[Parte Cinco] - BOA NOITE! - O Marcelo me disse assim que ele chegou em casa. As primeiras gotas de chuva já estavam caindo - Cheguei antes da chuva - ele me beijou.
Seitei-me no sofá enquanto Marcelo subia para tomar um banho. Os primeiros trovões já ressoavam fazendo-me aumentar o volume da televisão, a fim de inibir o barulho externo. Minha cabeça estava sob uma almofada vermelha, e meus pés encolhiam-se procurando uma forma de se aquecer. A chuva foi aumentando gradativamente. Mas desta vez eu estava mais calmo. Consegui me conter até o Marcelo descer.
- Você precisa vencer o medo - Marcelo veio em minha direção.
- ata, senhor Clichê, como?
- Confia em mim? - ele perguntou com uma voz inocente. Eu apenas assenti silenciosamente.
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[Parte 6]
- Rick! - eu gritei, enquanto o sangue escorria pela minha perna - Rick!
E ele veio, mais depressa do que eu podia imaginar. Minhas mãos, assim como minha roupa e parte do meu rosto, estavam sujas de barro. Sentei-me próximo à enorme árvore, cujos galhos, os quais sustentavam um balanço rudemente feito de madeira e cordas, estavam cobertos de pequenas flores amarelas.
O tombo não tinha sido tão forte, mas fora forte o suficiente para me assustar, fazendo-me declarar guerra àquele brinquedo feio e maldito que um dia fora minha maior alegria. Chorando e sangrando, fiquei com raiva de ter perdido dias inteiros tentando aprender o ritmado truque para balançar: pernas pra frente, pernas para trás, pernas para frente, pernas para trás. Achei que agora que não precisava mais de terceiros para brincar, minha liberdade estaria definitivamente conquistada, e brevemente eu seria independente e autossuficiente. Erro meu! O mesmo brinquedo no qual eu depositava minhas gargalhadas e meu sonhos - principalmente o de liberdade - me empurrara sem nem pensar duas vezes, fazendo-me sangrar e me humilhando, sujando-me de lama dos pés à cabeça.
Qual idade eu teria naquela época? Três? Quatro anos? Não sei... mas sei que independentemente da idade, chorar para mim nunca foi vergonha - exceto em alguns casos na escola -, pois nasci em um lar no qual era pregado, dia e noite, que os homens tinham os mesmos direitos que as mulheres e vice-e-versa, portanto, ambos tinham o direito de chorar quando precisassem, CASO TIVESSEM ALGUM MOTIVO. O choro, assim como a dor, era visto como uma arma de defesa própria do nosso corpo, e criada diretamente por Deus para ser usada quando fosse precisa. Deus é bom, e se ele criou o choro e a dor, nada melhor que usar estas duas formas para se aliviar.
- Rick! - gritei mais uma vez. Por mais que eu soubesse que era filho de um Rei, não conseguia evitar que a dor aumentasse gradativamente. E, por mais que eu não estivesse tão machucado, a visão do sangue jorrando fazia me ficar cada vez mais apreensivo. "Eu vou morrer?". Não, eu não poderia morrer; não antes de ser visitado pelos anjinhos dos quais meus pais tantos falavam; um deles iria me salvar, eu tinha certeza.
Quando pensei em gritar uma terceira vez vi Rick correndo em minha direção. Meu irmão estava com seus sete? oito? anos, mas parecida muito mais velho para sua idade. Era forte, alto para a idade, decidido. Gostava de bancar o escoteiro e dizer que no exército de Jesus não entravam covardes. Rick sempre soube o que fazer em relação aos machucados. "O Rick poderia ser um anjo", pensei comigo mesmo, " ele é forte, não tem medo, cuida dos meus machucados e sempre vem quando eu chamo". Meu irmão estava sorrindo enquanto corria em minha direção. Por um breve momento me perguntei se anjos teriam um sorrindo tão encantador. "Talvez ele seja mesmo um anjo...". "Seria possível mamãe e papai terem um anjo como filho?". Ele se aproximava, cada passo era uma nova alegria e seus dentes pareciam cada vez mais brancos, exceto por um espaço deixado por um dente de leite caído. Calma, vocês não precisam ficar tristes, a mamãe me dissera que era normal os dentes caírem, mas que com certeza um dente novinho nasceria novamente no lugar.
- O que aconteceu, Nick? - Ricardo ajoelhou do meu lado - Olha para você. Está todo sujo.
Meus olhos encheram de lágrimas e me senti impotente.
- Eu caí do balanço. Olha, sangue!
- Você só ralou o joelho. Não é nada demais - ele levantou a parte de baixo do shorts mostrando o joelho - Eu também tenho machucado.
- Nunca mais vou balançar. Nunca!
O Rick riu. Como ele ousa rir de mim?
- Nunca é muito tempo. Assim como "sempre". Nunca podemos dizer nunca e a mamãe disse que nada é para sempre.
- Deus é para sempre - eu disse orgulhoso -. E papai e a mamãe também.
- Eles não são para sempre, Nick - as mãos dele bagunçaram meus cabelos.
- Por que não? - meu olhos arregalados demonstravam interesse e ansiedade pela resposta - O papai e a mamãe tem a vovó e o vovô. Eles são para sempre.
- Eles não são para sempre, Nick... - a voz do Ricardo permanecia calma e suave - "Sempre" e "Nunca" é muito tempo. Anda, vem. A mamãe vai passar algum remédio no seu joelho. E você precisa tomar banho.
- Eu não vou mais balançar... Não quero mais balançar... - minhas lágrimas rolaram.
- Calma, Nick, isso é medo. Papai me disse que precisamos vencer o medo senão ele derruba a gente.
- O medo tem braço?
- Acho que não...
- Como eu posso vencer alguém sem braço - meus braços agora estavam cruzados esperando uma resposta - Não tem graça, seria covardia.
- Papai disse que todos nós temos nossos medos, e que vivemos tempo suficiente para vencer todos.
- Como faço pra ganhar do medo?
Rick ajoelhou na minha frente, segurou minhas minúsculas mãos e bagunçou meus cabelos. Para ele, irmão que era irmão tinha que bagunçar o cabelo do caçula.
- Você confia em mim? - os olhos de Rick brilharam exageradamente.
- Confio... - O Nunca é muito tempo. E com certeza meus pais não duram para sempreConfio em você, RickEu confio em você,Marcelo...
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Quando acordei, durante a madrugada, Marcelo permanecia deitado na cama ao lado. Tentei olhar, inutilmente, as horas, já que o quarto estava completamente escuro. A sensação de calor, irradiada pelo cômodo, revelava que nem uma gota sequer de água havia caído durante a madrugada, deixando claro que eu adormecera antes do Marcelo chegar. Mas como? Eu não o vira chegar? Tudo não passava de uma ilusão, um sonho. Olhei para o meu colega de quarto mais uma vez, apenas para certificar-me de que ele realmente estava lá. E ele estava lá, dormindo calmamente, descoberto, sem camisa, virado para o lado oposto ao meu. Suspirei.
Enquanto eu me acostumava com a escuridão do ambiente, meu estômago faminto, devido ao fato de eu ter ido dormir sem jantar, deu seus primeiros sinais de vida (ou de morte, sei lá!). Levantei-me cuidadosamente, procurando ser tão silencioso quanto um roedor. Desci as escadas e prontamente dirigi-me à cozinha. Passando pela sala, me lembrei de ter sentado no sofá, há poucas horas, antes de dormir. Sentado não. Eu juro pelo maior santo do catolicismo, São Nunca, que eu deitara naquele sofá, e provavelmente fora ali onde eu adormecera. Então, o que estaria eu fazendo em minha cama? Teria o Marcelo me acordado, assim que ele chegou, e mandado para o meu quarto? Sim, também concordo que esta seria a hipótese mais aceitável. Talvez fora por isso que eu sonhara com ele.
Dirigi-me à cozinha (à geladeira, para ser mais preciso) em busca de algo para comer. Havia presunto, queijo e alguns outros ingredientes perfeitos para lanches rápidos. Peguei duas fatias de pão de forma e um copo de um suco maracujá que estava na geladeira há dois dias? meses? anos? Não importa, certamente o que não mata fortalece. As luzes estavam acessas, por isso aproveitei para olhar as horas. Duas e quinze da madrugada. Apesar da hora o clima continuava quente (embora, por motivos a mim desconhecidos, a cozinha daquela casa seja relativamente mais fria que o meu quarto).
Mordi um pedaço do sanduíche preparado às pressas ( que, aliás estava ótimo. Precisando de alguém para preparar alguns é só me chamar) e aproveitar o momento em que eu estava sozinho para pensar. Pensar em quê? Pensar na vida, no Rick (que estranhamente havia sonhado com ele também esta noite), no meu Pai, na minha vida. Pensar nas derrotas, nas vitórias, nas lutas, nas conquistas, no amor, no ódio, na religião, na ciência, na paz, nos amigos e em todas as outras coisas inerentes ao seres humanos. Em todas aquelas coisas abstratas, que rondam vinte e quatro horas por dia nossa vida, mas mesmo assim, às vezes, não paramos para pensar nelas.
Entre um pedaço e outro de sanduíche, considerei se ainda voltaria a ver pai. Considerei se eu o estaria desapontando. Considerei se seria forte e sábio o suficiente, para me virar sozinho, caso eu não tivesse mais alguém para agir por mim. Considerei se saberia separar minhas emoções e lidar com elas, mesmo que eu passasse por turbulências, que desde já consigo prevê-las.
Enquanto estava pensando, passos dirigiam-se à minha direção. Era o Marcelo, com certeza, pois ele era o único em casa.
- Quanta fome... Não dava para esperar amanhecer? - ele falou dando um sorriso que era completamente irresistível.
- Não. Se eu esperasse mais um pouquinho, meu estômago entraria em greve. E aí seria pior... Bem pior...
Ele projetou um sorriso e continuou olhando para mim, silenciosamente. Inicialmente eu nem liguei, mas, à medida que eu mastigava, comecei a ficar inquieto e instintivamente abaixei meu olhar e corei. Marcelo soltou outro sorriso, dessa vez provocativo.
- Eu te deixo com vergonha? - ele perguntou com meio sorriso nos lábios.
- Não - tentei soar o mais firme que eu podia -. Por que você acha... - tentei encará-lo mas meus olhos abaixaram novamente, ao mesmo tempo que eu sentia minhas bochechas corando mais ainda - Talvez com um pouco, principalmente quando você não diz nada...
Ele sorriu mais uma vez e ocupou a cadeira que estava na minha frente. Todavia, ele continuou com os olhos fixos em mim.
- Você quer alguma coisa? - perguntei inocentemente.
- Quero - ele respondeu mais depressa que o normal.
- Posso lhe preparar um sanduíche... - levante para ir em direção à geladeira, mas o Marcelo segurou minha mão e me sentar novamente.
- Nick, eu gostaria muito de ter ficado ontem, à tarde, com você. Nós precisamos conversar - ele ainda segurava minhas mãos -. Eu te quero, Nick. Eu gostei de ter te beijado, eu gostei de ter dormido com você em meus braços, eu amei ter te carregado nos braços, ontem, até sua cama - eu ri, pois acabei de descobrir como fui parar em minha cama -. Eu te quero, Nick, mas não apenas quando você tiver frágil, com medo de uma tempestade, eu quero você sempre.
Meus olhos brilharam. Agora, indubitavelmente, minhas bochechas estavam vermelhas. Minhas soaram, meu coração passou a bater mais rápido, mas eu não consegui reagir.
- Você mais bonito quando está corado. É mais fofo - ele me disse.
Com a frase, eu apertei mais forte sua mão. Nós nos olhamos e consegui dizer, mesmo que silenciosamente, que eu o queria também, muito mais aquele beijo. Marcelo, parecendo entender o recado, inclinou-se para frente em minha direção. Nossos rostos foram ficando mais próximos, e nossas respirações tornavam-se mais ofegantes à medida que nos aproximávamos.
Subitamente, com toda força que ainda me restava, beijei-o. Nos levantamos das cadeiras em meio aos beijos, e nossos corpos foram, magneticamente, se aproximando. Nós nos queríamos. Nós ansiávamos um pelo outro. Envolvi seu pescoço com meus braços, enquanto ele abraçava a minha cintura. Estávamos sedentos. Minhas mãos agora alisavam seus cabelos, enquanto Marcelo, por sua vez, apertava minha bunda e deu uma mordida no meu pescoço. Soltei um gemido, enquanto todos os pelos do meu corpo se arrepiavam. Com o mesmo fogo, corri minhas mãos pelo seu peito, costas e abdome, tentando retirar o máximo que eu pudesse do corpo daquele homem. Eu não estava mais em mim, mas, sim, em um êxtase profundo, mágico, único.
Marcelo empurrou-me em direção à pia, colocando me sentado sobre ela. Com minhas pernas entrelacei sua cintura, forçando-o a ficar mais próximo de mim. Já não tinha mais volta, quem está na chuva é para se molhar. Entre beijos e abraços ele tirou minha camisa, revelando o corpo magro que até pouco tempo eu desgostava. Arrepiei mais uma vez quando sua língua foi descendo do meu pescoço em direção aos meus mamilos, e indo até meu umbigo. Aaaaah, gemi baixinho. Agora estávamos os dois sem camisa.
Não me contentei e abri o zíper de sua bermuda, que caiu com o máximo de facilidade. Revelando o lindo corpo que Marcelo possuía da cintura para baixo. Sua cueca boxer preta, revelava o quanto ele estava excitado, devido à pressão que seu membro exercia sobre o pano. Pousei sua mão sobre a bermuda, de modo que ele a puxasse. E ele fez, ficando nós dois, apenas de roupa íntima, nos beijando na cozinha.
Marcelo pousou sua mão sobre a minha cintura, erguendo-me, com minha perna ainda entrelaçada em seu corpo. Subimos as escadas aos beijos, enquanto ele me carregava no colo. Por várias vezes ele me pressionava na parede da escada e nos beijávamos ali mesmo, agarrados. Mas ele tinha um objetivo, o quarto seria o destino final, eu sentia isso em cada aperto que ele dava em minhas nádegas, por cima da cueca, e em cada vez que eu sentia a rigidez do seu membro.
Marcelo colocou-me sobre sua cama e projetou-se sobre mim. Nossos membros começaram a lutar enquanto ele posicionava todo o seu corpo sobre a cama.
- É a sua primeira vez? - ele me perguntou.
- Sim - disse inocentemente.
- É isso mesmo o que você quer? - ele perguntou mais uma vez.
- Você é tudo o que eu quero - respondi confiante, recebendo o sorriso mais lindo que eu já vira na minha vida.
- Confia em mim?
- Eu confio em você... Marcelo...