O sono não estava dos piores. O silêncio que se fazia em meu quarto era um pouco perturbador, mas muito útil para o momento. Ainda estava digerindo tudo o que aconteceu. Tentava lembrar-me das palavras que havia ouvido minha avó dizer. Assassinato. Pesquisa. Filho. Segredo.
Nada disso estava fazendo sentido para mim. E para melhorar a minha breve situação, estava sob o mesmo teto que o meu maior tormento.
“Não se preocupe. Ninguém sabia.”
Essas palavras ecoavam em minha mente juntamente com a imagem daquele sobretudo preto se movendo como se dançasse no ar. Jeremy. Sempre ele. Mais uma vez ele retornava a minha vida para trazer a tragédia. Não dava para acreditar que mais uma vez ele me faria mal. Tudo o que eu quis foi amá-lo e protege-lo. E ele? Apenas aprontou comigo.
_ Garrat? Espero que esteja acordado! – Dizia minha avó batendo na porta.
_ Sim. O que a senhora deseja?
_ Arrume-se e desça imediatamente para a sala. Precisamos conversar. – Ela disse e percebi que se afastava da porta.
Levantei-me com muita preguiça. Não tinha a menor vontade de ouvir o que minha avó tinha a dizer. Apenas coloquei uma roupa e desci. A casa estava silenciosa e isso me incomodava um pouco. Quando meus pais eram vivos, a casa vivia cheia de sons, pessoas andando de um lado para o outro. Era uma agitação muito interessante. Eu sempre fugia em alguns momentos, mas confesso gostar muito dessa parte da minha vida.
Assim que cheguei à sala, notei meus primos sentados em silêncio. Marcel me olhou e abriu um singelo sorriso. “Cordial como sempre” pensei. Jeremy permaneceu com uma expressão fria e imprevisível em sua face. Seus olhos miravam o nada. “Provavelmente perdido em pensamentos ou tramando uma forma de me fazer mal” afirmei a mim mesmo enquanto tomava meu assento.
_ Muito bem! Agora que todos estão aqui, acredito que devam saber o motivo de estarem aqui. Ao menos, o real motivo. – Disse Albumena levantando-se e ficando em pé atrás da cadeira onde estava.
_ Pensei que o real motivo fosse agir algo sobre a morte dos meus tios! – Disse Marcel mostrando surpresa.
_ Vá em frente! O que viemos fazer aqui? – Perguntou Jeremy, desinteressado.
_ Nós, os Siren, não somos uma família tradicional! – Disse com firmeza.
_ O que?! – Exaltei-me.
_ Foi o que ouviram. Poucos de nós têm reais laços sanguíneos.
_ Não pode ser. O que você quer nos contar? – Perguntou Jeremy demonstrando algum descontrole.
_ Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados precisam de um grupo de pessoas leais, fortes e altamente capacitadas a lidar com espionagem. Uma seleção rigorosa e feita sob total sigilo escolheu um pequeno grupo de 7 pessoas, 4 homens e 3 mulheres. Essa escolha foi protocolada com dados falsos para encobrir a realidade. A este projeto foi designado o codinome Siren. É aí que a nossa história começa! Essas 7 pessoas iniciaram seus trabalhos para o governo, porém detectaram um certo mecanismo de falha. Um dos integrantes deste grupo, chamado de Joe Arbor, traiu os Aliados e tentava conseguir para si uma forma de controlar a guerra e o seu resultado. Algo parecido com mais um louco querendo dominar o mundo. Este homem conseguiu atrair dois importantes generais para o seu lado, formando assim a sociedade que chamamos de Trinos, atualmente. A guerra foi vencida pelos aliados, embora este grupo rebelde agisse internamente. Os civis jamais poderiam saber disso, senão sistema poderia ruir e algo ruim acontecer.
_ Isso é inacreditável! – Jeremy estava boquiaberto.
_ Assim começa a luta entre os Siren e os Trinos. Desde então, os 6 integrantes restantes se empenharam em formar uma frente de espionagem capaz de ajudar o Governo quando necessário. Eles casaram-se, tiveram suas identidades reformuladas ganhando Siren como sobrenome. E desde então, os jovens dessa “família” são treinados desde cedo para serem fiéis a ela e espiões de grande porte. Vocês são prova disso. Marcel, você sempre demonstrou um equilíbrio para liderar. Pude ver isso enquanto tentava salvar sua irmã.
_ Vovó, como a senhora soube? Elas contaram? Disse pra que não comentassem isso com ninguém. – Dizia Marcel, furioso.
_ Somos uma família de espiões, meu querido. Não há segredos entre nós. E, Jeremy, fez um ótimo trabalho ao chegar ao mandante da morte de seu pai. Não concordo com os meios que usou para obter essas informações, mas fiquei maravilhada com sua persuasão.
_ Obrigado! Eu acho… - Respondeu Jeremy, desconcertado.
Era difícil entender tudo aquilo. Mas isso explica a diversidade da família. Sim, todos eram muito belos, atraentes, tinham muitas armas úteis na espionagem, mas poucos se atreveriam a dizer que não eram da mesma família. Eu estava atordoado. A única coisa que fiz foi levantar-me de onde estava e ir direto para o meu quarto.
*****
Demorou muito tempo para assimilar tudo aquilo.
_ Garrat? Posso entrar? – Era Marcel na porta.
_ Entra.
_ Como você está, primo? – Perguntou enquanto se sentava em uma poltrona.
_ Acho que me recuperando de todas as revelações. Você sabia disso?
_ Não! Fiquei tão surpreso quanto você. Confesso ter ficado com um pouco de raiva. Danica correu risco de vida e eu quase fui morto duas vezes. Vovó não devia ter guardado esse segredo de nós. Tínhamos que saber com o que estávamos lidando. – Falou decepcionado.
_ E agora? – Perguntei.
_ Ela nos mandou chamar os outros que estavam envolvidos nisso tudo. Danica e Karen estão vindo. E… Tem algo que você devia saber… Para evitar problemas…
_ O que foi dessa vez?! – Gritei.
_ Jhon está vindo.
_ John? Quem é John?
_ Um amigo de infância do Jeremy. Ele o ajudou na investigação. Ele sabe… Todos os segredos do Jeremy. – Disse muito inseguro.
_ Droga! Vou ter que suportar o namoradinho desse infeliz debaixo do meu teto? – Falei exaltado.
_ Clama, Garrat! Eles não são namorados. Aliás, como você sabia que o Jeremy era gay? – Questionou-me confuso.
_ Ouvi comentários da parte dos meus pais. Um dia os ouvi dizer que o Jeremy tinha um amigo muito íntimo que o tratava muito bem, como um protetor. Não sou bobo. Juntei as peças e sei que é isso que ele é. – Disse irritado.
_ Cuidado, Garrat! Você pode se enganar muito ainda. Jeremy é uma caixinha de surpresas. – Disse enquanto desaparecia, fechando a porta atrás de si.
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Bonsoir, pessoal... Eu sei que havia dito uma coisa e fiz outra... Bem, tive meus motivos e atualmente estou de volta apenas para cumprir meu dever com os que lêem estas histórias... Mas a minha despedida definitiva da cdc já está tomada mesmo... Espero que gostem deste capítulo e comentem o que acharam do rumo da história... Dr. Romântico, acredito que este capítulo explica muita coisa a você, meu amigo... Um grande beijo a todos...
P.S.: O capítulo 1 foi reformulado... Leiam para entender os acontecimentos neste: http://www.casadoscontos.com.br/texto/