Bernardo era um exemplo de irmão que eu nunca tive. Ele era atencioso, carinhoso, paciente e sempre me convidava para fazermos algo juntos. A nossa programação era desde jogar vídeo-game até assistir filme ou jogar uma pelada.
Se eu já não via o Gustavo dentro de casa, agora é que eu não o via mesmo, ora por estar fazendo algo com o Bernardo, ora porque quando eu estava em casa era a vez dele não estar. Apesar de tudo eu ainda sentia falta de sua presença dentro de casa, mas havia outra coisa mais importante que eu estava preocupado: o vestibular. Tanto eu quanto Bernardo decidimos prestar para a mesma Universidade, eu prestaria para Direito enquanto ele prestaria para Publicidade e Propaganda. Já estávamos animados com a ideia de morar sozinhos e buscar pela nossa independência.
Chegou o dia de prestar a prova e eu estava tremendo de medo, mas consegui fazer a prova tranquilamente, saí do prédio quando acabei a prova e fui conferir o gabarito quando foi publicado. Cheguei acertar mais de 80% da prova enquanto Bernardo conseguiu 75% da mesma. Depois que se passaram 2 meses saiu o resultado e foi uma alegria só, de um lado estava eu e o Bernardo pulando feito dois cangurus e do outro lado estava a minha mãe e o meu pai chorando como se estivessem sido contratados para chorar em algum velório ( pois é, existe esse tipo de coisa, são chamados de carpideiras - não é relevante mas achei interessante este fato.)
Depois de muito chorar, nossos pais resolveram organizar um jantar íntimo para comemorar a nossa entrada na Universidade. Alguns amigos da escola apareceram e por sorte todos também tinham passado em algum vestibular. Estava tão feliz que mal notei Gustavo acompanhado de uma mulher, que mal me falhe a memória já tinha avistado em algum lugar, e ela não falhou, lembrei do dia em que ela veio puxar assunto e eu dei um gelo nela. Eu me lembro que começava com A, era Alexandra? não! talvez fosse Alexandrina? Acho que não também... Já sei! A bendita cuja se chamava Alessandra.
Enfim... quando dizem que alegria de pobre dura pouco, eu tenho que concordar em número, gênero e grau. Estávamos quase para jantar quando Gustavo, abre a boca para dar uma notícia. Notícia esta, que achei que fosse muito boa, engano meu de novo.
– Tenho outra notícia para dar! Eu vou me casar! - disse com aquela voz indiferente e fria de sempre, como se fosse tudo muito monótomo tudo aquilo que acabara de dizer.
Os olhos dos meus pais estavam brilhando de alegria, os convidados batendo palma, Bernardo sorrindo e eu com cara de perplexo misturado com uma cara que deveria ser de paisagem. Todos foram cumprimentá-los e conhecer a futura esposa, e eu ainda continuava sentado com a mesma cara. Depois de mais de 5 minutos com Bernardo olhando para mim preocupado, saí do meu transe e fui para o meu quarto, tranquei a porta e desabei ali mesmo no chão. Minha respiração estava ofegante e sentia o meu rosto arder, e não sei como eu não chorei. Pensando bem, chorar não iria mudar as coisas e nem fazer com que os problemas fossem solucionados, então eu apenas me encolhi e ali fiquei por alguns instantes.
Andei até o meu guarda- roupa abri o fundo falso que tinha ali e peguei o presente para dar ao seu verdadeiro dono. Estava na hora eu me livrar de tudo aquilo que me fazia lembrá-lo. Desci até a sala e avistei os dois de mãos entrelaçadas, tentei desviar o olhar e focar apenas naquele rosto tão sereno que estava a poucos metros de mim.
Cheguei até os dois e cumprimentei ambos pelo noivado e entreguei o presente para meu irmão.
– Este é o seu presente de noivado, espero que goste. E desculpa não ter comprado nada para você Alessandra, é que eu não sabia do que você gostava então achei melhor comprar outra hora, quando soubesse do que você gosta.
Gustavo que antes estava com um semblante inexpressivo, agora sua face evidenciava surpresa, suponho que seja pelo impacto por saber que eu não tinha doado a camiseta para a caridade. Já Alessandra estava toda sorridente, até de mais para a minha infelicidade.
Gustavo pediu licença para Alessandra e me puxou no canto para conversarmos.
– Eu achei realmente que você tivesse doado para a caridade.
– Eu só estava esperando o momento certo para lhe dar a camiseta. Espero que você seja feliz nessa nova etapa da sua vida e que a Alessandra amoleça esse seu coração de pedra. - disse dando um meio sorriso e colocando o dedo em seu peito.
– Eu sei que eu não fui o irmão que você tanto desejou, mas eu estava muito ocupado tentando conciliar meus sentimentos. Mas espero, que o Bernardo seja o irmão que eu nunca tive a coragem e a audácia de ser para você.
– Apesar de não entender o seu lado, Gustavo. Uma coisa eu tenho plena certeza, Bernardo é o irmão que eu nunca tive, por isso vou aproveitar ao máximo isso. E sobre o seu casamento, posso te garantir que eu vou ser um convidado a menos.
Me distanciei dele e fui para o meu quarto para arrumar minhas coisas, pois logo eu e Bernardo estaríamos indo para o nosso novo apartamento. Apesar de estar acabado por dentro por causa do noivado repentino do meu irmão, fiz meu ritual de ''respiração profunda'', e segui para o carro junto com Bernardo e meus pais, deixando para trás todas as lembranças da minha relação triste com Gustavo para dar espaço às novas lembranças com meu novo meio-irmão e além de tudo amigo Bernardo.