- E agora na passarela a nossa última candidata: Lady Diva!
Os alunos e todos presentes se perguntavam quem era essa tal de Lady Diva.
- Me deseje sorte! - Felipe pegou a mão de Cauê.
- Você já venceu.
Felipe, ou melhor, Lady Diva subiu na passarela e todos emudeceram. Alguns o reconheceram, outros ficaram na dúvida, mas todos concordaram que Lady Diva era uma bela mulher.
Felipe sentiu um frio na barriga, mas venceu o medo. Desfilou com toda a sua sensualidade e elegância arrancando aplausos e ovações do público.
Abel estava indignado:
- Mas que porcaria é essa? Será que o diretor não está vendo? Isso não é uma mulher nem um homem. É uma aberração.
- Aberração é você. Felipe teve mais coragem que muito homem mostrando o que é. - disse Cauê aparecendo derrepente.
- Melhor seria se ele nem tivesse saído do armário. Coitado! Vai sofrer muita humilhação.
- Felipe é forte.
- Ele não vai aguentar a pressão. Mal tem amigos.
- Ele tem a mim. - Cauê saiu deixando Abel a se perguntar o que havia entre ele e Felipe.
- Que bom! Agora tenho duas gazelas para perseguir. Ah, e não me esqueci do que fez com minha camisa. Era nova. - gritou para Cauê que já estava longe.
Depois de muitos corpos belos desfilarem chegou a hora decisiva:
- Senhoras e senhores! Atenção para o anúncio dos vencedores: Da categoria masculina o vencedor é... Ninguém mais que Patrick, o P-day do terceiro ano. Vale lembrar que é a sua terceira vitória consecutiva!
P-day recebeu a faixa de vencedor acenando para as meninas que estavam histéricas com sua vitória. Ele realmente era muito lindo. O locutor prosseguiu:
- E da categoria feminina a vencedora foi...
Existia uma tensão quase palpável entre o público que apreensivo não descartava a hipótese de uma surpresa no resultado. Depois de uma longa pausa o narrador finalmente concluiu sua frase:
- ... Lady Diva!
Todos os olhares mudos se direcionaram a Felipe que estava sem reação. Para ele desfilar já era uma vitória por isso foi pego de surpresa. Ao som de aplausos crescentes caminhou até o palco e recebeu a sua faixa de vencedor, quero dizer, vencedora.
***
No dia seguinte não se falava em outra coisa nos corredores da escola. A opinião como sempre muito dividida, mas Felipe se sentia feliz, importante, especial. Até entre os alunos do noturno o assunto era bem difundido:
- Então, Joaquim, o que você achou da vitória do Felipe?
- Não sei, Cauê, achei meio bizarra. Não simpatizo com travestis, mas adimiro a coragem dele. Vitória merecida.
O comentário animou Cauê pois afirmou mais uma vez que havia tolerância da parte de Joaquim a homossexuais já que ele havia engatado de uma vez o namoro com Janaína. O que reduzia suas chances a zero. Mas, ao invés de o sentimento por Joaquim desaparecer, Cauê sentia-se cada vez mais atraído:
- Uau, você tem uma letra linda. Nem olha pro meu caderno, que vergonha, cara! - Cauê o elogiou.
- Ah, bondade sua! Nem é tão bonita assim, a sua ganha.
- Jamais! Olha que garrancho!
Seus cochichos foram interrompidos por uma gritaria vinda do corredor:
- Abel, já pra diretoria! Chega, seu desordeiro! Tomara que pegue uma suspensão! - o professor Bruque estava roxo de raiva.
- Nossa, o que aconteceu? É o tal do Abel. Esse moleque é insuportável. Ei! O que está fazendo com meu caderno? - Cauê se assustou ao ver Joaquim escrevendo em seu caderno.
- Não gosta tanto da minha letra? Resolvi deixar uma marca. Lê.
- "Cauê e Joaquim, amigos para sempre!" - Cauê leu. - Que lindo, cara!
- Eu sei que é meio gay, mas gosto muito de você. É o meu melhor amigo.
- Sinto-me lisonjeado!
- Lisonoquê?
***
Na sala da direção Seu Lucas M. aplicava um sermão em Abel:
- Até quando você vai sustentar esse comportamento infantil? Temos que respeitar as diferenças. O professor Bruque sentiu-se altamente ofendido.
- Não sei por que ele se estressou tanto! Eu nem estava falando dele. Se se sentiu ofendido deve ser porque ele faz hora extra na esquina rodando bolsinha!
- O que é isso, rapaz? Mais respeito!
- Respeito? Como assim? Essa escola está toda errada! Ontem um garoto venceu a categoria feminina de um desfile. E só por não concordar com essa bagunça eu vim parar aqui. Tenho liberdade de opinião ou não?
- Tem, claro que tem. Mas você também tem que entender que o seu direito termina quando o do outro começa.
- Ah, mas que frase mais clichê!
- Damos liberdade a todos os alunos para defenderem o que quiserem dentro dos limites.
- Pois é, o Felipe ultrapassou os limites.
- Se não quisesse ter visto por que não ficou em casa?
- Se eu soubesse tinha ficado.
- Seu Lucas M., pode vir aqui um pouquinho. - uma secretária chamou-o.
- Estou indo. Abel, o seu caso não é digno de suspensão.
- Droga!
- Volte pra sala e reflita sobre o que conversamos. Um pouco de tolerância não diminuirá a sua sexualidade.
Seu Lucas M. entrou na sala da secretária e pela porta aberta Abel ouviu a conversa:
- Reconhecemos os dois alunos. São Cauê Tomazeli do terceiro e Felipe Nurks do segundo.
- Ótimo, mande chamá-los, preciso conversar com os dois. E cuide pra que esse vídeo não saia daqui da direção.
- Sim, senhor.
- Mas que vídeo? - Abel ficara curioso.
***
Abel havia pensado em muitas formas de entrar na direção e ver o tal vídeo, mas nenhuma era eficaz. Durante o período noturno só o Seu Lucas M. e sua secretária ficavam na direção. Como tirar os dois de lá? Olhou pela janela e viu o Seu Lucas M. saindo de carro. Era agora ou nunca. Quebrou o alarme de incêndio e todos entraram em desespero.
Durante a confusão viu a secretária sair da sala da direção. Entrou e, encontrando o computador ligado, inseriu seu pen-drive começando a procura pelo vídeo. Abriu um que estava bem na área de trabalho e xeque-mate! Era o dito-cujo.
Viu o beijo e exclamou:
- Então você é o Cauê? Me aguardem, bichinhas!
Copiou o vídeo e se levantou.
- O que faz aqui, Abel? - Seu Lucas M. o observava da porta.
- Nada! Eu só estava me protegendo do incêndio. - Abel escondeu rapidamente o pen-drive.
- Pode voltar pra sala, não existe incêndio algum. Alarme falso.
***
Depois que os ânimos se acalmaram os alunos foram dispensados mais cedo.
Cauê ficou esperando por Joaquim que apareceu atônito:
- Cauê, vem comigo!
- Pra onde?
- Vem, Cauê! - Joaquim mal olhava em seus olhos deixando nítido o nervosismo.
Caminharam em direção ao banheiro. A porta abriu-se e Joaquim entrou seguido de Cauê que tentava imaginar o que estava acontecendo, mas um golpe forte em sua cabeça embaralhou seus pensamentos.
Cauê caiu e dois garotos, até então escondidos atrás da porta do banheiro, meteram-lhe socos e pontapés sem dó nem piedade. Sem entender o que acontecia viu Joaquim assistir a cena desconfortato ao lado de Abel que entalhava um semblante triunfante.
- Pára com isso! Joaquim, me ajuda! Socorro!
O coração de Joaquim se espremia dentro do peito, seus olhos começaram a lacrimejar, mas ele disfarçou e continuou a assistir a cena:
- Já chega, Abel, você vai matar ele!
- Se eu pudesse eu mataria! O quê que foi? Tá com dó da bichinha?
- Eu só não quero problemas!
- Relaxa! Ei, vocês dois, já chega! Tragam-no aqui. Joaquim vai concluir o serviço.
- Por que estão fazendo isso comigo? - Cauê cuspia sangue.
- Tadinho dele! - Abel o esbofeteou - Isso é pela minha camisa! Eu faço porque odeio frutinhas como você.
- Covarde! Por que não me enfrenta sozinho?
- Porque não estou afim! Agora é com você Joaquim.
Joaquim não escondia o seu sofrimento.
- Joaquim! - Cauê chorou de ódio ao pronunciar o nome - Traidor! Vá em frente. Não tenha pena de mim.
Joaquim hesitou:
- Abel, ele já está todo quebrado, chega!
- Não o suficiente. Quero que faça isso.
- Vai, Joaquim! - Cauê gritou - Bate na frutinha! Na bicha! Mostre o quanto você é homem!
- Pára com isso, Cauê! - Joaquim estava enlouquecendo.
- Vai, anda! Você não é homem, não?
- Bora, Joaquim! Termina logo com isso. - Abel o aconselhou.
- Desculpa! - Joaquim sussurrou.
E socou Cauê.
Tudo escureceu.
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Vem, gente!
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