O CASTELO DE CARTAS
Priscila era uma mulher feliz. Aos quarenta e oito anos sentia-se realizada. Vinte cinco anos de casamento com Victor representaram uma experiência única, premiada com dois filhos lindos. Casa própria, vida estável, tudo perfeito! Ela realmente não tinha do que reclamar. Seu marido era um homem gentil, carinhoso, preocupado com seu bem estar e ainda apaixonado por ela após todos aqueles anos de casamento. Mesmo nos dias em que chegava muito cansado após um longo dia de trabalho, Victor fazia questão de conversar com sua esposa, tomarem um aperitivo e jantarem mantendo uma aura de intimidade que acabaria em um sexo gostoso e bem aproveitado. E no dia seguinte, Victor acordaria Priscila com beijos em sua nuca despedindo-se dela para sair para o trabalho. Enfim, tudo era um mar de rosas e o barco chamado casamento navegava em águas calmas, algumas vezes tórridas e sempre tranquilas.
Priscila também tinha sua atividade profissional de consultora que podia ser exercida à distância, e extraía dela o máximo de realização possível, tornando-se uma pessoa mais completa e mais feliz a cada dia. Tudo era mais que perfeito, e ela não podia sequer supor que algo de ruim pudesse rondar seu casamento. Dividindo seus dias entre o trabalho, a academia de ginástica, as compras do lar e algumas colaborações filantrópicas, Priscila tinha a certeza de que sua vida era muito boa e que jamais aconteceria algo que pudesse enegrecer essa felicidade.
Todavia, o que ela desconhecia por completo era o fato de que Victor envolvera-se com outra mulher. Não uma mulher mais jovem, nem mesmo uma mulher mais bonita ou profissionalmente mais bem sucedida que Priscila, … apenas uma outra mulher, uma mulher envolvente, sedutora e com uma sensualidade toda especial, que sabia vestir-se para atrair um homem e que, na cama, era capaz de gestos e comportamentos os mais inesperados possíveis. Uma mulher que não era doce como Priscila, mas arrebatadora como uma amante deveria ser: disponível, sempre pronta para uma trepada melhor que a anterior e disposta a tornar a vida de Victor muito mais surpreendente que o casamento poderia ter-lhe proporcionado até aquele momento. Um mulher pronta a realizar todos os desejos e fantasias de um homem de meia idade e que a cada encontro propunha algo novo, algo diferente para que os dois pudessem usufruir de seus corpos sem limites, sem pudores e sem hesitações.
E a bem da verdade, fato era que Priscila poderia passar o resto de sua existência sem tomar conhecimento da existência dessa mulher – cujo nome era Teodora – continuando sua vida em comum com Victor e sentindo-se a mulher mais amada e respeitada que se poderia supor existir. Mas o destino sabe como ser cruel em certas ocasiões, tomando desvios que fazem com que uma sucessão de acontecimentos desaguem em uma tragédia do cotidiano moderno, onde um e-mail perdido, um acesso a uma rede social, ou mesmo uma mensagem de texto esquecida no celular podem muito bem tornarem-se o pomo da discórdia que mata uma relação aos poucos e em absoluto silêncio.
O que aconteceu ao certo ninguém virá a saber com precisão quase noticiosa. O que se sabe é que Priscila descobriu a existência de Teodora, como também descobriu o envolvimento dela com seu marido. O primeiro momento foi um misto de dor, ódio, revolta com a atitude do marido que foi sucedida por uma enorme e incontrolável sensação de fracasso. Priscila achava que ela havia fracassado e que seu casamento estava desabando por sua culpa exclusiva. Ela imaginava que Victor aventurara-se com outra certamente porque algo em casa estava faltando, … algo que ela não era capaz de proporcionar ao marido e que este preferiu procurar em outro lugar, … em outra cama, … em outro corpo!
Teve vontade de correr ao encontro de Victor, e fazer um escândalo, deixando-o em uma situação o mais embaraçosa possível, destilando uma ponta de vingança que se perpetuaria por muito tempo. Algum tempo depois, pensou que o melhor seria pressioná-lo quando estivessem em casa, a sós, em um ambiente mais íntimo, onde eventuais arroubos, crises, choros e gritos poderiam ser conservados longe de olhares estranhos e curiosos. Priscila sentia-se destruída por dentro, sentia que seu coração estava prestes a explodir e que o ar iria, em algum momento, ser insuficiente para mantê-la viva. Seu peito doía, suas mãos estavam frias e trêmulas e ela não conseguia esboçar qualquer reação seja física ou mental. E quando a enorme onda de ressentimentos dispersou-se em sua alma, Priscila desabou sobre o sofá da sala e ali ficou por horas, sem demonstrar qualquer reação, qualquer sentimento, qualquer vontade. Seu mundo havia ruido e todas as certezas haviam desaparecido como num passe de mágica.
Quando o final da tarde daquele dia se aproximava, Priscila havia finalmente conseguido ordenar suas ideias e mentalizar uma forma de abordar seu marido sobre aquele assunto desagradável porém verdadeiro. Victor chegou como sempre, simpático, afável e carinhoso, encontrando Priscila em um estado de torpor assemelhado ao de um morto-vivo sem expressão facial e sem qualquer reação. Victor pareceu ter percebido o ânimo de sua mulher e como todo o homem que sabe o que está fazendo de errado, pensou que o melhor seria esperar que ela tomasse a iniciativa. E se isso realmente viesse a ocorrer a reação seria aquela que sempre se espera de um marido traidor – a negação veemente e resoluta quanto aos fatos – proporcionando a possibilidade de minimizar a situação evitando um desastre de maiores proporções.
Priscila, por sua vez, não sabendo bem o que fazer, preferiu evitar um confronto imediato, e procurou agir dentro da normalidade que lhe era possível. Ela preparou o jantar enquanto Victor – como era de seu hábito – pôs a mesa esperando por sua companheira para que pudessem apreciar a comida. E o jantar transcorreu em uma atmosfera pesada, silenciosa e dolorosamente ressentida. Priscila tinha vontade de gritar, de chamar Victor de traidor, de falso, de dissimulado, … porém, ela sabia que ele não sabia que ela sabia sobre a existência de Teodora. Quando terminaram, ela preferiu retirar-se para um lugar onde ficasse longe de seu marido. Correu para a edícula que ficava nos fundos da casa e trancou-se lá, esperando que Victor fosse logo para a cama e ela não mais precisasse olhar para ele; o sentimento era um misto de nojo e de ódio por seu marido – não pela traição, mas muito mais pela capacidade dele em dissimular sua relação com outra mulher – e queria do fundo de seu coração não vê-lo mais naquela noite. Afinal, Priscila precisava organizar suas ideias e meditar sobre o que fazer.
A tristeza, mesclada com ódio, ressentimento e dor fez com que Priscila adormecesse na edícula, deitada em um velho sofá esquecido. E durante o sono, ela sonhou: sonhou com Victor totalmente despido em frente a uma mulher que ela jamais havia visto antes. Uma mulher voluptuosa, sensual, cujo corpo parecia ter sido concebido pela própria deusa Afrodite apenas para enlouquecer os homens. Uma mulher pronta para o sexo, … pronta para fazer tudo o que Victor desejasse, tudo que ele imaginasse, … enfim, tudo que lhe desse o máximo de prazer! Victor olhava para ela com um olhar guloso, sedento de tê-la em seus braços, dominá-la, submetê-la, fazer dela apenas e tão somente o mais obscuro objeto de seus desejos. As mãos dele percorriam sua pele com sofreguidão, apertando seus seios firmes, alisando suas nádegas roliças, provocando-a como um homem faz com uma mulher, esperando que ela revidasse, que ela agisse, … e foi isso que ela fez, …. exatamente isso!
A tal mulher jogou Victor violentamente ao chão e subiu em seu dorso, esfregando sua boceta no pau duro dele, porém evitando a penetração. Tratava-se apenas de uma provocação estimulante. Ao mesmo tempo, a língua dela percorria o dorso dele, alternando chupadas com pequenas mordidas que pareciam, excitantes e também dolorosas. Seus seios pendiam sobre o rosto dele, mas toda a vez que ele tentava abocanhar um dos mamilos entumescidos, ela se esquivava em um jogo de sedução e dominação que demonstrava explicitamente quem estava no controle da situação. Victor se deliciava com toda aquela provocação velada, aquele jogo de sedução e de dominação, onde a fêmea dita as regras, fazendo do macho o que bem entender, dando e tirando, provocando e deixando-se ser provocada.
Priscila que naquele cenário onírico era apenas uma mera observadora, não conseguia entender direito o prazer que seu marido sentia em ser desejado e desprezado ao mesmo tempo, em ter e depois perder, … sem dúvida era um jogo, mas um jogo cruel e dolorosamente triste. Ela não compreendia o que havia de excitante naquele manipulação. E enquanto ela pensava (ou pensava que pensava enquanto sonhava), a tal mulher continuava provocando Victor, tomando-lhe o pênis enrijecido nas mãos e aplicando-lhe uma vigorosa punheta que esticava o prepúcio apertando a base até que a glande inchasse ao ponto de dobrar de volume. Aqueles movimentos brutos e aparentemente dolorosos apenas estimulavam ainda mais o parceiro de Priscila que parecia tomado por uma onda de absoluta insanidade, demonstrando em feições, gestos e palavras desencontradas que tudo aquilo era extremamente prazeroso para ele.
Repentinamente, a tal mulher levantou-se saindo de sobre o dorso de Victor e caminhou na direção de Priscila que sentiu-se imobilizada pelo olhar duro e forte de sua oponente. Ela caminhou lenta e decidida na direção de Priscila e em pouco tempo estavam uma frente à outra. Priscila sentia-se constrangida. Primeiro porque estava vestida enquanto sua intercessora estava completamente nua! Em segundo porque por alguma razão desconhecida para ela aquela presença dominadora e sensual causava-lhe uma estranha excitação …, uma excitação que Priscila jamais sentira, mas que naquele momento era algo tão forte e inesperado que sua mente e sua alma estavam totalmente dominados por ela. Aqueles olhos azuis, de uma dureza quase metálica, pareciam penetrar dentro de Priscila, vasculhando e procurando por alguma coisa que nem mesmo ela conseguia saber do que se tratava, enquanto sua altivez e controle colocavam a jovem em uma absurda situação de submissão quase escravizante.
Mesmo assim, Priscila sentia que aquela situação – mesmo que onírica – havia causado uma excitação sem par. Ela percebeu que sua vagina estava tão úmida que ela podia sentir o líquido escorrer entre a parte interna das suas coxas. A tal mulher fitou-a por alguns instantes e, com uma rapidez impressionante, desferiu-lhe um sonoro tapa no rosto que fez com que Priscila fosse ao chão ficando de joelhos em frente à sua agressora. As lágrimas correram por seu rosto e ela sentiu-se impotente, completamente dominada por aquela mulher forte e exuberante. E nesse momento em que ela lamentava seu infortúnio, Priscila sentiu a mão daquela mulher acariciar suavemente seus cabelos, do mesmo modo como um dono afaga seu animal de estimação. Era um carinho incomum, mas ao qual Priscila correspondia de uma forma que sua mente não conseguia assimilar.
Totalmente quebrada em alma e espírito, Priscila sentia-se nas mãos de sua agressora como um mero objeto a disposição de seus desejos e malícias. Ela não sabia o que pensar e muito menos o que fazer. A mesma mão que afagava os cabelos dela, em um movimento rápido e determinado, agarraram-nos vigorosamente, forçando o rosto para cima impondo à Priscila a obrigação de encarar sua agressora. Aqueles olhos azuis brilhantes pareciam querer invadir o interior de Priscila tomando-lhe toda a possibilidade de oferecer qualquer resistência. Mas, subitamente, o que Priscila sentiu foram aqueles lábios vermelhos e carnudos aproximarem-se dos seus concretizando um delicioso beijo tórrido e sôfrego.
Com essa sensação completamente nova e desconhecida, Priscila acordou daquele sonho misto de repugnante, provocante e excitante! Sentiu-se enojada, suja, suada e com o corpo dolorido pela noite mal dormida. Levantou-se com dificuldade e cambaleou até a casa, subindo as escadas e procurando certificar-se de que Victor já havia saído para o trabalho. Após a constatação de que estava só em casa, Priscila despiu-se de suas roupas e correu para debaixo do chuveiro para um banho longo e reconfortante. Sentada na beira da cama em seu quarto, Priscila enxugava seus cabelos e procurava relembrar os detalhes daquele sonho incomum que havia mexido com seu espírito e com sua mente. Haveria alguma mensagem contida nele? Aquela mulher seria a tal Teodora? E porque aquela sensação de prazer fruto da dominação a que foi submetida ainda persistia em sua interior, como algo novo, perigoso, porém deliciosamente excitante?
Procurando voltar-se para a dura realidade que se descortinava à sua frente, decidiu, então, que aquela situação com seu marido tinha que ser resolvida de alguma forma. Priscila vestiu-se e saiu de casa determinada a encontrar-se com a tal Teodora. Afinal, precisava conhecer a mulher que havia se tornado amante de Victor e que transformara a vida de Priscila em um inferno sem limites. Mas, a bem da verdade, enquanto dirigia seu carro, a mulher pensava em toda a situação que existia entre ela e seu marido; ao que tudo indicava, Victor não era um mal marido. Além de provedor, era amável, gentil, dócil e sempre zeloso para com ela, … isso sem falar que na cama seu desempenho era simplesmente fantástico! Sempre um garanhão pronto para trepar e levar Priscila ao paraíso feito de orgasmos repletos de tesão e de prazer. Como se explica, então, um homem com todas essas qualidades ter uma amante? O que ele estava procurando, afinal? Ou melhor, o que ele encontrara naquela tal de Teodora?
Com esses pensamentos ocupando-lhe a mente, Priscila estacionou seu carro em frente ao edifício que abrigava a empresa de seu marido. Desceu e assim que entrou no átrio principal, ponderou que o melhor a fazer era dirigir-se diretamente ao escritório de Luciano, o melhor amigo de seu marido, que também havia instalado seu empreendimento naquele centro comercial. Tomou o elevador e lá chegando, cumprimentou a secretária, pedindo a ela que anunciasse e sua chegada. Não tardou para que Luciano, saindo de sua sala, viesse ter com Priscila, abraçando-a e beijando-lhe a face, convidando-a para entrar. E mal a porta da sala fechou-se por detrás deles, Priscila desabou em prantos , dizendo frases entrecortadas e suplicando ao amigo de seu marido que lhe dissesse quem era a tal Teodora e como Victor havia se envolvido com ela.
Luciano consolou a amiga, fazendo-a sentar-se em uma poltrona próxima e lhe servindo um copo com água. Pediu que ela ingerisse o conteúdo e depois sentou-se na pequena mesinha de madeira talhada à sua frente. Luciano ficou alguns minutos fitando Priscila, como quem procurasse as palavras mais adequadas para explicar a ela aquela sandice entre seu melhor amigo e a sua amante. Polidamente, ele depositou suas mãos sobre os joelhos desnudos de Priscila e depois de suspirar profundamente, que Teodora não era amante de Victor, mas sim sua “mistress”, ou melhor sua senhora, sua dominadora. Priscila ouviu, mas foi incapaz de acreditar no que Luciano estava afirmando. Como era possível que seu marido tivesse se envolvido com uma dominadora, … aliás, perguntou ela o que era uma dominadora?
“Em jogos de BDSM – ou sadomasoquismo se preferir – a dominadora, ou dome, é a mulher que possui escravos usando de seus corpos apenas e tão somente para o seu próprio prazer, … e estes escravos sujeitam-se a serem dominados e submetidos apenas com o objetivo de proporcionar prazer para a sua dominadora” - A voz de Luciano soava audível porém com uma acentuada carga de insegurança, … parecia que ele discorria sobre um assunto sobre o qual mantinha pleno domínio de conhecimento, sem contudo, sentir-se satisfeito por isso. Explicou ainda que Victor, seu amigo, fora “introduzido” no chamado “Universo BDSM” e que envolvera-se com uma dome chamada Teodora. Luciano disse ainda que talvez esse não fosse seu verdadeiro nome e que ele não sabia muita coisa sobre ela, apenas que era uma dome respeitada e com vários “escravos” ou “discípulos” como ela mesma costumava chamá-los, que a serviam de todas as formas possíveis quando o assunto era sexo.
Priscila estava em estado de choque ante as palavras do amigo. Ela não era capaz de digerir tudo aquilo. Como foi que seu marido envolvera-se com um universo tão perigoso e desconhecido? E porque assim o fizera? O que estava ele procurando quando agiu assim? E essa Teodora, … quem era de fato essa mulher tão poderosa que colocava seu marido de joelhos perante sua dominação? Priscila encarou Luciano e disse que queria saber mais, queria saber porque Victor envolvera-se com esse “Universo BDSM” e como ele chegara até Teodora. Luciano suspirou mais uma vez enquanto seu olhar quedava-se ao chão, perdido e sem coragem de encarar sua amiga. Priscila sentiu uma ponta de temor e aproximando seu rosto do de Luciano, tocou-lhe o queixo, forçando seu olhar na direção dela.
Luciano hesitou, pensou e depois de alguns minutos de nova hesitação ele começou a falar, dizendo que a culpa do envolvimento de Victor com aquele “universo” era culpa exclusiva dele próprio. Priscila não foi capaz de esconder seu olhar de surpresa – afinal, como Luciano fora capaz de envolver Victor naquela imundície – mas, ao mesmo tempo ela também ficou curiosa em saber porque fora ele o responsável pelo “desvio” de seu marido. Hesitante e desconfortável, Luciano contou-lhe como ele – frequentador habitual de ambientes BDSM – acabou ficando seduzido pelo universo do sadomasoquismo até tornar-se um escravo servil de uma dome que, por sua vez, apresentou-o à Teodora. Sem precisar detalhes, Luciano disse apenas que Teodora era uma mulher fascinante e envolvente e que todos os seus discípulos eram servis e a idolatravam.
Discorreu mais um pouco sobre as “qualidades” da dome e, percebendo a inquietação de Priscila, passou a contar-lhe sobre o envolvimento de seu marido, que, certa feita, confidenciara-lhe que sentia-se meio vazio e que precisava de algo para “esquentar” sua relação com a esposa. Victor desfiou um pequeno conjunto de temores e inseguranças que estava sentindo na relação com Priscila, e que, mais cedo ou mais tarde eclodiriam em uma crise que ele pretendia evitar a qualquer custo. Luciano continuou contando que, preocupado com o amigo, convidou-o para uma “sessão” de BDSM.
Luciano disse que Victor, a princípio, hesitou muito, achando que aquilo não seria uma solução adequada para o momento em que se encontrava, mas ante a insistência do amigo e a sensação de que seu casamento estava caminhando na direção de um “precipício”, Victor acabou por ceder e a partir daí, … bem, a partir daí, Victor tornara-se um escravo dedicado, e não tardou muito para que ele se tornasse o predileto de Teodora, participando não apenas das sessões regulares, como também de outras, chamadas de “especiais”, promovidas para atendimento de algum pedido feito por clientes potencialmente ricos e insatisfeitos com suas próprias vidas.
Ao final, após alguns instantes crivados por pequenas pausas e olhares esquivos, Luciano desviou seu olhar de Priscila e alguns minutos depois olhou novamente para ela e pediu-lhe perdão; ele não fazia ideia de que seu melhor amigo fosse envolver-se tanto com aquele universo a ponto de entregar-se de corpo e alma à sua dome. Priscila ouviu tudo atentamente e não conseguia esconder sua repulsa mesclada com frustração, … sentia-se uma pessoa que havia falhado; falhado consigo mesma e com seu marido. Perdera Victor para um “universo” totalmente desconhecido para ela e cuja aura de perversão superava qualquer expectativa, mesmo a mais sórdida. Não conseguia mais olhar para Luciano sem sentir uma ponta de repulsa e reprovação. Sentiu algo queimar em seu estômago ao mesmo tempo que uma sensação de nojo tomara conta de seu âmago. Precisava sair dali, … ir embora sem olhar para trás.
Priscila levantou-se e correu em direção à porta sem esperar qualquer reação por parte de Luciano. Desceu do prédio e mal conseguiu entrar em seu carro prostrando-se inerte sem saber o que fazer. Sua mente parecia um torvelinho repleto de dor, tristeza e frustração. Ao mesmo tempo lembrou-se que seu marido não havia, de fato, mudado tanto assim, … continuava sendo um bom marido, um bom companheiro e, principalmente, um amante inesquecível! Será que, de alguma forma, Teodora havia contribuído para que o relacionamento dela com seu marido fosse reavivado ou ainda mantido com a mesma intensidade de antes? Será que o fato de Victor envolver-se com o chamado “Universo BDSM”, servira para aprimoramento da sua relação com Priscila? Eram muitas as perguntas e as dúvidas, … e Priscila não teve dúvidas de que a única pessoa capaz de esclarecer tudo aquilo seria a tal Teodora. Foi então que decidiu que precisava encontrar-se com ela. E precisava ser o mais rápido possível.
Chegou em casa e correu ao seu notebook pesquisando por Teodora, algo não tão difícil de encontrar já que a tal “dome” tinha uma página na internet dedicada às “delícias do BDSM”. Nela havia um telefone para contato. Priscila, sem ponderar sobre o risco de sua atitude, pegou seu celular e ligou para aquele número. Passava do quinto toque e ela estava a ponto de desistir, quando …
DELICIOSO DESCONHECIDO.
A voz do outro lado da linha era aveludada e com uma sonoridade bastante agradável, denunciando pertencer a uma mulher fina e requintada. Ela atendeu e esperou pelo retorno ao seu cumprimento receptivo. Priscila, atônita e surpresa com o resultado de seu gesto, permaneceu muda por alguns instantes (que mais pareceram horas!), findo os quais achou que o melhor seria desligar e esquecer tudo aquilo.
“Alô, criança! Não tenha medo, … eu não mordo, apenas beijo...” - a voz de Teodora fluiu por todo o ser de Priscila impregnando-o com uma calma incomum, … algo mais forte que ela, algo que a deixava mais a vontade de continuar com sua pretensão original. Ela, timidamente, respondeu o convite desejando saber mais sobre sua interlocutora. Teodora demonstrou surpresa ao saber que se tratava de uma mulher que procurava por seus “serviços” e imediatamente quis saber mais sobre Priscila, … se era casada, se estava feliz no casamento, se seu marido era alguém dócil, gentil e carinhoso, … se na cama ela se realizava totalmente, … e mais uma enorme carga de questionamentos aos quais a jovem Priscila respondeu pacientemente, supondo que aquilo seria a “praxe do negócio”.
Quando Teodora deu-se por satisfeita, encerrou o questionário com uma pergunta à queima-roupa: se Priscila estava bem em seu casamento porque procurara por ela e seus “serviços especializados”? Priscila ficou em choque! Como responder aquela pergunta sem trair-se em suas verdadeiras intenções? A jovem esposa achou que era o fim de seu disfarce tardio, e ponderou a possibilidade de ir direto ao assunto que a fizera procurar por Teodora.
Todavia, a jovem concluiu que era necessário “dar mais corda” no assunto com a finalidade de conseguir um encontro com aquela Dome, conhecê-la de perto, vê-la e procurar compreender o que fizera com que Victor se aproximasse daquele “universo” através daquela mulher. Retomando o necessário autocontrole a da situação, Priscila respondeu-lhe que desejava dar uma “apimentada” na sua vida sexual como marido, aprendendo algumas técnicas de sedução e submissão, pois ouvira de uma amiga que aquilo era o que mais estava na moda nos dias atuais (a bem da verdade, a jovem detestou utilizar aquelas expressões vazias e sem conteúdo, mas concluiu que tudo era por uma boa causa, … a sua!).
Teodora riu abertamente demonstrando que aquele comentário havia sido deliciosamente provocante. Respondeu-lhe, em seguida, que não era uma “professora” e que seus “serviços” diziam muito mais sobre o marido do que sobre a mulher. Comentou com a jovem que o mundo da submissão e da dominação precisava ser apreendido ao longo de um certo tempo, exigindo dos interessados dedicação e afinco em compreender esse “universo” novo e desconhecido para a maioria. Priscila ouvia tudo atentamente e foi, aos poucos, sentindo que suas intenções iam por terra ante as evasivas da Dome que parecia querer desencorajar-lhe em penetrar naquele “universo” obscuro e provocador.
Tudo parecia perdido até que uma tênue luz surgiu no fim do túnel. Teodora interrompeu o seu próprio discurso para dizer que, mesmo não sendo algo de sua alçada, ela ficara interessada pela jovem e que se ela concordasse ela poderia ensinar-lhe algumas “coisinhas” que poderiam, certamente, esquentar sua relação com seu parceiro. Priscila suspirou aliviada, … finalmente, Teodora fisgara a isca! Sem demonstrar empolgação exagerada, perguntou quando e onde poderiam encontrar-se. Teodora riu outra vez com a afobação da sua interlocutora e depois de pensar por um instante silencioso, respondeu-lhe que poderia ser no final daquela tarde em seu apartamento, muito embora deixasse claro que não lhe era habitual receber pessoas em sua residência, e que aquele convite deveria ser encarado quase como uma honraria. Priscila fez-se de agradecida pela deferência, e quase sem fôlego, anotou o endereço que Teodora lhe forneceu e despediu-se até o encontro marcado.
A espera do passar das poucas horas que separavam Priscila da Dome pareceram séculos que se arrastavam indiferentes à expectativa gerada no interior da jovem esposa. Tomou um banho rápido e depois perdeu algum tempo precioso escolhendo a roupa mais adequada para aquele encontro, digamos, incomum. Ela mal sabia o que vestir, o que usar. A voz de sua anfitriã denunciava uma mulher experiente e requintada, cujo bom gosto deveria ser algo apurado ao longo de sua vida, e, certamente, ela não era uma pessoa comum, de gostos comuns, e, muito menos, de roupas comuns. Mas todo esse preambulo apenas gerou na jovem mais insegurança e expectativa do que estava por vir.
Algum tempo antes do encontro, Priscila desceu até a garagem e entrou em seu carro. Acabara por optar por um vestidinho preto curto e justíssimo com alças finas que realçavam seu busto firme e de tamanho acima da média. Ligou o carro e saiu em direção ao encontro pelo qual ansiara desde o momento em que tivera aquela estranha conversa com Luciano. E no trajeto, sua curiosidade atiçava-lhe a mente; como seria aquela Dome? Alta ou baixa? Loira ou morena? Atraente? Sensual? Nossa! A curiosidade era enorme e a excitação ainda maior, pois, no fim das contas, Priscila percebera que sua curiosidade não se limitava a conhecer Teodora, como também (e talvez, principalmente), conhecer aquele “universo do BDSM” ao qual referira-se Luciano de forma tão perturbadora.
Ao estacionar o carro na rua cujo endereço fora fornecido por sua interlocutora, Priscila percebeu de imediato tratar-se de um local nobre, de edifícios residenciais modernos e bem estruturados, e cujos ocupantes deveriam pertencer à classe média alta. Não era um local comum de pessoas comuns, … ela pensou que, de qualquer forma, Teodora não era – sem sombra de dúvida – uma mulher comum! E aquele endereço fazia jus ao requinte do universo em que seu marido fora arremetido de forma inesperada e surpreendente. Desceu do carro pensando que fora longe demais e que o melhor seria recuar e esquecer tudo aquilo, … sentiu as pernas tremerem e os joelhos cederem, e por um momento pensou que ia desmaiar e dar o maior vexame de sua vida.
Parou em frente ao edifício e depois de respirar fundo e jogar todas as incertezas para o fundo de sua mente, tocou o interfone esperando pelo retorno de sua chamada. A voz suave e quase carinhosa de Teodora respondeu perguntando quem estava ali. Priscila identificou-se e sua anfitrião soltou outra risada gostosa. “Bem no horário, minha doçura, … adoro pessoas pontuais! Entre, estou à sua espera!”. A enorme porta de metal abriu-se ao fim de um pequeno ruído elétrico, deixando claro para Priscila que, a partir daquele ponto, ela estava em um caminho sem volta.
Quando a porta do apartamento abriu-se Teodora deu de cara com uma belíssima morena de estatura mediana, corpo escultural, ornado por um rosto jovial, limpo e bem cuidado, cujos olhos – negros e cintilantes – encaravam aquela Dome quase como uma afronta, mesmo sem que Teodora sequer imaginasse que aquela linda jovem fosse a esposa de seu “escravo” mais recentemente conquistado (ou, talvez não!). A Dome sorriu para sua visita convidando-a para entrar. Priscila aceitou o convite, adentrando ao apartamento com passos curtos e medidos, denotando que desejava sentir o terreno em que estava pisando.
Foram até a sala – ampla e mobiliada com extremo bom gosto – e Teodora apontou o enorme sofá de couro escuro, convidando sua visitante a nele acomodar-se. Ofereceu algo para beber, mas Priscila declinou dizendo que preferia um copo de água. Teodora sorriu sutilmente e pediu licença desaparecendo em direção ao outro comodo da residência e dele retornando com um copo de cristal com água que foi imediatamente estendido para a jovem. Priscila sorveu alguns goles do conteúdo do copo, depositando-o, em seguida, sobre uma mesinha lateral de mármore ornada com uma escultura de bronze enegrecido que representava um casal totalmente desnudo acariciando-se mutuamente de forma bastante ostensiva e excitante.
Priscila não foi capaz de tirar os olhos daquela escultura de imediato, como se aquela visão de um casal na prática de carícias sensuais lhe tivesse causado um impacto inesperado, e somente o fez quando percebeu que os olhos verde esmeralda de sua anfitriã a espiavam de modo extremamente perturbador. A jovem sentiu-se desconfortável e sem jeito, buscando recompor-se o mais rápido que lhe foi possível. Teodora deu uma risadinha maliciosa de quem estava se deliciando com aquela situação inusitada.
E foi a Dome quem quebrou o silêncio perguntando o que Priscila estava procurando e porque havia escolhido a ela para ministrar-lhe algumas “aulas” sobre BDSM. Priscila, buscando alguma segurança que ainda lhe restava, repetiu-lhe a história anterior sobre “apimentar” a sua relação conjugal e que ouvira algumas amigas comentarem sobre a dominação/submissão como uma forma de inovar sobre o tema. Teodora bem que tentou, mas não foi capaz de segurar por muito tempo uma gargalhada que ecoou por todo o recinto. E a risada daquela mulher, bonita, sensual e senhora de si, ao invés de intimidar a jovem, apenas tornou aquele encontro mais íntimo e animado.
Mas antes que Priscila fosse capaz de continuar com sua patomima, Teodora olhou-a nos olhos dizendo que sabia muito bem quem ela era. “Você é a esposa do Victor, … ele havia me falado sobre você, … pena que ele tenha sido tão contido nos comentários, …” - as palavras da Dome explodiram como uma bomba nos ouvidos e mente da jovem que imediatamente perdeu o autocontrole, sentindo-se indefesa e dominada pela sua interlocutora. Um misto de medo, insegurança e reprovação pela sua incapacidade em dissimular, fez de Priscila uma mulher derrotada, cujo ânimo havia desaparecido, colocando-se à mercê da Dome que, por sua vez, tinha a situação sobre total domínio de seus interesses, podendo fazer o que bem entendesse, inclusive expulsar a jovem de seu apartamento.
Teodora, ciente do impacto que sua palavras haviam causado na autoestima de sua convidada, aproximou-se do sofá, sentando-se ao lado de Priscila e envolveu-a em um abraço fraterno e desinteressado (pelo menos em princípio). Com uma das mãos, Teodora seguro o rosto fino e delicado de sua visitante fazendo com que ela a encarasse de frente. Foi então que os negros olhos cintilantes da jovem esposa traída encontraram-se com os de tonalidade verde esmeralda da Dome que brilhavam de uma forma incomum, … um brilho provocador e incitante, … havia algo no ar, … algo que elas eram incapazes de compreender, pelo menos naquele exato momento e naquela exata situação.
E aquela aproximação insólita durou apenas o momento suficiente para ser interrompido pela retomada do assunto que causara aquele encontro: a traição de Victor e sua inclinação ao conhecimento do “Universo BDSM”; Teodora manteve-se calada, esperando que sua visitante tomasse coragem para iniciar o assunto que a trouxera até ali. Priscila olhou para Teodora – evitando encará-la – e depois de respirar profundamente, ousou uma pergunta que ela considerava a razão de sua vinda até ali: “O meu marido, … o que ele viu em você? O que você deu a ele que eu não fui capaz de oferecer? Por favor, … me explique toda essa sandice? Eu não aguento mais, eu … eu ...”.
Teodora teve vontade de rir um riso largo e expansivo, de soltar uma gargalhada sonora que liberasse seu espírito daquela situação não cômica, mas sim infantil. Mas ela sabia que não deveria fazê-lo, … afinal, os sentimentos de uma mulher casada estavam em jogo, e mesmo ciente de sua condição de Dome, de uma dominadora de homens que vivem aos seus pés, ela sabia que uma mulher de orgulho ferido podia ser muito mais perigosa que um homem armado até os dentes.
Falando de forma pausada e tranquila, Teodora respondeu-lhe com a seguinte colocação: “Minha querida! Seu marido não viu nada de mais em mim, … aliás, ele sempre me disse que você é o grande amor da vida dele, … apenas ele se envolveu com um universo novo e excitante, … um universo conhecido apenas por uns poucos privilegiados, … algumas pessoas que compreendem que o sexo e desejo não possuem limites impostos pela sociedade, e que entre quatro paredes, ou mesmo fora delas entre pessoas que se desejam, tudo, … tudo é possível”.
- “Mas, o que eu posso fazer? Ou isso é perda de tempo? Eu já perdi o meu Victor?”
- “Não, minha doçura, … - a voz de Teodora soou ainda mais doce e carinhosa – Ele é o seu marido, e sempre será, … o que você precisa compreender é a necessidade de participar desse universo com ele, … fazer parte dele, … de uma forma ou de outra, …”.
Priscila estava completamente confusa, … as explicações de Teodora não tinham nenhuma consistência. O que ela queria dizer com participar do universo com ele? Ela deveria penetrar naquele tal “Universo BDSM”? Deveria deixar açoitar-se por chicotes, vestir roupas de couro preto, parecer uma mulher fatal dos anos quarenta ou cinquenta? Como ela poderia fazê-lo? Como?
E antes que ela pudesse perguntar alguma coisa, Teodora aproximou-se ainda mais dela para uma explicação mais detalhada. A bem da verdade, antes que a explanação se iniciasse, Priscila sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo quando aquela mulher que exalava sensualidade aproximou-se dela, permitindo que seu calor e seu aroma fosse compartilhado com a jovem, … ela sentiu algo totalmente novo, desconhecido, mas, ao mesmo tempo, excitante!
Teodora aproximou seu rosto da jovem e deu-lhe um doce e singelo beijo, … Não era um beijo carinhoso apenas, … Era um beijo repleto de desejo e de tesão, … e isso Priscila foi capaz de sentir imediatamente, pois seus mamilos entumesceram tornando-se duros e apertados enquanto sua calcinha ficava umedecida pela sensação que lhe percorria o baixo ventre. E sem que ela fosse capaz de reagir o beijo inocente de Teodora tornara-se um beijo repleto de desejo e de tesão. As mãos da dome percorriam o busto da jovem, ora apertando-o suavemente, ora buscando seus mamilos por cima do fino tecido que separava o desejo da dome do corpo da jovem.
Com uma destreza indescritível, Teodora abaixou as alças do vestido da sua parceira e tomou posse daqueles seios deliciosos cujos mamilos imploravam para serem chupados por aquela boca sensual e sequiosa, sendo imediatamente tomados e tratados como mereciam naquela atmosfera de desejo incontrolável entre duas mulheres cheias de tesão e de desejo. Priscila não conseguia compreender muito bem o que estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, não resistia aos ataques de sua parceira cuja sensualidade havia lhe causado uma sensação jamais experimentada, revelando-lhe nuances do prazer que ela supunha desconhecer, ou que ainda não havia percebido fazerem parte do seu ser!
Em poucos instantes, ambas estavam nuas trocando carícias íntimas e sensuais, explorando seus corpos numa busca frenética por um tesão oculto e dissimulado que precisava extravasar o mais rápido possível. Teodora, como uma dome experiente, passeava suas mãos em cada centímetro de pele da parceira, detendo-se em todos os detalhes que julgava serem passíveis de uma atenção mais detida. E foi nesse clima que a boca da dome encontrou a vagina de Priscila lambendo-a com uma destreza insuperável, causando espasmos contínuos no corpo da jovem esposa, que gemia e ressonava com languidez, aproveitando cada lambida e beijos que a dome aplicava em sua vagina que ficara imediatamente úmida e receptiva, querendo que aquela delícia jamais tivesse fim.
Subitamente, Teodora levantou-se puxando consigo a jovem parceira e conduzindo-a para o seu quarto. Priscila teve um momento de hesitação, ponderando que tudo aquilo parecia absolutamente insano e inaceitável, … que ela não podia submeter-se àquele delírio insólito que a tornava (aos seus olhos) uma pessoa vil e submissa apenas aos prazeres da carne. Teve ímpeto de desvencilhar-se da dome e correr em direção à porta de saída, ganhando a rua, nua e envergonhada por participar daquela cena dantesca.
Todavia, as mãos firmes da dome impediam-na de esboçar qualquer reação, deixando claro para que Priscila que estava completamente submetida aos mandos e desmandos daquela mulher sensualíssima que a tinha entre os braços como uma amante que não tem outro objetivo senão atingir o máximo prazer com sua parceira. Priscila, não conseguindo ver outra alternativa a não ser o apelo da carne, acabou por ceder aos arroubos da dome, deixando-se levar por ela por caminhos tortuosos e desconhecidos.
Antes de entrarem no quarto, Teodora fez questão de colocar uma venda nos olhos da jovem dizendo que assim ela poderia aproveitar ainda mais as sensações que estavam por vir. Disse-lhe também que um dos segredos do BDSM era dar aos demais sentidos o império sobre o corpo, extraindo dele prazeres que jamais seriam conhecidos e que mereciam a chance de surgirem naturalmente ao sabor de carícias e gestos que encerravam mais paixão e mais tesão que poder-se-ia imaginar. Priscila aceitou já que sabia não ter escolhas, … estava nas mãos de Teodora e sabia que ela podia fazer o que quisesse, como quisesse e quando quisesse.
Vendada, Priscila foi conduzida ao quarto de Teodora que a tinha entre os braços, doce, indefesa e deliciosamente provocante. A jovem era capaz de sentir o tesão da parceira que parecia exalar por todos os seus poros, denunciando que suas intenções eram todos voltadas para que ambas usufruíssem de um prazer único e inesquecível. Teodora ajudou Priscila a deitar-se na cama, tornando a deliciar-se com a vagina da jovem, sugando e lambendo com a maestria de uma dome experiente e cuidadosa com os detalhes. O clítoris de Priscila dançava entre os lábios de Teodora que, vez por outra, sugava-o a fim de deixá-lo mais inchado e pulsante.
Priscila, que há muito perdera a noção de tempo e espaço, deliciou-se ao extremo com a boca e língua de sua parceira, gozando por várias vezes, enquanto acariciava os cabelos de Teodora forçando-a a continuar com aquele “banho de língua” insuperável. Ela queria mais e mais, queria agora e queria sempre, … Teodora era uma amante excepcional, cujas carícias faziam o corpo de Priscila experimentar espasmos agradáveis que, continuamente, estimulavam uma nova sucessão de gozos cada vez mais intensos e caudalosos. As mãos daquela mulher acariciando a pele macia de Priscila causavam-lhe uma sensação, ao mesmo tempo, estimulante e e de completa perplexidade.
Parecia um jogo sensual de caça, dominação e submissão, causando tanto tesão que Priscila não teve outra alternativa senão quedar-se deliciosamente vencida ao encanto de Teodora. E foi timidamente que ela começou a retribuir as carícias recebidas da parceira sentindo aquele corpo exuberante de formas generosas e bem feitas, envolvendo-se em uma cumplicidade que, certamente, possuía uma intimidade que uma relação heterossexual sequer seria capaz de se aproximar; eram duas mulheres bonitas, sensuais e cheias de tesão querendo a mesma coisa: dar e receber prazer.
Houve um momento em que Teodora afastou-se da parceira retornando em seguida e tendo algo nas mãos que causou um enorme arrepio em Priscila. Era algo duro, quente de superfície irregular, mas que, ao contato com o corpo da jovem estimulava uma sensação de dominação que ela não entendia bem o porque. Mas não demorou muito para que Priscila percebesse tratar-se de um pênis artificial que após uma longa lubrificação no entorno dos lábios vaginais da jovem foi nela introduzido pela dome com um cuidado e um carinho que homem algum seria capaz de reproduzir. Priscila sentiu-se preenchida pelo “membro” de Teodora como se ela fosse seu macho alfa que podia tudo e que faria de tudo para causar-lhe ainda mais prazer.
E novos orgasmos vieram, acompanhados de gemidos, sussurros e frases desencontradas de uma mulher que acabara de descobrir-se nas mãos de outra mulher.
- Espera um pouquinho, meu amor, … eu tenho uma surpresinha para você!” Com essas palavras, Teodora afastou-se mais uma vez da cama demorando-se mais do que antes, fazendo com que Priscila sentisse um certo desconforto por estar só, achando que poderia ter feito alguma coisa que magoasse a dome. E foi quando ela menos esperava que sentiu mãos percorrendo sua pele, … mas eram dois pares de mãos! E um par delas eram mãos masculinas! Priscila ficou eriçada como um gato ameaçado, desejando tirar aquela venda dos olhos e acabar com a magia do momento, gesto esse que foi imediatamente reprimido pelas mãos firmes de Teodora que aproveitou o momento para amarrar sua parceira na cama.
Priscila teve vontade de gritar, de debater-se exigindo sua liberdade, mas a voz autoritária da dome causaram-lhe uma reação inesperada, obrigando-a a obedecer os comandos da sua parceira quebrando qualquer reação e fazendo dela uma mulher indefesa, uma escrava das vontades e desejos da dome. Lentamente, ela relaxou e deixou-se levar pela sensações que multiplicavam-se em seu corpo e em sua mente. As mãos másculas tocavam seu corpo com um sentido de posse como se ela fosse um objeto a ser usufruído por alguém que ela sequer sabia quem era. Seria Luciano, já que ele lhe confessara ser um escravo de Teodora? Seria um outro homem, aproveitando-se da situação onde uma mulher lhe fora oferecida como um presente para regozijo de suas taras mais obscenas e inconfessáveis?
Priscila preferiu deixar aqueles pensamentos relegados à um segundo plano, … afinal, seu marido tinha optado por algo semelhante, e se assim o fosse, aquilo era apenas o pagamento na mesma moeda. E foi nesse momento em que Priscila viu-se penetrada pelo membro duro e pulsante daquele macho desconhecido que estocava com um ferocidade quase animal, ao mesmo tempo em que tomava todo o cuidado para não causar dor, mas apenas prazer. A jovem sentiu-se completamente preenchida por aquele instrumento poderoso contraindo e relaxando seu corpo a cada estocada do macho modificando o status pelo qual, era ela quem comandava aquela cópula e não ele.
Ao mesmo tempo, Teodora não dava tréguas ao corpo da sua nova conquista, acariciando-lhe os seios e lambendo sofregamente os mamilos entumescidos, alternando momentos em que suas mãos passeavam pelo baixo ventre de Priscila chegando a tocar-lhe a vagina e apertando aquele membro como se quisesse comandar sua invasão, deixando claro que ambos, homem e mulher, estavam submetidos à vontade dela. Priscila gozou mais vezes, empurrando sua pélvis na direção daquele membro duro até que, sentindo a respiração ofegante do seu parceiro, foi invadida por uma onda quente e viscosa, denunciando uma ejaculação volumosa e descontrolada.
Priscila não tinha alternativa, senão sucumbir aos estertores do macho que ofegava sobre ela gemendo e sibilando em um franco estado de absoluta exaustão. Ele retirou seu pênis que ainda parecia estar em estado de alerta, ao mesmo tempo em que Teodora libertou Priscila de seu jugo, mas apenas para colocá-la em uma posição mais adequada ao que estava por vir. Não demorou para que jovem esposa se visse presa a uma espécie de cavalo semelhante àquele utilizado em ginástica olímpica, só que mais baixo e mais curto. Estava ela nua e com o traseiro exibido de pernas levemente abertas, tendo mãos e pés amarrados firmemente (ou melhor, quase dolorosamente), sentindo as mãos de Teodora acariciarem suas nádegas com voracidade, chegando ao ponto em que acabava por aplicar-lhe algumas palmadas fortes e sonoras. Priscila temeu pelo que supunha estar por vir e quis gritar rebelando-se contra aquela situação humilhante e quase cruel.
Teodora gritou um comando ordenando que ela se calasse e em seguida tornou a golpear as nádegas da jovem que quis gritar, mas foi impedida pelas mãos do macho que depois de calarem seus gritos, colocaram-lhe uma pequena mordaça de couro fortemente apertada impedindo-a de emitir qualquer som.
Priscila nada podia fazer, … estava dominada e submissa, … e nada pode fazer quando sentiu o membro duro do macho penetrar-lhe o ânus, impingindo-lhe uma dor lancinante, que mais se assemelhava a um ferro em brasa rasgando-lhe de fora para dentro e cauterizando dolorosamente o orifício antes intacto. Era uma dor profunda, que parecia não ter fim, e que se somava à sensação de total impotência ante o domínio exercido pelo macho e pela dome cujas mãos não apenas acariciavam a região, como também tocavam aquele mastro tirânico impulsionando-o mais fundo até que ele estivesse completamente dentro da jovem.
E quando isso aconteceu, Priscila achou que ia desmaiar, ou pelo menos ter uma perda momentânea de sentidos, … mas isso não aconteceu. O que aconteceu é que seu algoz começou a estocar com movimentos inicialmente curtos que foram tornando-se mais longos à medida em que ele persistia em atacar e recuar as entranhas da garota que ainda sentia dor, mas que, ao mesmo tempo, também sentia que a dor cedia lugar a uma deliciosa sensação de prazer que não tardou em transformar-se em uma sensação de êxtase pela cópula anal tão bem conduzida com o auxílio e coparticipação da dome que gemia como se fosse ela a penetrar sua novíssima escrava.
Mais uma vez o orgasmo sobreveio, intenso e repleto de líquidos que pareciam escorrer em torno do membro que ainda avançava e recuava em uma estratégia de pleno prazer e dominação. Priscila não foi capaz de contar os inúmeros orgasmos que lhe foram proporcionados pelo macho que a copulava tão intensamente, chegando ao ápice de desejar que aquela “sessão”jamais tivesse fim.
E o tempo passou quase que despercebido, até que o macho, mais uma vez, ejaculou com urros tonitruantes e respiração quase a beira de um colapso. Quando tudo acabou ele desfaleceu sobre ela, sussurrando em seu ouvido o quanto estava agradecido por aquele coito inesquecível. Priscila demorou alguns segundos para reconhecer aquela voz, … era a voz de sua marido, … era a voz de Victor. Todavia, a surpresa foi vencida pelo cansaço e Priscila acabou por adormecer na posição em que se encontrava, tendo seu marido desfalecido sobre ela, e sentindo-se muito feliz por saber que fora ele a possuí-la, … seu eterno macho.
EPÍLOGO: SEM MÁSCARAS.
Pela manhã, Priscila acordou como se tivesse saído de um sonho. As imagens e as cores trazidas pela luminosidade cristalina da luz solar dificultaram-lhe o discernimento, obrigando-a a forçar os olhos para saber onde estava e como chegara até ali. Não tardou em perceber que estava no quarto de Teodora, nua, deitada sobre a mesma cama em que fora amarrada na noite anterior. Olhou para o lado e viu seu marido que ressonava ao seu lado trazendo no rosto uma calma quase celestial.
Voltou-se para o outro lado e viu Teodora também adormecida. As mãos dela estavam pousadas gentilmente sobre o ventre de Priscila e seu rosto também expressava uma calma e um placidez inigualáveis. E foi Teodora quem acordou primeiro, procurando os lábios de Priscila e beijando-a com o carinho de uma companheira de muito tempo. Sorriu para ela e perguntou-lhe se havia gostado de passar a noite em tão boa companhia.
Priscila sorriu e apenas disse que aquele fora o melhor presente surpresa que havia recebido em toda a sua vida. Beijaram-se mais uma vez sendo abraçadas por Victor que se juntava alegremente ao trio demonstrando o quanto estava feliz junto de sua esposa e da mulher que fizera o seu casamento renascer.
Horas mais tarde o casal estava se despedindo da dome que depois de um beijo apaixonado em sua nova conquista, olhou para Victor e com o rosto sério e sisudo ordenou que ele cuidasse bem dela e que ambos agora eram seus escravos e que sempre que ela sentisse vontade os convocaria para mais uma “sessão” de prazeres e delícias que apenas eles lhe poderiam proporcionar.
Quando desceram do elevador, no térreo, viram-se frente a frente com Luciano, cuja expressão era um misto de surpresa e inquietação impondo-lhe um postura desconcertante e de total inabilidade com aquela situação, no mínimo, inusitada (para todos). O casal entreolhou-se e depois de alguns segundos de pleno silêncio caíram em uma sonora gargalhada enquanto ganhavam a rua para voltarem para casa.