio da tarde de domingo foi algo muito próximo ao paraíso. Uma lembrança que não sai da cabeça foram os momentos que, depois de alguma atividade, que ela se trancava no banheiro para fazer a higiene e saía de lá vestindo o sutiã e a calcinha brancas perguntando, com um sorriso enorme no rosto: “O que vamos fazer agora?” Outra coisa impressionou, o estoicismo que ela revelou quando fizemos anal pela primeira vez. Normalmente este tipo de coisa requer muita confiança entre os parceiros, uma preparação cuidadosa e paciência para esperar que a musculatura relaxe o suficiente para permitir a penetração. Um desconforto em quem recebe é quase inevitável e, se ela sentiu, não demonstrou. Ficou calada esperando eu cumprir a minha parte e não reclamou de nada. Na segunda vez, já no início da tarde de domingo, ela se permitiu alguns gemidos e não comentou se gostou ou não. Esta foi uma das poucas coisas que me arrependi, porque não era necessária e sei que ela aceitou mesmo sem desejar. Só para constar, fazer “69” com uma menina “gulosa” e totalmente depilada é uma experiência fantástica. Nunca tinha acontecido comigo. Não sei como vou sugerir para Isabel remover todos os seus pelos porque anseio, mais que isto, necessito ter esta experiência com ela.
Já perto de Porto Alegre, cientes que nossa aventura estava prestes a terminar, Nice ainda era toda dúvidas:
- Fernando, fui uma mulher completa para você?
- Mais que uma mulher, uma fêmea perfeita.
- Digna de ser incluída com destaque em seu currículo?
- Já conversamos sobre isto. Não existe esta história de currículo. Cada pessoa é única em um relacionamento. É assim que deve ser.
- Mas quando Bel está com você ela sabe que não é a única.
- Ela sabe que Clarice é virgem e que eu sou exclusivo dela, além do mais, vou revelar um segredo que me incomoda há já algum tempo. Sempre que eu tenho uma fantasia maluca em termos de relacionamento, a musa dos meus sonhos, que costumava ser Clarice, hoje é a Bel com exclusividadel. Esta menina está se tornando bem mais importante do que imaginava e, paradoxalmente, gosto isto.
- Interessante o modo como você fala. É impressão minha ou sua namorada já não está com esta bola toda? Quando você fala da Isabel os seus olhos brilham, quando fala nela parecem de peixe no supermercado, não têm vida.
- Clarice fez uma opção. Ela quer casar virgem e se dedicar a um único homem em sua vida. Depois que encontrei Bel já não tenho tanta certeza que este é tipo de relacionamento que quero. Adoro Clarice, porém a maneira delicada e educada que ela me evita às vezes me incomoda. Muito.
- E a vida anterior de Bel não te incomoda? Quase todo o mundo lá no serviço diz que já dormiu com ela.
- Depende do modo como você vê as coisas. Na minha ótica, se depois de tanto andar sem rumo ela optou por mim significa que, pelo menos para ela, sou melhor que todos os outros. Além do mais, é difícil você julgar uma pessoa pelo que fez sem saber os motivos. Você, por exemplo, pelo seu comportamento neste fim de semana qualquer um diria que é amoral e devassa, entretanto nós dois sabemos que não é assim.
- Verdade. Se me contarem que alguém fez o que fiz, não saberia nem o que pensar. A propósito, tem alguma coisa que você tenha feito com Bel e não fez comigo?
- Sim e não. Em termos de contato físico, não. A anatomia tem seus limites, que foram totalmente explorados em ambos os casos. Em termos de ambiente, com certeza.
- Pode citar um exemplo?
- Centenas. Você não pode concentrar em um único fim de semana as experiências vividas ao longo de mais de ano. O modo como coisas acontecem também é completamente diferente. Com Bel houve todo um processo de convivência, de cumplicidade que foi criado aos poucos e ficou mais robusto durante o tempo. Posso até imaginar o que você está pensando. Bel tinha fama de predadora, mas apesar da facilidade que consentia em deitar com outras pessoas era muito conservadora no ato. Embora ela tenha estado “no mercado” durante algum tempo, só comigo desenvolveu a confiança necessária para entregar-se totalmente. Ela diz, e não tenho motivo para duvidar, que a única pessoa com quem ela se permite certas excentricidades sou eu. Sou o único que ela fez sexo oral até o fim. Você não consegue imaginar o que já aprontamos e como a adrenalina destes momentos potencializa o prazer quando estamos juntos. Apesar de eu conhecer cada poro daquele corpo, ela sempre cria alguma coisa diferente.
- Nossa. Isto parece paixão. Você não se sente incomodado por ter passado este fim de semana comigo enquanto ela ficou sozinha?
- Não. Entenda Helenice, não aceitei vir com você para sacanear ela ou Clarice. Na verdade, a sua proposta era tão maluca que era impossível dizer não. Se depender só de mim ela nunca vai saber que este fim de semana aconteceu, porém, se ela perguntar, eu conto. Prefiro que ela fique decepcionada por uma atitude minha que perder a sua confiança.
- É. Vai ser um segredo só nosso. Você se importa em contar qual foi a maior loucura que vocês já fizeram?
- Não vejo nenhum problema. Houve tantas que é difícil escolher só uma. Talvez a mais irresponsável tenha sido a da pizzaria. O desdobramento do que aconteceu lá resultou em uma das melhores noites da minha vida.
- Conta.
- Uns meses atrás havia uma pizzaria chamada Florença ali na Cristóvão Colombo, um casarão antigo com mesas montadas onde originalmente eram quartos. Eu estava com ela em um destes ambientes, com duas mesas e só a nossa estava ocupada. Bel estava com um vestido branco solto e comprido, daqueles com alcinhas, próprio para noites quentes. Após o jantar, pedimos uma pizza Califórnia como sobremesa. Depois de comer um pedaço, ela pediu licença e foi à toalete. Voltou com um sorriso de orelha a orelha. Quando perguntei a razão de tanta felicidade ela respondeu que tinha escondido um tesouro e que eu tinha que encontrar. Fiquei sem entender e ela então me deu uma dica, abriu a bolsa e mostrou a sua calcinha lá dentro. Em seguida, empurrou um talher para o chão. Quando me abaixei para apanhá-lo, vi que ela estava com o vestido recolhido, pernas abertas e um pedaço de pêssego na vagina. Antes que eu tivesse qualquer atitude, ela falou que eu não poderia usar as mãos, só a língua. A toalha era comprida e escondia quase tudo o que acontecia debaixo da mesa. O pêssego saltou já na primeira tentativa. Foi o pedaço de fruta mais gostoso que já provei e o início de uma noite inesquecível.
- Que loucura. Não sei se teria coragem de fazer isto.
- Houve também o lance do acampamento. Não um ou outro detalhe, ou mesmo um momento. A coisa toda.
- Vai em frente. Conta.
- Houve de tudo. Talvez para você entender seja necessária uma explicação antes. A atividade sexual monopoliza a atenção e os envolvidos ficam desatentos aos perigos externos. Esta característica, que herdamos do mundo animal, é a razão pelo qual muitos optam por um comportamento recatado preferindo um local isolado para relações, não por moralismo, mas por sobrevivência. Outra razão de buscar a privacidade é que a visão de um casal copulando estimula o desejo sexual porque o principal órgão erótico dos seres humanos é o cérebro.
Dito isto, a história começou quando a família da Clarice comprou um pacote para um feriadão em Punta del Este. O programa previa a saída na noite de quarta feira, exatamente no dia marcado para uma prova na pós-graduação. O voo era fretado, não houve modo de acomodar os horários e eu não pude acompanhá-los. Como alternativa, depois da prova eu, Bel e Sandra, uma amiga de infância dela, pegamos a estrada para acampar em Morro dos Conventos. Uma barraca emprestada originalmente prevista para duas pessoas, com um só quarto, não parecia um grande problema. Sandra é uma pessoa sensacional, com uma cabeça muito boa e conhece Bel desde criancinha. Entre elas existe aquele tipo de amizade que permite tomar banho juntas até hoje. Depois de uma viagem de quatro horas durante a noite, chegamos de madrugada no camping e pudemos escolher um bom local para armar a barraca. Menos de duas horas depois, com tudo arranjado, já curtíamos o mar.
- Passaram a noite em claro?
- Isto aí. De noite o cansaço bateu e nos recolhemos cedo. Naturalmente Sandra ocupou um lado, Bel no meio e eu do outro. Não gosto de dormir com nada me apertando por isto deitei vestindo uma cueca tipo samba-canção. Sandra preferiu um baby-doll e a Bel um pijaminha leve. Eu adoro dormir abraçado, fazendo “conchinha” e o espaço reduzido do quarto da barraca é ideal para este arranjo com Bel. Deitar cedo tem um problema, acordei lá pelas cinco horas e não consegui mais pregar o olho. De tanto me agitar, acabei acordando a garota e saímos para a beira da praia para ver o sol nascer. Foi um espetáculo maravilhoso. Quando voltamos, pouco depois das sete, Sandra já estava preparando a primeira refeição do dia, reforçada, porque quatro ou cinco horas na beira da praia consomem muita energia. O dia passou muito rápido e quando nos recolhemos, Sandra deu uma dica valiosa: “Gente, vocês não precisam se conter por minha causa, tenho o sono pesado”. Naquela noite eu e Bel fizemos amor com Sandra deitada ao lado, atenta a tudo, sem se dar o trabalho de fingir que estava dormindo. A menina não é desinteressante, muito antes pelo contrário, é muito bonita, mas Bel era suficiente para me fazer feliz e sequer cogitei em convidar ela para participar da brincadeira. Houve um único momento onde ela não se conteve e fez um comentário: “Estou perplexa, vocês não cansam nunca”, que nós entendemos como um elogio. Quando finalmente resolvemos dormir, a falta de atenção ocasionou uma mudança posicional, fiquei no meio. O clima já estava quente e dentro da barraca ficava ainda mais abafado. Bel vestiu o seu pijaminha e Sandra dispensou a parte de cima do baby-doll. Não podia dar certo. Antes de o sono chegar, estávamos os três deitados no escuro, olhando o teto, conversando sobre um monte de coisas quando senti a mão da Sandra tocando a minha perna e subindo lenta e perigosamente em direção aos “países baixos”. Antes mesmo de eu tentar evitar qualquer movimento mais ousado, ela fez uma pergunta direta: “Bel, tortura chinesa está incluída no nosso acordo?”. “Acho que não - respondeu a menina, - Por que, você quer?”. “Estou muito pilhada, se não extravasar de alguma maneira vou acabar explodindo”. Aquela linguagem em código me deixou curioso e eu perguntei o que era o tal “acordo” e o que era “tortura chinesa”. Bel então explicou que a amizade delas foi abalada uma única vez, quando o excesso de bebida permitiu a um rapaz que namorava a Sandra ter as duas em uma noite. O garoto não entendeu que foi uma situação momentânea e o seu comportamento depois resultou no fim da relação e no estremecimento da amizade. Elas então decidiram fazer um acordo para evitar que isto se repetisse. Para a Sandra eu era de Bel e o assunto estava liquidado. “Tortura chinesa” era uma forma de masturbação a dois, sem consumar o ato. A menina ficava de costas para o rapaz e prendia o ‘tico’ entre as coxas, simulando uma conjunção carnal sem nenhum tipo de penetração. Esta era a compensação que Sandra queria pela sua compreensão. “Você topa fazer tortura chinesa com ela?” Bel me perguntou, e o estado de rigidez em que eu já me encontrava dava pouca margem para manobra. Lembro ter dito “Sem problemas” sem muita convicção. Rapidamente Sandra livrou-se da calcinha e posicionou-se de para fazer uma “conchinha” comigo. Para não atrapalhar, tirei também a cueca. O contato com o corpo dela me levou à loucura e simplesmente não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ela começou a fazer movimentos sincronizados com meu membro preso entre suas coxas. Com uma das mãos peguei primeiro um dos seus seios e depois, desci em direção à sua vagina em busca de seu montinho do prazer. Quando alcancei, sincronizei uma massagem com a movimentação dela e em pouco tempo ela já estava ejaculando. Durou pouco, mas foi muito gratificante. Depois de fazer uma higiene improvisada e de nos recompor, ela ainda agradeceu: “Valeu Fê. Valeu Bel”. É impossível entender as mulheres.
- Na verdade também é impossível entender os homens, mas vai lá. Continua.
- Um camping tem vida própria, uma minicidade com infraestrutura completa, incluindo áreas recreativas como quadra de vôlei e campinho de futebol. Se no primeiro dia é tudo novidade, no segundo os acampados em terrenos vizinhos já se conhecem, a integração é quase imediata. No final da tarde do segundo dia enquanto esperava uma vaga num jogo de futebol fui procurado por um garoto com um papo muito direto, afinal o feriadão dura só quatro dias: “Cara, estou a fim de descolar uma gata para este fim de semana e notei que tem duas na tua barraca. Não quero confusão por isto resolvi perguntar qual delas é a tua namorada?” “Nenhuma, respondi na maior cara de pau. A loura é minha irmã e a morena minha prima.” “Legal! Nada contra se eu der uma tenteada em uma delas?” “Vai à luta. Não acredito que você consiga algo, agora elas é que decidem. Só tem um detalhe, se disserem não, não insiste, OK?” Ele agradeceu todo feliz e saiu em direção a nossa barraca. Bem mais tarde, depois de suar correndo atrás de uma bola e tomar um chuveiro, voltei para o convívio delas e fui recebido de acordo com o script: “Oi mano” disse Bel e “Oi primo” completou Sandra. “E?” Perguntei curioso. “O garoto ficou chateado com você porque não falou para ele que nós somos evangélicas e, além de não namorar, ainda rezamos pelo menos uma hora por noite.” Rimos muito disto tudo.
- Se não conhecesse vocês, não acreditaria. Vai, termina!
- Nossa terceira e última noite no camping foi ainda mais estranha. Não houve nenhum tipo de atividade libidinosa, mas a conversa foi para lá de comprometedora. Na noite anterior eu tinha feito com Bel uma posição que nós chamamos de ‘cachorrinho dorminhoco’. A penetração é feita por trás, eu fico ajoelhado entre suas pernas, ela levanta o bumbum para facilitar as coisas, mas depois que ele estiver lá desliza o corpo até se deitar. Então ela junta as pernas o máximo possível, prendendo totalmente o “artista,” então iniciamos juntos movimentos, bem devagar. No escuro da barraca Sandra imaginou que era sexo anal. Este fato foi citado por ela na forma de pergunta feita diretamente para Bel. “Bel, desde quando Fê é tão íntimo que já entra pela porta dos fundos sem negociação prévia?” “Nem Fernando nem ninguém entra pela minha porta dos fundos. De onde você tirou esta ideia?” “Ops, acho que entendi mal o que vocês fizeram ontem” reconheceu uma Sandra encabulada. “Ah, o cachorrinho dorminhoco? Aprendemos juntos. É muito bom. Só que usa a porta convencional” arrematou Bel. Se por um lado um mal-entendido foi esclarecido, por outro trouxe a tona um assunto que rendeu muita conversa. Até então eu nunca tinha feito sexo anal com Bel e entendi logo que, ou ela mantinha o lacre intacto ou sua experiência na área não foi muito agradável. Sandra já era outra história e, segundo ela mesma, não hesitava muito quando um parceiro pedia para ela ficar de bruços: “É um tipo de bônus. Se o cara mandar bem, leva”. Eu estava me divertindo com a conversa das duas até ser convidado a defender o ponto de vista masculino na questão. Durante o tempo que estava exclusivo da Bel, a liberalidade dela aumentou consideravelmente e não ficava só no convencional. Ela lia uma revista, Nova se não me engano, e praticava comigo quase todas as dicas que publicavam. OK, tenho atração por bundas e a dela é linda, mas ainda não tinha arriscado pedir um acesso à sua porta dos fundos. Aliás, que eu me lembre até aquele dia este assunto nunca tinha sido mencionado entre nós. Ciente que transitava em campo minado, tentei uma saída pela tangente: “É um tipo de atividade com recompensa desequilibrada. Sei que os homens adoram, mas também sei que dificilmente a mulher chega ao clímax assim. Então, embora seja gostoso, existem outras formas que são tão ou mais gratificantes para os dois”. “Você parece ser muito legal, mas decididamente não sabe tudo sobre mulheres” argumentou a Sandra. “Eu particularmente sinto orgulho quando alguém me diz que adorou me ter assim. Se não é um prazer concentrado como quando a gente goza, é um sentimento continuado que fica por muito mais tempo”. “Olha, já fiz isto com garotas. Algumas curtiram, para outras foi só um incomodo e a maioria disse que, se pudesse, evitaria. Então fico pensando como quero ser lembrado, um cara que fez tudo para agradar a companheira ou alguém que, por capricho, a submeteu a algum constrangimento.” “Entendi” respondeu a menina “então quer dizer que, se depender de você, Bel vai ficar uma mulher incompleta”. “A conclusão é sua. Quando começamos juntos era só papai e mamãe, em menos de um ano acho que já evoluímos bastante. Talvez chegue o dia em que eu a convença a, pelo menos, tentar. Não conheço nenhum bicha arrependido, não vou correr o risco de experimentar, mas alguma coisa de bom deve ter”. “Tá, Fê. Você esta enrolando. Afinal, você gosta ou não? Que tipo de prazer um homem sente fazendo isto com uma mulher?”. “Adoro. Acho que todos os homens gostam. É diferente, um prazer puramente sexual associado a um tipo de poder, afinal a garota entubada fica totalmente submissa,” apertei a mão da Bel “Mas é o tipo de coisa que tem que ser decidida a dois. Sobre completar Bel, vai acontecer cedo ou tarde, e se não acontecer também não é o fim do mundo. A única coisa que eu não posso perder é a confiança que ela tem em mim. Conheço cada centímetro deste corpo justamente porque ela tem certeza que eu nunca vou forçar ela a fazer o que não quer. Estamos juntos porque é ótimo para nós dois. O dia em que ela não participar com um entusiasmo igual ao meu, talvez seja a hora de repensar o que estamos fazendo. Eu não acredito em salvar uma relação. Acredito em não deixar uma relação deteriorar-se a ponto de ter que ser salva”. “Fechou todas. Só não entendo ainda porque você não a assume de uma vez e mantém uma Barbie para consumo externo. Mas isto é coisa de vocês”. Aquela referência à Barbie me deixou encucado. Nos três dias anteriores eu não tive um único pensamento relacionado com Clarice. Algo estava errado. Muito errado. No inicio da tarde de domingo, quando iniciamos nossa jornada e retorno, Sandra expressou um pensamento em voz alta que nos divertiu bastante: “Sou uma anta mesmo. O acordo só vale para namorados e tecnicamente Fê não tem este compromisso com Bel. A gata oficial dele é a Barbie. Passei um feriadão de freira à toa”.
- E, hoje, Bel já é uma mulher completa.
- Não gosto de falar sobre isto. Se depender só de eu, ainda não, mas vamos chegar lá, tenho certeza. São estes detalhes que fortalecem uma união. Até sexta não me imaginava fazendo este tipo de coisa com outra pessoa que não fosse Bel. Hoje quero mais do que nunca fazer com ela.
- Legal, quer dizer que, pelo menos neste detalhe eu sou mais mulher que a garota mais desejada da empresa? Que orgulho. Só estou com uma dúvida Fernando, você realmente gostou deste fim de semana comigo?
- Alguma dúvida?
- Sei lá. Não sei como avaliar isto. Tudo foi novidade.
- Então vou ter que falar um pouco sobre linguagem corporal. Homens têm indicadores claros quando uma mulher agrada ou não. Pedir para você esperar um tempo, alegar que precisa descansar ou custar para endurecer a ferramenta alegando stress ou qualquer outra coisa é sinal de desinteresse. Mulheres usam outros artifícios como evitar o olhar direto ou falar coisas triviais totalmente fora do contexto. Isto não aconteceu entre nós nestes dias, embora em alguns momentos eu tenha pecado por excesso. Não preparei você direito antes da primeira penetração e a segunda seção de sexo anal foi desnecessária, não acresceu nada.
- Interessante. Nunca mencionaria para você, mas foram os dois únicos momentos onde não me senti totalmente solta, participante.
- Devia ter dito.
- Eu prometi a você que teria o que quisesse. Foi parte do trato.
- Minha parte no trato era iniciar você no sexo, não obrigar você a fazer o que não queria.
- Já foi, Fernando. Não é disso que vou me lembrar no futuro. É de tudo de bom que fizemos juntos.
Andamos mais uns quilômetros em silêncio e em Esteio, logo depois de passar pelo pórtico de entrada da cidade, Nice voltou a perguntar:
- Fernando, o que você acha de eu agora?
- Uma mulher maravilhosa. Você exala feminilidade. Se a minha vida já não estivesse complicada, investiria em você. Mas não seria justo. Você merece ser a musa de alguém e não só uma terceira opção.
- Obrigada. Não estou pensando nisto. Só estou me sentindo tão bem que queria saber se isto pode ser sentido por outras pessoas.
- Pode apostar que sim. Você está feliz. Dá para ver de longe.
- Fernando, uma última pergunta e depois prometo cumprir o que combinamos: nunca mais falar deste fim de semana. Você se importa?
- Com certeza não. Pode perguntar.
- Tem algo que você nunca tenha feito com uma mulher? Algo que eu possa me orgulhar de ter sido a primeira a fazer com você?
A pergunta era ampla e tinha algumas limitações. Nossa chegada em Porto Alegre seria em pouco mais de 20 minutos e pouca coisa pode ser feita neste tempo. Até eu lembrar Bel quando a gente fazia amor no carro, na beira da praia.
- Tem uma, mas não acho que seja importante. Bel curte fazer amor no carro, mas mais de uma vez já avisou que “anal, nem pensar”.
- Eu quero!
- Quer o que?
- Fazer anal contigo no carro.
- Enlouqueceu, foi?
- Não, realmente quero. Quero em pelo menos uma coisa ser a primeira na sua vida. Acho que mereço, depois de tudo.
Não houve argumentação que pudesse convencê-la do contrário. No entorno do aeroporto Salgado Filho fica o motel Porto dos Casais, que tem estacionamento fechado por uma proteção de lona. Estacionei, pegamos no bagageiro os acessórios (camisinhas, lubrificante) e voltamos para interior do veículo. Embora não fosse necessário ela ficou totalmente despida. Como eu já apresentava condições de combate, acomodei ela na posição mais favorável possível, iniciei uma penetração lenta, gradual e determinada. Entrou tudo, com uma facilidade que custei a acreditar. Nice não indicou nenhum desconforto e pareceu orgulhosa de seu próprio desempenho. A coisa foi tão inesperada, tão surrealista que gozei muito rápido. Em seguida ela subiu nua pelas escadas para o quarto a fim de usar a toalete, enquanto eu recompunha minhas roupas e colocava um pouco de ordem no que tinha sido deslocado dentro do carro. Poucos minutos depois ela desceu ainda despida, vestiu-se tranquilamente ao lado do veículo, acomodou-se no banco do carona e disse estar pronta para ir embora.
A sabedoria popular indica que o melhor da festa é esperar por ela e o pior são os comentários sobre gafes cometidas. Por isto confesso que estava tenso no caminho para o trabalho na manhã da segunda, inquieto durante todo o dia e no fim do expediente, preparado para dar um monte de explicações para Isabel. Como ela não demonstrou nenhuma preocupação, perguntei como tinha sido o seu fim de semana. “Nada de novo” ela respondeu e complementou com uma frase solta, sem malícia, que inflou o meu ego: “Quem deve ter aproveitado bem foi Helenice. Apesar daquele jeitinho todo de menina bem comportada, suas colegas disseram que ela mal conseguia andar e passou o dia todo rindo à toa”. Cheguei até a pensar que de alguma forma Nice estivesse tentando uma aproximação com Bel, mas este foi o único comentário que ela fez, neste e nos dias que seguiram.
Passei quase duas semanas sem ver Helenice pessoalmente e neste período falamos uma única vez por telefone, assunto estritamente profissional. Confesso que fiquei tentado a ligar para ela, mas ponderei sobre a conveniência e achei melhor não. Tempos depois, cruzar com ela no pátio da empresa foi uma experiência gratificante pela sua expressão de felicidade, pelo porte e pela confiança que o seu andar. Lembrei um artigo publicado na Revista Seleções na década de 80, chamado “Oito Vacas”. O texto é extenso e vale pela conclusão: “Muitas coisas podem mudar uma mulher. Coisas que acontecem dentro e coisas que acontecem fora dela. Mas o mais importante é o que ela pensa de si própria”. Até semanas antes, Nice acreditava ser só uma garota sem graça. Agora ela sabe que é uma mulher tão ou mais atraente que qualquer outra. Melhorou a postura, a atitude, o cuidado com a sua aparência e até o modo de vestir. Um colega comentou que nunca tinha reparado que ela era tão bonita. Gostaria de pensar que contribuí para esta mudança, mas a verdade é uma só: é mérito dela, só dela. Fui apenas um instrumento.