Antes de começar a décima parte do conto, gostaria de agradecer do fundo do coração a todos que estão lendo e especialmente os que comentam, saber que estão gostando dá energia para continuar a contar a história. Às vezes acho que estou desenvolvendo a história de forma muito lenta e e temo entediar alguns, por exemplo, só agora vai ficar claro porque o conto também tem o tema bissexualidade, uma coisa que o Ricky Czar perguntou já na parte 2.
Geo Mateus, bom saber que tem um conterrâneo acompanhando, obrigado pelo seu comentário, sempre fico curioso com o que você vai falar de cada parte. Alías, adoro ler os comentários, já reli todos várias vezes não respondo a maioria com medo de revelar o que não devo antes da hora, eu sou bocão, às vezes simplesmente não consigo manter a língua dentro da boca.
Beijos, abraços e apertos de mão em todos...
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Tudo aconteceu muito rápido, a professora de natação veio correndo para o nosso lado, o Roney me abraçou pela frente com força com medo de eu surrar mais ainda o Daniel, que caiu com o cotovelo na arquibancada e fez um corte feio, estava saindo muito sangue, ele segurava o queixo como se temesse que ele tivesse voado com o soco.
- Me solta caralho. Gritei com o Roney. - Eu vou matar esse filho da puta.
O Roney nem de longe tinha força para me segurar sozinho, então a primeira providência da professora foi ajudar ele a me segurar, enquanto duas alunas viam se o Daniel estava bem. Pensei que como era metido a valentão o Daniel pularia para me enfrentar, mas ele apenas ficou parado, o rosto inchando pelo impacto.
- O que foi isso, Caio? Indagou a professora. - Se acalme para as coisas não ficarem piores, vamos para a diretoria do Colégio.
Foi a primeira vez em que fui levado para a diretoria do colégio. Apesar de já ter aprontado algumas vezes, meu nome me protegia de ser delatado pela maioria dos funcionários de baixo escalão do colégio, que normalmente acumulam às suas funções o papel de inquisidor dos alunos.
Minha explosão de raiva sempre é momentânea, em instantes o ímpeto havia passado e caminhei com a professora, os alunos, o Roney e o Daniel até a diretoria conjecturando se não teria sido melhor deixar pra socar ele fora do colégio, onde não haveria como sofrer nenhuma punição lá dentro. Também imaginei se o jeito calmo do Daniel não era um sinal de que iria tentar usar aquilo para me tirar do posto de capitão, mas imaginei que não, uma vez que o título de machão dele devia valer bem mais que um de capitão. Ele parecia atarantado, como se não acreditasse ainda no que ocorreu.
O diretor do colégio estava em uma reunião com alguns professores, um deles era o PJ, que ficou incrivelmente surpreso quando me viu entrando com o Daniel e a professora na sala, ele percebeu de imediato o que havia ocorrido e fez um sinal de reprovação com a cabeça tão forte que eu senti a consideração que ele tinha comigo se esvaindo como fumaça em uma chaminé.
- O que houve, Marta? Perguntou o diretor se dirigindo à professora de natação.
- Professor Dimas, durante a minha aula, esses dois estavam na quadra, provavelmente matando as suas respectivas aulas. Não acompanhei nada do que conversaram, só vi o Caio dar um soco e este garoto cair. Então separei a briga e vim para cá.
- Você Caio? O que seu pai falará disso? O professor Dimas, diretor do colégio, era um amigo de muito tempo do meu pai, e com certeza ligaria para ele diretamente para dizer o que houve tão logo saíssemos daquela sala.
- Professor, eu sei que passei da conta. Foi um momento de raiva. O Daniel me ameaçou. Nesse momento imaginei se o Daniel falaria algo sobre eu ficar com colegas da escola no banheiro, mas não havia volta na minha situação, o jeito era encarar com honra e matar o desgraçado depois.
- Que tipo de ameaça ele fez?
Estava ainda pensando febrilmente em que falar sem me comprometer quando o Daniel interrompe a todos:
- Eu disse que ia destruir a posição dele na seleção do basquete nem que precisasse quebrar as pernas dele. Andei me excedendo com o Caio por causa do incentivo de alguns colegas. Ele nunca fez nada de especial contra mim, eu assumo a culpa do que aconteceu diretor e prometo de agora em diante cumprir o que prometi ao professor PJ, vou só colaborar com o Caio para o bem do time que a gente faz parte.
Fiquei de queixo caído. Após aquelas ameaças todas ele resolveu me defender. Mas achei melhor não brincar com a sorte, encarei o diretor com a cabeça baixa confirmando tudo.
- Muito bem, bom ficar tudo esclarecido. Mas Caio, você não pode socar um colega dentro do colégio e ficar por isso mesmo, vou conversar com seu Pai e você está suspenso até segunda-feira.
- Diretor. Interompei o professor PJ. - Considerando que isso tudo aconteceu pelo melhor do time de basquete, peço só para o Caio ser liberado para participar do treino sexta, assim já vemos se tudo se normalizou mesmo entre esses dois.
- Muito bem. Falou o diretor. - Então, os dois, suspensos até sexta-feira. Passem o dia de amanhã pensando no que houve para não cometerem mas essas falhas. Os pais de ambos vão ser comunicados do que houve e advertidos que outra ocorrência de ameaças ou agressões compromete a permanência dos senhores no colégio. Estão dispensados.
Mal podia acreditar na minha sorte, as coisas podiam ter sido péssimas. Podia ter sido suspenso, perdido o posto de capitão e ainda ter revelada a minha sexualidade no colégio e para minha família se o Daniel abrisse a Boca. Ele saiu da sala antes de mim e não trocamos uma palavra. O Roney me esperava no corredor, também estava nervoso com medo de sobrar para ele por ter matado aula.
- Caio, ai meu Deus, conta o que houve. Me interrogou a bicha toda nervosa.
- Mulher, pasme. O Daniel assumiu a culpa de tudo. Peguei suspensão só por amanhã.
- Tô bege. O que um soco na cara não faz com um cara de pau hein? A sra devia ter dado esse soco antes.
- Se eu soubesse teria dado mesmo.
- Olha a putaria, porque não ficou em casa hein? Com atestado médico e tudo, veio aqui só pra dar na cara do pilantrinha. Sabia que quando eu te vejo assim raivoso todo machão e briguento, chega me sobe um tesão?
- Te fuder bicha. Meu negócio é macho, não viadim. Falei zombando
- Falou a enrustida. Por baixa dessa casca de machinho a sra é mais mulher do que eu.
- Ai como a tu não aceita um fora. Se corta piranha.
Dessa vez foi a vez dele rir.
- Você vai pro Bnb hoje?
- Vou não, e você?
- Marquei com a Samia, a gente estava certo que você ia.
- Vão sozinhos, eu preciso ir no shopping de novo, recomprar minha gramática.
- Quer companhia não?
- Na verdade não, vocês são aculturados e odeiam livros, eu adoro ficar a tarde inteira lá, por isso gosto de ir sozinho sem ter viado e rapariga perturbando para ver filme.
- Falando de mim? - Era a Samia que chegou por trás da gente.
- Tem outra rapariga nesse circulo de amizades? Falei dando um abraço pela cintura dela.
- Ele quer ir sozinho pra livraria Sa. - Denunciou o Roney.
- Deixa ele ir, eu fico tonta com tanto livro ao redor, engraçado que não sinto isso no Bnb.
Seguimos juntos até a saída do colégio. Fiquei curioso para ver o Daniel mas não vi. Minha maior curiosidade era saber a motivação daquela estranho arrependimento dele. Será que ele tinha tomado jeito? Eu não suportava mais as imbecilidades dele, ele não era mais uma menino de 12 anos para ficar disputando de forma doentia um posto em um esporte.
Ir para a livraria sozinho tinha outra vantagem, daria uma tarde para o Roney conversar com o Yohan e talvez se entenderem, assim meu interesse ia ser enterrado logo e tudo ficava por isso mesmo. Estava pensando nisso quando cheguei ao Shopping, resolvi olhar a sessão de lançamentos mas não vi nada que me interessasse. Aquele não era um ano para ficar lendo literatura pop, era ano de vestibular, tinha cortado até a academia, embora essa economia de tempo não tivesse sido canalizada para os estudos. Mesmo assim não resisti e estava folheando alguns livros quando levantei a vista e vi uma das pessoas mais improváveis sentado na parte de alimentação da livraria tomando um café, comendo brownie e lendo alguma coisa: Era o Yohan.