Como chamas 2x02: MENTIR É A SEMPRE A MELHOR SAÍDA...
Eu encara a cena toda como se estivesse me câmera lenta. Jeremiah desfilava pelo corredor da escola com um sorriso presunçoso no rosto. Seu cabelo castanho escuro estava quase preto, um pouco grande e caindo em sua testa, seus olhos verdes pareciam agressivos.
- Dan, aquele é mesmo quem eu to pensando? Perguntou Marcie.
- Jeremiah? O garoto gay pervertido? É ele mesmo. Disse Jordan abrindo um sorriso gozador.
Uma pedra havia caído em cima de meu coração. Não podia ser. Depois de quase quatro anos, o que aquele garoto fazia ali?
- Sabe - Começou Gregori - Ele era meu vizinho. O pai dele deu uma surra tão grande nele que meus pais chamaram a policia.
Jeremiah olhava nos rostos de todos, parecendo curioso, ate que seus olhos pousaram direto sobre mim. Um arrepio percorreu minhas costas.
Virei as costas. Marcie me olhava de jeito engraçado, se eu pudesse, teria começado a rir. Mas acho que meu senso de humor foi sufocado pelo desconforto.
- Bu! Jeremiah fez atras de mim.
Me virei para ele.
- Ah, desculpa, eu tava bricando.
Ele abriu um sorriso. Continuei encarando sem expressão alguma.
- Dan, qual é, você sabe quem sou certo?
- Sabemos. O que está fazendo aqui?
Marcie tomou a frente, como sempre. Melhores amigos são pra isso.
- É bom ver você também, lora. Você cresceu, não parece mais o patinho feio.
- Pena que não posso dizer o mesmo de você.
Gregori e Jordan trocaram um olhar de prestem-atenção-em-nos. Jeremiah não tirava os olhos de mim.
- Ei Jer. Eu sussurrei.
O garoto abriu um sorriso e me abraçou. Não reagi, apenas deixei que abraçasse.
- Caraca, você ta gelado. Tudo bem?
- Não respondeu minha pergunta. Insistiu Marcie.
- Estive em outro estado, mas agora estou de volta.
- Dan... Tudo bem? Perguntou Jordan pegando minha mão gelada.
- Sim... Eu preciso ir. Falei ajeitando minha mochila nos ombros e correndo para longe dali. Sinto muito perder o primeiro dia de aula, mas eu não iria conseguir ficar na escola com aquele garoto lá.
Minutos depois, Entrei em casa sem falar com ninguém. Não estava afim de conversa. Meus pais e Nick jantavam na copa, pela primeira vez eu via meus pais jatando em casa. Por um segundo, pensei em me juntar a eles e ter um jantar agradável com minha família. Mas ai me lembrei, que se eles me quisessem por perto, teriam esperado por mim.
Pulei na cama e tentei dormir. Tinha que esquecer aquilo, mas antes que eu pudesse notar, já estava mergulhado em lembranças...
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Era uma segunda feira de manha, eu estava na terceira aula do dia, estudos sociais, meu parceiro, Jeremiah estava sentado ao meu lado, mexendo em seu novíssimo aparelho celular da Nokia. Eu vinha querendo pedir meu pai um telefone novo a meses, mas ainda não havia tido a chance.
- Cara vou ao banheiro, toma conta pra mim? Ele perguntou me passando o celular.
Acenei positivamente com a cabeça e peguei o celular de suas mãos. Jeremiah e eu não éramos exatamente amigos, mas conversamos um pouco. Colegas de classe comuns. Assim que ele saiu, entrei na internet e fui para o Google. CARAS GOSTOSOS coloquei no link de busca e fui parar em um site pornô cheio de fotos de homens nus. Eu iria deletar o histórico antes dele chegar. Antes que eu pudesse passar da primeira foto de um ator pornô pelado, vi o professor se aproximar. Gelei. Se ele me pegasse olhando aquilo iria arruinar a minha vida. O giz de cera caiu da mão dele e quando ele se abaixou para pegar, coloquei o celular na cadeira de Jeremiah.
Respirei fundo, provavelmente o professor nem iria vê-lo. Fingi que estava muito interessado em minha unha.
- Posso saber o motivo da sua distração? Ele me perguntou.
- Han? Nada, desculpe. Falei. Mentir não era exatamente difícil para mim.
O telefone fez um bip na cadeira e o professor olhou. Meu Deus! Ele pegou o telefone e quando olhou a tela, seus olhos se arregalaram tanto que pensei que iriam sair da orbita.
Jeremiah surgiu atras de mim, olhando tudo.
- De quem é esse telefone? O professor perguntou.
- Dele. Falei rapidamente.
Lancei um olhar de "desculpe" para Jeremiah e fechei os olhos.
- Me siga ate a diretoria, agora! Falou o professor muito bravo. Jeremiah me lançou um olhar confuso e eu ergui os ombros. Que merda! Eu havia acabo de colocar um dos garotos mais legais que conheço em problemas? Porque isso havia acontecido?
Minutos depois, Jeremiah entrou na sala chorando e começou a juntar suas coisas. Meu coração se partiu de culpa.
Antes que eu pudesse perguntar o que aconteceu, o pai dele entrou gritando na sala.
- Pega logo essas coisas seu viado. Você vai ver o que vou fazer com você, filho meu não é viado não!
O pai dele deu um belos tapas nele. Na frente da sala toda. tentei dizer algo, mas não consegui, meus movimentos pareciam não obedecer minha mente. Todos os outros alunos encaravam a cena toda pasmos. Alguns meninos riram. Eu estava afogando em minha culpa.
Nunca mais vi Jeremiah depois disso.
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Me sentei em minha cadeira no serviço quase desmaiando de sono. Pensei muito em faltar ao serviço, mas seria pior se ficasse em casa me lamentando por algo que fiz há atras.
ACHA QUE ELE SABE DE ALGO? Dizia o SMS que Marcie me mandou.
É CLARO QUE NÃO. SE NÃO TERIA ME DADO UMA SURRA ONTEM NA ESCOLA. Respondi a ela.
VC SE SENTE MAL?
CLARO! GOSTARIA DE ME DESCULPAR.
Ela respondeu quase que imediatamente.
ACHO QUE ISSO VAI SER DIFÍCIL. PRECISO IR AGORA BEST. BJO!
BJO!
Respondi e guardei o celular de volta no bolso.
- Baby, tudo bem? Perguntou Felipe rolando em sua cadeira ate o meu lado.
- Eu to legal. Só não dormir direito.
- Hum, que chato. Sabe, se quiser posso ir a sua casa hoje a noite. Te faço massagem e você vai dormir como um baby.
Ele deu uma gargalhada alta. Sorri, pelo menos um de nos era feliz o tempo todo.
- Do jeito que estou sou capaz de aceitar...
- Então aceita baby. Captei um tom pervertido na voz do Felipe, e recuei um pouco. Não parecia nem um pouco divertido ser arrastado para algo que quer me machucar.
Joaquim entrou na sala e se virou para nos.
- Bom dia... Dan você esta péssimo. Ele falou.
- Obrigado por notar.
Felipe riu de novo e me abraçou. Não consegui evitar os arrepios ao sentir seus braços fortes em volta de mim. Porque aquele garoto tinha que ser assim tão gostoso?
- Bem, vocês vão receber um novo colega de trabalho hoje. E desta vez não é alguém que o Felipe indicou.
Comecei a rir. Por mais que eu não tivesse notado, todas as pessoas que entraram na empresa em nosso departamento eram relacionadas ao Felipe. Mike, seu irmão, Alice, sua namorada.
- Quem é? Perguntei.
Felipe me soltou e esperamos Joaquim trazer o garoto. Meu computador apitou e me virei para ver o email que recebi. Ao me virar de volta, vejo Jeremiah olhando para mim com um sorriso no rosto. Por alguns segundos, minhas vistas escureceram. Isso não pode estar acontecendo.
- Oi Dan. Ta me seguindo? Ele perguntou em tom de piada. Eu não sorri.
Mas que droga é essa hein destino? Primeiro na escola e agora no trabalho? Será que ele vai morar na minha casa também? Acho melhor parar de pensar, vai que dou idéia pro destino me sacaniar mais.
- De onde vocês se conhecem? Perguntou Felipe.
- Costumávamos ser amigos.
Felipe me olhou, provavelmente notou meu incomodo ao ver Jeremiah. A culpa estava voltando a me corroer por dentro.
- Hum, bem vindo. Eu disse antes de dar as costas para ele.
De jeito nenhum que vou deixar esse garoto voltar a me atormentar depois de tudo. O que fiz com ele foi errado, mas ele esta bem. Não devo me culpar.
O dia correu bem, Jeremiah já sabia os processos e já estava trabalhando. Eu senti minha pele pinicando o dia todo de vontade de ir embora. Gostaria de perguntar a ele o que aconteceu depois que deixou a escola ou pelo menos o que seu pai havia feito a ele.
- Jordan ainda é seu vizinho? Ele perguntou da mesa ao meu lado.
Fiz que sim com a cabeça, sem olhar para ele.
- Ele ainda gosta de você?
Olhei boqui-aberto para Jeremiah. Como é? Ele sabia que Jordan gostava de mim? Sendo que na época que ele sumiu, Jordan e eu nos odiávamos. Na verdade, essa fase de ódio levou mais algum tempo antes de realmente sumir.
- Quem gosta de você? Felipe pareceu um pouco irritado em seu tom se voz. Era só o que faltava, uma crise de ciúmes agora. Mas não consegui deixar de achar fofo.
- Você esta enganado. Falei a ele.
Jeremiah deu de ombros, mas Felipe ainda me olhava, ele parecia chateado. Justo hoje Alice havia ido ao dentista. Ela adorava conhecer gente nova e iria conversar muito com Jeremiah para saber sobre sua vida.
O expediente acabou e fui correndo ate o ponto de taxi. Queria chegar em casa o mais rápido possível, pena que veria Jeremiah daqui a pouco na escola.
Merda!
- Podemos dividir? Ele perguntou surgindo atras de mim.
- Claro. Falei.
Pegamos um taxi e ficamos em silencio. Falei meu endereço ao motorista e ele nem sequer a abriu a boca.
- Sabe, Dan, eu senti sua falta esses anos cara.
- Hum.
- O que foi? Não esta feliz em ver?
Meu coração palpitava de nervosismo. Pensei em dizer: Eu estraguei sua vida e fiz você se mudar, e tenho medo de te dizer porque acho que vai querer acabar comigo quando souber, então não, não estou feliz em te ver.
- Não sei. Você sumiu por anos. Falei, não era exatamente mentira.
- Verdade.
Eu queria perguntar algo a ele, tentei evitar, mais minha curiosidade venceu.
- Porque disse que Jordan gostava de mim?
Jeremiah suspirou e deu de ombros.
- Bom, ele implicava muito com você e o jeito que ele pegou sua mão ontem na escola deixou na cara.
Ele ficou em silencio. Eu não sabia o que dizer, ou se devia dizer algo. Meus olhos circularam pelo interior do carro.
Notei vários adesivos de muitas academias de luta colados em sua mochila.
- Gosta de lutar agora? Perguntei no tom mais natural que consegui imitar.
- Eu meio que precisei.
- Como assim? Perguntei.
- Meu pai me mandou para uma escola militar depois daquilo na escola. Você não tem idéia do que os garotos lá fazem se você abaixar a guarda. Eu tomei surra todas as noite no primeiro ano. Depois, ou eu reagia ou deixava que acabassem comigo de vez.
Fechei os olhos. Eu havia feito isso com ele. Tudo por minha culpa. Desculpe, desculpe, desculpe! Eu queria dizer a ele. Mas eu não iria dizer agora... Nem sabia quando, mas sabia que deveria contar a ele.
- Cheguei. Adeus. Falei dando o dinheiro pro taxista e pulando fora do carro.
- Ei, Dan, posso ligar pra você depois? Jeremiah perguntou.
- Claro... Tem meu número? Perguntei.
- Não, mas dou meu jeito. Ate daqui a pouco.
Me virei de costas e corri para casa. Por que de repente a vida se tornou tão complicada?
Entrei em casa, tomei banho e dei uma olhada no notebook enquanto eu terminava de vestir o uniforme. Havia recebido um email de desconhecido, o remetente era um emaranho de letras e números sem sentido.
Abri a mensagem:
PESSOAS MALVADAS
SÃO AQUELAS QUE TEM O PÉ NO CHÃO
PESSOAS COMO VOCÊ QUE VÊEM MALDADES E NÃO FAZEM NADA
VÃO PARAR EM UM CAIXÃO!
De repente, Jeremiah não pareceu ser mais o maior dos meus problemas.