ENTRE HOMENS-CAPÍTULO 6- CANÇÃO DO AMOR TALVEZ

Um conto erótico de Antunes Fagner
Categoria: Homossexual
Contém 1935 palavras
Data: 07/07/2013 20:37:12

ENTRE HOMENS

CAPÍTULO VI- CANÇÃO DO AMOR TALVEZ

Narração de Miguel

Quando acordei estava num apartamento de hospital. Estava trajando apenas um roupão branco, aquele que geralmente os pacientes usam. Apenas com um soro no meu braço esquerdo. Ainda tentei me levantar mais a minha cabeça doía. Tive que me contentar em ficar deitado. Mas não lembrava de nada e nem tão pouco como fui parar naquele leite de hospital. Eis que surge Taumaturgo.

“Como você está meu peão?”

“Queria saber o que aconteceu? Por que estou aqui neste quarto? Cadê as minhas roupas?”

“Calma! Você está bem?”

“Estou sim, porém quero ir embora...”

“Calma! Aff, você caiu da montaria do touro... você teve sorte, apenas foi uma queda, nada de grave. Você está aqui apenas para observação.”

“Então eu posso ir embora daqui!”

“Ainda não... Vamos esperar o médico te dar alta.”

Depois alguns minutos o médico entra com o prontuário em mãos. Eu desesperado em ir embora quis me levantar. Mais o Taumaturgo me segurou na cama. Então o médico conversou comigo:

“Como está o paciente?”

“Eu quero ir embora doutor. Não sei ficar parado.”

“Fique tranquilo seu moço. Depois algumas horas você terá alta. Foi apenas um susto. Mais tenha cuidado pra que não seja algo mais sério no futuro. Sei que peão gosta de desafiar perigos. Mas nem sempre podemos contar com a sorte.”

“Não se preocupe doutor. Sempre tenho uma medalha de Nossa Senhora Aparecida comigo. Sei que minha Nossa Senhora sempre vai me proteger mesmo nas minhas maiores quedas.”

“É bom ter fé meu filho. Mas procure também não facilitar pra não ver Nossa Senhora mais cedo, risos.”

“Pode deixar.”

“Agora você vai ficar mais duas horas em observação e depois você já pode ir embora. Ok!”

Então Taumaturgo me disse que tinha ido até o hotel e tinha trazido uma muda de roupa pra mim. E que passou todo o tempo do meu lado, velando meu sono enquanto estava repousando.

“O que aconteceu?”

“Você não lembra? Sei que quando você estava se apresentando você se distraiu e perdeu o controle. Faltavam apenas alguns segundo pra você ser o campeão.”

“Quem venceu?”

“O André venceu a disputa. Você ficou em segundo lugar. Mas o André ficou preocupado com você.”

Nesse momento fiquei meio emburrado. Pois sentia muitos ciúmes do meu anjo. Sei lá parece que ele só tinha olhos pra aquele tal de André. Fiquei tão enciumado que franzi a testa e olhei fixamente para Taumaturgo que fez um gesto de que não sabia o que estava acontecendo.

“Taumaturgo aquele cara nunca se preocupou comigo. Acho que já te falei que ele tem bronca comigo. Ele acha que roubei o primeiro lugar dele em tudo nas competições.

“É sua impressão, Miguel. André é boa pessoa.”

“Ok! Se você que não quer ver isso eu entendo. Mas também ainda não sei o porquê sinto ciúmes dele perto de você. Agora eu começo a me lembrar de que quando eu estava na montaria do touro. Eu vi de longe o André conversando contigo. Isso tirou a minha paz. Aí me desequilibrei e por isso eu caí.”

“Para de pensar nisso. Volto a te dizer isso novamente não tenho nada com ninguém, muito menos com o André. Agora vou ficar aqui sentado no sofá até você receber alta.”

Conforme o médico havia dito após o tempo de observação voltei para o hotel juntamente com o Taumaturgo. Já estava me sentindo bem, resolvi tirar um soninho a tarde. Acho que era o efeito do soro, estava meio sonolento. Após algum tempo quando acordo vejo Taumaturgo lendo um livro deitado em sua cama.

“Acordou dorminhoco!?”

“Sim. Bom ta na hora de pegarmos a estrada não é meu anjinho.”

“Mas você não está pronto pra viajar. Precisa descansar mais um pouco. Acho melhor a gente partir amanhã.”

“Tudo bem então. Meu doutor!”

Aproveitei e liguei a tv pra ver o que estava passando. Mudava os canais sem nada que me chamasse a minha atenção. Nesse momento olho para o Taumaturgo e começo a puxar uma prosa.

“Posso te perguntar uma coisa?”

“Claro. Fique a vontade.”

“Você acredita realmente no amor? O que você pensa sobre o amor?”

“Queria ler pra você o capitulo 13 de 1 Coríntios 1-14”

‘Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente.

Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, eu não seria nada.

Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos , ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.

O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho.

Não faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá.

Pois o nosso conhecimento é limitado; limitada é também a nossa profecia.

Mas, quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança.

Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.

Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor.’

“Como você viu meu peão. O amor é algo que vai além da carne. Começa na carne. Perpassa pela carne, é vivenciado na carne. Por que nós seres humanos precisamos tocar, sentir ou apalpar. Mas conseguimos com o tempo abstrair. O amor é algo abstrato na sua essência.

Quando se ama alguém, por exemplo, é pelos seus predicativos corporais. Aquilo que chama a nossa atenção, nosso olhar, que abre o nosso apetite sexual. Quando se sente tesão só ao ver a outra pessoa. Mais o amor verdadeiro tem que superar a paixão, o desejo, o corpo. Tem que ir além da cama.

Fico meio frustrado com as pessoas que encaram o amor como mera companhia pra gozar juntos. Nunca pensei o amor como mero pau que goza pra sentir alivio. Sei que é bom, mas não é tudo. É bom quando existe algo a mais que une as pessoas. Eu acredito piamente no amor entre dois homens e espero um dia encontrar o grande amor da minha vida.”

Olhando fixamente para Taumaturgo apenas fiquei admirado pela sua sabedoria e sua maturidade no assunto. Senti-me reconfortado e ao mesmo tempo esperançoso. Pois vi nele o cara que poderia realmente amar, caso um dia isso fosse realidade. Depois desse papo cabeça com o meu anjo, resolvemos jantar e dormir. Pois no outro dia tínhamos muita poeira pelo chão pra voltar pra casaJá estávamos na estrada. As horas iam passando nesse momento noto Taumaturgo muito pensativo.

“Posso saber o que te deixa tão pensativo?”

“Nada não apenas pensando na minha vida. Nos momentos que amei demais e nunca sentir a concretude do amor na minha vida.”

“Você nunca foi amado? Nem mesmo pelo seu primo?”

“Não, nem por ele. Acho que nunca tive alguém que dedicasse sua vida por mim. Sabe como é, às vezes, falamos de partilha, mas no amor somos meios egoístas (risos).”

“Entendo você afinal sou meio ciumento. Acho que você já notou isso...”

“Tem ciúmes do pobre André comigo (risos).”

Continuei a viagem e refletia sobre tudo o que estava acontecendo entre a gente. A companhia de Taumaturgo. Os meus pensamentos sexuais por ele. O meu ciúme de André perto dele. Será que realmente estou amando o meu anjo?

Neste ínterim vejo o meu anjo cantarolando. Diga-se de passagem, que ele canta muito bem. Tem uma voz considerada, melodiosa, talvez sou meio suspeito de comentar.

‘O amor talvez é como o sol nas trevas de alguém/ O amor é dar abrigo se a tempestade vem/ E quando tudo é escuro e a vida é solidão/ O amor é que ilumina o coração.

O amor talvez é a janela que a luz do sol nos traz/ Nos convida a olhar por ela e mostra muito mais/ E mesmo a quem não queira ver o sol com sua luz/ O amor suavemente ao sol conduz.

O amor quem sabe é como a flor/ Talvez o mal-me-quer/ Pra qualquer um é gozo é dor/ É um jeito de querer/ Tem gente que até mesmo diz/ Que amou e é infeliz/ E existe até quem se cansou e nunca mais tentou.

O amor talvez se faça de conflitos e paixões/ Ou de cinzas que eram palhas/ Resquícios ilusões/ Mas se eu viver mil anos e então recomeçar/ Lutando pelo amor vais me encontrar.’

Parecia loucura mais o tempo fechou. Isso já era por volta da tarde quando notamos que o céu virou noite literalmente. Estava tão nublado que nem sombra se fazia mais. E uma ventania que encobria a nossa visão da estrada. O tempo foi passando e fiquei meio temeroso. Pois é arriscado transitar com tempo assim.

Começamos então a procurar algum lugar para nos abrigar enquanto esperávamos passar a chuva. Íamos observando ao nosso redor até que avistamos um casebre próximo da estrada. Nesse momento a chuva estava caindo torrencialmente. Pegamos uma chuva desgraçada. Parecia que o céu ia cair nesse momento. Vi que o meu padreco estava muito ensopado.

Chegamos a entrada da casa. Chamamos por alguém que poderia ser morador lá. Olhamos as laterais, pelas janelas e nada. Até que encontramos uma porta semi-aberta. Resolvemos entrar. Parecia um local abandonado há muito tempo. Cheio de teia de aranha. Poucos objetos no local e poucos moveis. Mas no quarto tinha uma cama que dava pra gente ficar.

Pedi que o Taumaturgo tirasse a roupa, pois via que ele estava encharcado e tremendo de frio. Dei-lhe uma toalha para que se enxugasse. Contudo o meu anjo estava muito tremulo por causa do frio. Pedi então que ele se deitasse um pouco. Estendi sobre ele um lençol que tirara de uma bolsa. Resolvi preparar alguma coisa pra ele beber. Algo quente. Pra esquentá-lo um pouco. Levei um chá e dei-lhe pra tomar. Fiquei velando o seu repouso mais dada dele melhorar.

Ele tremia tanto que rangia os dentes com tanto frio que perpassava seu corpo lindo. Aí resolvi vencer-me e fiquei junto a ele abraçadinhos. Fui percebendo que o calor do meu corpo se tornara o seu agasalho naquela noite de frio intenso. Sem dizer uma palavra percebi como era bom dormir de conchinha com o Taumaturgo.

Pela madrugada percebia que Taumaturgo se mexia muito. Talvez ainda por causa do frio que sofrera intensamente. Quando ele ficou de frente pra mim. Aos poucos ele foi abrindo seus olhos e fixou seu olhar no meu. Foi um silencio que falava ao nosso coração. Nenhuma palavra, apenas olhares se cruzando...

Naquela noite escura e de chuva torrencial. Taumaturgo abre um sorriso tão encantador como silenciador de tudo a nossa volta. Parecia que o tempo tinha parado naquele momento. Nunca a minha alma tinha sido invadido por algo tão profundo como o foi o seu jeito singelo de olhar pra mim e ainda acompanhado pelo seu sorriso aclarador.

Não resisti aos seus encantos naturais e tasquei-lhe um beijo...

Continua...

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Comentários

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\o/ finalmente! Só não entendi porque raios o Miguel não tentou nada com o Tau (adotei o apelido, fica mais curto e bonitinho haha) se sabe que ele gosta de homens... Se bem que foi bem cuti-cuti esse momento se "sobrevivência ao frio" rs

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Amei as reflexões! ALELUIA, ALELUIA ♪♪ finalmente!! hahahaha. Será que Tau (diminui nome grando heuheuheu) vai largar o convento para viver esse amos, claro senão tiver obstáculos que os separam, começando com o André que teve estar com ego a nível universo por ter ganhado do Miguel..

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