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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
http://romancesecontosgays.blogspot.com.br/a-historia-de-caio-leitura-on-line-e.html
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Confesso que por alguns instantes pensei em dar uma desculpa e não encarar aquela conversa. A simples menção do nome do Carlos me dava calafrios, eu não havia encarado ele desde aquela noite horrível em que fui violentado e quase me matei. As marcas daquele ato violento já tinha sumido do meu corpo, mas ainda sentia na alma toda a dor com que acordei naquela noite. Fiquei pensando se não teria sido melhor pedir a presença do Mário comigo durante a conversa, mas como não solicitei de imediato e ele já estava entrando, decidi encarar aquilo sozinho. Eu mesmo fui até a porta e abri para ele entrar.
Ele veio sem seguranças, dirigindo o próprio carro. Quando abri a porta e me deparei com ele a primeira coisa que me chamou atenção foi como ele estava magro. Ainda exibia o corpo esbelto, mas não passava mais pelo carinha super bombado lutador de muay thay que era antes. Seu olhar também parecia menos agressivo, tinha um ar soturno e conformo, só não sabia conformado com o que.
- Boa noite Caio. - Cumprimentou-me.
- Boa noite, cara. Entra aí. - Falei gesticulando com as mãos um gesto de boas vindas.
- Obrigado. - Respondeu entrando e dirigindo-se comigo até o sofá.
- Quer beber alguma coisa? - Ofereci.
- Não obrigado. Quero só conversar. Me diz, você chegou a visitar o papai antes do falecimento dele?
- Eu fui até lá antes que ele me chamasse. - Respondi. Sem conseguir conter a emoção, contei a ele tudo que havia acontecido naquela tarde. Notei seus olhos encherem-se de lágrimas também.
- Cara. - Começou ele me encarando diretamente nos olhos pela primeira vez. - Eu sei que te fiz sofrer pra caralho, falar que gostaria de voltar no tempo é pouco para descrever a amargura que eu sinto. As coisas horríveis que eu te fiz passar. Não há nada que eu possa fazer ou falar. Eu pensei em me matar cara. Esses meses hospitalizado, e eu fui tão filho da puta que ninguém da minha família foi me ver.
- Carlos, cara. Desculpa. Eu devia mesmo ter ido te ver...
- Não, Caio. Não faz eu me sentir mais culpado. No início eu tinha ódio de quem fez isso comigo, eu pensava que tinha sido você. Mas quer saber, eu não quero nem saber. Isso serviu para eu mudar um pouco. Isso e a perda do papai. A gente perdeu a chance de ser uma família unida. A Clara foi embora e nem se sente parte da família, você foi excluido, eu me fechei nas minhas nóias e nos meus instintos agressivos. Eu nem vou pedir perdão, porque eu sei que nem mereço.
- Todo mundo merece perdão, Carlos. A razão da existência é tentar consertar nossos erros. Eu perdoo você, assim como perdoei o papai. Não vou dizer que seremos os melhores irmãos do mundo, porque existem muitas barreiras entre a gente para serem vencidas. Mas vamos deixar de tentar nos matar né?
Entendo. Te agradeço por isso. Nunca vou te compensar por tudo. Mas vou derrubar uma das barreiras que há entre a gente. Eu sou gay.
- Hã?
- Eu sou gay. Eu sei disso desde … Desde a minha adolescência. Eu notei que você também era e achei que a proximidade de você havia feito aquilo comigo. Eu descontei minha raiva da minha sexualidade em você.
- Mas você teve vários namoros com mulheres.
- Tive. Todos horríveis. Eu só sentia prazer fazendo sexo anal, fechando os olhos e pensando em homem ou batendo nelas e fazendo com força. Machuquei todas as garotas com as quais sai.
- E você já ficou com homens?
- Sim. Eu. Eu tinha um caso com o Flávio.
- O Flávio?
- Sim, ele se aproximou de ti por que eu pedi. A gente ficava às vezes e eu tinha ódio de todas as vezes. Ficava com nojo de mim mesmo. Ele é apaixonado por mim há anos e fez aquilo com você porque fiz chantagem emocional.
- Eu não acredito.
- Sei que parece estranho.
- E vocês ainda estão juntos?
- Não, eu terminei faz tempo com ele. Só fiquei com ele daquela vez como pagamento por ele ter tirado as fotos de você.
- E você gosta dele?
- Não mais. E acho que ele não gosta mais de mim também não. Ele acha que eu ou você tivemos algo a ver com o que houve com ele.
- Carlos, sobre isso. A pessoa foi descoberta e foi embora, fugiu. Nunca mais vai voltar.
- Eu te disse. Não quero saber quem é. Se tivesse sido você, eu perdoaria também. Isso é passado. Que os mortos cuidem dos mortos.
- Tudo bem.
- Então. - Finalizou ele levantando-se e sendo seguido por mim. - Agora temos as empresas para administrar, eu vou cuidar de tudo enquanto você adquire experiência. Um dia comandaremos tudo aquilo juntos. Ninguém é capaz de mudar o próprio passado. Talvez seja a única coisa que nenhuma riqueza do mundo compre. Mas vamos escrever uma nova história. Irmão.
Eu não sei de onde veio o instinto, mas abracei ele forte. Era difícil acreditar em um Carlos regenerado, mas eu tinha esperança de que tudo que ele falou era verdadeiro. Caminhei com ele até o carro. Imaginei como minha vida teria sido fácil se ele tivesse se assumido para mim quando criança e tivéssemos crescido com um apoiando o outro na questão da sexualidade. Enfim, no final conclui que ele tinha razão, de nada adiantava ficar chorando a morte da bezerra, naquele dia após me despedir dele eu chorei muito novamente na capela, pedindo a Nossa Senhora que me ajudasse a superar toda aquela dor e perdoar de verdade meu irmão.
No dia seguinte o tema era o aniversário do Yoh. Amanheci pensando nisso e fui para aula sem conseguir tirar o assunto da cabeça. Na noite anterior quando comprei a vitrola eu estava super certo de que iria dar ela. Ao amanhecer a coisa já não parecia tão simples. Seria uma boa ideia encarar ele tão cedo? Eu não sabia que resposta dar aquilo. Sem falar que também não conseguia imaginar que tipo de reação eu teria à presença dele. Será que eu balançaria o não sentiria nada. Seria a entrega desse presente uma boa ideia para eu esquecer de vez ele?
- Pega, bicha. - Falou Samia me enfiando um papel na mão na saída do colégio.
- O que é isso?
- O endereço dele.
- Ele não mora mais naquele apartamento antigo não?
- Bicha, cai na real, aquilo era só um disfarce para te comer. A casa deles é linda.
- Deles?
- Dele e do Ramon, anta. Pensou que teu bofe tinha casado era?
- Ele não é meu bofe Samia.
- Então vou pegar pra mim. Dois Ramons na cama deve ser tudo de bom. - Concluiu ela saindo às gargalhadas.
Não sei exatamente quantas horas da tarde passei olhando para o relógio, mas foram muitas. Eu peguei a vitrola e fiquei olhando os discos que comprei para ele um por um. Como aquele puto ainda conseguia mexer comigo daquela forma. Ele me acusou de ser um espancador. Eu queria expurgar todo sentimento por ele. Eu queria poder ir até lá com o coração limpo e dar aquele presente. Queria mostrar para mim mesmo que ele não significava mais nada. Que eu entraria, daria o presente e voltaria sem sentir nada. Sem o coração palpitar, sem a pressão se alterar. Sem aquele fogo que subia pelo meu corpo de desejo pelo corpo dele.
Estava próximo de 21 horas, eu sabia que se não fosse, logo ficaria tarde demais. Levantei e tomei um banho, me arrumei para ficar bem bonito e sentei na cama. 21:30, a ansiedade estava no limite. Eu suei no ar condicionado de tanta ansiedade e decidindo-me, levantei e chamei o Mário.
O endereço que a Samia deu era um pouco afastado, em uma zona emergente da cidade, onde haviam muitas mansões de novos ricos e filhos de ricos antigos que não possuiam mais terrenos nas áreas mais nobres para construir suas casas. Era uma zona bem elitizada em virtude disso. Era um muro inteiro de mármore verde e devia ter uns 2,5 m. existia uma guarita no portão e não dava para ver quem estava do lado de dentro pois o fumê era muito intenso. Olhando com atenção notei que era vidro blindado. Caramba, ele realmente cuidava de segurança. Pedi para me anunciar.
Quando o portão abriu para que eu entrasse, com o carro, meu coração já palpitou. Porra, fique parado no seu lugar, coração safado. Disse ao Mário que não demoraria e que ele deveria me esperar ali mesmo. Caminhei pela ampla varanda e bati na porta. A porta era envidraçada envidraçada e percebi quando o vulto dele se aproximou para abrir.
Ele estava lindo com uma bermuda jeans caída mostrando uma sunga branca e sem camisa. Percebi que ele estava bem malhado, devia estar fazendo academia de forma intensiva. A única coisa que pensei foi que se ele era gostoso antes, imagina agora com aqueles músculos todos. Mas claro que não expressei tal pensamento em palavras. Das minhas cordas vocais o único som que saiu foi.
- Boa noite.... Yoh.
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P.S: Logo mais outro capitulo.