Fiquei lá sentado, ainda me sentindo o mais culpado possível e já pensava que eu iria sair da casa dela. Quando a situação tá ruim, sempre pode piorar. O pai do Léo já chegou gritando também:
- Eu falei pra você não fazer ele sofrer moleque.
Ele me segurou pela gola da camisa quase que me sufocando e eu fiquei com medo:
- Calma Márcio, deixa eu explicar.
- Explicar que você fez ele de idiota?
- Eu errei feio, mas eu amo ele demais.
- Dane-se! Já disse isso pra ele?
Marcio me soltou e foi ficando mais calmo.
- Eu tentei, mas ele não quer me ouvir.
- Você merece uns tapas garoto! Só não vou fazer isso agora porque sua culpa deve tá doendo mais.
Fiquei calado porque ele conseguiu traduzir o que eu sentia! Fui pro quarto e chorei bastante. Não tenho o hábito de me emocionar com lágrimas, mas eu percebia que tinha ido tudo por água abaixo.
O tempo foi passando devagar e eu lá na cama. Chegou a noite e eu não saí. O Léo chegou (percebi pelo barulho), falando ao celular e quando me viu no quarto, fechou a cara, avisou à pessoa que ia desligar e entrou emburrado:
- Com quem você tava falando?
Eu sei que não devia ter perguntado, mas não entendi.
- Quem é você pra me pedir explicações?
- Desculpa.
- Lucas, eu estava falando com o Victor. Antes que você brigue com ele, não foi ele quem me contou da sua traição.
- Não? Mas só ele sabia.
- Você esqueceu da sua parceira de putaria. Foi ela quem contou.
- Como?
- Pergunta pra ela. Aliás, você tá achando que vai ficar na minha casa até quando?
Realmente, tudo estava desabando. Como um castelo de areia, eu via tudo indo pro chão e eu nem podia reclamar. As consequências do que eu tinha feito eram piores do que o julgamento alheio.
Ele saiu do quarto e eu fui arrumar minhas coisas. Nunca chorei tanto como nesse dia. Sem dúvida, um dos piores da minha vida. Depois descobri que enquanto eu chorava no quarto, o Léo chorava na sala! Naquele momento eu pensava que o Léo tava sendo cruel, mas não conseguia tirar a razão dele. Imagina o que é estar do lado de uma pessoa que te traiu?! Depois de um tempo as coisas podem se ajeitar, mas de imediato não é tão simples.
Enfim! Terminei de arrumar tudo e fui pra sala. Queria me despedir dele, mas quando me aproximei, ele se levantou e entrou no banheiro. Desisti de tentar me explicar e fui embora, depois de deixar as chaves do apartamento na mesa da sala.
Eu só tinha uma mala, então decidi ir andando sozinho... mas nem sabia pra onde. Eu tinha um dinheiro guardado e conseguiria me sustentar um tempinho, já que o Marcio fazia questão que eu não desse dinheiro pra manter o apê, mas pensando no Marcio, nem sabia se eu continuaria no meu emprego depois do que eu fiz com o filho dele.
Arrumei uma pousada baratinha, duas estrelas, só pra eu passar a noite mesmo e me instalei. Dormi um pouco e quando acordei fui procurar um lugar pra morar. Voltei pro trabalho e lá encontrei Gabriela:
- Oi gatinho.
- Oi Gabriela.
- Gabriela? Pra você eu sou Gabi...
- Você sabia que eu era gay?
- Tá nervosinho... Sabia, por quê?
- Você armou tudo isso?
- Claro que não... Só achei você gostosinho e resolvi testar. Nunca tinha ficado com um gay.
- Você é louca. Por causa do seu teste eu terminei meu namoro.
- Eu sei... Não achava justo você ter traído o Leonardo. Ele é tão gente boa, coitado.
Fiquei puto dele falar assim e me aproximei dela, falando alto:
- Coitada de você que precisou ser tão baixa só pra ter uma rola em você. Quer saber? Me manda embora, mas eu quero todos os meus direitos.
- E se eu não quiser?
Ela disse desafiadora, mas eu me mantive:
- Eu espalho pra essa empresa toda a vagabunda que você é. Tô indo no departamento pessoal.
Fui no outro andar e já dei baixa na minha carteira de trabalho com autorização dela... Eu tinha trocentos problemas, mas eu pelo menos teria meu seguro desemprego por cinco meses e os direitos trabalhistas.
Voltei pra pousada e achei no jornal um lugar legalzinho pra alugar. Parecia ser pequeno, mas eu conseguiria pagar. Peguei o telefone e marquei com o moço de ir até o apartamento.
Cheguei lá a tarde e ele me esperava. Gostei do lugar, apesar de ser bem pequeno, mas eu ficaria bem sozinho. Já estava mobiliado e isso facilitou bastante. Precisava de um fiador e eu pedi a Denise. Ela ajudou e em dois dias já estava morando lá... Agora eu precisava de um emprego.
Marcio, sem que o Léo soubesse, fez uma carta de recomendação e em uma semana consegui uma entrevista e fui aprovado numa outra empresa, também como auxiliar de escritório. Nesses dias, tinha notícias do Léo pelo pai dele e sabia que ele estava bem apesar de tudo. Mandava mensagens em seu celular, mas ele não respondia, porém mantinha o chip com o mesmo número, o que me encorajava a continuar mandando as mensagens.
Ia começar no novo emprego numa segunda-feira e já colocava expectativa, até pra mudar de vida, estudar e afins. Conheci meu chefe, Rogério, e ele me avisou que um dos estagiários da empresa me levaria para conhece-la. Fiquei aguardando o estagiário na recepção e tomei o maior susto quando o vi uniformizado:
- O que você tá fazendo aqui, Lucas?
Seu tom era de raiva e eu perdi a fala!
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Galera, hoje não vou conseguir mandar recado individual... Brigado por todos lerem e volto amanhã de uma breve viagem! Valeu mesmo e até.
