Visão de Caio.
E eu me perguntava como eu podia amar tanto alguém. Amar alguém mais do que eu amava a mim próprio. Eu o amava por inteiro, seu jeitinho engraçado, meio bobo, seu sorriso sempre no rosto, a sua visão positiva da vida, sua solidariedade e seu coração bom. E ele ainda era lindo, educado, carinhoso, sincero e honesto. Defeitos? É claro que ele tinha. Inconsequente, dependente, as vezes era marrentinho, mimado, a irresponsabilidade em pessoa... Mas em geral, suas características ruins só faziam mal a ele mesmo. E algumas vezes, mesmo que de forma indireta, a mim. Lipe simplesmente tinha um carisma muito grande, um jeitinho de garoto. Pelo menos pra mim ele parecia ter uma aura brilhante em torno dele. Eu era totalmente apaixonado por Lipe.
Ainda me lembro de quando nós realmente começamos a ser amigos, mas meu coração já se acelerava por ele antes mesmo disso. Apesar de já nos coversarmos no primeiro semestre, só criamos alguma intimidade quando um professor de Política sorteou duplas pra fazerem um trabalho, e pra minha felicidade ele foi o meu par. Tivemos que nos encontrar por volta de 4 vezes pra concluirmos o trabalho, que eu fiz praticamente todo. Foi inevitável, viramos amigo muito rápido, e a cada dia meu sentimento por ele crescia mais.
Cada momento perto dele era agradável, especial. Ele sempre estava falando, sempre querendo fazer algo, sempre tinha algum plano. Fui o vendo errar aos poucos, fazer coisas erradas, ficar com garotos que não valiam a pena e deixar os estudos de lado na maioria das vezes. Mas eu não me afastei, eu dizia a mim mesmo que aquilo era uma fase, e que ele iria amadurecer. Afinal, ele só estava prejudicando a ele mesmo. Eu o aconselhava, me preocupava, cuidava, ajudava-o como podia e como não podia. Porquê eu queria seu bem. E ele não era ingrato, sempre me agradecia, prometia que ia mudar, mas logo depois fazia tudo de novo. Se não fosse algo sério, até seria engraçado. Ele também fazia tudo por mim, me apoiava quando eu estava triste, me ajudava com o que eu precisasse e me dava todo o carinho que um amigo poderia dar ao outro.
E eu sofria. Sofria todas as vezes que eu via outro cara encostar a mão nele, toda vez que eu imaginava que ele podia entregar-se de corpo e alma pra algum de seus rolinhos, toda vez que eu achava que seria apenas seu amigo, pra sempre. Eu o queria pra mim, queria cuidar dele, viver ao seu lado pra sempre, queria fazê-lo feliz. E eu o desejava muito, ele era lindo, seu corpo era definido, sua boca era vermelha e contrastava com sua pele branca e seus cabelos pretos, seu bumbum era redondo e seus olhos castanho claro um tanto amendoados eram lindos e profundos. Eu tinha que me controlar em sua frente em muitas situações, para não explicitar uma ereção.
E onde estava meu menininho agora? Em um quarto com um cara que sempre o tratou como um objeto, um cara que nunca se dera ao trabalho de conhecer as suas verdadeiras, qualidades, sua características que faziam meus olhos brilhar todos os dias. E eu nem mesmo podia sentir raiva de Lipe por ele ficar com outro cara na minha frente, afinal eu nunca havia sido homem o bastante pra assumir o meu amor por ele, eu tinha medo que isso estragasse a nossa amizade e ele se afastasse de mim. Eu sabia que era um erro ele ficar com alguém como o Léo novamente, depois de tudo, depois do canalha até mesmo ter inventado mentiras sobre ele. Léo era galinha, metido, conquistador e mal caráter, eu me perguntava o que Lipe e os outros caras viam nele, só podia ter 10 kg de linguiça, pois não havia outra explicação.
Naquele momento eu estava ali. Sentado no sofá do meu apartamento, no escuro, e acordado na madrugada. Havia passado um bom tempo pensando em tudo aquilo depois que cheguei da festa do Fernando. Depois que o vi entrando no quarto com aquele idiota eu não aguentei, tive que ir embora, não podia suportar a ideia que ali dentro daquele quarto ele devia estar fazendo quase tudo o que queria com Lipe. Fernando, que já era meu amigo desde o inicio do curso, já havia percebido que eu era apaixonado por Lipe, e prometera que ficaria o resto da noite de olho nele quando fui me despedir e agradecer o convite.
É fácil imaginar como fica o ego de um homem quando ele sabe que quem ele ama está nos braços de outro. Eu estava triste, e minha vontade era de voltar lá, tirar aquele garoto bobo de dentro daquele quarto e dizer a ele que eu era muito melhor que o idiota do Leonardo, dizer a ele que eu o amava, mas eu não conseguia. Senti uma lagrima descer do meu olho. Jurei pra mim mesmo que da próxima vez que eu o visse eu ia contar tudo, ia dizer que eu o amava, que queria ficar com ele. Iria pedir a ele uma chance. Eu iria arriscar tudo.
Assustei-me com o barulho da campainha tocando, estava distraído. Ele chegara. Devia ter pedido pra deixarem ele aqui pra não dormir só. Levantei-me, e arrumei os cabelos, enxuguei o rosto na manga da blusa que eu usava e fui abrir a porta. Eu lhe roubaria um beijo e falaria pra ele toda a verdade, que eu queria ser seu namorado.
Quando abri a porta eu levei um susto, fiquei paralisado. Felipe estava “acabado”. Seu cabelo estava bagunçado, suas roupas amarrotadas... Ele tinha arranhões no braço, manchas no pescoço que pareciam estar passando de vermelhas para rochas, e em seu rosto branco que parecia estar inchado de chorar, havia a marca de uma mão como se ele tivesse apanhado. Sua expressão mostrava algo como constrangimento, medo e tristeza. Seus olhos estavam vermelhos. Ele me abraçou, escondeu o rosto no meu ombro e voltou a chorar silenciosamente. Eu o apertei em meus braços como quem o acolhia.
- QUEM FEZ ISSO COM VOCÊ LIPE? OQUE ACONTECEU? – Exclamei exaltando-me de preocupação com ele . Ele apenas chorava em meus braços, chorava como uma criança e nada dizia. – LIPE! ME FALA, PRA EU PODER TE AJUDAR! OQUE HOUVE? FELIPE, ME RESPONDE!
Ele apenas me abraçava mais forte, parecia estar apavorado. Arrastei-o pra dentro do apartamento e fechei a porta. Eu não sabia o que fazer, pois ele não me respondia, parecia ter entrado em choque. Sentei-o no sofá e liguei a luz, corri pra cozinha e peguei uma água com açúcar pra tentar acalma-lo. Voltei pra sala e sentei-me ao seu lado. Meu coração estava apertado de ver ele chorar daquela forma, e de estar tão maltratado. Eu só pensava em acabar com qualquer um que houvesse lhe feito mal, acabar com quem havia lhe deixado daquele jeito.
- Me fala Lipe, o que foi que aconteceu? – Falei olhando no olho dele, enquanto eu tentava parecer calmo.
- Leonardo... – Ele falou entre as lágrimas e voltou a me abraçar. Acolhi ele novamente em meus braços enquanto meu sangue começava a ferver. Covarde. Era isso que o Leonardo era, além de canalha era um covarde. Lipe era menor, mais fraco ele devia o ter dominado facilmente, queria ver ele se meter comigo. Mas porquê ele havia feito isso? O que Felipe podia ter feito pra deixa-lo agressivo assim? Ou então... Ou então Felipe podia não ter querido fazer algo que ele desejava...
- Felipe... Ele não.. Felipe... – Eu não conseguia completar. Eu estava revoltado.
- Eu não queria... Não deixei, não cedi... E ele enlouqueceu! – Respondeu exasperado adivinhando meu pensamentos, enquanto ainda chorava em meus braços.
- ELE TE ESTUPROU FELIPE?! AQUELE VAGABUNDO TE FORÇOU A TRANSAR COM ELE? – Eu quase nunca perdia a calma, sempre era ponderado, tentava me manter são. Mas não conseguia imaginar a ideia de um cara tocar, penetrar, machucar Felipe sem seu consentimento. Era muita crueldade, ele não merecia.
- Ele não conseguiu... Eu não deixei. Por isso ele me bateu. – Falava ele entre as lagrimas.
Depois que me contou a história direito, Felipe teve que implorar pra que eu não fosse ainda naquela madrugada atrás de Leonardo na casa dele. Eu queria acabar com ele, dar o troco por ele ter encostado no meu Felipinho, no garoto que eu amava. Nem eu mesmo nunca havia me visto tão nervoso quanto fiquei naquele dia. Mas me acalmei, tinha que ajudar Lipe.
Eu o levei ao banheiro para ele tomar banho, dei uma toalha e o esperei do lado de fora. Ele demorou mais do que o esperado, imaginei que ele devia estar querendo passar algum tempo sozinho e não o incomodei. Quando ele saiu de toalha do banheiro lhe entreguei uma cueca Box branca que ele havia esquecido dias antes e lhe emprestei um blusão meu que ficaria folgado nele, e não incomodaria os arranhões.
Falamos pouco. Ele não quis comer nada, e pela minha insistência, prometeu que de manhã resolveria se iria dar parte na polícia pela agressão ou não. Coloquei um colchão no chão do meu quarto pra mim e deixei ele dormir na minha cama. Ele pegou no sono primeiro, parecia exausto. Eu, demorei a dormir. Havia mil e um pensamentos na minha cabeça, mas já estava mais calmo. Apesar do ódio que eu estava sentindo de Leonardo, eu decidi que não iria agredi-lo, não ia procurar briga, isso não combinava comigo. Mas prometi a mim mesmo que eu nunca mais permitiria que ele chegasse perto de Lipe.
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Galerinhaaaaa muito obrigado pelos comentários, visitas... Vocês não sabem o quanto e legal ver que vocês estão gostando realmente do conto. E sim, vocês tem razão! Eu errei feio mesmo em ter ficado daquela forma com Leonardo, mas aprendi a lição.