*CONTINUAÇÃO
- Como é?
Eu digo tentando entender o que estava acontecendo, eles queriam me mandar para um lugar que eu não conhecia, não sabia com quem ia morar (eram meus tios mas não os conhecia) tudo isso porque sou gay?
- É isso que você ouviu, a partir de amanhã você está indo morar com seu tio no Canadá.
Lagrimas vêem aos meus olhos, isso não poderia estar acontecendo comigo, e a forma como ela falava deixava tudo mais assustador ainda. Meu pai ficava socado naquele computador, nem em nossa direção ele olhou, o que me deixava com mais raiva ainda é que eles não me davam boas justificativas para o que estava fazendo, até porque eu não me assumi gay, não falei que namorava com o Bruno, até aquele momento.
Ela estende a mão, não sabia o que ela mas descobri assim que seu olhar foi em direção a minha mão. Meu celular, ela ia tirar meu celular? Isso não estava acontecendo mesmo.
- Vamos Felipe, me entrega esse aparelho agora.
- Mãe, porque você está fazendo isso? Você acha que isso é justo?
- Você esperava o que depois da cena ridícula a que você se prestou? Eu tenho nojo de você Felipe, não só de você como do seu amigo também.
- Ele não é meu amigo mãe, ele é meu namorado, você querendo ou não.
Só dei conta do que eu havia falado quando senti meu rosto arder com um tapa que recebi, e não foi da minha mãe, foi do meu pai não sei como ele chegou tão rápido a sala.
- Você tem um minuto para estar naquele quarto e só sair de lá amanhã na hora da viagem se não quiser que eu arrebente a sua cara.
Minhas pernas tremeram de medo, confesso que quase me mijei. Jogo o celular no chão e chorando vou para o quarto que só seria meu nessa ultima noite. Tranco a porta pois não queria que eles me incomodassem nessa noite, um turbilhão de coisas vinham a minha mente, eu estava enlouquecendo, meu rosto ainda ardia devido ao tapa recebido e com certeza estaria muito vermelho devido o meu tom de pele.
Não sei por quanto tempo fiquei acordado mas logo adormeci. Na madrugada eu tive um sonho, pesadelo melhor dizendo onde o Bruno sofria um acidente de carro voltando de uma festa. Acordei tremendo e chorando queria ligar para ele mais estava sem celular, olho para o despertador eram 05:00 da manhã, a viagem seria as dez e eu não teria tempo de ver o Bruno antes disso, ele nem sabia que isso tudo estava acontecendo.
Destranco a porta e de ponta de pé me dirijo aos fundos da casa onde o motorista dormia, eu estava rezando para ele estar lá. Bato na porta tentando fazer o minino de barulho possível. Após algumas tentativas ele abre a porta só de calção muito sono lento, esfregando um olho.
- Felipe? O que você faz acordado tão cedo?
- Por favor me empresta seu celular, eu preciso fazer uma ligação urgente antes que meus pais acordem.
- Felipe eu posso perder meu emprego por fazer isso, pelo que eu ouvi ontem a coisa não está muito boa pro seu lado.
- por favor me ajuda vai, eu nunca te incomodei e quando eu preciso de você uma única vez você não esta disposto a me ajudar?
Ele pensa por um instante, entra no quarto e volta com o aparelho na mão, me entrega e diz: “se alguma coisa der errado eu não tive nada a ver ta ouvindo?”
Apenas consenti com a cabeça e ali mesmo frente ao quarto dele eu ligo para o Bruno, chama por varias vezes e ele não atende, começo a ficar preocupado, decido então ligar para o telefone da casa, chama por algumas vezes até que uma voz meio rouca atende.
- Bruno? Eu pergunto ansioso, nervoso, nem sei o que eu estava sentindo direito.
- Não, não é o Bruno, aqui é a mãe dele, quem é o engraçadinho que liga pra casa dos outros uma hora dessa? Ela diz um tanto irritada.
- Desculpa Dona Márcia, sou eu Felipe, eu quero falar com o Bruno ele está em casa?
- Espera um pouco que vou conferir Fe.
Ela não estava muito animada, a segunda pessoa que eu acordo na madrugada, as primeiras da minha vida, não demora muito Bruno pega o telefone.
- Fe, o que houve? Você está bem? Porque não me ligou?
- Bruno fica calmo, espera eu falar.
Quer dizer eu não conseguiria falar pois já estava chorando igual bebe, eu tentava mais não sai nada, do outro lado ele perguntava: “Fe, o que houve? Me fala por favor! Amor?” mais nada saia da minha boca. Uma mão toca meu ombro era Ivan o motorista, ele pega o celular da minha mão, se afasta e começa a falar com o Bruno.
- Rapaz, aqui é o Ivan, uma coisa muito séria esta acontecendo com o Felipe, se você poder vir aqui agora ajudaria bastante.
Ele agradece e desliga o celular.
- Vamos Felipe, entre, ele já esta vindo.
Entro no seu quartinho, pude perceber que não tinha muito conforto, ele me entrega um cobertor pois estava muito frio, me enrolo e espero ele chegar.
Parece que o relógio estava travado pois ele não chegava nunca, menti escuto ele chamando na porta, Ivan corre e abre o portão, se meus pais ouvissem estaríamos todos fritos.
Escutei entre rapaz e comecei a chorar. Bruno passa a porta, seus olhos estavam vermelhos e inchados, corri e o abracei com toda a pouca força que me restava.
- eu te amo Bruno, eu te amo mais que tudo nesse mundo e não quero te perder por nada.
- Fe, se acalma, dá pra me dizer o que aconteceu?
- a gente não vai se ver nunca mais Bruno, nunca mais.
- porque Felipe? Ele diz me abraçando.
- Meus pais vão me mandar pro Canadá hoje .
Ele congela, sua expressão muda, foi um choque pra ele assim como foi para mim, uma lagrima escorre do seu olho.
...
*CONTINUA