CAPITULO 2
E então começaram as aulas. No primeiro dia eu acordei atrasado, me arrumei, e não comi, logo fui pra faculdade. Era agosto, e o início da manhã estava frio. Eu vestia um blusão de moletom de Princeton que comprara numa viagem, e uma calça skinny vermelha. Wayfer preto pra esconder as olheiras de quem não estava mais acostumado a acordar cedo, e uma mochila quadriculada azul e verde. Fui com pressa, ouvindo musica no fone de ouvido.
Entrando na faculdade recebi uma mensagem de Caio perguntando onde eu estava, pois a primeira aula já havia começado e eu estava atrasado. Fui responder enquanto caminhava, e subia rápida a rampa que havia no campus em que eu estudava. Acabou que dei um encontrão em um cara que caminhava em sentido contrario e derrubei o celular. Logo eu perdi a paciência.
- PORRA PRESTA ATENÇÃO! – Disse eu com ignorância, olhando para o garoto. Ele era um pouco mais alto que eu, pele bronzeada, cabelo preto, um rosto bonito e era forte, corpo definido. Usava uma camiseta da Abercrombie, um jeans bem justo e levava os livros na mão.
- Era você quem estava mexendo no celular e não eu – disse ele sorrindo – Mas de qualquer forma, você está bem? - ele abaixou-se e pegou meu celular, entregando-me.
- Ah, to sim. – Disse olhando pra ele, com certa vergonha pela ignorância, recebi o celular e o pus no bolso – Ah, me desculpa você, sou tonto. Muito obrigado. To atrasado, por isso tava andando rápido. – Tentei me explicar.
- Bom não foi nada, me chamo Bruno. – Ele estendeu a mão e a apertei. Ele tinha um sorriso bonito nos lábios enquanto falava e me olhava.
- Bom Bruno, meu nome é Felipe. Prazer viu, mas agora deixa eu ir porquê eu to com uma certa pressa. – Disse eu saindo, e deixando-o pra trás. Alguns passos a frente escutei um “tchau” vindo dele. Nem respondi, eu planejava ser um bom aluno aquele semestre, e Caio não parava de me mandar mensagem.
Entrei na sala e logo me sentei ao lado de Caio, ele estava lindo como sempre, a luz fraca da manhã que entrava pela janela reluzia em seu cabelo castanho, ele usava um cardigã listrado em azul marinho e branco e uma camiseta lisa branca por baixo, e uma calça jeans. Seu óculos com armação de acetato dava a ele um ar de intelectual. Quando meu viu, ele deu um sorriso pra mim, aposto que pensava “sabia que você ia chegar atrasado”, isso era típico de mim.
As aulas transcorreram normalmente, nos intervalos cheguei a trocar olhares com o garoto que eu tinha topado, mas apesar de eu não saber o seu curso, percebi que ele andava com alguns meninos que eu sabia que eram da engenharia, e concluí que ele também devia fazer um curso nessa área, e certamente seria hetero. A tarde segui com os planos de estudo, fui pra biblioteca e estudei 6 horas seguidas, não rendeu muito, a todo momento eu me dispersava, mas aprendi um tanto considerável de coisas pro primeiro dia. Comecei a ler as obras indicadas de algumas das matérias do concurso que eu havia reservado para a segunda feira, a noite jantei com Caio em um barzinho perto de casa chamado Tio Patinhas, e depois fomos pro meu apartamento ver filme.
Caio estava sentado no sofá junto comigo, mas quando me cansei de ficar sentado deitei a cabeça nas pernas dele e estiquei as minha pelo resto do sofá deitando-me. Eu sabia que ele ficaria tímido com a situação, mas ele era meu amigo e sabia que eu era carinhoso e até meio carente, não se importaria. Além disso, apesar de ele não se assumir, eu sabia que ele era gay, e não se sentiria ofendido ou menos homem com a situação, sei lá, essas coisas de hetero. Eu amava estar perto dele, me sentia seguro, protegido, mesmo longe da minha família. E isso me surpreendia, porquê eu nunca tinha tido um amigo daquele jeito, e nem conhecia alguém que tivesse. Eu tinha sorte.
Os dias que se seguiram foram todos na mesma rotina casa, faculdade, biblioteca, casa do Caio. Até que na quinta feira, quando eu fazia fichamento de uma obra do Amado Cervo percebi que um cara conhecido entrou na sala de estudos da biblioteca, olhei pra ele e nossos olhos se encontraram. Era Bruno. Ele sorriu pra mim e se sentou no reservado que ficava de frente ao meu. Merda, eu havia me desconcentrado, e com certeza ele distrairia, afinal aquele cara alto, forte e lindo não passava despercebido em lugar nem um. Porém, fiquei sem jeito de me mudar de sala, afinal ele perceberia que sua chegada iria me atrapalhar.
Consegui seguir com as 3 horas restantes de estudos, mas volta e meia me pegava olhando pra ele por cima das paredes do reservado, que eram baixas, que dividiam a mesa. Algumas das vezes ele estava olhando pra mim também, e acabávamos encontrando os olhares. Ele estava com alguns livros e cadernos, parecia até estar concentrado em alguns momentos. Mas geralmente estava disperso. No fim, peguei meus materiais, ele olhou pra mim, e o cumprimentei apenas com um balançar de cabeça. Ele retribuiu. Sai da sala e segui pra lanchonete que havia no campus, comprei um pedaço de torta e sentei em uma mesa pra comer.
- Oi Felipe, tudo bem com você? – Alguém falou atrás de mim colocando a mão no meu ombro. Seu tom tinha timidez misturada com sedução, como em um flerte, você não sabe como a outra pessoa vai reagir.
- Oi Bruno, tudo sim e com você? Empenhado desde a primeira semana não é? Senta aí. – Disse com um sorriso nos lábios. – Senta aí.
- Há pois é, tem que ser assim né. Semestre passado eu reprovei duas matérias, agora tenho que correr atrás. Mas e aí, hoje vai sair? Vamos combinar alguma coisa. – Disse ele olhando pra mim.
- Hoje não, amanhã tem aula - Disse a ele com simpatia.
- Se eu não me engano já te vi em balada até dia de terça feira. Essa desculpa comigo não cola. – Ele falava rindo e olhava no meu olho.
- Pois é, foi assim que acabei reprovando matéria também. Mas fim de semana ta aí, qualquer coisa agente combina algo. – Meu celular vibrou e vi que Caio tinha me mandado mensagem dizendo que estava na porta me esperando, ele achava perigoso ir embora só a noite da faculdade. – Brunão, vou ter que ir agora. Até mais viu, depois agente se topa.
- Também já to indo, vou até lá fora com você. – Peguei minhas coisas e respondi “tá certo então”, do saguão do campus até a rua ele puxava mil assuntos eu o respondia, e sorria, ele era até legal. Na porta fomos nos despedir e ele me deu um abraço – Tchau, tchau Bruno. Depois nos vemos.
- Tchau Felipe, e vê se não some não viu. – Disse ele rindo.
- Pode deixar – falei, virei as costas e caminhei em direção do carro de Caio que estava a alguns passos de onde estávamos. Entrei no carro e disse oi pra Caio, olhei novamente pra fora e ele ainda estava lá parado, e parecia ter uma expressão de duvida estampada no rosto.
- E ai feioso. – Falei brincando com Caio. – Brigado por me buscar.
- É perigoso tu voltar de noite da faculdade sozinho Lipe, tu sabe. – Disse ele olhando pro transito. – E quem é aquele ali? Cê já ta de rolinho é? Mal chegou, não perde tempo mesmo. Mas também né, você é lindo, esses caras caem matando.
- Bobeira Caio, eu conheci esse garoto aí esses dias por que dei um encontrão nele na rampa da área 2. Ai hoje agente se encontrou na sala de estudos da biblioteca. Mas ele é bem gatinho né, pegava fácil – Disse rindo, as vezes eu percebia ciúmes em Caio, mas achava que era um ciúmes fraternal. Ele olhou pra mim com uma cara séria, e balançou a cabeça negativamente.
- Você não vale um centavo mesmo. Gente do céu. – Ele voltou seu olhar pra rua enquanto dirigia. Ficamos alguns segundos calados e disparamos a rir. – Ou, hoje tem festinha no apartamento do Fernando, nós vamos né? – Fernando era um amigo nosso que havia transferido o curso pra Arquitetura.
- Hoje? Mas amanhã tem aula Caio... – disse eu olhando pra ele.
- Uai, agente pode voltar cedo. Também pensei nisso, mas é chato com ele se não formos né? – Disse ele com uma cara super fofa, tentando me convencer.
- Tá bom então, eu vou me arrumar e quando você terminar de se arrumar também passa por aqui. – Nos despedimos com um abraço, ele me deu um beijo na bochecha e eu saí do carro. As vezes ele tinha a iniciativa de ser carinhoso, na maioria dessas vezes ele tinha bebido, poucas de cara limpa. Desci do carro e subi pro meu apartamento.
Depois de tomar banho fui escolher uma roupa. Vesti uma polo branca, uma calça jeans e um casaquinho quadriculado bem leve, era noite de agosto e podia esfriar. Me perfumei e passei apenas um pó no rosto. Coloquei um sapatênis e fui pentear os cabelos. Nas festas do Fernando basicamente iam só gays e meninas, eram pouco os caras hetero que apareciam. Era provável que eu encontrasse alguém que valesse a pena ficar. E já fazia alguns dias que eu não sabia o que era uma barba no pescoço.
Uma hora depois de ter chegado em casa Caio me ligou e avisou que já estava na porta, como eu já estava pronto nem pedi pra ele entrar, logo desci e entrei no carro. Caio estava lindo como sempre, vestia uma camiseta preta colada, um casquinho branco por cima e uma calça jeans colada. Como sempre seu cabelo estava muito bem penteado, e o carro era dominado pelo seu perfume.
- Nossa, que homem cheiroso. – Disse assim que me sentei ao seu lado, no banco do carona. – Hoje você arruma alguém. Não é possível. – provoquei-o.
- Fecha a boca garoto. Mas em, deixa eu te falar, cê sabe que o Léo vai estar lá né? – Disse ele sério. Léo era um veterano do nosso curso que ficou comigo e espalhara que eu havia transado com ele na escada de um prédio, mas na verdade ele só tinha ido me deixar quase apagado de bêbado na casa do Caio.
- To sabendo. O Fernando me perguntou se podia chamar ele porquê ficou sem graça de chamar tipo, todo mundo menos ele. Eu falei que por mim não tinha problema, a casa não e minha. Ele chama quem quiser né? E também aquela história é passado.
- Parecer ser passado mesmo pra você. – Disse ele dando um sorrisinho sem graça. Depois do acontecido Caio pegou ódio do cara. E eu desculpei ele um dia na boate quando ele veio conversar comigo sobre o acontecido,e pedir desculpas. Fiquei com ele duas vezes novamente, e Caio... Tinha horror a isso. Não conseguia engolir.
- Para de ciúmes. Você sabe que é contigo que eu durmo no fim da noite. – Falei rindo. Sempre levava na brincadeira, mas era verdade. Quase sempre eu acabava na casa do meu amigo/anjo-da-guarda no fim da noite.
- Dorme mesmo, todo descabelado, de pescoço vermelho, com o perfume de outro mala na roupa e na maioria das vezes bêbado – Disse ele rindo e gesticulando a cabeça negativamente com a visão focada a frente, observando a rua.
- E continuo lindo. Mas em, não é pra você ficar fazendo carão se o Léo tiver mesmo lá viu? Não gosto disso. Eu mesmo já desculpei.
- Eu fico com a cara que eu quiser Lipe – Disse Caio com calma e firmeza – Você é que nem deveria falar com ele. Puta que pariu, maior canalhice o que ele falou de você e cê ainda tem coragem de ficar com ele. Eu não te entendo mesmo. – Eu podia sentir decepção em sua entonação, e percebia que suas mãos apertavam com mais força o volante enquanto ele falava nisso. Fiquei calado, eu não discutiria, sabia que ele estava certo, e que o fato de eu ainda ficar com Léo me desvalorizava, além de só dar mais certeza a todos que a fofoca era verdadeira.
Fomos o resto do caminho calados, não estávamos brigados, apenas sabíamos que nem um de nós dois queria mais falar naquele assunto. Na festa ficamos juntos, conversamos entre nós e com outras pessoas, fingindo que não havíamos tocado no assunto Léo. Até que em um certo momento o tal chegou. Léo era loiro, magro sarado, alto, tinha olhos claros, uma barba loira linda e bem cuidada, um sorriso de malandro que revelava belos dentes brancos e tinha uma pele branca, mas um tanto bronzeada. Vestia uma polo listrada em verde e branco e uma bermuda de sarja preta. Ele era lindo, e tinha um poder de sedução irresistível. Mas ele era do tipo que se achava, então, se você não o “achasse” também, automaticamente teria nojo.
No momento em que Caio percebeu que Léo caminhava pra me cumprimentar ele se afastou, saiu de perto. Era melhor assim, pensei eu. Sabia que Caio não brigaria com ele, mas de fato Léo o provocava quando estávamos os três no mesmo ambiente, eu não sabia o porquê, imaginava que era pelo fato de estar aparente que Caio não ia com a sua cara depois de toda a confusão.
CONTINUA!
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Obrigado Rafa G. , Trager, Amores Junior, Agatah, Beel F, Rafa 25, $Léo:), Ruanito, Gads, Thay Chris, Bruno C, Lu , Edu, Aamante de séries, Sayoran, Rick, Um Sonho, Sadiano, Elijah e Anjinho/Capetinha. Todas as críticas são muito bem recebidas por mim. E Sadiano, caso você não saiba existem contos grandes e pequenos, e divido o meu em "capitulos" pelo seu tamanho, existe limites de caracteres por postagem. E neste capítulo não houve erotismo mesmo, ressalvo que o enfoque do conto não é exclusivamente sexual. Contarei uma história de amor, e haverá postagens com sexo, bem quentes pra vocês, pois contarei minha vida amorosa, mas não serão todas elas. Cada conto tem seu estilo, se o meu não te agrada... Paciência. Beijos a todos gente. Abração! Amanhã tem mais.