Como Chamas 1x19: LIDANDO COM A SITUAÇÃO.
- Bom, meu irmão se suicidou no inicio do ano passado. Cara, fiquei devastado, éramos muito ligados e eu não conseguia esquecer a dor ou seguir em frente.
Gregori tomou um gole da xícara de chocolate quente que preparei para nos dois. Estávamos os dois sentados com as pernas esticadas na cama. Eu apoiava meu peso todo em seu ombro.
- Simplesmente não conseguia suportar a dor, sabe? Então, conheci um garoto na praia e ele me deu meu primeiro trago.
Bebi um gole e queimou minha língua, mas não me importei.
Eu sabia que não era de cigarros que ele estava falando.
- Fiquei doidão durante todo o verão. Mas quando percebi, estava endividado com eles ate o pescoço e eu não podia pegar mais dinheiro com meu pai. Ele estava fazendo perguntas. O cara que vendia me perguntou se eu podia ajuda-los com uma coisa e tudo estaria quites.
Eu olhei rapidamente. Seu rosto esculpido olhava fixamente para a janela, parecendo estar a mil anos luz daqui. Mesmo de perfil, Gregori era lindo.
- E o favor deles era me machucar? Perguntei.
- Bem, me disseram o seu nome, mas só tive certeza quando fomos a sua casa.
Um arrepio desceu em minha espinha. Aquela lembrança terrível daquela noite ainda estava fresca em minha mente. Só de pensar em todo medo que senti meu estômago revirava.
Gregori colocou a xícara em cima do criado mudo ao lado da cama e passou um dos braços por cima dos meus ombros.
- Mas eu não quero machucar você. Tipo, nunca nós falamos durante todos esses anos de escola juntos, mas eu olhava para você. Sempre de cabeça erguida acompanhado da loira gostosa. As pessoas te veneram naquele colégio, e nem por isso você pisa nos outros. Gosto disso.
Dei um sorriso, sentindo minha face corar. O cara gato da minha antiga turma de química me achava legal? Fiquei surpreso, mas tentei não demonstrar. Ele estava exagerando, as pessoas da escola gostavam de mim por me acharem irônico e divertido, ou pelo menos era o que eu pensava. Alias, pra que pisar nas pessoas se você pode apenas ignora-las?
- Mas tem uma coisa importante, Dan. Eles estão armando algo grande para você.
- Tipo o que? Não tenho nada a ver com Mike.
- Agora é diferente. Querem te dar uma lição para você aprender que ninguém pode fugir deles. Juro cara, não sei como você conseguiu.
Larguei minha xícara ao lado da dele, sentindo o tremor de suas palavras.
- E eu não vou parar. Qualquer chance que eu tiver de fugir, eu vou fugir.
Gregori me encarou.
- Dan, não faça isso. Eles estão ficando irritados e... Acho que podem matar você e também....
- O que quer que eu faça?
As lagrimas vieram rapidamente e logo eu estava soluçando. Gregori desceu o braço ate minha cintura e segurou minha mão.
- Best, precisamos... Falou Marcie entrando no meu quarto de repente.
Sua expressão de susto teria me feito rir se fosse outra situação. O garoto que ela gostava estava com a camisa desabotoada, mostrando um pouco de seu peito liso e forte, e com os braços em volta de mim, com minhas normais roupas de dormir.
Ninguém disse nada por um tempinho, então me afastei de Gregori.
- Marcie não é...
- Sabia que ele tinha voltado e não me ligou? Ela me acusou.
Gregori se levantou da cama e andou ate ela. Mas Marcie ignorou seu abraço e continuou me encarado.
- Dan, como você pode?
- Como eu pude o que?... Olhei para ela e percebi que Gregori esteve com um dos braços na minha cintura e outro segurava minha mão. Grudados demais para uma conversa amistosa?
- Eca. Falei quando percebi o que ela quis dizer e pulei para fora da cama.
Gregori olhou para mim com cara de "Eca porque?", mas eu ignorei.
- Best, isso totalmente não é o que parece.
- Ah, não? Você não esta na cama abraçado com meu ex?
- Nos... Estávamos conversando. Gregori estava com vergonha de falar com você e veio ate mim para pedir conselho.
Fiquei surpreso e aliviado, mentir estava mesmo se tornando fácil demais. Eu tinha que parar, ou diminuir, afinal, pra que ter uma melhor amiga se você mente pra ela?
Marcie não parecia mais irritada, e sim confusa.
- Porque sumiu? Ela perguntou.
Como se passou muitos minutos e Gregori não respondeu, eu continuei com a mentira.
- O pai dele bateu nele e ele ficou cheio de marcas. Agora que sumiram e ele estava com vergonha de te contar.
Gregori me lançou um olhar mortífero. Outra coisa que eu dizia para prejudica-lo. Lamento, mas era isso ou ficar calado e deixar minha Best ir embora com raiva.
- Desculpe gatinha. Ele disse se levantando e abraçando-a.
Assiste a cena sorrindo, que fofo. Mas então a realidade me bateu a porta. Meu coração. Meu amor. Felipe.
Esperei anos por esse garoto e quando finalmente tive minha chance eu o chutei para longe. Se eu ainda não havia tido vontade de chorar, ela veio de uma vez.
- Best, tudo bem?
- Sim, sim. Esta tarde, acho melhor vocês irem.
Gregori me olhou por um segundo a mais, mas por causa de Marcie ele não disse nada. Minha amiga sorria ao fechar a porta do quarto.
Me deitei e chorei. Era só o que eu podia fazer.
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Eu não devia ficar tao triste por terminar com o Felipe. Eu que terminei e foi minha escolha. Eu o amava tanto e sabia o que quanto ele amava a família dele. No fundo, eu só queria que ele fosse feliz, estando comigo ou não.
- Somos amigos? Perguntou Alice me tirando do transe.
Levantei a cabeça e olhei para ela.
- Acho que sim. Porque?
Ela cruzou os braços, parecendo nervosa. Acho que nunca a tinha visto assim.
- Fui ate a casa de Felipe ontem e... Peguei ele chorando. Quando perguntei ele insistiu que não era choro e deu desculpas esfarrapadas, mas sei que era mentira.
Se eu estava triste antes, agora eu definitivamente tinha chegado no fundo do poço.
- Ele te conto alguma coisa?
- Não e para você ?
- Dan preciso que fale com ele. Ultimamente ele tem falado tanto de você que ate fiquei com ciúmes. Por favor!
Ela deu um sorriso sem humor. Segurei as lagrimas que queria chegar. Eu não podia dar bandeira na frente dela, seria obvio demais. Pobre Alice, vive tentando ajudar as pessoas e lá estava eu, ferrando com tudo nas costas dela.
- Vou falar com aquele idiota. Falei no tom mais natural que consegui. Ela sorriu e se afastou. Depois disso, fui chorar no banheiro. Onde era silencioso e vazio.
Eu não acreditava que ele estava chorando. A única vez que vi Felipe chorar foi quando ele e a mãe brigaram e ele ficou na minha casa por duas noites.
Fui para escola naquela tarde totalmente horrível. Vesti o uniforme, peguei a mochila, escovei os dentes e mais nada. Estava triste demais para fazer alguma coisa.
- Best, o que foi?
- Nada, só cansaso.
O problema de conversar com Gregori na noite passada era que agora eu estava ficando paranóico. As pessoas que olhavam para mim eram suspeitos em potencial. Tudo para mim era motivo de correr.
Nenhum lugar além de meu quarto parecia seguro agora. Fui para a enfermaria e peguei uma dispensa. Não tinha cabeça nenhuma para aula mesmo.
Ao chegar, o silencio me assaltou. A luz do corredor estava acesa e eu já sabia o que me esperava no andar de cima.
Entrei no quarto e vi Felipe sentado em minha cama, segurando uma foto. Na foto estávamos eu e ele meio abraçados na varanda de sua casa, em sua festa de aniversario. Ele havia me dado aquela foto na moldura que mostrei a ele em uma vitrine uma vez.
- O que você...
- Cala a boca, Dan. Você tem fugido de mim, falado as coisas que você queria e agora é minha vez. Ele me interrompeu.
Joguei a mochila no chão e me virei para ele.
Seus olhos sempre tão vivos e alegres estavam inchados e vermelhos assim como seu nariz. Seus lábios ainda pareciam super apetitosos. O cabelo não estava exatamente arrumado e ele havia colocado um bota ortopédica.
- O que ouve? Perguntei apontando para a bota.
- Me acidentei hoje mais cedo. Mas nao estou aqui por isso.
Ele se levantou e ficou de frente para mim.
- Eu entendi o que aconteceu. Você quis terminar tudo entre agente porque eu não disse que te amava de volta naquela noite. Sinto muito Dan, mas eu não podia dizer aquilo ainda. Amo estar com você, mas a Alice...
Ele suspirou e eu tentei engolir o choro. Algumas lagrimas vinham, mais não me importei. Tudo estava desabando mesmo, eu podia chorar um pouco.
- Dan, tudo é muito mais fácil com ela. Como se fosse feito para dar certo. Mas quando to com você, tudo que eu quero é te fazer feliz. Gosto de quando sorri para mim e fico maravilhado com seu jeito de ser. Só que...
- Parecia tudo um erro. Eu completei e ele não me corrigiu.
Agora eu soluçava. Já tinha entendido o rumo daquela conversa e, apesar de sempre saber daquilo, estava partindo meu coração.
- Voce não estava errado em terminar. Eu chorei por você, nunca chorei por Alice. Nosso lance esta me consumindo e eu perdi o controle. Não posso ser assim.
- Entendi. Você quer terminar porque esta começando a ter sentimentos por mim... Falei.
- Tecnicamente foi você que terminou.
Levei alguns segundos para realmente entender o que aquilo queria dizer. A ideia se formou rapidamente e me ocorreu algo naquele momento e fúria encheu meu peito. Eu não podia acreditar naquilo.
- A idéia nunca foi ficar comigo, foi?
Felipe não respondeu, apenas me olhou, confirmando minha teoria.
Ele nunca planejou ficar comigo, havia mentido e me enrolado para conseguir me pegar. Tudo bem, eu sabia que ele era capaz disso, mas logo comigo? E todo aquele papo de confiança e honestidade?
- Dan, eu não queria que fosse assim. Pensei que pra você não era nada.
- Não era nada? Seu idiota eu disse que te amava!
Ele não respondeu, apenas me deu as costas. Uma vez, um gay em um bar havia cantado o Felipe na minha frente e da Alice, ele logo pareceu enojado e havia feito a mesma colara que fez agora.
Se eu tinha algum orgulho, amor, ou vontade de viver eu tinha perdido naquele olhar. Nada nunca me machucou tanto. Felipe estava mesmo com nojo dos meus sentimentos por ele?
- Sai agora da minha casa e da minha vida. Falei abrindo a porta.
Eu já tinha tido varias conversas sobre meus sentimentos com o Felipe. Ele sabia que eu morria de medo de ter o coração partido. E mesmo assim ele me usou e eu deixei. Eu merecia aquela dor.
- Você não pode me afastar. Somos melhores amigos. Insistiu ele.
- Nós fomos. Mas o garoto de quem eu era amigo nunca faria isso comigo. Não conheço você e não gosto de estranhos na minha casa ou na minha vida. Então some de uma vez! Gritei.
Felipe saiu e eu desabei.
De todas as coisas que aconteceram essa foi a pior. Eu pensado que estava magoando ele e era o contrario. Fui usado sem menor pudor e me deixei levar. Bem feito, havia outros dois garotos ótimos atras de mim e chutei todos eles para longe por causa de Felipe e agora ele estava me chutando.
Voltei para o computador e vi que o usuário falso de Mike estava online e então mandei a ele uma mensagem:
VENHA ATE A MINHA CASA O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL. TENHO UMA IDÉIA PARA RESOLVER ESTA HISTORIA DE UMA VEZ POR TODAS.