Como Chamas 2x05: CONSCIÊNCIA É UMA DROGA.
Bati a porta de casa ao sair correndo para o ponto de taxi. Iria me atrasar para o trabalho e isso não seria legal. Considerando que o humor de Joaquim não era muito bom antes do café da manha.
- Dan! Ei, Dan! Gritou a voz de Jordan atras de mim.
Eu gostaria de ignorar e continuar andando, mas acho que uma parte de mim quer realmente parar e conversar com ele.
- O que foi? Perguntei me virando para ele.
- Eu não sei em que pé estamos. Mas preciso te dizer que... Ah, cara eu não sou bom com as palavras ainda mais perto de você.
Ficamos em silencio por algum tempo, se ele não queria ou não sabia falar era problema dele. Eu não iria dar o primeiro passo.
- Preciso de você. - ele disse de repente. - Não é exagero, não é mentira. Não sei como, mas do nada eu gosto de você. Sei lá cara gosto muito de você e não vou desistir e justo agora...
Fiquei em silencio e logo Jordan estava com os olhos cheios de lagrimas e seu nariz tão vermelho como um tomate. Meu coração se partiu naquele momento. Havia algo mais...
- Você não esta se declarando, esta? O que mais aconteceu? Perguntei me aproximando.
- Cara, eu disse que comentei com meus pais sabe... E eles não aceitaram muito bem. Mas não vou voltar atrás, eu... Sei lá, acho que te amo Dan. Faço tudo por você.
Quando dei por mim, já estávamos abraçados a poucos metros da minha casa. Eu não podia fazer isso com Jordan. Me afastei de Felipe, me desdobrei em minha própria dor e parti meu coração justamente para que isso não acontecesse com ele e agora Jordan estava sofrendo a mesma coisa e eu nem mesmo sabia.
- Você tem que ir trabalhar. Desculpa, estou te atrasando...
- Que isso. Vem comigo. Falei puxando Jordan comigo.
Caminhamos até uma padaria que ficava há alguns quarteirões das nossas casas. Compramos o café e fomos até um parque natural que havia ali por perto.
Sentei-me na relva um pouco úmida e puxei Jordan comigo.
- Dan, você tem que ir trabalhar, não precisa...
- Cala a boca e senta aí. Falei.
Ele deu um pequeno sorriso e fiquei feliz. Já era alguma coisa né.
- Como foi?
- Bom, perguntei a meu pai o aconteceria se eu contasse a ele que sou gay. E ele disse que isso não poderia acontecer nem em sonho, que eu não seria mais filho dele e que eu seria retirado da vida da minha família. Desde de este dia, não estamos nos falando direito.
Senti uma pontada de pena. Jordan não tinha que esta passando por essas coisas, eu não devia deixar um garoto destruir sua vida sendo que eu nem mesmo considerava ficar com ele.
Eu tinha que da um jeito nisso... E acho que até sei como.
- Bom, eu sinto muito. Mas não comente mais nada com seus pais sobre isso ta. As coisas vão se acertar. Você vai para academia agora?
- Er... Sim eu vou, mas
- Então vai se distrair, vou pegar algo que esqueci em casa e depois te ligo, ta bom?
- Tudo bem, mas Dan...
- Beleza. Tchau. Falei dando um beijo na bochecha dele e corri o caminho de volta.
Se havia algo que eu podia fazer para ajudar Jordan, eu faria a qualquer momento, e algo que me dizia que quanto antes melhor.
- Eu não vou fazer isso. Disse Nick se levantando da cama.
Novamente ele estava de cueca, mas eu não podia reclamar já que eu que vim atras dele.
- Por favor. Eles não são fofoqueiros e se pedirmos não iram falar nada.
- Por que eu faria isso?
Pensei por alguns segundos.
- Porque te levei para aquela festa maneira?
Nick deu uma gargalhada cruel.
- Aquela em que você me abandonou?
- Ah, qual é Nick. Não sou bom em implorar. Me diga algo que quer e eu lhe dou em troca do favor.
Ele me olhou e me puxou para perto. Me sentei na cama ao seu lado e ele ficou olhando para mim e então, do nada, ele me abraçou.
- Ta legal. Você queria um abraço? Perguntei rindo.
- Não. Quero me deixe ser seu irmão mais velho.
Tudo bem, aquele garoto falou mesmo o que eu acho que falou?
- Como assim?
- Bom, não me exclua da sua vida. Me conte tudo sobre você e te conto tudo sobre mim. Cara, meu sonho é ter um irmão mais novo para ensinar e cuidar.
- Ta legal. Mais não vou ser seu cachorrinho.
- Serio? Você ficaria uma graça latindo.
Ele estourou em uma gargalhada feliz e dei um sorriso enquanto me afastava dele. Não era exatamente justo que o irmão que eu ganhei fosse tão gato, mas o que eu poderia fazer?
- Vai se troca.
Sai do quarto e desci para a rua, me sentindo um pouco mais feliz.
Meu iPhone tocou me trazendo para a realidade e atendi sem ver quem era.
- Oi?
- Baby, onde você esta? Perguntou a voz de Felipe.
- To chegando, aconteceu um imprevisto e...
- Foi acidente? Quer que eu vá até aí?
- Não. To bem. Tchau.
Desliguei antes que ele dissesse algo mais e Nick saiu da casa.
Minutos depois, entramos na casa de Jordan. Seu pai nos guiou ate a sala de estar.
Sua mãe estava sentada lá, encarando agente com um sorriso curioso nos lábios.
- O que vocês fazem aqui garotos? Ela perguntou em um tom super educado.
- Bom, Jordan não pode saber que estamos aqui. Falei rapidamente.
O pai de Jordan se aproximou da esposa e também olhou atento para nos.
Cutuquei Nick levemente na costela para que ele continuasse.
- Bom, eu e o filho de vocês jogamos uma partida de vídeo game e ele perdeu. Apostamos que quem perdesse tinha que da a entender para os pais que era viado. E como ele perdeu, fiz ele fala aquilo com o senhor, mas achei sacanagem fazer isso com um brother e por isso estou aqui.
Eu estava tão chocado que nem mesmo consegui pensar em nada. Nick despejava a história falsa em cima dos pais de Jordan com uma simplicidade espantosa, quase como se fosse verdade. E eu pensando que eu era bom em mentir.
- Graças a Deus. Pensei mesmo que estava perdendo meu filho.
Eu abri a boca para dizer algo, que só porque o filho é gay não quer dizer que não possa ser amado ou coisa assim. Mas o brilho e o sorriso nos rostos do casal a minha frente me deteve. Quase pareceu que o filho deles morreu e nos o trouxemos de volta.
Porque isso hein? Porque as coisas tinham que ser tão difíceis?
Aliviado, joguei alguma desculpa sobre eles e sai correndo da casa de Jordan. Ainda iria ouvir um sermão terrível de Joaquim.
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Eram quase duas horas da tarde quando sai do banheiro da empresa. Havia almoçado e escovado os dentes e agora estava sozinho em minha sala.
- Oi Dan. Disse a voz de Alice ao entrar atras de mim.
- Oi. Falei um pouco receoso.
- Sabe, vi você outro dia. Estava tarde da noite para você estar na rua. Me perguntei o que você estava fazendo lá.
Tentei não olhar para ela. A voz cortante e sensual de Alice parecia penetrar minha pele e fazer arrepios em meu corpo. Ela estava me testando... E eu poderia jogar este jogo.
- Também me perguntei a mesma coisa sobre você. Respondi.
- Tuchê.
Ficamos em silencio e eu não diria mais nada. Mas não podia deixa-lá saber que eu sabia o segredo dela. Pois se Alice era quem eu pensava que era, ela era perigosa certo? Então eu não poderia arriscar.
- Fui ate uma lan House naquela noite porque a minha internet.
Ela se virou para mim, colocando suas mãos em minha mesa e olhando no fundo dos meus olhos.
- Você não mentiria não é? Afinal, mentiras tem perna curta. E de um jeito ou de outro a verdade sempre vem a tona.
Alice sorriu e se afastou, rebolando o quadril ate a sua mesa. A sensação de mal estar estava instalada em meu peito.
Aquela garota estava mesmo me ameaçando?