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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
http://romancesecontosgays.blogspot.com.br/a-historia-de-caio-leitura-on-line-e.html
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Acho que a Parte 24 merece um comentário a parte. Obrigado aos acompanharam essa história até esse capítulo cujo número é tão especial para a nossa classe. Hoje é o dia do homem. Então dedico esse capítulo a todos os que são homens o suficiente para encarar essa sociedade hipócrita em que estamos inseridos e viver o amor do jeito que o coração manda. Amar é o maior mandamento de todos. Privar-se dele, se não é, deveria ser o maior dos pecados.
Boa noite e espero que curtam.
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Eu gelei dos pés à cabeça com as palavras de Mário. Eu mal tinha entrado em casa. Nunca ia dar tempo. Decidi não perder tempo e seguir direto para o escritório de mamãe.
- Mário, me segue. Eu preciso muito de ajuda. - Falei enquanto subia correndo e ele me seguia.
O estado interno da mansão era deplorável, mas pouco tive tempo para me ater a detalhes. Só via poeira por todo lado e onde pisava ficavam as marcas dos meus pés. E agora, também dos pés do Mário.
Fiquei tão nervoso diante da porta do escritório que o Mário tomou as chaves da minha mão e abriu. Estava tudo exatamente como eu me lembrava, aquela casa simplesmente parou no tempo, no dia que minha mãe partiu. Seus livros cuidadosamente arrumados em prateleiras que cobriam todas as paredes. Vários quadros em locais estrategicamente colocado para valorizar o ambiente. Pude ver o centro do escritório um quadro de Portinari, o preferido de minha mãe. Havia sido presente de casamento da minha avó paterna. A velha era rabugenta mas sabia dar presentes, pensei rindo.
- Caio, seja lá o que você estiver procurando, precisa se apressar. - Me alertou Mário, arrancando-me dos meus devaneios.
- Desculpa. E obrigado por me ajudar. Obrigado mesmo, você não vai se arrepender disso. Pode ter certeza. Eu preciso abrir o cofre.
Sabia que o cofre ficava atras de uma papiro egípcio emoldurado. Fui até ele movi um mecanismo na parede que o fez mover-se para frente. Precisei forçar porque a dobradiça estava completamente emperrada.
Lá estava o cofre diante de mim. Era um cofre de porte pequeno. Verifiquei bem e ele abria com uma senha de 16 números, vi algumas vezes mamãe abrindo-o. Parecia tão simples e fácil. Ela teria deixado a senha com alguém? Talvez com o advogado, talvez ele tivesse ido até nossa casa para abrir o cofre e tirar o testamento. Sim, isso fazia bastante sentido.
Haveria alguma dica ao redor sobre como abrir? Tal pensamento me ocorreu mais logo o achei ridículo. Cruzes, Caio, você não está em um livro do Dan Brown. Aqui é vida real, você precisa saber abrir o cofre ou simplesmente seu esforço não terá valido para nada. Eu seria espancado por aquilo. Deuses, tinha que ter algum resultado.
- O Osvaldo acabou me falar pelo rádio. - Me advertiu Mário. - Ele disse rindo que o Caio prometeu te dar uma pisa na frente de todo mundo.
Era esperado, ele ia me humilhar, eu tinha que pensar em como sair dali com aquele testamento se o Carlos chegasse antes. No meu desespero eu recorri à última pessoa que recorreria em qualquer situação. A pessoa que conheço para quem é pior se dever qualquer tipo de favores. Mas não tinha solução, também era a única pessoa capaz de me proteger de levar a maior surra da minha vida. Peguei o telefone e liguei. O Mário ficou branco como cera ao perceber com quem eu falava.
Resolvi me concentrar no cofre. Tentei dia e mês de nascimento dos filhos e do marido. Primeiro o marido, depois cada filho na ordem de nascimento. NADA.
Tentei a data de nascimento dela e a data do casamento. Sim, eu sabia essa data. Mas tampouco obtive resultado.
Tentei as datas de nascimento dela e do papai. Cruzes, eu já chorava de desespero. O Mário me olhava e notei que sentia muita pena do meu esforço.
- É verdade que tua mãe gostava mais de ti que dos outros? O cara do jardim e a Fi que costuma vir limpar a varanda diz que ela era muito boa.
- Ela era perfeita. Ela deixou uma coisa aqui que não querem que ninguém saiba.
- E você não faz idéia da senha?
- Não. Já tentei de tudo.
- Tentou algo de você? Se ela gostava mais de você, deve ter colocado algum numero a ver contigo na senha.
Como eu não tinha pensado nisso. Devia ser o desespero. Algo relacionado a mim. Algo relacionado a mim. Coloquei os dígitos do meu nascimento completo. Não fechavam 16 números. Completei com o nascimento da minha mãe com o coração na boca. Abre. Abre. Abre. CARALHO. Não abriu.
Podia ser o contrário. Deus. Tomara que não tenha um limite de tentativas. Coloquei a data de nascimento dela. Depois coloquei a minha bem lentamente e confirmei. Ouvi um leve estalo no mecanismo de fechamento e a porta estava aberta. SANTO MÁRIO.
Falando nele, mal abriu o cofre, ele me puxa o braço e diz.
- Olha rápido. Ele acabou de chegar. O teu irmão. Já está lá embaixo.
Olhei o cofre. Pensei que ele estaria abarrotado de coisas. Papéis ou joias ou coisas assim. Mas lembrei que a doença de mamãe foi lenta. Ela certamente esvaziou tudo que não era necessário daquele lugar. Havia apenas um volume lá dentro. Um pacote que a primeira vista parecia um envelope pardo. Mas quando o peguei notei que era um pacote de couro costurado à mão. Em cima havia um papel escrito:
“Este envelope contém o testamento cerrado de Dolores Maria D. B. A, devendo ser aberto perante as autoridades responsáveis em caso de seu falecimento”.
Continha ainda algumas outras regrinhas escritas e o papel era timbrado de um cartório. Não cabia em mim de alegria. Tinha achado o testamento.
Minha felicidade durou cerca de 5 segundos, até ouvir os barulhos de vários pares de pés entrando apressados na casa.
- Mário, por favor. Eu estou te devendo várias. Mas vou dever mais uma. Esconde esse envelope na tua farda. Eu pego contigo quando você sair do trabalho. Que horas você sai? - Perguntei enquanto fechava o cofre novamente e colocava o papiro no lugar.
- Eu saio meia noite. Me dá ai. - Ele pegou o envelope e enfiou embaixo do grosso tecido de sua farda de vigia. Ouvi o grito de meu irmão.
- CAIO. Onde você estiver, venha para cá agora que será melhor para você.
- Me dá teu celular, Mário. - Pedi tirando meu celular do bolso com a mão tremendo, mas consegui anotar de forma correta. - Vamos sair daqui.
Desci pelo corredor enquanto o Mário fechou o escritório. A mansão possui uma sala imensa que é dominada por uma escada em curva que leva até o segundo nível. Do alto desta escada avistei Caio e mais 5 seguranças lá embaixo. Osvaldo e o outro que estava com ele. Outro dos que faziam a guarda da casa e dois seguranças particulares dele. Sim, enquanto eu andava de ônibus, esse energúmeno passeava pela cidade de segurança particular.
- Carlos. - Falei fingindo calma. - Que surpresa você também vir até nosso lar neste dia. Osvaldo, meu filho, creio que não seja prudente trazer todos os seguranças aqui para dentro. Quem está vigiando os muros.
Osvaldo não respondeu, mas Carlos subiu as escadas rapidamente e ao ficar de frente para mim me deu o maior tapa que já levei na minha vida. Cai sentado na escada enquanto Mário chegava por trás de mim no alto da escada.
- SEU VIADO FILHO DA PUTA. - Gritou Carlos. - Sabe o tamanho da encrenca que você me arrumou? Eu sou responsável por tudo quando o papai não está. Ele vai me matar por ter deixado você entrar aqui. Mas antes disso, eu vou te matar seu miserável. - Vocês dois, levem ele até lá embaixo. - Falou ordenando a seus dois seguranças.
O Mário olhou para mim como quem pergunta se eu quero defesa. Eu fiz que não, não queria ele oficialmente metido na encrenca. Ele precisava sair dali com aquele testamento. Os próprio seguranças de Carlos hesitaram um pouco em cumprir a ordem, mas diante do olhar furioso do patrão, resolveram obedecer. Mas os dois realmente procuraram ser o mais delicados que puderem comigo, não queriam se meter em problemas.
Não resisti a eles, segui segurado pelos dois braços até lá embaixo. Mal cheguei diante de Osvaldo e os outros, levei um soco no estômago de Carlos. Cai no chão sem fôlego e chorando.
- Agora, seu viadinho, eu vou mostrar pra todo mundo aqui, quem é que deve ser obedecido e quem não vale bosta nessa família. - Falou me levantando pelo colarinho da minha camisa.
Foi então que eu ouvi um TOC. O barulho vinha da varanda. O Carlos de início não percebeu nada, mas quando o barulho se repetiu. TOC. TOC. TOC. Ele também soube do que se tratava. E não houve margem para dúvidas quando ouvimos uma voz claramente dizer.
- Me chamam sem fazer uma faxina nesse cabaret. Siga na frente, Lu.
Percebi que o sangue fugiu do rosto de Carlos. Que ficou repentinamente pálido como um cadáver. Pior ainda era o estado do Osvaldo, ele certamente sairia correndo de tanto nervosismo. Eu e o Mário estávamos de boa porque era por nós esperado e os demais seguranças da casa e do Carlos não sabiam de quem se tratava.
Os olhos castanho claros de Caio me encararam num misto de medo e fúria, como quem me pergunta se fui eu que tive a coragem de provocar aquela visita. Percebi que em seus olhos estava estampado a pergunta se não era alucinação o que ele ouvia, mas a própria realidade tratou de rasgar-lhes as ultimas ilusões quando nossa visita adentrou na sala vociferando.
- QUE DIABOS DE BARBARIDADE É ESSA NESSA CASA?
Continua ...