Ao contrário do que dizem os moralistas, a pior prostituta é aquela que faz sexo apenas por dinheiro. O prazer, seja ele qual for, carnal ou espiritual, é a única coisa que pode nos libertar da injunção do dinheiro e do poder nas nossas vidas. O dinheiro é apenas circunstância, sobrevivência, o prazer é aquilo que me move.
Gosto de sexo, desde a adolescência fiz do meu corpo uma espécie de retiro, de religião, e faço disso a minha profissão.
Algumas pessoas usam apenas as mãos para trabalhar, outras usam o corpo inteiro.
Tentei ser professora, mas me pagavam muito pouco, os livros didáticos eram enfadonhos, e não havia diálogo entre eu e os alunos. Eles gritavam, bagunçavam, e só ficavam quietos quando tinham que copiar alguma lição. A aula se traduzia em mera repetição, era mecânica, tinha sido projetada para ser assim antes mesmo da minha tentativa de ensinar. Nada dava certo, o desgosto era grande, e o salário não pagava minhas contas. Menos de dez reais por hora de trabalho, é muito pouco. Como garota de programa, chego a ganhar duzentos reais. É uma diferença brutal.
Tenho vontade de dizer para alguns clientes: “A minha boceta não vai ficar molhadinha, enquanto você permanecer com esses seus olhos de cachorro tarado. Se me deseja, faça algo, fale algo, seduza-me, prove que você é um homem”. Sexo, todos os animais sabem fazer. Dinheiro, qualquer um pode me dar, mas uma atmosfera de prazer, um gosto de gozo no ambiente, isso é para poucos.
Às vezes, é bastante prazeroso ser prostituta. Quando o cliente leva para cama mais do que uma vontade insana de foder, e tem conversa e cheiro agradáveis, então é possível conseguir uma comunhão, um prazer verdadeiro. Nesse casos, o dinheiro não é o mais importante. Já fiz sexo de graça apenas porque gostei do cliente, ou cobrei muito menos porque vi que ele tinha menos condição. Se o dinheiro é o que me mantém na prostituição, o prazer é aquilo que me move. Se tudo fosse só dinheiro, eu já teria desistido de viver. O sexo me faz sentir viva. Encontrar pessoas diversas e entregar-me a elas me dá uma razão frágil e fugaz para seguir em frente e não desistir.
As igrejas, com seus dogmas, nunca me envolveram. Não me dizem nada. Dentro delas, sinto-me alheia, distante, num céu por demais perfeito e abstrato para que eu possa caber dentro. Já o meu corpo não me exige nada, é apenas carne que se faz carne, que se sente carne, nada poderia ser mais concreto e verdadeiro.
O sexo anal é prazeroso quando sabemos acendê-lo, encontrar suas zonas erógenas, e infringir delicadamente os tabus. O meu cuzinho, se o momento se faz especial, torna-se festivo, adora piscar, luminoso, como uma pequena lâmpada natalina ou uma brasa incandescente de São João.
Eu não tenho a alma prostituída, não vivo em função do dinheiro. Preciso dele como todos, para sobreviver.
Em alguns casos, o sexo, mesmo quando duradouro, é similar a uma ejaculação precoce. Gozo sem prazer e prazer sem gozo são coisas que se igualam. No lugar daquilo que se esperava, o que reina é o tédio ou algo ainda pior, lamento ou raiva de homem frustrado. Sempre tive vontade de dizer para alguns clientes que eles são similares a uma ejaculação precoce. Mas me contive, por conta das conveniências da profissão e por respeito aos bons clientes que têm problema de ejaculação. Favor não me julgarem, quem nunca teve que engolir um sapo que atire a primeira pedra.