CAPITULO 10
O que doía dentro de mim não era o fato de eu ter me entregue pela primeira vez a alguém que fosse capaz de fazer o que Bernardo havia feito, aquilo que me machucava era o fato de ele possivelmente nem gostar de mim, me amar. Estava sentado na cama, apenas de cueca e camiseta com um turbilhão de coisas em minha cabeça, não conseguia nem pensar. As vezes algumas lágrimas caiam. Fui pego de surpreso, meu celular tocou. Era Bernardo, sem nem pensar duas vezes eu recusei. E assim se repetiu 5 vezes. Na sexta ligação eu não aguentei e atendi.
- To passando aí pra te buscar, aparece na porta. – Disse Bernardo sério.
- Já estou de pijama e já vou dormir Bernardo, boa noite. – Eu disse com a voz fraca.
- Põe um casaco. Anda logo, desce aí. – Disse ele com impaciência.
- NÃO VOU SAI COM VOCÊ BERNARDO! VOCÊ PENSA QUE EU SOU ALGUM IDIOTA? – Desliguei o telefone, eu não queria que ele ouvisse a mim chorando.
Senti meu rosto ficar molhado de novo. Deitei jogando a cabeça no travesseiro e o abracei, eu queria sumir. Alguns minutos depois o celular tocou de novo. Cedi, e o atendi.
- Por favor, Dani, vem aqui fora. – Dizia Bernardo com uma voz de quem aparentava estar triste, bêbado e nervoso. Fiquei com medo de recusar, e se ele estivesse arrependido? E se fosse embora nervoso e no caminho acontecesse algo de ruim? Um acidente... Droga, eu o amava demais. Levantei, vesti uma bermuda e um moletom e desci. Meu rosto ainda devia estar vermelho e inchado de chorar. Alguns momentos depois entrei no carro dele. Ele arrancou na mesma hora, direcionando-se ao caminho de saída do condomínio.
Bernardo estava suado, com uma expressão triste, talvez de arrependimento. Mas também parecia estar com raiva, enciumado. Dirigia em alta velocidade, percebi que se direcionava ao sítio do seu pai. Permanecemos calados por todo o percurso. Eu estava com medo, ele devia ter bebido muito. Ao chegarmos, descemos do carro. Dessa vez não fomos pro píer, ele abriu a porta da casa, e quando eu passei ele a fechou com certa brutalidade.
- PORQUÊ VOCÊ FOI EMBORA COM AQUELE MATHEUS EM DANI? QUE HISTÓRIA É ESSA? ERA COMIGO QUE VOCÊ DEVIA TER IDO EMBORA DE LÁ. – Bernardo falava alto, mas não gritando. Seu tom era de quem havia sido ferido, como se eu tivesse feito algo que o houvesse desrespeitado. Minha expressão passou de quem tava triste para quem estava incrédulo, como alguém que não com seguia entender realmente o que estava ouvindo. Fiquei calado, eu nem sabia o que dizer.
- RESPONDE DANI! ME RESPONDE POR FAVOR! VOCÊ TÁ DANDO CORDA PRA AQUELE MOLEQUE? TODO MUNDO JÁ SACOU QUAL É A DELE, MARRENTO, FAZ POUCO DE TUDO. NÃO GOSTO DELE, SEMPRE QUE VOCÊ DÁ MONITORIA PRA ELE FICA ESTRANHO, IRRITADO. E AGORA SÃO AMIGUINHOS? – Parecia que ele havia esquecido o que havia feito, como se ele pudesse fazer tudo e eu tivesse que aguentar calado.
- Você só pode estar brincando comigo mesmo não é Bernardo? Como você ainda tem coragem de falar desse jeito comigo porquê fui embora com outro cara? Eu fui sim, e a culpa é toda sua! Sua atitude de hoje foi de moleque! Ontem mesmo você disse que me amava e aproveitou que hoje provavelmente eu não iria pra festa pra ficar com uma garota? E QUE AINDA POR CIMA ERA MINHA AMIGA!? – Voltei a chorar, sentia ódio de mim mesmo por estar deixando ele me ver daquele jeito, tão por baixo. Tão entregue e machucado.
- Não vem com essa pra cima de mim não Daniel, fiquei por ficar, nem foi por mim, foi pra ninguém ter motivo pra desconfiar da gente!
- Não vem com essa pra cima de mim Bernardo, não te conheço de hoje não. Eu sei que tipo de menino você é. Você gosta né? De ser garanhão, de ter todo mundo quando quer né? Bom, você pode, você é livre. E eu também sou, por isso vou cair fora agora, enquanto está no inicio. Segue sua vida, e eu sigo a minha. Eu te amo muito sabe? E gosto de você a muito tempo. Mas eu acho que eu não aguento. Esse tipo de coisa eu não aguento. – Em pé e sentindo minhas pernas tremerem de nervosismo eu chorava igual uma criança, olhando pro rosto de Bernardo, o garoto que quebrara todo o meu gelo, e que logo depois me fizera sentir tão decepcionado.
A reação do garoto foi a que eu menos esperei, veio até mim e me abraçou, tentou me beijar a força. Eu o afastei, mas ele era mais forte eu não conseguia sair de entre os seus braços. Mas ainda assim eu tentava me desvencilhar, apesar de a vontade de ceder ser muito grande.
- Para Bernardo, por favor. Por favor, para! – Eu pedi triste, sabia que não iria suportar por muito tempo. Ele me agarrava, eu já podia sentir o meu peito colado ao dele, seus braços musculosos me apertando contra ele.
- Para você Dani!Não diz mais isso, não diz que vai me deixar não. Você é o único que eu amo, me perdoa, por favor me perdoa. – Ele beijava minha bochecha e eu já não lutava mais, apenas chorava. Ele me abraçava carinhosamente. – Anda Dani, por favor, não faz isso comigo. Diz que me perdoa, eu te prometo que nunca mais vou fazer isso com você. Eu vou ser homem de verdade contigo agora. Por favor. Eu te amo tanto...
- Promete pra mim Bernardo, por favor me promete que você nunca mais vai fazer isso comigo. Eu quero que você faça isso com sinceridade. – Falava baixinho, poucas lagrimas escorriam dos meus olhos agora, eu o abracei também, e deitei a cabeça no seu ombro. Fechei os meus olhos, talvez ele estivesse sendo sincero, falando a verdade. Talvez tivesse se arrependido e nunca mais fosse repetir tudo aquilo.
- Eu prometo Dani, claro que eu prometo. Nunca mais vou ficar com ninguém, só com você. Eu te amo.- E então nos beijamos.
Deitamos no sofá da sala, eu com a cabeça o peito de Bernardo e ele acariciando o meu cabelo. Passava a mão de leve no peito dele, e sentia seu perfume na camiseta. Adormecemos, estávamos cansados. Quando acordamos o dia já estava claro, lembrei que não havia avisado a ninguém que iria dormir fora, Bernardo continuo dormindo. Conferi meu celular e não havia nem uma ligação, aparentemente nem meu pai e nem Rafa haviam dado por falto de mim.
Sentei no lado oposto do sofá, e fiquei observando Bernardo dormir. Dormia igual uma criança, um sono profundo, calmo e sereno. Ele era lindo, e ainda mais com o cabelo todo bagunçado. Comecei a sorrir, ele era fofo. Me privei de pensar em tudo que havia acontecido, queria passar uma borracha. Cheguei mais perto, pus a mão em seu peito e falei não muito alto:
- Matheus, acorda. Já são seis horas, agente tem aula ainda. – Ele acordou, seus olhos abriram lentamente e ele se espreguiçou. Depois sorriu.
- Bom dia, Dani.- Falou ele baixinho e com a voz ainda meio rouca. Sorri também.
- Bom dia bebê. Mas anda, vamos. Não quero atrasar, e chegar antes do meu pai e do Rafa saírem do quarto.
Levantamos e fomos embora. O mais incrível do ser humano é a sua capacidade de esquecer-se de algo quando realmente quer. Por um tempo eu simplesmente bloqueei da minha mente as lembranças ruins daquela noite, me lembrava apenas o quão ele estava fofo implorando pra eu não terminar com ele. Mas o que mais existe na vida são surpresas. E eu ainda teria muitas delas, boas e ruins.
CONTINUA!