CAPITULO 1
Sonhador. Era o que eu era. Chamado Felipe, filho mais novo, órfão de mãe. Amigos de verdade poucos, mas muitos colegas. Na adolescência sempre gostei muito de aproveitar as festas, programas de fim de semana e etc. E, apesar de sempre ter tido a certeza de que era gay, completei dezessete anos de idade sem nunca ter ficado com nem um garoto. Não era feio, nem afeminado, mas era popular, e filho de família conhecida em uma cidade de interior. Resultado, após concluir o terceiro ano do ensino médio fui embora para Goiânia, morar sozinho e fazer faculdade, sem nem uma experiência.
Durante um semestre também nada aconteceu. Tinha amigos na faculdade, mas como muitos dos meus melhores amigos também foram estudar em Goiânia no início me prendi muito a eles. Porém todos faziam cursinho, só eu faculdade. Não saia muito, as vezes íamos jantar, e poucas vezes fomos para boates. No segundo semestre minha melhor amiga foi aprovada em uma faculdade em Brasília e se mudou, era com ela que eu passava quase todo o tempo que eu tinha para o lazer, e logo senti muita falta.
Passei a sair mais com a galera da faculdade, trotes, baladas, calouradas, festas universitárias, bares, festas particulares, muito álcool, alguns meninos e até mesmo drogas. Tudo isto eu conheci, foram dois semestres assim. A faculdade de Relações Internacionais ficara em segundo plano, e o meu sonho de um dia virar de diplomata eu já havia deixado para trás. As notas de altas, passaram pra medianas, e até uma disciplina eu cheguei a reprovar no terceiro período. Na verdade eu não me arrependo de nada, como um bobo eu me perdi em meio a muitas tentações, mas não fiz nada de tão irreversível, graças a deus a virgindade não tive coragem de perder. Mas no fim do terceiro período, depois de uma farra muito grande, eu me toquei que eu não era aquela pessoa.
Já havia se passado um ano e meio que eu só via a família durante as férias, sem duvida eu tinha amadurecido. Aprendi a lidar com a saudade e a ausência, a resolver os meus problemas sozinhos. Percebi que nada eu estava construindo daquela forma que vivia, e aquela altura resolvi que era hora de me tornar adulto. Durante as férias tracei uma nova rotina pra mim, e voltaria a correr atrás do meu sonho, a Diplomacia, o que me fizera me mudar para aquela cidade. De manhã iria pra faculdade, e a tarde iria pra biblioteca estudar mesclando com os horários das aulas de idiomas. Todo o resto estaria abaixo disso, seria o segundo plano.
Quando voltei pra Goiânia, poucos dias antes do inícios das aulas, logo fui ver Caio, meu melhor amigo da faculdade. Caio era simplesmente o oposto de mim, e ao mesmo tempo igual. Ele era alto, tinha 1.80, eu era mais baixo, tinha 1.69, ele tinha a pele dourada, eu era branquinho, seu cabelo era castanho escuro, liso e tinha ondas, mas era cortado curto, o que lhe dava uma cara de rapaz dos anos 60, o meu cabelo era preto e eu fazia um corte undercurt bem discreto, ele era malhado pois malhava e lutava jiu-jitsu mas não era inchado, eu era definido, fazia natação e pilates, mas não era muito musculoso, seu rosto era lindo, bem feito, com traços fortes e dois olhos verdes, uma pele bem cuidada, já o meu rosto era também bonito, mas o traços eram mais infantis, ele tinha 19 anos e eu recém havia completado 18 . Caio era mais tímido, na dele, compreensivo, prestativo, bonzinho, tirava boas notas. Não sei, sinceramente como ele não deixou de ser meu amigo no meu ano de trevas, nem sempre ele me acompanhava em algumas festas, sempre dava conselhos e me pedia pra não fazer coisas erradas, eu o escutava, sabia que ele falava pro meu bem, e muito da minha mudança eu devo a ele.
Caio era um anjo, ele me ajudava com as matérias quando eu tinha que estudar desesperado pra provas um dia antes, ele me ajudava a ir embora de festas quando eu estava mal, cuidava de mim no outro dia que eu estava de ressaca, e nem mesmo me deixava ir de guarda chuva pra faculdade quando chovia, ele tinha carro e ia me buscar. Apesar de ele nunca ter se assumido, eu sabia que Caio era Gay. Ele se vestia bem, era super educado e ao mesmo tempo que másculo era sensível, ele não ficava com nem uma menina, era tímido e, sem exagerar, era e ainda é o cara mais fofo que eu já conheci. Eu, apesar de não ser afeminadinho e nem afetado, era abertamente gay, pelo menos em Goiânia, e ele lidava muito bem com isso. Seu único defeito é que ele era super sensível em relação aos outros, qualquer coisa estranha, mesmo que pequena, podia o magoar muito, e ele se retraia. E eu tinha um gênio bem difícil, ansioso, impaciente, eu percebia que muitas vezes eu o magoava. Mas ele sempre me perdoava.
O prédio dele era próximo ao meu, morávamos no bairro em que a PUC e UFG se localizavam. Tomei banho, vesti uma bermuda branca e uma polo rosa, calcei um chinelo e fui até o apartamento dele. Minhas malas ainda nem tinham sido desfeitas, mas eu estava com saudades dele e queria vê-lo logo. Quando cheguei no seu apartamento logo eu o abracei bem forte, eu era carinhoso com as pessoas que eu amava, ele sempre ficava com as maçãs do rosto vermelhas, mas sua timidez, justificava isso. Ele retribuía os carinhos. Pra mim, nossas relação era como a de um irmão mais velho (ele) e um mais novo (eu). Colocamos o papo em dia, e nos dissemos o quanto aviamos sentido falta um do outros. Mesmo com menos de dois anos de amizade nós éramos muito íntimos, não havia segredos, nós nos dávamos muito bem.
- E você seu malinha, vai continuar aprontando esse semestre? Ce viu que cê reprovou matéria semestre passado né? Pelo amor de deus Lipe, tá na hora de acordar. E eu não vou mais carregar você de festa nem uma bêbado viu?
- Nossa, eu já te disse que eu to mudado, sério, eu vou estudar esse semestre, sair menos. Tudo menos, cê vai ver. E se eu ficar bêbado eu sei que tu vai me ajudar sim. – Nós dois rimos, eu duvidava muito que um dia ele fosse me deixar na mão, e ele, no fundo devia saber que nunca faria isso.
- Até vou, mas no outro dia vou te dar uns tapas, por quê as vezes você mercê mesmo.- dizia caio olhando pra mim com um sorriso nos lábios, por um momento ele ficou pensativo e sério e eu calado, e então perguntou . – E o carinha que cê tava ficando lá na sua cidade essas férias? Tipo, você, é... ah, você sabe Lipe, cê ficou meeesmo com ele? – Ele perguntou olhando pra mim sério, frisando o “mesmo” na frase, enquanto ficava vermelho de novo.
De todas as loucuras que eu fiz, eu nunca cheguei a transar com uma pessoa qualquer. Sempre rolavam amassos, e já havia ficado varias vezes só de cueca com outro cara, mas sempre que algo esquentava de verdade, mesmo quando eu estava alterado, eu fugia. Tinha uma opinião muito segura dentro de mim, de que queria perder com um cara que eu realmente amasse. Logo, a maioria dos caras paravam de ficar comigo depois que descobriam que eu ia demorar a transar. Sim, em Goiânia dos poucos ativos que existem, a maior parte só quer curtir. Pelo menos dos que eu conheci.
- Transei com ele Caio, cansei de esperar alguém que vale apena, ele era bonito e eu quis liberar. – Disse mentindo, e comecei a rir.
- Cê não ta falando sério né? Nossa cê é um bosta mesmo Lipe. Vivia dizendo que não ia fazer com qualquer um, que ia esperar, e agora vem me dizer isso. Tu pelo menos se protegeu? Nossa, cê nem conhece essa cara direito e já faz isso. Pelo amor de deus Lipe, você não pode ser assim. – Ele não parava de falar, quando Caio ficava ansioso ou nervoso ele falava muito, sua sobrancelha levantava ele falava olhando nos olhos da pessoa. Eu apenas ria da situação, estávamos sentando na cama dele olhando um pro outro e eu não aguentei, deitei de rir.
- Calma garoto, eu não fiz nada – Disse entre risadas, deitado na cama e com as mãos na barriga. Era muito engraçado quando ele ficava daquele jeito. – Eu não “fiquei meeesmo” com ele. – Disse imitando a forma que ele havia falado comigo. Ele me olhou com uma cara de revolta, pegou o travesseiro e bateu com ele no meu rosto.
- Ah Lipe você é um bobo - disse ele saindo do quarto, e eu ria alto. Dois minutos depois ele voltou, calçado e com o cabelo penteado. – Vamos no shopping almoçar. Eu to com fome, e com preguiça, e se depender de você vai ser miojo o almoço.
Fiquei em frente ao prédio esperando-o tirar o carro da garagem, e quando ele apareceu eu entrei. Durante todo o percurso eu percebia que Caio se distraia olhando pra mim enquanto conversávamos, e eu achava isso muito engraçado, apesar de ser algo bem perigoso. Conversávamos sobre tudo, faculdade, as matérias que iríamos pegar, as baladas que iríamos ir, e então perguntei se ele havia ficado com alguém nas férias, como sempre sua pele voltou a ficar vermelha.
- E você? Pelo menos beijou alguém agora durante as férias?
- Não gosto de sair “ficando” com ninguém Lipe, você sabe disso. Nem vale apena, passa você o seu rodinho. – Disse ele sério olhando pelo retrovisor, enquanto estacionava o carro na garagem do shopping.
- Gente, você é o cara mais “cu doce” que existe nesse mundo, sério. Eu até me impressiono, você é lindo Caio, por favor. – Disse eu rindo.
- Sou mesmo, e você é feio que dói. – Disse ele caçoando de mim.
- Iiiih, você me acha lindo que eu sei garoto. Não disfarça não. – Disse brincando. Caio apenas olhou pra mim, com um olhar serio e um sorriso de canto na boca, e balançou a cabeça, como quem queria dizer algo. Seguimos adiante.
Resolvemos almoçar Sushi, ele insistiu pra pagar o meu almoço e o dele mas eu não deixei. Paguei o meu. Depois voltamos pra casa. Os dias que se seguiram antes das aulas correram da mesma forma, as vezes nos juntávamos a outros amigos, mas quase sempre estávamos juntos. Eu era muito carente, sofria por estar longe da família, e caio sabia disso, logo, ele não me deixava eu me sentir sozinho. Tinha dias que ele dormia no meu apartamento, e nos outros eu dormia no dele. O dia passávamos quase todo juntos..
CONTINUA
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Bom gente esse conta fala da minha história e algumas coisas que vivi durante minha vida universitária em Goiânia. Espero que gostem, e aguardo pela aprovação de vocês. Já tenho outros capítulos prontos, comentem e deem a nota pra eu decidir se continuo postando.