QVARTVS

Um conto erótico de Luiz
Categoria: Homossexual
Contém 2279 palavras
Data: 08/07/2013 22:35:24
Assuntos: Gay, Homossexual

“Tudo de amor que existe em mim foi dado

Tudo que fala em mim de amor foi dito

Do nada em mim o amor fez o infinito

Que por muito tornou-me escravizado...”

Vinícius de Moraes

Amare et sapere vix Deo conceditur

Alguém aqui já amou? Alguém aqui ama? Pretende-o? Desaprova-o? Seja como for, o amor, a meu ver, se equipara a paternidade, o que não deixa de ser amor, mas é uma experiência única. Muda tudo, simplesmente. Muda as pessoas, muda a concepção de mundo, de vida, de tudo que é simples e de tudo que não o é; tudo acaba mudando. A ideia de um lar, uma família, uma cama, nada é mais simplesmente. Por falar em simplesmente, acho bacana quando alguns decidem simplesmente sumir, não? Lembro-me vagamente de um texto, O Retiro da Sociedade, Tempestade, Suspiro, algo assim. Depois de tanto tempo, como lembrar? Caso venhas a ler este texto, tu, que tomas como pseudônimo, ou o nome mesmo, Lucas, Luke, sabe-se lá, e aqui tento exprimir minha revolta, pois, sabes?, aquilo me cativou, sim. Toda aquela história, ou estória, do Brandon. Outro, o autor de "Primeiro Namorado", e estou contente com a continuação de "Arqueiro Verde cafajeste ou Super Boy fogoso?", embora já não mais me empenho em entender tal título. Agradeço enormemente pelos comentários – embora poucos – de pessoas que eu admiro. Mas, quem sou eu p'ra falar, depois de seis meses, cá estou.

Bem, voltando – espero que tenhais vos acostumado às minhas constantes interrupções – ao causo, não pretendo retomar toda aquela discussão do último texto, então, prossigamos.

Eu sonhei em seu colo. Com o quê, ou quem, faço pouca ideia. Apenas não lembro, mas foi um sono bom, reconfortante. Lembro-me apenas do som de uma risada, não sei de quem, mas ela mexia comigo. Acordei, ele não estava mais lá. Parei um pouco para refletir, sobre a vida, sobre mim, sobre Rafael. Rafael!!! Ah, meu Senhor, com que cara eu irei olhar p’ra ele?! Depois de tudo aquilo, e ele agora sabe sobre mim! Tudo bem, depois da demonstração de sua parte, sei bem que ele não vai me abandonar... mas.. é que... poxa, a relação entre duas pessoas sempre muda com uma revelação dessas e eu não quero que ele venha a se afastar de mim. Tenho ciência sobre o fato de o ter conhecido há muito pouco, mas sentiria muito caso ele viesse a me deixar – o amor também costuma deixar as pessoas piegas –, e sim, eu o amo. Por mais que isso contradiga meus princípios sobre o amor – não que eu estivesse esperando por um príncipe nos meus aposentos me desvirginando, após juras eternas depois de uma simples troca de olhares... Mas bem que seria bom, não é? – e abale meu ser, pois eu me via vulnerável na presença de Rafael. Vulnerável. E o pior é que mesmo depois de tudo que ouvi de meus pais, depois de todo o destrato que sofri nas mãos de meus avós, não derrubei sequer uma lágrima por eles. E só de pensar que Rafael pode não me querer mais como amigo me mareja os olhos!

Ah, eu refleti bastante, e cheguei a conclusão de que era melhor dar tempo ao tempo. Deixar a vida correr, e seja como Deus quiser. Era melhor tentar esquecer essa história, além disso, minha irmã, só de ouvir o nome “Rafael”, derretia-se completamente. Não, não teria essa coragem, magoá-la. Realmente, é melhor deixar a história p’ra trás. Decidi levantar. Ah, mas estava tão bom ali, deitado, com o cheiro do Rafael impregnado em mim... Mas, no fim das contas, fui. Tentei. Pus um pé no chão, tudo bem. O problema foi o outro, que de algum modo ficou preso ao lençol da cama. Fui com tudo, caí, e doeu. No impacto, meu rosto se chocou contra o chão, de modo que minha bochecha ralasse pelo assoalho, abrindo um corte. Por pouco não fui atingido no olho, ou em algum vaso sanguíneo importante, e morro ali, me contorcendo no chão como uma lagartixa se retorce ao ser queimada, à mingua. Sou um tanto melodramático, tudo bem. Pantomimas à parte, eu me machuquei. Não fosse isso, ainda ter de aguentar a cara do Rafael com dores abdominais de tanto rir de mim ali, prostrado, turbado! No vale do vento cruento, batido, caído, sem vida, no chão! – Momento Casimiro de Abreu. Exageros a serem desconsiderados, ele lá estava, rindo. Deu-me um ataque de fúria. Olhar p’ra ele ali, rindo de mim! Tão lindo, tão sedutor, tão... Acho que minha cara de fúria foi completamente frustrada depois disso. Não dá, gente, é impossível resistir...

Sua expressão risonha desfez-se assim que ele parou para notar a fenda que se fizera em minha face. Encontrei sua expressão, agora era de preocupação, seus olhos quase saltaram de suas órbitas, enquanto a voz sumia em sua garganta. Aí foi engraçado, algo tão bobo, como um cortezinho superficial causou tamanha obstupefação em um ser! Poderia ter ficado só no espanto, mas não, ele fez questão de me atear fogo após um banho de gasolina. Tudo bem, não teve o fogo, nem a gasolina. Mas teve álcool, e ardeu como o fogo. Mas gostei. Um masoquismo de minha parte, mas aquela dor foi boa, pois foi regada de preocupação da parte dele, o que me reconfortou. Ele cuidando de mim, limpando meu rosto... Senti-me no dever:

- Obrigado...

O resto vós já conheceis. Mas repetirei, haja vista que a mim coube a obrigação não das novidades, mas de me aprofundar um pouco no meu ponto de observação.

- Não tem de quê. Encarei-o. Ele fitava meus olhos, como se observasse meu ser e invadisse o que me há de mais privado. Resultado da suscetibilidade emocional instaurada na presença dele, pois, normalmente, não conseguem muito bem decifrar-me. Ficou um tempo nisso.

- Quer conversar? Claro! Adoraria esclarecer algumas coisas.

- Quero pedir desculpas pelo ocorrido.

- Não há o que desculpar. Mas acho que você poderia ter sido mais sincero desde o início.

- É que... eu não sei o que dizer... Tudo bem que eu gostava muito dele, mas não é o tipo de coisa a se fazer. Depois de uma semana que o conheci, de fato, o mais normal a se fazer é: Bom, quero ser sincero contigo. Sou gay e estou louco p’ra te dar. Claro que não, faça-me o favor!

- Então me diz apenas se o que combinamos hoje ainda está de pé. Sabe aquele sorriso que por mais que você enrijeça a face, aparece? Pois então.

- Se você quiser...

- Então vou a minha casa, me arrumar mais uma vez, não esperava isso tudo, além disso, você me deixou encharcado de lágrimas e minha camisa completamente amolgada.

Um momento que acho necessário:

Ehr, bem, acho engraçado, peculiar, no mínimo, a tentativa de alguns tentarem se obrigar a falar português de maneira erudita em algumas ocasiões, principalmente ao tentarem conjugar a segunda pessoa do singular, já que põem "s" ao fim de cada verbo. Comestes, falastes, fizestes, são todos para o "vós", não para o "tu", e soa engraçado ouvir ou ler isso. Não sou, de forma alguma, erudito, mestre na língua, mas sei de algo. Mas Rafael, não, com ele a história é diferente.

Amolgado. Particípio regular do verbo amolgar; amassado, amarrotado, machucado.

Qualquer um dos três, eu até seria capaz de entender, e não me tomem por completo leigo, acontece que eu não consegui decorar o VOLP, Houaiss, Michaelis ou o que quer que seja. Acho aceitável não saber uma palavra cá, outra acolá.

- Hã?

- Amassada...

- Ah, fale português então. Ele não precisava esfregar na cara, precisava? E caso ele não quisesse lágrimas nas vestes de linho imperiais, que não me tivesse colocado aos prantos em seu ombro.

- Err, desculpe, de novo...

- De novo, não há o que desculpar. Agora vai, apronta-te, que eu adoraria assistir a um filme no cinema com a tua companhia. Quando terminares, vamos até minha casa. Ah, ele é tão fofo... Ops!

- ‘Tá certo...

Eis aí uma coisa que eu não esperava, ele me agarra para um abraço e beija-me no pescoço. Desestruturou-me por completo, minha respiração ficou ofegante, um calafrio percorreu minha espinha. Fui tomar banho, ainda sem pensar muito no ocorrido, apenas com aquela cara de bobo, fui, meio letárgico. Tomei meu banho e saí do banheiro, completamente descontraído. Bem, essa parte eu não gostaria de comentar muito sobre, sabem, é desconfortável, e vocês já tiveram uma boa compreensão do ocorrido, não? Muito bem, descemos as escadas. Minha irmã me viu num tom carmim, e tentou adivinhar o que ali ocorrera. Em vão, pois quando se viu ameaçado, Rafael arremessou-me para fora de minha própria residência.

Sabia de uma coisa, esse homem me afetava. Não só pelo extremo carisma dele, ou sua inteligência, ou sua beleza, ou seus tantos outros predicativos - dentre eles a paciência. Sim, paciente, e muito. Num tempo livre, pôs na cabeça que me ensinaria Latim. Perdão, mas, puta que pariu, que língua difícil! Sabe-se lá quantos casos, quantas declinações, como ele se dispôs a aprender tudo aquilo? Mas é legal, uma língua interessante, ainda que exija um alto nível de análise sintática, coisa que eu detesto. E ele só me via como amigo, infelizmente, como pude constatar. Foi numa dessas tentativas:

- E se eu disser: Diligo vos, como você reponderia?

- Ego quoque.

Ao que parece, isso o assustou, não creio que ele esperasse que eu soubesse uma resposta, mas se limitou a sorrir. Ele acabara de me dizer "eu te amo", em Latim, e isso me matou um pouco por dentro, pois sabia o significado daquilo, a chamada "zona de amizade", inferno.

Fomos à sua casa, o percurso era pequeno, nada de relevante. Sua casa era simplesmente enorme. Absurdamente enorme. E divinamente decorada. Subimos para seu quarto, ele foi tomar outro banho. Sentei-me na cama e parei um pouco para reparar no quarto. Um hexágono. Uma imensa televisão daquelas finíssimas que ficam na parede. Um sistema de som que nunca vira antes, caixas de som ligadas a um amplificador de válvula. Numa mesinha, uma vitrola antiga, mas extremamente conservada, dada como nova. Um computador de última geração, ao lado de um notebook e um tablet. Aquilo tudo deveria ser caríssimo. Um dos lados do quarto ia do teto ao chão com prateleiras de vidro, densamente ocupadas. E não eram poucas... Somente de livros e música. Obras completas dos autores clássicos da literatura brasileira, uma imensa coleção de discos, CD’s, DVD’s, todos de música clássica, Era incrível o acervo que ele possuía. Muito restrito, seu estilo, mas era algo tão grandioso que chegava a ser muito mais amplo que chegava a ser maior que muito colecionador eclético por aí. Não tinha como alguém da sua idade ter lido e ouvido aquilo tudo. Ia abrir minha boca para perguntar, mas ela parou por ali, aberta. Ele sai de lá simplesmente nu. Seu cabelo molhado, seu corpo muito bem cuidado, embora não depilado, o que o conferia um ar másculo, pernas naturalmente grossas, um membro paquidérmico que oscilava como que um relógio utilizado por que tenta hipnotizar... E ele conseguiu. Hipnotizou-me. Percebendo isso, e após ter-se arrumado, tentou falar comigo. O quê? A situação não permitia uma clareza de pensamento.

- Vamos, Luiz? Luiz?? Luiz, levanta! LUIZ!!!! Doeu, isso, credo!

- Haaãn? Que aconteceu?

- Levanta, vamos embora.

- Pode ir, eu vou daqui a pouco...

Quem dera fosse um avestruz. Eu estava a ponto de gozar na minha calça, e ele pedindo p’ra eu me levantar? Ah, puta merda... Ele fez isso por mim. Deu-se conta do porquê de eu não ter podido levantar, pois, sentado, eu já estava de pé. E a situação anterior, enquanto eu me vestia, causou-me tal desespero que eu nem pude lembrar-me de arrumar o brinquedinho direito... Ele parece que leu meu pensamento. Fez isso por mim, também, como vós já sabeis. Depois de tanto choque no dia, aquela situação só foi mais uma. A dose de espanto anterior me deixara anestesiado por, no mínimo, alguns dias.

Fomos, então, ao shopping. Comemos antes de irmos ao cinema, numa pizzaria. Ao chegar, fiz logo meu prato e comi, estava faminto. Ele não, ficou olhando o prato e então fez o Sinal da Cruz.

- Fazendo o quê, homem?

- O modo que eles dispuseram o catupiry deu a impressão de formar o rosto de Buda, então decidi fazer o Signum Crucis e esperar que a pizza venha a interceder por nós e nos redimir de nossos pecados, ridículo. Esses ataques de "fofura" da parte dele ninguém viu no anterior, não é? Safado...

Assistimos a um filme, Divã, com a Lilia Cabral. Confesso, não foi o melhor filme da minha vida, mas gostei bastante, ainda mais pela situação. E já no fim, em que ele me recostou a si... Ah, Senhor, que faço?

Nada que valha a pena ressaltar até o carro, onde ele deitou em meu ombro. Um olhar cúmplice para o motorista e, sinceramente, estava começando a duvidar de suas intenções. Ou era mesmo só coisa da minha cabeça, que adora pôr-se a devanear quimeras. Ele o repetiu no cinema, só que agora me abraçava. Ele conseguiu. Confundiu inteiramente minha cabeça, meu coração; Já não sabia mais o que eu queria. O que ele queria. Só sabia de uma coisa: eu o queria, e muito. E tinha de dar um basta nisso.

- Quer dormir lá em casa? Diz que sim, vai?

- Tudo bem. Ian, o senhor avisa a minha mãe que hoje vou dormir na casa do Luiz, certo?

- Claro que aviso, senhor pequenino!

- Como assim, senhor pequenino, Rafael? Dessa eu não sabia!

- Nós vamos ter de renegociar esse teu salário, viu?

Era agora ou nunca.

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Comentários

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ownn se eu te disser que estou 'in love' com essa história você acredita?. Ahhhh só não quero ver o Rafael iludindo o Luiz, pois este jé sofreu muito pra ser traído de forma tão baixa pelo amigo.

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Interessante,gostei

ah eu sinto uma raiva dos autores desses contos:O ORFANATO DE LINTON(PARADO E REMOVIDO DO SITE NO CAP2) EUM ASSIM MAIS OU MENOS: O RIBERÃO DE... Q TINHA DOIS CARAS Q SE AMAVAM,MAIS SE CASARAM E FIZERAM FAMILIAS SEPARADAS,TIVERAM 1 FILHO CADA EOS MENINOS SE APAIXONARAM,MAIS A MAE DE UM DESCOBRIU Q OS MARIDOS IAM EMBORA FICAR JUNTOS E MATOU OS 2 E SE MATOU,AI A MAE DO OUTRO PASSOU A HUMILHAR O MAIS NOVO,A CIDADE JUDIAVA DELE,ENFIM PARADO TAMBEM!

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Esse conto é fantástico. Adimiro a habiliadade que poucos tem em redigir uma estória ou história com maestria. Quesito esse que você cumpriu astutamente e de forma bem colocada. Ganhas-te um adimirador! E o Latim é simplismete fantástico.

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