Fui para casa completamente confuso. O Roney era uma pessoa que possuía vários defeitos, ser infantilmente ciumento não costumava ser um deles até aquele momento. Dei sorte que meu pai e meu irmão não estavam em casa, queria esconder o rosto até ficar bem melhor. Chamei a Fi e pedi a ela pra guardar segredo. Ela quase enlouquece de preocupação mas prometeu me encobrir. Deito para tentar dormir um pouco quando a Samia entra no meu quarto.
- Oi? Disse ela sorrindo. - Porra, pensei que ia te ver pelado.
- Oi gata. Cumprimento. - Você sabe que meu corpo é todo seu. Eu ia te ligar assim que passasse a raiva. O Roney surtou comigo.
- Hum, ele meio que me contou. Disse ela enquanto sentava na beirada da cama. - Contou também o que houve contigo, estou chocada, você está bem?
- Estou sim, podia ter sido bem pior.
- Pois é, ele não apareceu no colégio e surgiu um boato de que ele foi transferido, o Ro chegou a te contar algo?
- Não, aquele viado só bateu a porta na minha cara e me mandou ir embora só porque tomei café com o Yohan.
- Ow Ca, o bichim está chateado, ele estava louco para ficar com o boy e você vai encontrar as escondidas.
- Ele não me disse que tava apaixonado ou algo assim, se tivesse dito eu teria sido mais cauteloso, e eu queria conhecer o carinha também, eu estava mais afim que ele e conheci primeiro.
- É, mas você tem tipo outros caras, outros ficas. Ele não.
- Porra meu, você está defendendo ele agora? Indaguei furioso.
- Não Ca, longe disso, também estou achando ele infantil, principalmente porque você acabou de quase ser estuprado, ele não devia dar esses pitis, mas você sabe que ele era afim do Mário, ai foi você e ficou.
- Que faça bom proveito. Pode pegar o Mário pra ele.
- Calma, deixa eu terminar. Falou ela meio impaciente. - Eu digo que ele tá a meses sem dar uma com ninguém e está nervoso, você também não fica parecendo uma velha chata quando não da esse rabo?
- Aff Samia, precisa falar assim não. Falta de sexo me afeta sim. Eu entendo ele, mas acho que tudo se resolve na conversa. Se ele queria o cara, que falasse. Ao invés de ficar com viadice para o meu lado, não brigo com amigo meu por causa de macho.
- Então, ele acha que exagerou também e quer pedir desculpas. Você aceita se ele pedir?
- Claro, aceito sim.
- Certo. Ro, pode entrar.
Ela falou isso e vejo o Roney entrar envergonhado no meu quarto, olhava para o chão e ficava apertando uma mão contra a outra. Então me encarou triste e fez sua mea-culpa:
- Ca, desculpa amigo. Eu surtei. Ficou louca mesmo. Eu estou gostando daquele boy, queria que desse certo. Fiquei raivoso a manhã toda imaginando você com ele lá no Bnb sem mas ninguém por perto. Tua amizade é tudo pra mim, me perdoa.
- Tudo bem, seu maluco. Falei enquanto puxava ele para um abraço. - Preciso de ti, seu fuleragem.
Ele deu um sorriso bem aberto e logo voltou ao seu jeito normal. Fiquei com certa dó dele, o Roney era muito aberto assim com a gente mas era mesmo de pegar poucos caras, tinha certa dificuldade em partir para o ataque. Eu achava que ele não pegava alguém sério só porque se entregava fácil, e já tinha passado isso na cara dele, mas ele sempre dava um desdobro dizendo que se ele não desse, alguém daria e era melhor aproveitar um pau enquanto estava disponível.
Eu ainda não tinha almoçado, o Roney nem comida me deu, então fui almoçar lá na cozinha com eles do lado. Chamei pra tomar banho de piscina mas nenhum tinha trazido roupa de banho.
Decidi ir ao colégio no dia seguinte, o Roney levou o atestado que a mãe dele arranjou, mas usei apenas para o primeiro dia. Incrivelmente me sentia super regenerado após uma noite de sono e meu rosto estava praticamente normal, devo ter algum super poder de cura, apesar de tal suposto poder não ter lá grande influência sobre as costelas, que continuavam muito doloridas.
Ao chegar no colégio soube a confirmação de que o Mário estava transferido, no intervalo o PJ chamou eu o Daniel na sala dele, informou isso e disse que outro aluno seria selecionado para o lugar. Além disso, ele chamou minha atenção e a do Daniel e disse que precisava dos dois colaborando para o time dar resultado, pediu nosso comprometimento para acabar as desavenças. Eu concordei e o Daniel também, apertamos as mãos diante do professor mas não senti muita firmeza nesse gesto, então resolvi continuar de sobreaviso.
Fui ao banheiro lavar meu rosto e me preparar para a segunda aula, que era tentadora de se faltar. O Roney me chamou para ficar na piscina, haveriam duas turmas fazendo natação e poderíamos disfarçar por la.
- Não cara. Respondi. - É aula de português e eu quero treinar minha gramática nova.
- E você trouxe ela da casa do Mário?
Nessa hora caiu a ficha.
- Puta que o pariu. Que bosta. Eu deixei lá. Claro que não ia voltar para pegar. Perdi minha gramática, vou ter que comprar outra. Bora matar essa aula então.
Ainda chateado com a Perda da gramática, sentamos na quadra. A Samia liga para o Roney e ele diz que ela anote tudo para passar para a gente. Acho que passarei muito bem sem as anotação malucas da Samia, mas preferi não comentar isso. Quando desliga o Roney se volta para mim bem sério, noto que ele quer falar algo do Yohan.
- Ca, preciso te perguntar uma coisa bem séria.
- Pode falar.
- Você sente algo pelo Yohan?
- Claro que não neh, conheci ele ontem. Ele é um cara super legal, e muito inteligente, daria um ótimo namorado para qualquer um, mas não sinto nada não, tive só curiosidade e quis conhecer ele antes de tudo como pessoa, não há nenhuma segunda intenção assim inicialmente. Eu menti para ele para tranquilizá-lo, havia sim um interesse, mas nenhuma grande e avassaladora paixão.
- Eu estou apaixonado por ele. Penso nele todo dia, queria muito que rolasse algo sério.
Aquela informação me atinge em cheio, não imaginei que a coisa fosse tão séria. Se por um lado fiquei meio triste porque estava ansiosíssimo para conhecer melhor o Yohan, por outro fiquei muito preocupado de perder a amizade do Roney por um cara que nem conheci direito ainda.
- Eu fico feliz Ro, de verdade.
- Me promete uma coisa? Falou ele meio envergonhado.
- Diz... Falei com certo medo do que iria ouvir.
- Me ajuda a ficar com ele?
Senti um embrulho na garganta. Se eu não ia investir, era melhor ficar fora do caminho, mas não podia dizer ao Roney que tinha algum tipo de interesse. Essa conversa talvez tenha sido um completo desastre e tinha potencial para trazer consequências péssimas para a minha vida e a amizade com ele. Mas sem pensar muito com medo da interpretação que ele daria ao meu silêncio, respondi:
- Claro.
Seus olhos brilharam de contentamento e ele voltou à seu jeito alegre de sempre. Em minutos esqueci a tensão da conversa inicial que tivemos. Por um instante imaginei que a Samia não veio junto exatamente porque sabia que ele teria aquela conversa comigo. A Samia achava que eu vivia cheio de macho também. Era uma grande mentira, apenas fiz sexo algumas vezes e a um preço deveras caro. E quando aparecia alguém que podia ser um cara legal pra ter algo, o Roney pula em cima. Estava divagando sobre isso enquanto ria e conversava quando senti uma mão no meu ombro. Me viro. Daniel.
- Opa cara, diz ai, algum problema? Perguntei tentando ser amistoso relembrando a conversa com o PJ mais cedo.
- Tudo tranquilo. Respondeu ele de forma evasiva.
Estava num degrau abaixo do meu na arquibancada da piscina e levantei ficando em pé no mesmo degrau que ele estava.
- Senta aí do lado, não estamos conversando nada secreto não. Completei
- Não, na verdade, queria só te falar algo. Tipo, quais as chances de você desistir da posição de capitão atualmente?
- Chance zero. Começei a me aborrecer porque reconheci o tom agressivo que ele normalmente reservava para usar nas conversas comigo.
- Mesmo considerando que algumas coisas em ti não são muito respeitosas? Perguntou ele em um bom venenoso.
- Não vejo nada em mim que me torne desrespeitoso no cargo de capitão. Se você tem algo em mente vá falar com o PJ e não para mim.
- Tem certeza? Retrucou ele rindo.
Nesse momento um frio me subiu pela espinha, uma pequena onda de raiva começou a brotar. Aquilo estava cheirando a algo. Algo que eu detesto.
- Cara. Desembucha logo o que você quer.
- Eu só quero saber se você se importa de o treinador suspeitar de coisas da sua sexualidade se souber que você se tranca com colegas da equipe no vestiário do colégio.
Meu sangue ferveu. Eu odeio, detesto. Abomino de todas as formas ser chantageado, acho uma coisa covarde. Suja. Baixa. Coisa de quem não tem respeito por nada. Coisa de quem é um lixo. Eu deveria ter respirado fundo e sentido medo do que ele poderia fazer com aquela informação, mas ele poderia estragar minha vida, mas sentiria na pele o preço de me fazer uma ameaça daquelas. Eu tentei me controlar de todas as formas. Acelerei a respiração, o Roney percebeu e tentou se jogar para me segurar mais foi tarde demais, eu cerrei os punhos e dei um soco com toda força na cara do Daniel, ele desabou para trás na arquibancada.
Continua...
