Lipe encostou a cabeça no meu ombro e chorou bastante. Nem sei dizer por quanto tempo ficamos naquela posição, mas certo momento ele simplesmente descolou de mim e se enrolou na toalha envergonhado.
- Desculpa, cara. Eu perdi o controle. - Desculpou-se.
- Que é isso, Lipe. Pode contar comigo. Eu não sabia do teu problema, pensava que tu era só um filho da puta mesmo. - Me expliquei.
- Foi mal cara. - Ele deu um sorriso tímido. - E a gente tinha se dado tão bem de início né? Você não tinha curtido era o Thor e agora estão amigos.
- O Thor só queria que eu não entrasse no esquema. - Expliquei. - Lipe, fica de fora hoje, o que eu ganhar te dou.
- Não, Dee. Tá maluco. O Bill não pode saber que a gente conversou e eu te expliquei meu problema, ninguém sabe que eu preciso fazer essa viajem, ele disse que se vazar acabam as minhas chances.
- Mas porque?
- Porque ele é um louco que curte fazer essas torturas com a gente. Eu vou voltar e vou trabalhar. Eu posso te sacanear de novo, então te cuida. - Falou ele saindo pela porta.
Tomei um banho rápido, vesti a mesma roupa, trocando apenas a cueca e retornei à sala dos garotos. Quando voltei, estava apenas o Lipe lá, os outros todos estavam trabalhando. Verifiquei as horas em um relógio de parede e já eram 18 horas.
Fiquei ali pensando como nenhum deles ainda não tinha tomado uma atitude. O Bill podia ser maluco, mas ele dava muita moleza, ficávamos a sós com ele várias vezes. Ele fazia sexo com os garotos também, durante o sexo seria fácil fazer algo sem ele ter como reagir. Eu nasci em um ambiente em que pessoas morrem o tempo todo e a morte de pessoas ruins não era tão lamentada, na verdade, era comemorada. Eu não ia ficar ali como escravo daquele loiro arrogante filho da puta.
“Dee, querido. Sala de embarque. Agora”.
Troquei um olhar com o Lipe, ele ensaiou um sorriso mas baixou a cabeça e me ignorou. Eu já sabia o caminho para o corredor dos quartos, mas aquela sala de embarque era algo novo.
- É a garagem. - Explicou Lipe ao ver meu olhar confuso. - Sai pela porta que da na cozinha.
Segui as instruções dele, a garagem não era fácil de achar, mas normalmente não podíamos ir até ela. Quando cheguei lá, percebi que havia um segurança sempre de prontidão no local.
Percebi que além do segurança, só havia uma pessoa no local, era um cara que devia ter uns 35 anos, cabelos negros e bem aparados. Usava roupa casual apertada e era possível notar que malhava, mas nada muito exagerado, estava parado diante de uma Pajero cinza. Parei confuso e olhei para o segurança, ele apontou para o homem da Pajero, que parecia não ter notado minha presença e mexia no celular. Caminhei até ele.
- Oi, boa noite. - Falei.
Ele me encarou, parecia estar me medindo da cabeça aos pés e me comendo com os olhos ao mesmo tempo.
- Olá, Dee?!
- Isso mesmo. - Confirmei e sorri tentando parecer simpático.
- Bem Dee, eu sei que você é novo aqui, então paguei uma soma considerável para curtir você a noite toda em um ambiente mais privativo. O Bill me alertou que você ainda não está bem treinado. Posso confiar em você?
- Pode. - Falei. - Sou novo mas já conheço todas as regras.
- Ótimo. Então...
- Meu patrão. - Era a voz do Bill vindo por trás da gente. - Me permite só uma palavrinha com o boy antes de levá-lo?
O homem apenas entrou no carro e ficou esperando. Bill encaminhou-se até mim e sussurrou ameaçador, mas com um sorriso no olhar para que o cliente não percbesse.
- Isso vai servir de teste para a tua faculdade. Esse cara pagou uma nota pra passar a noite te fodendo. Deixe ele bem feliz e sua faculdade está garantido. Apronte alguma ou tente fugir e seu amiguinho Thor vai amanhecer com a boca cheia de formiga. Entendido?
- Entendido Bill. - Engoli em seco.
- Muito bem meu garoto. Pode ir. - Concluiu ele dando um tapinha nas minhas costas e se virando para voltar para dentro da casa.
Entrei na Pajero. O cliente estava fumando um cigarro.
- Rubens. - Falou.
- Hã?
- Rubens. É o meu nome. - Falou ele soltando uma baforada. - Você fuma?
- Não. Prazer Rubens.
- Prazer só quando chegar em casa. - Riu ele. - Não fuma nem cheira?
- Não.
- Você não vai durar como garoto de programa.
- Tomara que não. - Falei rindo.
- Não curte? - Perguntou ele enquanto sáimos pelo portão e eu via a rua, algo que pensei que passaria bem mais tempo para voltar a ver.
- Curtir curto. Mas não é projeto para a vida toda.
- Entendo. Deve se cuidar mesmo. Quando mais você ficar acabado, mais barato vão ficar seus programas.
- Não tinha pensado nisso. - Falei. - Tem o lance da qualidade também não é?
- Qualidade é relativo demais. E você parece muito sabido para um garoto de programa. O Bil falou que você estuda na federal.
- Ainda não. Só passei no vestibular.
- Malandro, ele me cobrou a mais por isso.
- Ele é um sacana mesmo. - Ri.
- O que você curte Dee?
- Como assim?
- Na cama ora.
- Prefiro ser ativo. Mas topo tudo.
- Todo garoto de programa diz isso.
- Mas é verdade.
- Todos dizem isso quando eu digo que todos dizem aquilo. - Riu ele.
- Agora você me confundiu.
Enquanto ríamos ele parou na frente do portão de um prédio de apartamento. Estavámos em um bairro próximo ao centro da cidade, eu o conhecia. Não era longe da casa da minha mãe. Correção, casa do Ernesto. O Rubens entrou após o porteiro abrir e se dirigiu a um estacionamento subterrâneo que estava muito pouco iluminado.
- E o que você acha que eu quero com você? - Perguntou ele estacionando o carro e me encarando.
- Você tem cara de ativo.
- Acha que eu vou querer te comer?
- É. Acho.
- E se eu disser que não.
- Tudo bem, eu estou preparado para tudo.
- E se eu disser que o que quero com você não tem nada a ver com sexo?
Continua.
PS: muito obrigado pela paciência de vocês e pelas mensagens de boa viajem. Tudo transcorreu bem, exceto pelo fato de que retornei sem voz, rsrsrsr. Mesmo assim, estou confeccionando mais um capítulo.
P.S: Vou deixar de usar Kahzim no pseudonimo e usar meu nome. :)
Até logo.