Oi, me chamo Pedro (fictício) e venho contar a minha história aqui, ou melhor dizendo, minha e do meu companheiro. Mas até eu o encontrá-lo foi um caminho tortuoso, eu bem que poderia começar apenas de quando o conheci mas o que aconteceu antes disso foi de suma importância para o que eu sou hoje.
Como disse, me chamo Pedro, tenho 30 anos, sou advogado, 1,80 m de altura, sou branco, tenho cabelos e barba castanho claros, quase loiros e olhos castanhos. Hoje sim sou gay assumido e moro com Felipe. [Todos os nomes aqui citados serão fictícios] Estamos juntos há cinco anos. Somos de Santa Catarina, e moramos por um ano no Rio mas agora não saímos daqui por nada. Bem, vou introduzi-los no que realmente importa:
Morei com meus pais até os 17 anos. Meus pais sempre foram muito conservadores, católicos fervorosos. Tenho três irmãos, dois rapazes e uma garota. Um dos homens é o mais velho que eu, três anos mais. Meu pai desde novo trabalha numa fábrica aqui de SC e meu irmão velho seguiu o mesmo caminho, na verdade, era o que ele queria para todos os filhos, até mesmo para a minha irmã. Para o meu pai o importante era trabalhar, ter dinheiro dentro de casa. Nós nunca passamos fome, mas tivemos uma vida difícil, minha mãe não trabalhava porque meu pai não deixava mas ele queria que minha irmã trabalhasse pois dizia que ela não deveria depender de macho, vai entender a cabeça do velho. Mesmo com a cisma de que tínhamos que trabalhar logo, meu pai fazia questão que terminássemos o colégio, meu irmão mais velho, Pablo, terminou o ensino médio forçadamente pois ele já queria trabalhar.
Eu sempre fui o “diferente” da família. Dos meus irmãos eu era o único que tinha o hábito de ler e estudar por prazer. Paulo, meu irmão mais novo era muito desligado de tudo, menos de namorinhos, como dizia a minha mãe. Com 15 anos ele já levava meninas lá pra casa, meu pai nada falava. Já a minha irmã, Paula, gêmea do Paulo, era a mais próxima a mim naquela casa. Ela era bem diferente do Paulo, nunca aprovou nenhum namoro dele. Na minha adolescência, durante o tempo que passei lá eu namorei apenas uma garota, Flávia. Foi o que realmente podemos chamar de namorinho, eu não a amava e deixava bem claro, acho que era só pegação mesmo e nada mais, mas minha mãe gostava dela e meu pai também, por ver mais um “hominho” na família. Hum, o Pablo já namorava Carla há uns três anos e ela morava lá em casa.
Eu sempre me senti diferente, tipo, eu tinha plena certeza que homens também me atraíam mas o fato de eu não conversar sobre isso com ninguém afetava e muito a minha vontade de realmente ficar com um. Na cidade onde morávamos eu tinha dois amigos de infância, Bruno e Laura. Eles já haviam tido um caso por uns meses mas não deu certo e ficaram apenas na amizade. Quando eu não estava em casa, estava com eles e por muito tempo assim. Em meus plenos 17 anos eu estava no 3° ano do ensino médio e no meio do ano falei pro meu pai que precisava de dinheiro para a inscrição do vestibular na universidade, ele surtou. Disse que não ia me dar dinheiro algum, porque ele trabalhava para nos sustentar e não para gastar comigo e minhas loucuras. Minha vontade era de dizer algumas coisas na cara dele mas naquela hora nem valia a pena, pois ele não iria me escutar e com certeza eu iria apanhar. Eu fiquei desnorteado, precisava do dinheiro para pagar a inscrição e sem ele não havia como, mas pensando um pouco eu cheguei a uma ideia. Bruno e Laura eram com quem eu podia contar fora de casa, só que eu sempre tive bem mais afinidade com o Bruno e assim, fui até ele.
Eu: Bruno, posso falar contigo?
Eu havia ido até a sua casa.
Bruno: Claro, entra aí.
Expliquei toda a situação e fui logo ao ponto, pedi o dinheiro emprestado pra ele.
Bruno: claro, eu posso te dar esse dinheiro.
Eu: não. É emprestado.
Bruno: mas você não tem como pagar.
Eu: isso é verdade. Bem, você lava o carro do seu pai para ganhar a mesada né? Então, eu lavo pra você. Você recebe e eu lavo, assim eu te pago.
Bruno: tá bom.
E assim foi, eu emprestei o dinheiro e fiz tudo às escondidas do pessoal lá de casa. Eu fiz algumas coisas meio que se pensar, pois eu haveria de me mudar de nossa cidade, visto que eu não tinha dinheiro para cursar uma faculdade particular, teria que ir à Floripa cursar uma pública. Mas isso eram planos para depois porque naquele momento eu buscava a aprovação.
Eu nunca fui muito de sair para as festas à noite, ir ao cinema e coisa e tal, eu perdi muito da minha adolescência, digo até que quase não a vivi, pelo menos não da forma que eu queria. Enfim, se eu já não saia, com o vestibular chegando aí que eu não saia mesmo, eu me dediquei muito mais aos estudos. Primeiro eu recebi a aprovação no colégio e tive que arquitetar um plano no qual eu disse aos meus pais que iria dormir na casa do Bruno, no fim de semana em que ocorreu a prova do vestibular. Eu tive que sair sábado de manhã da nossa cidade para ir à capital e fazer a prova no domingo de manhã e voltar no mesmo dia. Todo o dinheiro que eu consegui foi ajudando um grupo de estudantes da outra turma do terceiro ano da minha escola com matérias que eles tinham dificuldade. O plano parecia sair perfeito até que meu pai descobriu uma semana depois, eu nunca apanhei tanto na minha vida, eu apanhava já ciente das marcas que aquilo deixaria no meu corpo, minha mãe e meus irmãos só serviam de plateia, não faziam nada. O Pablo olhava com certa frieza, até porque ele é o papai mais novo, os gêmeos não gostavam, eles não podiam chorar porque senão apanhavam também e minha mãe coitada, já havia aprendido a lidar com aquilo. Até onde eu sei, meu pai nunca bateu na minha mãe, mas no fundo eu não acredito.
As marcas pelo meu corpo pouco me importavam no dia seguinte, pois eu não saia de casa, já estava de férias mas muito me fez pensar, aquilo já havia passado dos limites e eu sabia que eu não iria aguentar. A ideia de fugir de casa se passa pela cabeça de quase todos os jovens nessa idade e na minha não foi diferente, mas eu não tinha para onde ir, pelo menos não de cara.
Saiu o resultado da prova e eu havia passado, um dos primeiro colocados em Direito, apesar de na minha cabeça a possibilidade de eu poder cursar serem mínimas, eu realmente estava feliz, sentia-me vitorioso. Compartilhei com o Bruno e a Laura e nós saímos para comer pizza. Mesmo depois das porradas que levei do meu pai ele me tratava como sempre e não me impediu de sair de casa para sair com meus únicos amigos. Nesse dia em que saímos fiquei sabendo que a Laura iria morar com os avós em São Paulo e lá iria se virar. Já o Bruno iria fazer um curso de técnico em informático creio eu, algo do tipo e ia ficar pela cidade mesmo. Pelo menos eu sabia que ia ter ele ao meu lado. Na mesma semana eu recebi a visita de uma tia minha, Vanessa. Sempre gostei dela, e dos filhos dela também mas nunca do marido dela, nem o papai gostava dele. Depois do almoço eu fui para o meu quarto que eu dividia com o Paulo e logo depois minha tia chegou para falar comigo e perguntou o que eu tinha. Foi o momento em que eu desabafei, acho que ela foi a minha maior confidente e a pessoa que mais me entendeu e ajudou.
Tia: Meu filho, você contou para o seu pai?
Eu: Não tia, nem conte. Se ele souber vai apenas jogar na minha cara que foi um esforço em vão, já que eu não posso cursar.
Ela deu um suspiro e levantou da cama.
Tia: E se você vier morar comigo?
Minha tia morava em Florianópolis e aquela ideia parecia perfeita, só parecia. Mas como a gente não pode prever o que irá acontecer conosco eu aceitei e agora só restava falar com meus pais.
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Bom gente, essa a primeira vez que escrevo e não sei o que vão achar. Espero que me deem alguns toques, se está grande, pequeno, muita enrolação. Achei necessário partir daí pois foi assim que eu digo que a minha vida realmente começou. No próximo eu conto a vocês como eu realmente descobri ser gay e beijei o primeiro garoto. Espero que a minha história agrade. Abraço.