A História de Caio – Parte 18
- Se meus poderes de observação estão em perfeito estado, eu diria que vocês se conhecem muito bem. - Falou Yoh rindo das caras embasbacadas minha e do Daniel.
- Ele é do meu colégio, yoh. - Falou Daniel, enquanto se levantava. - Tudo bem Caio? - Completou apertando minha mão. - Senta aí, a casa não é minha mas a boca é.
- Tudo bem. - Respondi me recompondo. - Mas melhor eu deixar vocês conversarem. Yoh, se quiser posso ir pra casa.
- Claro que não. - Respondeu Daniel pelo amigo. - Pode ficar cara, eu vim só trocar umas idéias, e não é nada de mais não. Na verdade, queria só filar um almoço. O Yoh cozinha bem pra caramba.
Os três rimos.
- Vamos almoçar os três então. - Sentenciou Yoh. - E quero ouvir direitinho essa história de vocês se conhecerem.
- Melhor você nem saber. - Falei. - O seu grande amigo Daniel é um insuportável que vinha me enchendo o saco desde que começaram as aulas, só melhorou depois que dei um soco nele.
- Poxa, cara. Eu pedi desculpas. E nem descontei o soco. - Comentou Daniel envergonhado. - Queima meu filme com o meu amigo não.
- O Daniel me falou de você Caio. - Interviu Yoh. - Ele disse que você se achava por jogar basquete bem mais era uma baratinha e ele ia mostrar quem era o bom em dois tempos. Mas ele não fez por mal, eu conheço ele há muito tempo e sei que possui um senso de competição muito apurado, não foi nada pessoal. Embora talvez isso não alivie a situação.
Yoh sinalizou para eu e Daniel sentarmos enquanto ele colocava as coisas na mesa, fiquei impressionado de como o Daniel parecia envergonhado de me ver ali. Notei que ele fica muito bonito quando está assim, parece aquele ar de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança. Fazia muito tempo que não conseguia observar os traços de beleza dele, só os de chatice, fiquei com pena daquela carinha triste e quando o o Yohan sentou-se com a gente para almoçar, resolvi quebrar a tensão.
- Mas está tudo bem agora, eu esqueci tudo e entendi as desculpas do Daniel. No lugar dele e com a tensão que ele passou eu talvez tivesse sido mais agressivo ainda, porque eu sou meio pavio-curto, como ele teve a oportunidade de experimentar.
- Acho que você deslocou meu maxilar, seu maluco. - Falou ele abrindo um sorriso. - O Yoh achou bem feito o soco também, lembra Yoh?
- Em qualquer situação, ameaçar nunca é uma coisa digna. - Completou Yohan. - Obrigado por ter entendido o Dan, Caio. Pode não parecer mas ele tem um coração de manteiga.
A comida era uma macarronada muito deliciosa, tinha tanta coisa dentro que eu nem quis saber os nomes dos ingredientes, mas eu comi tanto que bateu uma dor na consciência e pensei em voltar para a academia. Nós três limpados completamente a panela de macarrão e de molho, restando apenas vasilhas limpas na cozinha. Após o almoço falei novamente em ir embora mas o Daniel novamente não deixou. Pelo que vi ele não chegou a falar nada do problema que estava sentindo para o Yohan e nem parecia preocupado com isso. Fiquei pensando feliz que minha presença o tinha feito esquecer a angústia em que se encontrava. Ele me tratou tão mal e naquele momento acabei fazendo bem a ele.
A amizade dele e do Yohan era algo de se admirar, era notório que se importavam muito um com outro, eu diria que pareciam irmão, se minha própria relação com meu irmão não fosse um desastre. Eles possuíam uma intensa e verdadeira amizade que era difícil de se ver, principalmente nos tempos atuais onde até as relações são descartáveis. Fiquei curioso de saber mais sobre os dois, anotei isso mentalmente para perguntar ao Yoh quando estivéssemos a sós.
O Yohan nos chamou para assistir filmes novamente e vimos 3 filmes seguidos, os três deitados na cama. Eu sentei com o Yohan como um casal e o Daniel sentou no outro lado da cama sozinho. Após o terceiro filme eu realmente precisava ir para casa. Resolvi me despedir dos dois:
- Yoh e Daniel. - Comecei. - Está ótimo esse ménage da gente aqui mas eu realmente preciso ir para casa. Tenho coisas a terminar a amanhã tem aula. Não precisa se incomodar Yoh, eu pego um táxi.
- Também tenho aula e não estou com pressa. - Falou Daniel.
- E como andam suas notas? - Alfinetei.
- Quem é o agressivo agora? - Retrucou sorrindo. - Yoh, então vou chegar nessa também e levo o senhor zangadinho pra casa. Sei onde ele mora.
- Tudo bem, tentem não entrarem em luta corporal durante a viajem ok? - Respondeu Yoh tirando sarro dos nossos atritos.
Antes de sair, com o Daniel já na porta o Yoh me chama. Vou até ele e sou puxando para um beijo super molhado, Daniel fingiu estar olhando para algo fora do apartamento quando percebeu.
- Está tudo bem com você? - Perguntou Yohan descolando seus lábios dos meus.
- Não, só senti falta de ganhar beijo durante o dia.
- Não queria que o Dan se sentisse deslocado. - Justificou ele. A gente não foi comprar nada para aquele problema, você está bem?
- Estou sim, não se preocupa. - Falei mentindo pois ainda estava muito dolorido pelo sexo. - Te cuida.
- Te cuida também. - Se despediu me soltando e acompanhei o Daniel descendo as escadas.
- Você era a última pessoa que eu esperava encontrar aqui sabia? - perguntou Daniel tão logo nos afastamos do Yohan.
- Também fiquei surpreso em te encontrar, nunca ia sonhar que um cara legal como o Yohan tivesse um melhor amigo chato como você.
- Escuta, você nunca vai me perdoar não? - Perguntou ele parando bruscamente nas escadas e me segurando pelo braço. Fiquei surpreso.
- Daniel, cara, já perdoei. Não precisa ficar chateado. - Falei rispidamente, mas ao notar a cara de tristeza dele mudei o tom. - Desculpa, não sabia que isso te atingia. Eu entendi o que você fez, vou procurar não ficar mexendo nessa ferida certo?
- Certo. - Respondeu ele me soltando e continuando a descer as escadas.
Ficamos em silêncio até chegarmos em seu carro, que estava parado em frente ao prédio do Yoh. Percebi que ele havia dado uma organizada.
- Muito bem, carro exemplar.
- Olha as coisas melhorando. O senhor zangadinho está aprendendo até a me elogiar. - Respondeu sorrindo enquanto dava partida. - Você está namorando o Yoh ou algo assim? Indagou ele mudando completamente o tom da conversa.
- Ele é seu amigo, se eu fosse o novo namorado dele você saberia não é?
- É, saberia sim. Mas digo porque pode ser algo recente, tipo, da última noite para cá, vocês dormiram juntos e tal, deu pra perceber.
- A gente se conheceu a pouco tempo e foi a primeira vez que ficamos, não que seja da sua conta né Daniel? Era para você saber coisas do tipo por ele e não por mim.
- Eu ando com tanta neura na cabeça ultimamente que ele anda me ouvindo muito mais que eu a ele. Por isso fiquei tão assustado, imaginei se ele não tinha começado a namorar sem nem me falar nada. Eu fui hoje lá para contar o lance do colégio, eu vinha escondendo dele a história real dessas brigas que a gente teve. Dizia sempre que você era um otário para ele me apoiar mas resolvi abrir a real para ele, dizer que eu que estava sendo otário com um cara legal como você.
- Obrigado pela parte que me toca. Dan, posso te chamar assim? Achei muito bonito. Posso perguntar uma coisa?
- Claro. - Respondeu ele sorrindo. - Claro que pode me chamar de Dan e claro que pode me perguntar.
- É uma coisa meio íntima. Você acha que eu tenho chance com o Yohan, de rolar algo sério? Por favor, não diz a ele que te perguntei isso, é que ele é assim tão misterioso, acho difícil saber o que ele pensa.
- Não sabia que se subestimava tanto assim a si mesmo. Para um cara que se acha tanto por jogar basquete, não entender suas melhores qualidades. - Criticou ele.- Qualquer um ia querer ter uma chance com você. Qualquer um.
Foi a minha vez me ficar envergonhado. Fui salvo pelo gongo porque ele tinha acabado de chegar em frente ao meu prédio. Agradeci a ele pela resposta e a carona e pulei do carro.
Subi pelo elevador com duas coisas na cabeça. A resposta que o Dan acabara de me dar e a dor que eu não parava de sentir atras. Fiquei pensando em nomes de pomadas analgésicas para pedir na farmácia, como não pensei em nenhuma, decidi que assim que chegasse olharia na internet o nome de algum medicamento. Sempre dava tempo para pensar algo no elevador porque eu morava na cobertura. Respirei fundo quando parou de subir, as portas abriram e fiquei aliviado de não ver ninguém na sala. Subi para o meu quarto e estava abrindo a porta com a chave quando ouvi um tilintar atrás de mim.
- Bom que você chegou antes que eu saísse. - Era a voz do Carlos.
Ignorei completamente.
- Não precisa olhar, basta ouvir isso. - Novamente o tilintar e percebi que era de um molho de chaves. - Sabe o que é isso? As chaves novas do meu novo AP. Papai mandou arrombar e trocar todas as fechaduras. CHUPA ESSA VIADINHO DO CARALHO.
Continua....