Eu e minha amiga Barbara estudamos juntos desde a infância e nossa amizade sempre foi muito forte. Aos doze anos foi quando eu efetivamente descobri que gostava de meninos e foi ela que me salvou de uma situação, pois ela tinha um namorico com amigo do garoto que eu gostava e descobriu que eles tinham armado um plano pra me sacanear e me avisou com antecedência , pois o Christian iria fingir que gostava de mim e fazer com que eu me declarasse e os outros iam reunir a escola inteira pra me zoar.
Graças a ajuda dela eu consegui me safar desta situação e nossa amizade se fortaleceu ainda mais. Aos dezoito anos quando passamos para o vestibular, ela passou para História e eu Psicologia , resolvemos escolher uma faculdade de outro estado e nos mudamos , alugamos um apartamento e vivíamos sempre nas baladas, ela conseguiu me fazer ir pra night porque eu sempre fui muito reservado e minhas atividades eram sempre diurnas e eu não conseguia me ver em baladas como os outros jovens.
Quando começamos a faculdade conhecemos duas meninas que se tornaram nossas novas e inseparáveis amigas, a Alana e a Livia , Alana estuda moda e a Li também faz História junto com a Barbara. Depois de algum tempo de convivência elas acabaram se mudando para o nosso apartamento e nos tornamos muito unidos.
A Alana disse que seu irmão estaria chegando em breve, pois o seu pai queria que ele assumisse a empresa de importação da família e o obrigou a estudar administração e outros cursos da área para que se especializasse , mas o problema é que o irmão dela é aqueles mauricinhos do tipo que não fazem nada e torram a grana em noitadas. Ela era louca pra que a Barbara namorasse o irmão dela e não deu em outra , eles começaram a sair juntos e acabaram namorando , eu não o conheci imediatamente, pois quando isso aconteceu eu praticamente estava em um período de muita leitura e preferi ficar em casa enquanto as meninas se divertiam.
Nosso primeiro encontro foi digamos um pouco desconfortável, pois eu acordei as cinco horas pra me arrumar e como de costume eu acordava , pegava minha toalha e ia tomar banho , eu sempre fui muito metódico e organizado e neste dia eu fiz minha rotina de sempre , mas me deparei com uma cena muito constrangedora, eu não sabia que Alana e a Livia tinham liberado o quarto para que os dois dormissem juntos e não me avisaram nada e eu entro no banheiro e me deparo com um cara só de cueca ... arriadas , educadamente dizendo ... fazendo o número 1. A minha primeira reação foi me assustar e peguei a primeira coisa que tinha pela frente e taquei em cima do cara , quase rolou uma briga feia , mas a Barbara acordou com o barulho e veio correndo para apartar. Logo a situação entre eu e o Eric foi de total antipatia , porque ele tem um jeito arrogante , aquele ar de quem se acha o tal. No começo eu tinha uma raiva tão grande dele que não olhava se ele era bonito ou não e logo que ele notou algo diferente , pois apesar de eu ser discreto , as pessoas notam , principalmente os héteros e começam a sacanear.
Ele começou a fazer parte da casa e o clima de hostilidade entre nós era nítido e o que começou a me chatear era que a Barbara e a Alana não tomavam nenhuma iniciativa , parecia que achavam graça , mas a Livia uma vez percebendo que a coisa estava ficando desagradável tomou partido, afinal eu praticamente bancava o apartamento e procurava sempre agradar as meninas e foi uma ingratidão muito grande delas me tratarem assim, principalmente a Barbara que sempre chorou no meu ombro quando era sacaneada por algum namorado e era a minha amiga de infância , parece que ela ficou cega por ele e esqueceu da nossa amizade.
Eu estava sentido que a coisa estava em um nível muito ruim e logo que surgiu uma oportunidade de vagar um apartamento menor de um quarto no prédio ao lado eu resolvi me mudar. Foi uma choradeira , um monte de pedido de desculpas, eu logicamente não quis ficar brigado com elas , mas não voltei atrás na minha decisão.
De certo modo foi melhor , pois eu tinha sossego pra estudar , colocar as coisas do meu jeito e não ter mais o inconveniente do Eric por perto.
Volta e meia uma delas ia me visitar e me cantava pra que eu voltasse, mas eu sempre desconversava e com o tempo elas pararam e a amizade que tínhamos esfriou.
Um dia a Barbara me procurou para que eu ajudasse o Eric em alemão, pois eu fiz logo que terminei o inglês , eu fiquei com tanta raiva pelo fato de elas terem a cara de pau de me pedir pra ajudar aquele cara tosco , mas em nome da boa educação eu aceitei ajuda-lo.
Ele não perdia aquela arrogância , mesmo precisando da minha ajuda ele era grosseiro e autoritário e ainda ficava fazendo piadinhas sobre gays pra tentar me agredir, foi um grande exercício de tolerância, mas eu consegui levar até o dia em que ele chegou bêbado e jogou o caderno em cima de mim me chamando de viadinho, o infeliz ainda vomitou na minha sala , eu não sabia se sentia nojo, raiva , mas enquanto limpava eu olhei pra ele jogado no sofá , suando frio , pelo jeito tinha bebido além da conta e estava bem ruim , eu não tive outro jeito senão ajuda-lo , ele ainda estava alcoolizado e ficava falando , porque todo viadinho é assim jeitoso ? vai ser minha enfermeira agora? Eu tentava me controlar e manter a calma , pois considerei que apesar de ele fazer essas piadinhas sóbrio , a condição dele bêbado estava de dar pena. Ele foi tirando a roupa , uma toalha e saiu entrando no banheiro e foi para o chuveiro , eu já estava de saco cheio eram quase meia noite e eu estava cansado e ainda tendo que aturar aquilo , mas fui pegar uma toalha pro infeliz e quando eu cheguei no banheiro ele não tinha fechado a porta do Box e ficou jogando piadinha , me pedindo pra olhar pra ele , insinuando coisas do tipo ... olha o troção, não é isso que você gosta bichinha? Eu deixei a toalha, fui pra sala e liguei a TV.
Depois de uns cinco minutos ele saiu do banheiro e foi direto para o meu quarto , eu fiquei mais irritado ainda e quando cheguei no quarto ele tinha se jogado na minha cama e apagado.
Apesar da raiva eu fiquei confuso porque eu nunca tinha reparado nele , no quanto era bonito , cópia quase fiel do Josh Bowman.
Não consegui dormir naquela noite, a minha sorte é que eu já tinha apresentado um trabalho importante e iria descansar no dia seguinte.
Ele acordou quase dez horas da manhã e saiu do meu quarto só de calça jeans, acho que a dignidade e a consciência também acordaram junto com ele, pois a primeira coisa que ele fez foi me pedir desculpas , mas eu disse que iria suspender a ajuda com o alemão e não queria mais que ele voltasse. Ele só faltou chorar e me implorar de joelhos, dizendo que eu tinha salvo a vida dele, que se não fosse a minha ajuda ele estaria ferrado , pois ele tinha que falar com alguns contatos da empresa na Alemanha e se não fosse o que eu ajudei ele teria se encrencado com o pai. Me pediu que não contasse para as meninas o que tinha acontecido. Ele colocou o resto da roupa e sentou do meu lado , ficamos em silencio durante alguns minutos e eu resolvi perguntar o porque ele implicava tanto comigo e com gays em geral , ele ficou calado e depois me disse que não era nada contra , mas que achava estranho, como um homem podia gostar de outro, beijar na boca e coisas do tipo , mas que não tinha nada haver e que não iria repetir tais comentários. Ele foi embora e eu estava tão cansado que me joguei na cama sem pensar, antes de dormir eu ainda senti o calor dele ali , o cheiro de perfume da Hugo Boss que ele usa, e pra piorar ainda sonhei com ele.
Quando eu acordei, ao invés de me sentir bem , de ter descansado eu me senti extremamente perturbado pelo fato de estar me apaixonando por ele , eu o odiava e como do nada eu poderia sentir algo diferente?
Nas aulas seguintes eu tentava me manter frio , mas ele pra piorar tinha passado a me tratar bem e ficamos no ultimo dia até tarde conversando. Ele já não parecia mais tão preconceituoso com relação a gays , me perguntava se eu já tinha namorado e outras coisas e riu quando eu falei que nunca tinha tido uma experiência a não ser um encontro frustrado com um cara que conheci que dizia se parecer com o Nick do BSB e quando nos encontramos pessoalmente o cara parecia mais um rato emo loiro e de blondor pra piorar , triste vc conhecer alguém no chat e não pedir foto no Messenger.
Foi a ultima aula que tivemos, pois ele passou duas semanas sem se comunicar ou aparecer, eu também não o procurei e não tinha cara de perguntar pras meninas que iriam estranhar o fato de a nossa relação ter mudado tanto.
O pior era que eu estava sentido falta dele e tentava bloquear aquela ideia , mas tudo mudou de forma mais drástica quando ele bateu no meu AP. as três da manhã com uma mala me pedindo pra ficar.
Nessas duas semanas de ausência ele tinha terminado com a Barbara , batido com o carro do pai que o pôs pra fora de casa e o obrigou a trabalhar no setor de pacotes da empresa como castigo. Ele me disse que dormiu no almoxarifado da empresa durante quatro dias, mas pensou em mim e resolveu pedir ajuda.Eu me vi sem saída e também, confesso que fiquei feliz por ele estar ali de volta.
A Barbara decidiu voltar para a nossa cidade , pois a avó dela que praticamente a criou estava muito doente e ela queria passar esses últimos momentos perto , pediu transferência da faculdade e iria terminar por lá.
A Alana e a Livia voltatram para suas casas , depois que o Eric saiu de casa a Alana quis ficar perto dos pais para tentar amenizar.
Eu tive que me adaptar a uma nova rotina com uma pessoa bagunceira e meio aloprada dentro da minha casa que era toda organizada , mas confesso que eu gostava daquilo, era totalmente diferente de mim , ele me fez fazer coisas que eu jamais imaginar , beber , fumar , ficar acordado até de manhã assistindo maratona de uma família da pesada , coisas que eu não tinha costume , mas eu também de alguma forma consegui passar um pouco do meu jeito pra ele , ele foi se tornando mais organizado e aos poucos eu fui ajudando ele e consegui que ele melhorasse a relação com o pai e se interessasse mais pelo futuro dele.
Ele teve a chance de voltar pra casa , mas preferiu ficar comigo e foi nesse dia que algo que eu não imaginava aconteceu , ele me beijou , pra mim foi um choque muito grande porque eu achei que ele tinha apenas passado a respeitar e entendido melhor os gays , mas não imaginei que ele iria ficar comigo.
Ele disse que estava confuso, que ele não se sentia gay, mas estava apaixonado por mim e que não sentia nada por outros homens , apenas por mim. Eu tentei convence-lo que poderia ser uma confusão , pelo fato de eu o ter ajudado e que por este episódio a nossa amizade não acabaria. Mas ele relutou e me disse a coisa mais linda que alguém poderia ouvir , ele disse que eu o transformei em um homem, que ele tinha amadurecido ao meu lado e que eu ocupava os pensamentos dele e que me amava.
E de certa forma eu também reconheço que o jeitão bagunceiro e bom vivant dele, me ajudaram a sair do meu casulo , da minha rotina metódica e muito organizada e aprendido a viver de uma forma mais leve.
E até hoje a nossa relação é algo maravilhoso, algo que eu jamais pensei ou sonhei em viver.
